‘Acho que vou morrer… Talvez agora, talvez amanhã… Como disse lá no Orkut, só isso pode explicar o ímpeto da reconciliação com os inimigos, desafetos, adversários e torcedores do Flamengo.
Pois lá estava eu orkutiando quando deparei com uma página do Olavo de Carvalho, colunista do jornal O Globo e editor do website de direita Mídia Sem Máscara. Se você leu a ‘batalha campal’ travada aqui no Comunique-se, haverá de entender o que digo.
Se não, vai aí um resumo: em abril de 2003, chamei Olavo de pseudojornalista em um dos meus artigos. Ele reagiu pesado lá no MSM, tascou um ‘José Paulo Lanyi, Difamador Eletrônico’ na manchete. Dali em diante, num feriadão pascal, foram cerca de 700 comentários abaixo do meu ‘Andrada, Arbex e a Reuters em Miami’ – postagem recorde do Comunique-se -, no qual aparecia a menção ao pseudojornalismo do outro. Aos dois contendores juntaram-se muitos mais, no que se concluiu ser uma carnificina intelectual, sob o espectro da dicotomia esquerda-direita.
Olavão e outros ainda escreveriam uns cinco artigos contra mim; e eu, um longo texto a questionar-lhe os métodos. Brindamo-nos com um sem-número de adjetivos. From me to him: Prima-Dona do Tribunal do Santo Ofício, Olavo, o Mulá Fanfarrão, Padreco Latinista, embusteiro, etc. From him to me: (em latim) O Asno que Acaricia o Asno (José Arbex), mico internético, sagüi eletrônico – todo um vocabulário de zoológico…
A reação dos ditos neutros foi, predominantemente, de horror. Não se entendia como se poderia chegar tão baixo naquelas convulsões verbais.
Refleti e, dali em diante, procurei nortear o meu comportamento na tranqüilidade necessária a um debate público de alto nível – ainda que com algumas recaídas absolutamente justificáveis, pois permeavam a defesa do que tenho de mais caro na vida, ou seja, a minha honra.
Cheguei, pois, à conclusão de que, imbuído das boas intenções que, divorciadas do bom senso, soem desaguar nos infernos, protagonizara com Olavo um espetáculo panis et circenses: a luta bizarra dos gladiadores que babam.
Voltemos ao Orkut. Estava lá a fuçar nas páginas e comunidades alheias quando dei de cara com o Olavão. A mente nessa história toda, rememorei uma passagem do quebra-pau no Comunique-se. Ei-la: num dado momento, depois de muita pancadaria, Olavo nos convidou a todos, os ‘lanyiistas’, como se dizia, a tomar cerveja na casa dele e a partir para um debate olho-no-olho, porque na Internet afigurávamos ‘molengas’.
Recusei-me, disse-lhe que ele estava ‘arregando’ e que eu não aceitaria beber com um sujeito que, voltasse-lhe eu as costas, envenenaria o meu copo.
Tive, então, agora, neste limiar do mês de julho, vontade de brincar com tudo isso. Convidei-o para ser meu ‘amigo’ no Orkut. Ele aceitou. Criei, então, a comunidade ‘Eu e Olavão, Agora Amigos’ (se estiver na rede de relacionamentos, acesse pelo link http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=2964274). Num trecho da apresentação, pode-se ler: ‘Discordamos em tudo, é verdade. Esta é, no entanto, uma apologia à liberdade de expressão. Os xiitas que nos perdoem… Mas fairplay é fundamental’.
Olavo ingressou na comunidade e me respondeu: ‘Bravíssimo, amigo! É assim que se faz. Antigamente, no Brasil, a amizade entre os discordes era a norma. Hoje a norma é ódio, medo, desconfiança. Temos de acabar com isso. Espero que o seu exemplo pegue’.
Respondi-lhe: ‘Prezado Olavo, sempre poderão trancafiar os corpos e cercear a manifestação do pensamento. A boa vontade, porém, é indivisível no coração daqueles que sabem respeitar o seu próximo. Saudações!’
Ele, depois: ‘José Paulo: Precisamos reconstruir o sentido do verdadeiro debate nacional, e você está dando um exemplo de como se faz. Quando eu era moleque, era normal o pessoal trocar sopapos e depois ir jogar bola, sem guardar rancor. Vamos restaurar o espírito esportivo antes que as pessoas esqueçam o que era’.
Uma olaviana me escreveria: ‘Parabéns, Lanyi! Gostei do seu espírito esportivo. Desde aquele quebra-pau com o Olavo no ‘Comunique-se’, sempre achei que você não era nenhum idiota de coração duro. Sempre achei que você podia perfeitamente ser um cara legal. Minha intuição estava certa. Um beijo e fique com Deus’. Hahaha!!!! Idiota de coração duro…
Não haveremos de confundir as coisas. A simpática olaviana, com quem conversei um pouco mais depois, louva-me a atitude ‘esportiva’. Nisso, no conceito, eu concordo com ela. Quanto ao resto, ou seja, quanto ao que penso dos métodos do Olavão, nada tenho a corrigir, mantenho o pensamento exposto aqui no Comunique-se, qual seja, de que ele não faz jornalismo, mas panfletarismo paranóico de direita.
De seu lado, o articulista certamente continua a considerar-me o ‘mico do esquerdista Arbex’, um ‘asno que acaricia o asno’, o que seja.
Somos ‘inassociáveis’, não se duvide disso. Mas pouco importa, o fulcro aqui é outro, é o bom-humor, é o debate que preserva o fígado, é discutir idéias, não pessoas, como ensinava o Oscar Wilde. É divergir mas preservar a integridade alheia – aqui com o sentido de unicidade, de individualidade.
Aos que desaprovam esta trégua dedico a maior das consolações: eu tenho um ‘amigo’ embusteiro; ele, um ‘amigo’ difamador e macaquito (homenagem aos arrrentinos).
Nós nos merecemos.’
IDIOTICE SEGUNDO CHICO
‘A globalização do baixo-astral’, copyright O Estado de S. Paulo, 3/07/05
‘Os jogadores brasileiros já festejavam a conquista da Copa das Confederações, quando Galvão Bueno exclamou, três ou quatro vezes: ‘Como é bom ser brasileiro!’ Durante e ao cabo de um jogo como aquele, sim. Depois, bem, depois caímos na real – e só os milionários integrantes da seleção continuaram achando bom ter nascido na terra que mais jogadores de futebol exporta para o resto do mundo.
Enfunado pela mesma euforia, alguém comentou que o verdadeiro Brasil era aquele que, esbanjando talento e competência, surrara a seleção argentina. Infelizmente, não é. O verdadeiro Brasil, dói-me dizê-lo, é o que aparece todos os dias nos jornais e todas as noites no Jornal Nacional. O Brasil do mensalão, do Roberto Jefferson, do Marcos Valério.
Na véspera da final da Copa das Confederações, alguns jornais daqui divulgaram trechos de uma entrevista de Chico Buarque ao diário catalão La Vanguardia. Ela tinha tudo para ser uma conversa fiada sobre amenidades e lugares-comuns, mas Chico deu-lhe outro rumo, transformando-a num auspicioso chorrilho de críticas ao que o Brasil tem (ou passou a ter) de pior: o primado da idiotice, o culto à ‘fama boba e oca’, a bisbilhotice da imprensa. ‘Eu nunca vi um movimento geral de idiotice como o de hoje’, sintetizou Chico, que estima em 15 anos a vigência desse descalabro.
Que eu e outros insistamos que o Brasil está cada vez mais idiota e nossas increpações desçam pelo ralo, vá lá, mas Chico não é um cidadão qualquer. Chico é uma opinião que conta em dobro, um farol, uma bússola. Se o Brasil não estivesse tão idiotizado, nossa mídia teria saído em campo para repercutir e discutir suas críticas com a mesma velocidade com que repercutiu e ficou ruminando aquelas fotos que um paparazzo à altura do país que hoje temos tirou dele e uma suposta namorada na Praia do Leblon. Fofoca, babado, mexerico, sim. Discussão, autocrítica, lhufas.
A idiotice, sem dúvida, nos rodeia. Como a imprensa muito a estimula (e não estou pensando apenas na revista Caras e seus patéticos epígonos), é de certo modo compreensível a sua relutância em dar corda a uma polêmica que fatalmente a poria na berlinda, questionando-lhe o cinismo com que abdicou de sua missão educativa e iluminista e a desatinada complacência com que se deixou contaminar pela mais vil retórica populista, pelo é-isso-que-o-leitor-quer. A tal ponto chegamos que ninguém se surpreenderá se a Playboy fizer da secretária Fernanda Karina Somaggio uma pin-up, daqui a alguns meses, e sondar a órfã Suzane von Richthofen para umas fotos au naturel, quem sabe encimadas com o título ‘Hábeas corpo!’ Nossos delitos não acabam só em pizza, mas também em…, cala-te boca.
A grandeza de Chico também pode ser avaliada por sua recusa em comercializar (quase escrevo prostituir) sua presença em eventos que não lhe dizem respeito. Faz parte do culto à ‘fama boba e oca’ o aluguel de artistas, de preferência globais, para fazer figuração em festas cujos anfitriões eles mal ou nem conhecem. Nada lhes é exigido, nenhuma demonstração de seus eventuais dotes artísticos, nada: apenas sua presença física, para que os demais convivas pensem que o dono da festa é amigo de celebridades.
Essa forma cretina e deletéria de ostentação social não sai barato. Pela última tabela divulgada, a atriz Deborah Secco está cobrando R$ 25 mil por festa (ou inauguração, desfile e rodeio) e Fernanda Lima, R$ 15 mil. Quem for contra apelidar isso de ‘festalão’, levante o dedo.
A qualquer momento, Chico pode se invocar e decidir, pela segunda vez, tomar longas férias do Brasil. No final dos anos 60, em plena ditadura militar, ele foi morar na Itália, onde até virou jornalista, correspondente do Pasquim. Neste começo de século, perseguido por outro tipo de ditadura, a ditadura da idiotice, ele ao menos pode se dar ao luxo de exilar-se em Paris, no apartamento que há tempos comprou sem precisar vender sua presença física em rega-bofes de novo-rico. Terá outro padrão de vida, mas não ficará, hélàs!, inteiramente livre das cretinices que pelo planeta se espalharam que nem vírus.
Além de ainda não ter sido criado o asilo de salubridade – em nome do qual poderíamos pedir socorro numa embaixada ou consulado estrangeiro, sob a alegação de que a idiotice nos persegue, reprime e tortura – as opções de exílio diminuíram consideravelmente nos últimos 40 anos. A Europa passa por uma crise braba de identidade e representatividade, para não tocar em sua estagnação econômica.
Maracutaias até a França tem, inclusive na área em que Chico mais atua hoje em dia. Descobriram esta semana que 30 mil livros e manuscritos foram roubados da Biblioteca Nacional de Paris e que os três maiores prêmios literários da França são jogos de cartas marcadas. Os EUA da era Bush? Espantam até os americanófilos.
E a América Latina, como de hábito, vai muito mal das pernas – exceto no futebol, é claro. Houve há dias, em Caracas, um ‘encontro de reflexão’ sobre o continente, patrocinado pela Corporação Andina de Fomento, que, a julgar pelo relato do jornalista Clóvis Rossi, da Folha de S.Paulo, foi uma depressão só. Constatou-se que os seqüestros e a corrupção tornaram-se epidêmicos ao sul do Rio Grande, os governos progressistas ou de esquerda não conseguiram amenizar a desigualdade social e o receituário do Consenso de Washington não diminuiu em nada o subdesenvolvimento.
Segundo o presidente da CAF, mesmo se mantido o excepcional ritmo de crescimento econômico do ano passado (o melhor dos últimos 25 anos na região) e ainda que o mundo rico cresça abaixo da média, a América Latina levará de 70 a 110 anos para alcançá-lo.
Com a derrocada do comunismo, o mundo, segundo Francis Fukuyama, teria chegado ao ‘fim da história’, a um tempo em que os governos ocidentais poderiam dedicar-se a unificar o sistema internacional, atrelando-o às benesses da democracia e da economia de mercado. Considerando-se que os EUA já não estão seguindo estritamente os princípios democráticos e a economia de mercado não resolveu os problemas que se propunha sanar, já há (John Gray, por exemplo) quem veja o projeto teorizado por Fukuyama como tão utópico quanto o projeto marxista, porém menos duradouro que a União Soviética.
Não tenho dúvida de que a globalização veio para ficar. Mas, por enquanto, o que de mais notável globalizamos foi a idiotice. E o decorrente baixo-astral.’
JORNAL DA IMPRENÇA
‘O rei do gatilho’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 3/07/05
‘O considerado Ageu Vieira garante que em anos e anos de fidelidade aos filmes de faroeste, jamais encontrou um rei do gatilho como o que foi apresentado pela agência Terra, atocaiado embaixo do título Frentista é assassinada em Campo Grande:
Uma mulher foi morta a tiro no início desta tarde no bairro Santa Fé, em Campo Grande. Identificada como Maria Roseli Mendes, 33 anos, ela foi assassinada na sala de sua casa, na Rua das Garças, com um tiro no pescoço, nuca e cabeça.
O assassino teria sido visto por uma pessoa, mas ele não foi reconhecido como morador da região.
Fascinado pela pontaria do meliante, Ageu abriu o peito à euforia:
‘O matador conseguiu, com um único tiro, acertar a cabeça, o pescoço e a nuca de dona Maria Roseli!!! Billy The Kid jamais conseguiu proeza sequer parecida e o mesmo pode-se dizer do delegado Wyatt Earp e de Doc Holliday.’
Janistraquis, amante dos filmes de faroeste desde os tempos de Rocky Lane, Hopalong Cassidy, Johnny Mack Brown, Bill Elliott, Roy Rogers, Rex Allen, Gene Autry, Buck Jones, Tim Holt, Monte Hale, Tex Ritter e Tom Mix, compreendeu o espanto desse nosso competente colaborador:
‘Ah, considerado, o Ageu não viu aquele filmão que foi Winchester 73. Se o assassinato de dona Maria tivesse acontecido por volta daquele ano, a polícia poderia botar a culpa no James Stewart, sem nenhum medo de errar…’
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Greve geral
Notinha publicada no Portal da Comunicação na segunda-feira, 27/6:
Ministério da Cultura está em greve
Fatos novos, esta semana, deram uma mexida nos impasses que envolvem a greve dos servidores do Ministério da Cultura (MinC), que desde 4 de abril afeta suas atividades. Após mais de dois meses de paralisação, o Ministério do Planejamento finalmente divulgou um ofício, na terça-feira, em que apresenta uma proposta para a área.
Meu secretário, que anda mais relasso do que o ministro Gilberto Gil, leu e deixou cair o queixo:
‘Caramba, considerado, dois meses de greve!!! E o pior é que ninguém notou a paralisação do Ministério da Cultura…’
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Mea-culpa
Deu na BBC Brasil, via Folha Online:
‘Idiotice cresce perigosamente no Brasil’, diz Chico.
Em entrevista ao jornal ‘La Vanguardia’, de Barcelona, o cantor Chico Buarque diz que ‘a idiotice vem crescendo perigosamente’ no Brasil nos últimos 15 anos.
Ele faz a declaração ao responder a uma pergunta a respeito da busca pela fama no país, acrescentando que foi na década de 1990 que ‘começou a idiotice’.
Janistraquis, incondicional fã daqueles olhos verdes, leu e deu um sorrizinho maroto:
‘Pois é, considerado… pois é… o diabo é que a idiotice começou há 15 anos, segundo o cantor, compositor e escritor, mas ele faz a denúncia somente agora, em pleno governo do PT que sempre apoiou. Ou será que o mea-culpa nada tem a ver com política e sim com a derrota do Fluminense pro Paulista de Jundiaí?’.
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Culposo
O considerado Dimas de Figueiredo Campos garante não ser ‘adevogado’, como tantos que o colunista despreza solenemente, e nos envia notinha da seção Datas, da Indispensável.
Condenado: a sessenta anos de prisão o ex-membro da organização racista Ku Klux Klan Edgar Ray Killen, 80, pelo assassinato de três homens, em 1964 – caso que inspirou o filme Mississippi em Chamas. James Chaney, um negro do Mississippi, e os brancos Andrew Goodman e Michael Schwerner registravam eleitores negros no condado de Neshoba quando foram mortos a tiros e enterrados numa fazenda. Os corpos foram encontrados 44 dias depois. Killen recebeu três sentenças consecutivas, de vinte anos cada uma, por homicídio culposo. Dia 21, no Mississippi.
O advogado Campos reclama:
Ora bolas! O redator de Veja não sabe a diferença entre homicídios doloso e culposo. Culposo é quando não se tem a intenção de matar, como acontece muito nos acidentes de trânsito. Será que o velhinho, que já carrega um sobrenome, digamos, fronteiriço (Killen) não tinha intenção de matar quando assassinou as três pessoas?!?!?! É difícil de acreditar…
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Funciona!
Viva o Brasil de Parreira, Adriano, Kaká, Cicinho, Ronaldinho Gaúcho… o único que realmente funciona e dá alegrias ao contribuinte!!!
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Suruba
Depois de muito pesquisar e incomodar Deus e o mundo com pedidos de entrevista, quase sempre negados, diga-se, Janistraquis chegou à seguinte conclusão acerca de importante episódio de nossa história contemporânea:
‘Considerado, está comprovadíssimo: aquela frase ‘depois de mim, o Delúbio’, atribuída a Fernando Henrique Cardoso, foi em verdade pronunciada no falecido ano de 1993 por Paulo César Farias, durante uma ruidosa suruba em Maceió.’
Sem dúvida, a frase está mais para PC do que para FHC.
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Frase do ano
‘Os desarmamentistas acham que, com o fechamento das fábricas e proibição do comércio de armas no Brasil, findam-se os homicídios, da mesma forma como alguns moralistas têm certeza de que, se forem fechados todos os motéis, acabam-se os cornos.’ (Janistraquis de Azevedo Varejão, durante palestra para associados do Touring Club de Capinzal.)
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Galináceos
O considerado Camilo Viana, diretor de nossa sucursal belo-horizontina, leu na revista A Índia Perspectivas, publicada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros daquele exótico berço de Ravi Shankar:
‘É a galinha doméstica (Gallus gallus), vulgarmente conhecida como ‘jungli murghi…’
Camilo, que é mineiro criado com galinha ao molho pardo, acompanhada de quiabo e arroz soltinho, ficou perplexo:
‘Olhe, nem em Concórdia ou Pará de Minas, cidades com as maiores populações avícolas do Brasil, alguém chama galinha pelo vulgo apontado pelos indianos!’
Realmente, fica meio esquisito o sujeito entrar num restaurante, em qualquer país do mundo, e pedir uma jungli murghi bem assada…
Janistraquis me corrigiu: ‘Em qualquer país do mundo, vírgula! Se o considerado entrar num restaurante indiano e pedir jungli murghi (ou apenas murgi), certamente te servirão galinha…’
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Defesa
Leiam no Blogstraquis o artigo do escritor e dramaturgo Izaías Almada, publicado em Caros Amigos. Ele garante que a crise brasileira é artificial, faz uma defesa apaixonada do PT, pede a união de todos os esquerdistas na luta pelo socialismo e acredita que ‘muito poderíamos aprender com os nossos vizinhos e irmãos bolivianos’. Atente também para o link que remete à Carta aos Brasileiros.
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Incipiente
Diretor de nossa sucursal no Planalto, onde, sabe-se, discos voadores costumam aterrissar, o mestre Roldão Simas Filho, enjoado da politicagem nacional, assestou suas baterias na direção da editoria ‘Mundo’, do Correio Braziliense, e acertou mais uma:
O jornal diz, sob o título Canto do Cisne, que ‘Gerhard Schröeder se prepara para deixar o poder após oito anos de governo e com resultados incipientes.’
Creio que houve troca indevida do adjetivo aplicado. Incipiente significa inicial, iniciante, principiante. O jornalista talvez tenha querido dizer resultados insignificantes.
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Nota dez
Pertence à sempre proveitosa lavra do escritor e professor Deonísio da Silva o mais instigante texto da semana, originalmente publicado no Observatório da Imprensa. Sinta o tom no excerto abaixo e confira a íntegra no Blogstraquis:
O que a imprensa fará com os inocentes?
A imprensa, ao fazer tantas denúncias, obriga-nos a perguntar a advogados o que podem esperar os titulares daqueles nomes e rostos apresentados como corruptos ou corruptores, mais aqueles do que esses, pois esses costumam ser estranhamente poupados. Se todos são iguais perante a lei, todos são inocentes até prova em contrário.
Mas, como sempre acontece em casos semelhantes, não estão sendo apenas denunciados. Já foram julgados e condenados. E começam a cumprir as respectivas sentenças que a imprensa, não o Judiciário, lhes impôs.
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Errei, sim!
‘DANOU-SE O LULU – Do arquivo do Erramos, da Folha, que Janistraquis organiza com tecnologia IBM e apoio da Lei Sarney: ‘Na reportagem intitulada Lulu Santos ataca o rock e diz que o negócio é MPB, publicada ontem na pág. E-5, há três erros: o disco Cabeça Dinossauro, dos Titãs, não foi produzido por Lulu Santos e sim por Liminha; Sérgio Brito, dos Titãs, não é filho de Severo Gomes e sim do vice-governador Almino Afonso; Lulu Santos não viu o show de Iggy Pop nos Estados Unidos e sim no Rio de Janeiro.’
Comentário de Janistraquis: ‘Considerado, esse tal de Lulu Brito demora a dar entrevista; mas quando se resolve, provoca um escarcéu danado. Cabra bom de serviço…’ (agosto de 1989)’
LÍNGUA PORTUGUESA
‘Crocodilos terceirizados’, copyright Jornal do Brasil, 3/07/05
‘Arrastando-se em empresas, bancos e palácios, crocodilos terceirizados tomaram as presas e as repartiram entre os mandantes, que agora integram o exército de inquisidores. Parlamentares sinceros que se cuidem: a Casa está cheia de crocodilos! E todos estão chorando no mar de lama.
É no parlamento que a palavra mostra a sua força, mas é ali também que revela a hipocrisia de muitos. Ferramenta de trabalho, vem acompanhada de gestos teatrais, gritos, caras e bocas. Os falantes sabem que seu interlocutor não é apenas o deputado ou senador a sua frente, mas ouvintes, telespectadores e leitores. Não parecem falar para seus pares, nem sequer estão interessados uns nos outros. Falam para seus eleitores, é como se prestassem conta a quem os pôs lá.
Mais falamos e ouvimos do que escrevemos e lemos. E ritos diferenciados presidem aos atos da falta e da escrita. O espetáculo das comissões parlamentares de inquérito, conhecidas como CPIs, sugere antiga lenda, apresentada como fato histórico. Crocodilos reunidos em assembléia, às margens do Rio Nilo, choravam alto, fingindo grande tristeza, tudo para chamar a atenção das pessoas que por ali passavam. Comovidas, elas iam ver o que era aquilo e eram devoradas.
Isso foi o que escreveu Plínio, o Velho, morto pelo Vesúvio quando ia resgatar as vítimas do vulcão. Ninguém se salvou em Herculano e em Pompéia. O pesquisador romano, que viveu no primeiro século da era cristã, foi o primeiro a registrar e explicar a expressão ‘lágrimas de crocodilo’.
A ciência moderna explicou de outro modo: o crocodilo não tem piedade de suas presas. Ao mastigá-las, o réptil chora porque comprime as glândulas que tem no céu da boca. Tal imagem ficou em nossa língua para designar o choro fingido e outras falsidades.
E não está apenas no latim e no português. Raimundo Magalhães Júnior, em Dicionário brasileiro de provérbios, locuções e ditos curiosos, reuniu três autores que utilizaram a metáfora: dois do inglês e um do francês.
O primeiro é Shakespeare. Na cena I do quarto ato de Otelo, as lágrimas da bela Desdêmona são desprezadas na imagem do pavoroso e assustador réptil: ‘se a terra estivesse cheia de lágrimas femininas,/ cada gota comprovaria um crocodilo’.
O segundo é Francis Bacon, que invoca em seus Ensaios a hipocrisia dos mesmos répteis: ‘esta é a sabedoria dos crocodilos, que derramam lágrimas quando vão devorar’.
O terceiro é o francês La Fontaine, que não poupou as mulheres ao compará-las a crocodilos quando querem seduzir: ‘lágrimas de crocodilo, olhos lascivos, doces palavras,/ suspiros, sorrisos lisonjeiros, tudo é posto em uso,/ quando se trata de cativar um amante’.
Lembre-se de que os répteis têm tal designação porque parecem arrastar-se sobre a terra, tão curtos são seus membros e patas que, no caso dos crocodilos, semelham duplas de braços e mãos. Foi de um adjetivo do latim tardio, reptilis, do verbo repere, arrastar-se, que o português fez o substantivo réptil, provavelmente depois de sua escala no francês reptile.
Quanto aos vulcões, aqueles que entram em erupção em Brasília, costumam poupar quase todos, menos os contribuintes, a cada dia mais sobrecarregados de impostos.’