Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Jovem artista engana imprensa cearense

Matéria do Estadão conta a interessante história da aguardada exposição de um dos principais nomes da arte contemporânea universal: o japonês Souzousareta Geijutsuka. Nunca ouviu falar? É claro que não, pois ele não existe. O tal artista não passa de invenção de um jovem de 23 anos de Fortaleza. Com entrevista por e-mail, namorada se passando por assessora e muito papo-cabeça, ele enganou a imprensa da capital cearence. Brincadeira de moleque? ‘A intenção foi mostrar como a arte hoje em dia encontra-se subordinada a exigências e manipulações mercadológicas e a modelos construídos e legitimados pela mídia, pelas galerias e pelos museus’, explica o jovem, em artigo assinado por Lira Neto.


Leia abaixo os textos desta terça-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 17 de janeiro de 2006


 


PROPOSTA MILIONÁRIA
Daniel Castro


Record paga R$ 2 mi para ter repórter global


‘A Record está disposta a gastar R$ 2 milhões para tirar um único repórter da Globo. Esse é o valor que a emissora se comprometeu a pagar pelo ‘passe’ do repórter especial Carlos Dorneles.


Ontem, Record e Dorneles acertavam os últimos detalhes da negociação. ‘Estamos conversando’, confirmou Dorneles.


Em agosto, o jornalista renovou contrato com a Globo, que estipula multa rescisória de R$ 2 milhões. Terá de pagar essa quantia à Globo caso deixe a emissora. A Record lhe ofereceu um contrato assumindo essa despesa (‘passe’). É normal emissoras pagarem multas dessa monta por âncoras, mas não por repórteres.


Dorneles é muito prestigiado na Globo. Recentemente, escreveu a todos os jornalistas da rede uma crítica da cobertura dos escândalos no governo federal. Avaliava que a Globo estava passiva, apenas recuperando o que era publicado por jornais e revistas. Entretanto, não foi repreendido.


Se conseguir contratá-lo, a Record terá em Dorneles o principal reforço para o novo ‘Jornal da Record’. Até ontem, a emissora já tinha tirado nove profissionais da Globo, mas nenhuma ‘estrela’.


As negociações entre Dorneles e Record estão tendo o aval de Celso Freitas, ex-Globo, que será âncora do ‘Jornal da Record’. Para o lugar de Freitas no ‘Domingo Espetacular’, a Record tentou Sérgio Chapelin, que preferiu continuar no ‘Globo Repórter’.


OUTRO CANAL


Má notícia SBT e a jornalista Mônica Waldvogel não chegaram a um acordo financeiro e o ‘talk show’ ‘Dois a Um’ deixará de ser exibido a partir de fevereiro. A produção independente, que completaria dois anos em abril, já não está mais sendo gravada.


Baixa 1 Vítima de uma hepatite, Glória Pires ficará duas semanas afastada das gravações de ‘Belíssima’. O autor, Silvio de Abreu, inventou uma internação por estresse para Júlia, após ela passar mal ao tentar identificar o ‘corpo’ de Bia (Fernanda Montenegro).


Baixa 2 Com a ausência de Júlia, André (Marcello Antony) assume a presidência da Belíssima. E Gigi (Pedro Paulo Rangel) e Ornela (Vera Holtz) se unem a Nikos (Tony Ramos) para tirar Vitória (Cláudia Abreu) da cadeia. ‘Acho que o público vai ganhar mais ainda em ação e mistério’, diz Abreu.


Papel A Record acusa a revista ‘Época’, da editora Globo, de recusar um anúncio seu, em que comemorava seu crescimento no Ibope e afirmava que ‘o Brasil descobriu que novela de sucesso não é privilégio de uma só emissora’. A direção da ‘Época’ afirma que o anúncio só não saiu porque foi reservado fora do prazo.


Virada O ‘Domingo Legal’ (SBT) reagiu anteontem. Venceu o ‘Domingão do Faustão’ por 13 pontos a 12. Até o ‘Tudo É Possível’, de Eliana (Record), bateu a Globo _durante apenas dois minutos.’


 


O JARDINEIRO FIEL
Folha de S. Paulo


Rachel Weisz recebe o Globo de Ouro de coadjuvante por filme de Fernando Meirelles


‘A inglesa Rachel Weisz ganhou ontem o Globo de Ouro de melhor atriz coadjuvante por seu desempenho no filme ‘O Jardineiro Fiel’, dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles.


Em seu discurso de agradecimento, Weisz homenageou Meirelles, por seu ‘extraordinário talento’ e ressaltou que ele é ‘igualmente talentoso’ em suas qualidades humanas, além das profissionais.


Weisz dividiu o prêmio com o ator inglês Ralph Fiennes, que interpreta o protagonista do filme e não recebeu indicação.


Meirelles, que acompanhava a solenidade, aplaudiu com entusiasmo o prêmio à atriz. Ele estava indicado a melhor diretor. ‘O Jardineiro Fiel’ concorria também a melhor filme. Os vencedores nessas categorias não haviam sido anunciados até o fechamento desta edição.


O prêmio a Weisz foi o segundo da noite. Antes dela, George Clooney recebeu o troféu de melhor ator coadjuvante por ‘Syriana’. Ambos os prêmios foram anunciados e entregues pelos atores Nathalie Portman e Adrien Brody.


Em ‘O Jardineiro Fiel’, Weisz interpreta a ativista política Tessa Quayle, cujo assassinato é investigado pelo marido, Justin Quayle (Fiennes), desvendando uma trama de lobby da indústria farmacêutica para uso de cobaias humanas na África.


Conhecida por sua atuação em ‘A Múmia’, Weisz viu em ‘O Jardineiro Fiel’ a oportunidade de redirecionar sua carreira, com papéis mais exigentes e de mais prestígio. Conseguiu.’


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 17 de janeiro de 2006


 


ARTE INVENTADA
Lira Neto


Um artista ‘genial’. E ele nem existia


‘Seria um acontecimento. O japonês Souzousareta Geijutsuka, anunciado pela imprensa cearense como um dos principais nomes da arte contemporânea universal, era ansiosamente esperado semana passada em Fortaleza, para abrir a exposição Geijitsu Kakuu. Convidado especial da curadoria do Museu de Arte Contemporânea do Ceará, Geijutsuka mostraria ao público cearense por que seu trabalho é aclamado em todo o planeta como uma obra revolucionária que, segundo o material de divulgação de sua eficiente assessoria de imprensa, incorpora ‘novos conceitos à arte’, como os de ‘operação em tempo real, simultaneidade, supressão do espaço e imaterialidade’. Os jornais locais deram amplos espaços para a divulgação da exposição. Um deles chegou a publicar, no dia marcado para a abertura do evento, uma entrevista de página inteira com Geijutsuka. Tudo perfeito, não fosse um detalhe: Souzousareta Geijutsuka não existe.


A idéia de inventar o tal japonês que – segundo informava um jornal de Fortaleza – ‘conquistou fama mundo afora por unir arte, ciência e tecnologia’ partiu de um jovem artista de 23 anos, Yuri Firmeza, paulistano radicado na capital cearense desde a infância. ‘A intenção foi mostrar como a arte hoje em dia encontra-se subordinada a exigências e manipulações mercadológicas e a modelos construídos e legitimados pela mídia, pelas galerias e pelos museus’, explica Firmeza. Para tornar sua história mais verossímil, ele conseguiu convencer especialistas a escreverem textos críticos sobre a obra do fictício Geijutsuka, incluindo aí o próprio diretor técnico do Museu de Arte Contemporânea do Ceará (MAC), Ricardo Resende, 43 anos, ex-curador do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM). ‘Vivemos uma era em que muitas outras forças, além daquelas que o artista naturalmente dispõe para criar, regem o sistema da arte’, já denunciava também Resende, de forma velada, no texto de apresentação da ‘exposição’.


Tudo foi planejado nos mínimos detalhes. A namorada de Yuri Firmeza se fez passar por assessora de imprensa e abasteceu os jornais locais com imagens de algumas das ‘obras’ de Geijutsuka. Entre elas, uma série de fotos prosaicas de um gato, que foram publicadas na imprensa local como sendo cenas de um ‘videoarte’ do ‘genial japonês’. ‘Era apenas um gatinho que vi na rua, num bairro aqui em Fortaleza, e fotografei com minha máquina digital doméstica’, revela Firmeza. Uma fotografia de uma ensolarada praia cearense, distorcida em um editor de imagens para parecer uma figura abstrata, foi estampada também pela imprensa local como um ‘infográfico’ de Geijutsuka. Na legenda da ilustração, uma frase pinçada da longa ‘entrevista’ que ele havia concedido, por e-mail, ao jornal: ‘Os historiadores da arte são iguais ao público: têm dificuldades de reagir ao que não entendem’.


Yuri deixou algumas pistas propositais, que não foram decodificadas pelos jornalistas. Em japonês, Souzousareta Geijutsuka significa exatamente ‘artista inventado’. E o nome da exposição, Geijitsu Kakuu, pode ser traduzido como ‘arte e ficção’. No material de divulgação repassado à imprensa, dizia-se ainda que o suposto artista havia criado a fotografia ‘Shiitake’, nome do cogumelo que pode ser encontrado em qualquer restaurante japonês, mas que foi definida por sua ‘assessoria de imprensa’ como uma ‘técnica que permite a captação dos fenômenos invisíveis ocorridos na atmosfera’.


No dia da abertura da anunciada exposição, em vez das obras revolucionárias de Souzousareta Geijutsuka, o público deparou-se apenas com uma série de e-mails pregados na parede da sala reservada ao evento pelo museu. Nas mensagens, Yuri Firmeza e um amigo trocavam idéias sobre arte contemporânea e discutiam animadamente a obra de autores como Gilles Deleuze, Antonin Artaud e Pierre Bordieu. Dessa troca de e-mails é que surgira a idéia de criar um artista imaginário. ‘O que me interessa é interrogar sobre a qualidade do que compõe todo esse sistema de legitimação estética: críticos, jornais, artistas, curadores, galerias, museus e o próprio público’, escreveu Firmeza em uma dos e-mails ao amigo. ‘Não sei como será a receptividade em relação ao Geijutsuka, mas acredito que suscitará saudáveis desconfortos’, previa.


Dito e feito. Revelado o simulacro, a reação da imprensa cearense foi violenta. Yuri Firmeza foi chamado de ‘moleque’ pelos jornais e foi alvo de editoriais indignados. Sobraram farpas também para a direção do MAC por ter ‘compactuado com a farsa’. ‘Em vez de irritar-se, a imprensa está perdendo uma ótima oportunidade para refletir sobre as provocações que Yuri Firmeza fez a todos nós’, avalia o diretor técnico do museu. ‘Não se tratou de uma ferroada à mídia local, o mesmo poderia ter ocorrido em qualquer lugar do país. No Brasil, somos deslumbrados pelo que vem de fora e pelo que nos é apresentado como algo novo e revolucionário, é nisso que todo esse episódio nos obriga igualmente a refletir’, analisa Resende.


‘Bastaria fazer uma rápida pesquisa no Google para que os jornalistas descobrissem que não havia, na internet, nenhuma menção ao tal Geijutsuka, apresentado como um artista famoso, com exposições consagradoras em Tóquio, Nova York, São Paulo e Berlim’, diz Yuri Firmeza. ‘Mas eu não quis provocar apenas a imprensa, isso seria reduzir o alcance da denúncia; a provocação foi extensiva a todo o circuito das artes em geral’, insiste ele, que mantém uma página pessoal na internet (http://yurifirmeza.multiply.com/) onde registra suas principais performances – ou suas ‘orgias multipoéticas’, como prefere definir. Não se estranhe nada do que for visto ali. Afinal, na pele de Souzousareta Geijutsuka, na ‘entrevista’ à imprensa de Fortaleza, ele já advertira: ‘Tudo está integrado a um exercício do simulacro, cujo objetivo é retirar os hábitos de seu estado de evidência’. Seja lá o que isso possa vir a significar.’


 


TROCA DE CASA
Keila Jimenez


Casoy pode ir para a RedeTV!


‘Boris Casoy pode ir para a RedeTV!. A emissora estaria interessada no passe do jornalista, que deixou a rede Record em dezembro, rescindindo seu contrato 11 meses antes do vencimento. Boris, que está viajando em férias pela Europa, teria tomado conhecimento da intenção da emissora de levá-lo para seu cast, mas ainda não recebeu nenhuma proposta formal.


A RedeTV! estaria esperando o jornalista voltar de viagem em fevereiro para colocar em suas mãos a minuta de contrato.


Entre as idéias da emissora está a de ter Boris no comando de um noticiário mais analítico no fim da noite, como o RedeTV! News, atualmente apresentado por Marcelo Rezende.


A RedeTV!, por sua vez, nega a negociação, mas o fato é que além de morar ao lado da emissora, em Alphaville, Boris tem um amigo dentro da rede, o superintendente do Jurídico da RedeTV! Dennis Munhoz, que foi presidente da Record.


Uma das principais intenções da emissora com a chegada de Boris seria a de investir mais na cobertura das eleições deste ano. A RedeTV! gostaria de ser palco de debates políticos em 2006 – campo pouco explorado por ela até então – e Boris é famoso por comandar bem esse tipo de evento.


Na Record, o seu antigo noticiário, o Jornal da Record, deve ganhar novos apresentadores em fevereiro. Celso Freitas, já certo na vaga de âncora, e Adriana Araújo (ex-Globo), ainda em teste, devem assumir o posto no início de fevereiro.


Se aceitar o convite da RedeTV!, Boris poderá levar com ele alguns integrantes da equipe que o acompanhavam na Record.


A pergunta que não quer calar é: onde a RedeTV! colocará Marcelo Rezende com a chegada de um novo âncora? Bem, essa é uma outra história.’


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