Friday, 15 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Juliana Mariz

‘Acabou a fase juvenil do software livre. As grandes empresas querem mais poder dentro da comunidade

O finlandês Linus Torvalds está sob pressão dentro da sua própria comunidade. Criador do sistema operacional Linux, ele tenta conter uma rebelião daqueles que querem tornar mais freqüente renovações do software. Torvalds é o responsável por analisar e distribuir cada nova mudança no código fonte do Linux – a alma dos programas de computador – e isso está incomodando quem deseja mais agilidade no processo para atender as necessidades do mercado. Hoje cerca de 90% das novidades em torno do software são feitas por empregados contratados de grandes empresas como a IBM, Sun Microsystem e a Hewlett-Packard. São funcionários comprometidos com as diretrizes das suas companhias que ganham bônus por desempenho, recebem benefícios das corporações e trabalham de acordo com as leis de mercado. Graças a esse contigente, o Linux se transformou em uma grande multinacional com ramificações em vários países. A oposição exige de Torvalds mais compromisso com a expansão dos negócios e que use um software especial para fazer as atualizações.

A cadeia produtiva montada hoje em torno do Linux é tão sofisticada quanto qualquer outro setor da indústria mundial. Tudo por um simples motivo: o software se tornou um grande negócio e uma real opção ao Windows. Na ponta desse universo estão as grandes marcas da tecnologia como IBM e HP, que gastam milhões de dólares no desenvolvimento de produtos baseados no programa. No segundo plano estão os distribuidores como a americana Red Hart ou a brasileira Conectiva, que se encarregam de empacotar o que está sendo produzido para em seguida comercializá-lo no mercado. A última parte dessa estrutura é o mercado consumidor formado por grandes companhias e pequenas empresas. ‘O Linux se transformou em uma indústria com regras claras e uma lógica própria. Não há como fugir dessa realidade’, afirma Paulo Maciel, diretor da International Syst, com sede no Brasil, que colocou no mercado um programa de computador que interage com o Windows sem problemas e utiliza os recursos do Linux. A estimativa mais otimista indica que há 72 milhões de pessoas no mundo trabalhando no desenvolvimento de projetos baseados em Linux. Os críticos de Torvalds afirmam que sozinho ele não tem como administrar tanta informação gerada a cada dia e as empresas podem fazer essa tarefa com maior eficiência e rapidez. Torvalds prometeu pensar no assunto.’



Marcelo Tas

‘Software Livre: contra e a favor’, copyright O Estado de S. Paulo, 14/02/2005

‘No Brasil, podemos nos queixar de tudo, menos da monotonia. Depois do futebol, da caipirinha e do carnaval… acredita-se que em breve vamos nos tornar o país do software livre!

Softwares são os programas que fazem o computador funcionar. Software livre, como o próprio nome sugere, é um tipo de programa que não é controlado por uma empresa ou pessoa. É colocado no mundo com os segredos abertos. Pode ser alterado com a mesma falta de cerimônia que um motor de Fusca é remendado seguidamente por brasileiros.

Taí: o Fusca pode ser o primeiro indício de que o brasileiro tem talento para software livre. Em qualquer esquina do País é possível encontrar um mecânico amador, uma espécie de hacker de automóvel tupiniquim, pronto para abrir o motor do bicho e fazê-lo funcionar. Nem que seja por algumas horas.

Mas programar computador é outra história. É coisa para nerds faixa-preta. São seres que encontram prazer em escrever, linha por linha, todos os passos que a máquina deve dar quando apertamos as suas teclas.

Os supernerds vivem num mundo paralelo. São surfistas de hard-disk, subindo e descendo ondas de zeros e uns. Numa entrevista para TV, perguntei a um deles se sobrava tempo para namorar. Respondeu com aquele sorriso tímido e nervoso de nerd que, para ele, programar computador era uma forma de sexo (!?). Ops, se for assim, parece que temos chance.

O entrevistado era Marcelo Tosatti, jovem curitibano que, aos 18 anos, se tornou o mantenedor mundial do Linux kernel 2.4. Traduzindo: o cara é uma espécie de principal guardião do núcleo principal (kernel significa caroço) do Linux, o software livre mais famoso do mundo. Trata-se de um sistema operacional de computador aperfeiçoado continuamente por uma multidão de nerds anônimos, que hoje já assusta o mega nerd Bill Gates.

Como você sabe, Gates fez sua fortuna vendendo um sistema operacional fechado, o Windows. Só ele atualiza e aperfeiçoa o programa. E cobra por isso.

O Brasil é o primeiro país do mundo a adotar software livre como política de governo. Uma tremenda ousadia do presidente Lula. Dois pontas-de-lança atuam nesse jogo pesado que cutuca cachorros-grandes da indústria. Na inspiração conceitual e animação cultural, está o ministro Gilberto Gil. Na linha de frente, chutando a canela dos beques adversários, o sociólogo Sérgio Amadeu, presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI), autarquia da Casa Civil da Presidência da República.

Nenhum dos dois é especialista no assunto. Estão longe de serem supernerds. Mas fazem barulho e conquistam a atenção de indivíduos e instituições importantes do mundo digital. Profetas do cyberespaço garantem: se o Brasil implementar o software livre em larga escala, a China vem junto. E boa parte do resto do mundo.

Entendeu agora por que Bill Gates tentou cavar uma reuniãozinha de última hora com Lula no recente Fórum Econômico Mundial, em Davos?

Esta coluna não é devota de nenhum evangelho digital, militância política ou estratégia corporativa. Por isso se encerra colocando duas minhocas na sua cabeça: uma a favor e outra contra o software livre.

Contra: o governo vai tratar o software livre com a doçura revolucionária de Che Guevara: endurecer sin perder la ternura jamás? Ou será que a tendência stalinista de alguns membros do PT vai fazer o software livre virar uma religião, um novo monopólio? Vão criar a Linuxbrás?

É uma sinuca de bico. A força do software livre está na interação e na liberdade criativa das comunidades. Não vai ser fácil evitar que a mão pesada da máquina federal cause um desequilíbrio neste ecossistema de cérebros. Nunca na história o pessoal do software livre se viu diante de uma encomenda tão grande de trabalho. Será que eles seguram o tranco?

A favor: Estima-se que, só em licenças para usar softwares fechados, o governo brasileiro gaste mais de U$ 1 bilhão de dólares por ano. Mais do que com Cultura e Fome Zero juntos. Com tantos problemas para resolver, o Brasil não precisa ajudar Gates a ficar mais rico do que ele já é.’



MTV
Taíssa Stivanin

‘João Gordo comanda auditório’, copyright O Estado de S. Paulo, 14/02/2005

‘O apresentador-roqueiro João Gordo, que lança livro hoje em São Paulo (leia na página D5), vai ganhar um programa de auditório de uma hora na MTV. A emissora já começou a produzir a atração, que deve entrar no mesmo horário do Gordo a Go Go – por volta das 22 horas. O talk-show terá menos tempo de duração mas vai manter as entrevistas irreverentes que marcaram o estilo do programa. Detalhes de produção ainda estão sendo acertados para que as gravações comecem em cerca de duas semanas.

A atração, ainda sem nome, está prevista para estrear na nova programação da emissora, que será apresentada na segunda semana de março e promete algumas novidades.

O cenário do novo programa do Gordo já está quase pronto e vai mostrar um pouco do universo do vocalista do Ratos do Porão. A idéia é misturar games, apresentações alternativas e ter provas inusitadas com participação da platéia.Também entrarão em cena calouros bizarros e outros números musicais.

Um dos propósitos de investir em auditório é justamente ironizar o gênero. O pacote incluirá reportagens externas, que serão exibidas ao longo da atração.

AJUDANTE DE PALCO

Na linha da sátira, João Gordo deverá ter um ajudante de palco, ainda não escolhido. Quando em 2002 substituiu o apresentador Marcos Mion no programa Os Piores Clipes do Mundo – que analisava falhas de produção ou simplesmente o mau gosto de alguns videoclipes – seu parceiro era Luiz Alves Pereira Neto, o Ferrugem, conhecido por atuar em humorísticos antigos da Globo, filmes e comerciais.’



BBB 5
Patrícia Villalba

‘Público reage e exercita o ‘joga pedra na Geni’ em rede nacional’, copyright O Estado de S. Paulo, 12/02/2005

‘Fútil e com tudo de ruim que um programa de TV pode ter, esta quinta edição do Big Brother Brasil, da Globo, acrescenta mais um ingrediente picante à série. É a versão mais bélica do tal confinamento sem privacidade. Pode-se dizer que, tomadas as devidas proporções, a atração perdeu a inocência descaradamente. Ninguém na casa está preocupado em simular amizade – aquele bordão ‘ah, eu vou votar no fulano, mas não é nada pessoal, não’ já era. Muito menos arranjar namoricos, que sempre garantiam a simpatia do público – esta é a primeira edição sem beijocas calientes.

Talvez essa mudança radical no programa tenha dado um frescor ao programa e, revoltado com tanta maldade, o público esteja indo para o telefone e a internet eliminar com gosto os espertalhões da casa – há relatos de gente que liga duas, três vezes para tirar o insuportável que está no limbo. A turma do mal ou ‘núcleo duro’ – paródia ao grupo de superministros do governo Lula – vem sendo drasticamente castigada.

Esses participantes são os mais desinteressantes entre os desinteressantes que normalmente são escalados para concorrer à bolada de R$ 1 milhão. Alguns, mais do que desinteressantes, são desagradáveis. Por outro lado, se falta carisma, sobra cara-de-pau. Tirando uns e outros – como o boa-praça Jean -, a maioria assumiu que está ali para ganhar dinheiro ou conseguir um contrato com alguma revista masculina.

Antes cheios de si, Giuliano, Rogério, Alan e Paulo André batem recordes de rejeição. Nem os olhos azuis do goleiro Giuliano o salvaram do paredão (saiu com 87% dos 22 milhões de votos). O médico Rogério – que na casa vivia sua versão Mr. Hyde, até ser eliminado no último domingo com 92% dos 31 milhões de votos – superou o recorde. Naquele dia, a média do programa no Ibope foi de 51 pontos, coisa da novela Senhora do Destino.

O núcleo duro tem nas suas fileiras alguns penduricalhos – as moças que só pensam em como manter os cabelos lisos ao mesmo tempo em que se exibem na piscina. Mas as últimas derrotas fizeram Natália deixar a chapinha de lado e esboçar uma mudança de opinião: ‘E se eu estiver com 99% de rejeição lá fora?’

Casa tensa, sem as famosas crises e cenas de falta de fôlego entre casais das edições anteriores, como Sérgio e Vanessa, Tyrso e Manuella, Dhomini e Sabrina, Marcelo Dourado e Juliana. Faltam também os hilariantes e vexatórios porres de alguns participantes durante as festas – Cida, no BBB4, e sua paixão pelo prosecco.

Em vez disso tudo, os tiques nervosos. No domingo, a produção do programa mandou bem ao mostrar em ritmo de videoclipe as manias da casa. É um festival de roeção de unhas, piscadas em série, morder de lábios e cutucação de pele.

Ninguém está se divertindo, ao que parece. O público, sim. Na quinta-feira, no quadro Big Boss, ficou decidido (por 71% dos votantes) que os BBs devem usar orelhas de burro até domingo. Chico Buarque que me perdoe por ser citado neste contexto, mas é o exercício do ‘joga pedra na Geni’, em rede nacional.’