‘Blog: Comunicação e escrita íntima na internet, de Denise Schittine. Civilização Brasileira, 240 páginas. R$ 29,90
Já é quase velha, no Brasil, a discussão em torno da validade dos blogs como jornalismo ou como literatura. Em termos de blogueiros, há os que se pretendem a quase tudo. E há, em contrapartida, os que enxergam os blogs como um gênero à parte, ponto. Nesse contexto, Denise Schittine, em seu livro ‘Blog: Comunicação e escrita íntima na internet’, consegue soar como novidade, embora tome como pressuposto uma hipótese antiga, quase abandonada: os blogs surgem dos diários íntimos, e ponto final.
O volume de pouco mais de 200 páginas é a adaptação de uma dissertação de mestrado que a autora desenvolveu na UFRJ sob a orientação de Heloisa Buarque de Hollanda. Mas que ninguém se assuste com a origem acadêmica do estudo, pois, ainda que baseado em rica bibliografia sobre os seculares diários íntimos, o livro se apóia também em extensa pesquisa de campo, com depoimentos de blogueiros brasileiros hoje célebres como Sergio Faria e Paulo Bicarato.
O ineditismo de Denise está em cruzar algumas correntes, como a do individualismo e a do voyeurismo, em nossa época, extrapolando suas conseqüências para a internet. Segundo ela, o blog remonta à evolução da família burguesa, que inventou o corredor, os quartos, a sala de visitas, e que consagrou a individualidade crescente, do walkman ao computador – uma máquina que pode ser usada por uma pessoa de cada vez, e só. Ao mesmo tempo, o desejo de sociabilidade, inerente ao ser humano, trataria de empurrá-lo para a interação, para a internet… e para os blogs.
Assim, os diários íntimos virtuais, apesar de aparentemente revelar momentos de puro egocentrismo, esconderiam, na verdade, um desejo profundo de aceitação, de sociabilização e de interatividade. Num tempo em que a vida profissional vai consumindo grandes porções da existência privada, as pessoas encontrariam ‘janelas’ através da comunicação eletrônica, onde pudessem respirar por alguns minutos, entre amigos próximos e ilustres desconhecidos, seja por meio de ‘mensageiros’, de e-mails e de weblogs.
Prazer em acompanhar a escrita pela internet
Já o voyeurismo entraria na história graças à presente demanda por informações sobre a vida alheia. Os leitores de blog, por mais adultos que se revelassem, no fundo esconderiam um prazer, muito simples, em acompanhar aquele diário que se desdobra progressivamente, a olhos vistos, no oceano da internet. Portanto, os blogueiros, por mais que se pretendessem a jornalistas e a literatos, não estariam mais que alimentando, de acordo com Denise, a vida daquele personagem inventado ou terrivelmente real, que mobiliza uma pequena platéia – permanentemente dividido entre esta e as suas ambições, como escritor, como autor, como blogger.
O raciocínio se completaria, então, com o conceito de ‘memória virtual’. Se o diarista clássico partiria da intenção de não deixar os seus dias passarem sem registro, o blogueiro moderno contaria a sua história emitindo opiniões e comentários sobre coisas, pessoas e fatos, refugiando-se na memória dos demais, em meio ao bombardeio incessante de informação. Logo, se os diaristas de antes se perpetuavam através do papel, e de um sonho latente de reconhecimento, os blogueiros usariam da tecnologia para permanecer além da existência terrestre, ambicionando igualmente reconhecimento, por parte, por exemplo, da imprensa.
Como se vê, as teses tomando por base o passado diário íntimo se encaixam perfeitamente no universo dos avançadíssimos blogs – a não ser por um detalhe único. Como explicar, nessa situação, a migração de estabelecidos jornalistas para a dita blogosfera, sendo que esses já desfrutariam da notoriedade com que todos originalmente sonhavam? Na visão de Denise, que dedica à questão todo um capítulo, esse movimento não passaria de um anseio por mais liberdade, longe das regras rígidas dos veículos da mídia, abrindo espaço para alguma experimentação. E nada mais.
Denise Schittine encerra ‘Blog: Comunicação e escrita íntima na internet’ concluindo que vamos caminhando, como previa Hegel, para o encontro com o ‘outro’. Se, no início, o outro era o ‘estranho’, contra o qual, para afirmar nossa individualidade, nos colocávamos, atualmente ele compartilha os recantos mais escondidos de nossa personalidade. Mesmo aqueles que, como lembra Dostoievski, não desejamos revelar. E se os blogs são a ponta do iceberg nesse processo, o livro de Schittine é a ponta-de-lança para novas descobertas. JULIO DAIO BORGES é jornalista e editor do DigestivoCultural’
INTERNET
‘Serviço de busca tenta enfrentar Google’, copyright Folha de S. Paulo / The New York Times, 6/10/04
‘Os executivos do Google, há muito tempo, admitiram que um de seus maiores temores era o de serem surpreendidos por uma tecnologia mais avançada de busca na internet. A Vivísimo, uma empresa fundada por três cientistas de computação que já foram da Carnegie Mellon University, espera provar que as preocupações do Google têm fundamento. Ela acaba de lançar um serviço de buscas gratuito, o Clusty (clusty.com), que agrupa seus resultados por categoria.
A Vivísimo já tem um serviço comercial de buscas que faz isso. Se buscar, por exemplo, ‘swift boat’, o Vivíssimo mostrará uma lista de 149 sites e uma tabela de categorias, como Swift Boat Veterans (Veteranos do Swift Boat, grupo que acusa o candidato a presidente John Kerry de mentir sobre sua atuação militar), John Kerry e Patrol Craft Fast (navio que patrulhou os canais vietnamitas sob o comando de Kerry), no lado esquerdo da página.
Blogues e noticiário
O novo serviço Clusty, que está em versão de testes (beta), usa uma estrutura organizacional semelhante. Mas também apresenta uma série de colunas que possibilitam ao usuário ver resultados oriundos de fontes externas à rede, incluindo informações sobre compras, páginas amarelas, notícias, blogues e imagens.
O serviço tenta resolver o problema da confusão que se cria quando mecanismos de busca apresentam listas enormes.
O agrupamento destina-se também a ajudar os usuários a encontrar material relacionado à pesquisa que eles podem não ver quando utilizam serviços que empregam métodos de classificação de páginas. Tais métodos usam muitos algoritmos de software para classificar páginas na internet levando em conta a sua relevância perceptível para uma determinada pergunta.
Diferentemente do início de muitas operações que são lançadas com financiamento de capital de risco, a Vivísimo foi criada com a ajuda de uma verba de US$ 1 milhão do programa National Science Foundation Small Business Innovation Research (Pesquisa para Inovação de Pequenas Empresas da Fundação Nacional de Ciências), que se destina a estimular a inovação por pequenas empresas.
Concorrentes
A Vivísimo não é a primeira a apresentar aos internautas a tecnologia de agrupamento. A Northern Light, uma empresa que opera um mecanismo de buscas e hoje se concentra em aplicativos comerciais, já ofereceu um serviço ao consumidor que apresenta o que ela chamou de ‘pastas de busca personalizada’.
O Google também está usando a tecnologia de agrupamento, mas de uma forma mais limitada: a sua página de notícias possui links para tópicos que aparecem em outros sites de notícias.
A Microsoft e a Yahoo! envolveram-se em negócios relacionados a mecanismos de busca por causa, em parte, da lucratividade e do crescimento rápido das receitas do Google -US$ 962 milhões no trimestre findo em junho em comparação com os US$ 389 milhões do trimestre anterior.
O Clusty chega duas semanas depois que a A9, uma subsidiária da Amazon.com, lançou um serviço que se concentra na organização de informações obtidas em várias buscas.
Um porta-voz do Google não quis comentar o lançamento. Tradução de Angela Caracik’
RÁDIO GLOBO, 60 ANOS
‘Rádio Globo chega aos 60 com receita em alta’, copyright Valor Econômico, 7/10/04
‘A Rádio Globo está completando 60 anos. O aniversário é em 2 de dezembro, mas as comemorações já começaram. Domingo, no Maracanã, no Rio, haverá música e futebol show – com time de ex-jogadores versus artistas -, mas o Sistema Globo de Radio já vem festejando também os bons resultados do grupo.
O faturamento das 13 emissoras vem subindo. Em 2003, atingiu R$ 95 milhões e este ano a expectativa é de fechar em R$ 115 milhões. A margem de geração operacional de caixa, por sua vez, deve ficar em 23% em 2004, enquanto em 2001 foi de 16,1%. Em 1998 era negativo.
A fatia das 13 rádios no mercado publicitário subiu de 14% para 20% nos últimos cinco anos. O universo é de 3 mil emissoras em todo o país. O diretor-geral do Sistema Globo de Rádio, Rubens Campos, explica que, independentemente da chegada de novas mídias, como a internet, a população brasileira está ouvindo mais rádio. Entre 1997 e 2004, o total de ouvintes aumentou em 6%.
As emissoras atingem diferentes camadas, mas vêm conquistando um importante ouvinte, aquele que Campos classifica como o adulto jovem, na faixa superior a 18 anos, que poderia ser absorvida pela internet, mas não dispensa o rádio. ‘Eles querem ficar informados. O rádio atinge camadas variadas, porque é, antes de tudo, companhia. Leva notícias, esclarece, faz vibrar com o resultado do futebol. É como uma espécie de amigo.’
A Rádio Globo, presente no Rio, São Paulo e Minas Gerais, e com 15 afiliadas, nasceu no Rio e, para Campos, é um dos símbolos da cidade. Esse espírito gerou a criação do Globomóvel, que visita bairros do Rio, ouve, ajuda inclusive a tirar dúvidas variadas, consultando advogados, por exemplo. Hoje está apenas no Rio, mas Campos diz que irá chegar a São Paulo também.
A Rádio Globo atinge 2,7 milhões de fluminenses e a média de audiência por minuto é de 151 mil ouvintes. E bem diversificados: um terço é de pessoas das classes A-B, outro terço da C e a terceira parte da E. ‘Reproduz bem o Brasil’, diz o diretor-geral.
Ele conta que o responsável pelo pico de audiência da Rádio Globo é o programa ‘Momento de Fé’, com o padre Marcelo Rossi. Entre 9h e 10h da manhã, atinge uma média de 809 mil ouvintes. Mas a proposta é oferecer programação abrangente, do esporte às notícias, passando pelos comentários e discussões em torno dos temas do dia-a-dia.
No estúdio da Rádio Globo, ontem, ao meio-dia, corria debate acalorado comandado pelo radialista Loureiro Neto. O assunto era a desistência de Moreira Franco (PMDB) à disputa no segundo turno pela Prefeitura de Niterói.
Notícia é o filão de sucesso e garante o destaque para a CBN, emissora que lidera em rentabilidade entre as do grupo. Responde por 45% do negócio. Campos, que assumiu o comando das rádios em 1999, conta que a CBN , sucesso de público e de publicidade, não foi reconhecida inicialmente pelo anunciante. A estratégia foi de montar uma espécie de parceria, reunindo comentaristas e anunciantes. Foi assim que nasceram os comentários bem-humorados e criativos de Artur Xexéo e Carlos Heitor Cony , os polêmicos de Arnaldo Jabor, entre outros.’