Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Keila Jimenez

‘A TV ganhou mais uma data, mas, dessa vez, não é comemorativa. A Comissão dos Direitos Humanos da Câmara dos Deputados criou na semana passada o Dia Nacional Contra a Baixaria na TV, que será em 17 de outubro. A idéia foi promovida pela campanha Quem Financia a Baixaria É Contra a Cidadania – que defende a qualidade da programação na TV – presidida pelo deputado Orlando Fantazzini (PT-SP).

A campanha propõe que na referida data a população se mobilize contra os programas e as redes que não respeitam os direitos humanos. O mote do dia será ‘Faça uma Ação contra a Baixaria na TV’. Entre as ações sugeridas para a data está o pedido para que a população desligue a TV por um tempo, em horário predeterminado.

A faixa deverá somar entre 30 minutos e 1 hora, dentro da faixa nobre, e não em um horário marginalizado.

Na Itália existe algo similar, com data anual em que a população é convidada a desligar a TV, também em protesto à qualidade do veículo. A julgar pela má qualidade atual da TV italiana, pode ser que a iniciativa não tenha a eficiência esperada, mas nem por isso a ação é desprezível.

Além de desligar a TV no Dia Contra a Baixaria, a campanha vai propor uma série de debates sobre o tema em centros culturais, cultos e congregações religiosas interessadas em discutir o assunto.

Fantazzini também pretende pedir à população para que congestionem os serviços de 0800, ouvidorias públicas, rede de TV e rádio com reclamações sobre a falta de respeito aos direitos humanos na TV.

O deputado está se reunindo com representantes de movimentos e entidades ligadas aos direitos humanos de todo o País para definir uma estratégia de ação e divulgação da data. Entidades ligadas à campanha vão ajudar na divulgação das ações e distribuir o CD com os spots dos anúncios da data em emissoras regionais de rádio e TV .

No último ranking da baixaria – que reúne os programas que mais recebem queixas do público – novelas como Celebridade, da Globo e programas policiais como Cidade Alerta apareciam entre os mais votados.’



Daniel Castro

‘Governo vai negociar pacto antibaixaria’, copyright Folha de S. Paulo, 30/06/04

‘O Ministério da Justiça e a Procuradoria Geral da República (PGR) decidiram na semana passada negociar com as emissoras um pacto antibaixaria na TV.

Segundo José Eduardo Elias Romão, diretor de classificação indicativa do Ministério da Justiça, a iniciativa partiu da PGR. A partir de agosto, os dois órgãos irão propor às redes a assinatura de um ‘termo de compromisso’, em que as TVs se obrigarão a ter ‘civilidade’ na programação.

Na negociação, ministério e PGR discutirão com as TVs conteúdos que consideram inadequados em programas infantis e de auditório, telejornais policiais, ‘reality shows’ e novelas.

De acordo com Romão, o termo de compromisso não imporá multas, não será um código de ética nem uma tentativa de auto-regulamentação _o que o governo FHC tentou, sem sucesso.

O ministério e a PGR têm um grande trunfo para impor um acordo às TVs. ‘Há uma avaliação de que pode haver um grande número de ações judiciais contra as emissoras’, afirma Romão.

Sem o pacto, o governo ameaça encaminhar à PGR todos os excessos detectados pelo Ministério da Justiça em seu monitoramento da programação, assim como as reclamações feitas por telespectadores à campanha Quem Financia a Baixaria É contra a Cidadania. A PGR transformaria as denúncias em ações civis. Com o pacto, em tese isso não ocorreria.

OUTRO CANAL

Política 1 SBT, Record, Band e Rede TV! encaminharam anteontem à Abert (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e TV) uma representação conjunta pedindo a convocação de uma assembléia geral, antes de agosto, para mudar o estatuto da entidade.

Política 2 As quatro exigem que a Abert tenha uma estrutura só para TV (separada da de rádio), representada pelas cinco redes (as quatro mais a Globo) e por duas afiliadas de cada uma delas. O documento critica a ‘força monopolista’ da Globo na Abert. Se a mudança ocorrer, as quatro podem voltar a fazer parte da entidade.

Sem apelo Foi João Roberto Marinho, e não Roberto Irineu Marinho, da Globo, quem se reuniu com Silvio Santos, no SBT, há duas semanas. Segundo a assessoria da Globo, o único assunto tratado no encontro foi a (esvaziada) Abert.

Foi bem O primeiro capítulo de ‘Senhora do Destino’ emplacou média de 51 pontos na Grande São Paulo, com picos de 57, segundo dados preliminares do Ibope. Foi a melhor marca de uma estréia de novela das oito desde 2000. ‘Celebridade’ começou com 50.

Vivo Hugo Carvana, o Lineu de ‘Celebridade’, será a grande atração da Globo para a abertura de exposição de fotos da emissora hoje, às 20h, no ParkShopping, em Brasília.’



TVs COM BLOQUEADOR
Lisandra Paraguassú

‘Televisores terão bloqueio de programas até outubro de 2006’, copyright O Estado de S. Paulo, 1/07/04

‘Até outubro de 2006 todos os televisores fabricados e vendidos no Brasil precisarão ter um dispositivo eletrônico que permite o bloqueio prévio de programas. Medida provisória publicada ontem no Diário Oficial regulamenta a lei que criou a obrigatoriedade do dispositivo, aprovada em 2001.

Ela previa um prazo de dois anos para entrar em vigor. No ano passado, foi prorrogado por mais dois. A MP determina que a data final será ainda definida, mas não poderá passar de outubro de 2006. As empresas que até lá não tiverem se adequado à lei pagarão multas de 30% do valor de cada aparelho vendido.

As emissoras de TV também terão de fazer mudanças, já que a lei prevê a divulgação antecipada da programação e das restrições etárias para cada programa. O Ministério da Justiça fará a classificação por idade e, já a partir de agora, poderá cobrar das emissoras que divulguem os dados.’



DESELEGÂNCIA NA TV
Daniel Piza

‘Senso de elegância’, copyright O Estado de S. Paulo, 4/07/04

‘A deselegância está na moda. Programas de auditório na TV, pessoas que fazem cirurgias para ficar iguais a celebridades, mal-educados no trânsito, caipiras em Brasília, cantoras que mostram mais o bumbum que a voz, épicos de Hollywood, torcidas de futebol, adolescentes vestidos como rappers, George Bush vs Michael Moore… O tempo todo esbarramos com a deselegância, com a ausência de gosto, com a grosseria tentacular destes tempos de mídia e mediocridade. Mas não se trata apenas das aparências. A elegância que mais faz falta é a interior, a mental, a que veste uma visão equilibrada de mundo.

Costuma-se menosprezar a elegância como um atributo de superfície, como se fosse apenas uma forma de disfarçar ou dourar o que se tem a dizer. Não é nada disso. A elegância é o reconhecimento de que há potenciais campos de consenso entre os seres humanos e, logo, a forma de buscá-los – nem que seja para descartá-los – tem de ser transparente, proporcional, perspectiva.

Elegância é manter a sobriedade sem cair na frieza, é aceitar a complexidade da realidade mas não se conformar com a pequenez, é ser claro para resistir tantos aos eufemismos como às hipérboles. É a arte de dizer muito em pouco, de adensar sem adornar, de simplificar para não banalizar. É ser incisivo sem ser inconseqüente. É não pendurar no pescoço um cartaz que diz ‘Olha como sou fashion!’, mas também não é ser tão discreto que se fala sozinho.

Para viver num mundo e especialmente num país tão deselegante, não se faz necessário buscar longe os exemplos de elegância. O canto de João Gilberto, a obra de Chico Buarque e sua relação com a fama, a prosa de Milton Hatoum, a poesia de Fabrício Carpinejar, as atuações de Fernanda Montenegro ou Cláudia Abreu, o futebol de Pelé, a câmera de Luiz Fernando Carvalho, a fotografia de Cristiano Mascaro, o violão de Yamandú Costa, a arquitetura de Isay Weinfeld – são todos artistas que vão a fundo justamente por não se deixar contaminar pelos sentimentos da hora nem se embriagar com seus próprios recursos. O elegante é, acima de tudo, um independente.

Rodapé O quarto livro da série de Elio Gaspari sobre o regime militar, chamado A Ditadura Encurralada, mantém o nível dos anteriores: a narrativa prende a atenção (embora haja mais transcrições e menos fatos), os lugares-comuns sobre o período são derrubados, a visão sobre episódios e pessoas é agudíssima. O primeiro livro valeu pelo clima da época janguista e o esclarecimento sobre a ascensão da linha-dura, movida pelo medo da anarquia interna; o segundo, pelos capítulos sobre os massacres das guerrilhas; e o terceiro, pela descrição das ambivalências da dupla Geisel-Golbery.

Nada melhor como contraponto para os primeiros capítulos da nova novela global, Senhora do Destino.

O quarto mostra como a ditadura, em menos de dez anos, não soube converter seu relativo sucesso econômico e popular em projeto político; e como Geisel fez a abertura para a democracia sem ser exatamente um democrata (odiava a idéia de eleições diretas e por isso fechou o Congresso) e, especialmente depois da morte de Herzog, desmantelou a tortura oficial sem ser exatamente um humanista (tinha mais medo da radicalização anticomunista dos próprios militares). Só mesmo uma pessoa com a ironia de Gaspari para captar a ironia dessa história.

Valores virtuais

O livro Wunderblogs.com (Barracuda; com lançamento amanhã à noite em São Paulo, na Livraria Cultura do Shopping Villa-Lobos), que traz prefácio de Ivan Lessa, é uma seleção de 11 blogueiros que se destacam pela boa técnica e pelo jogo ofensivo. Eles têm entre 25 e 37 anos, passeiam com conhecimento e humor (do mau e do bom) pelos mais diversos assuntos, leram bastante Paulo Francis e Millôr Fernandes, muitos são ateus, não acreditam no socialismo nem no academicismo. Às vezes dão opiniões gratuitas, mas ninguém os está pagando mesmo. E poderiam dizer, como Lessa em Garotos da Fuzarca, que não escrevem, apenas tomam notas, pois tomar notas é mais difícil que escrever.

Aforismos, citações, historietas: as formas são sintéticas, mas não raro podem tomar fôlego de ensaísmo. ‘Vou lhe dizer o que eu espero de uma crítica: a reação de uma pessoa inteligente a uma obra de arte’, escreve Alexandre Soares Silva. Fabio Danesi Rossi compõe seu ‘primeiro hai-kai’:

‘Quero elas/ Mas sem/ As querelas.’ Mais adiante, o outro lado: ‘Escrevo porque sou feio e finito.’ César Miranda: ‘Descobri que sou um humorista quando constatei minha total incapacidade de mentir.’ E Ruy Goiaba: ‘Muitos autores de blogs acreditam ter descoberto uma coisa chamada séquiço, que não existia antes que eles começassem a escrever.’ Existe, sim, vida inteligente no planeta virtual.

O mundo é um palco

Por falar em vida inteligente, era difícil encontrá-la mais bem representada do que em Richard Feynman. Na peça E Agora, Sr. Feynman?, de Peter Parnell, em cartaz no Teatro João Caetano em São Paulo, o físico americano encarna por 90 minutos no ator Oswaldo Mendes. Para meu gosto, o texto fala pouco das conquistas intelectuais de Feynman – o exemplo perfeito do gênio sintético, aquele que parte das visões originais de outros e as combina de modo produtivo, como ele fez com a eletrodinâmica quântica ou com o diagnóstico da causa da explosão da Challenger. A metáfora do câncer e da morte como mistérios não chega a funcionar dramaticamente, mas o resultado pode ser estimulante para quem não conhece ou apenas ouviu falar o nome de Feynman.

O ludopédio

Quando os brasileiros não querem reconhecer os méritos de alguém, dizem que o sucesso dele é por ser ‘predestinado’, por ter ‘estrela’. Luiz Felipe Scolari mostrou na Eurocopa, ainda que a vibrante seleção portuguesa perca a final contra a tinhosa Grécia hoje, que tem sorte, que abandonou mesmo o gosto pela dureza e que consegue encher de brio os jogadores, mas mostrou sobretudo que sabe escalar o time, insistindo num talento contra a maioria das opiniões (no caso, Deco) e trocando jogadores à medida que a competição deixava claros os equívocos (logo depois do primeiro jogo fez quatro alterações). É tudo que se espera de um técnico.

Enquanto isso, e merecidamente, o Santo André ganha a Copa do Brasil e o Figueirense lidera o Campeonato Brasileiro…

Por que não me ufano

Claro, a aprovação ao governo Lula despenca, e não sua desaprovação, como saiu aqui na semana passada. E é irônico pensar que o que vai bem nele é fruto direto do que o governo anterior fez. A estabilidade da moeda, as exportações de soja, celulares e aviões da Embraer e os instrumentos de ajuste, todos vêm do Plano Real (que foi feito há dez anos para derrubar a inflação, não para automaticamente disparar o crescimento e a distribuição da renda) e das privatizações no primeiro mandato e/ou do câmbio flutuante, da lei fiscal e da política de ciência e tecnologia (vide Embrapa) no segundo mandato. O PT, por sinal, foi contra todos esses itens à época.

Outra administração em queda livre nas avaliações é a de Marta Suplicy, que irrita os leitores com sua antipatia, com obras eleitoreiras feitas graças à ajuda federal, com taxas de lixo e iluminação pública que não resultaram em quase nada, com os péssimos serviços em saúde, com burocracia e propaganda que aumentam a dívida pública ainda mais. Os CEUs, muito caros (em prejuízo da melhora de diversas escolas mais simples), e o bilhete único, velha boa idéia enfim concretizada (a ver se devidamente financiada), não devem ser suficientes para vencer seu índice de rejeição.

Aforismos sem juízo

Entretenimento é apenas a cultura que não se sabe se vai continuar a entreter.’