Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Keila Jimenez


‘Como uma Onda está chegando ao fim. Mas vai partir deixando uma herança não muito boa para sua sucessora: audiência em baixa no horário. A trama de Walter Negrão, que termina no dia 17 de junho, manteve até agora média em torno dos 29 pontos, índices abaixo dos alcançados por sua antecessora, Cabocla, que saiu do ar com média de 36 pontos.


Como Uma Onda perdeu quase 20% da audiência de Cabocla. O último capítulo do remake do folhetim de Benedito Ruy Barbosa registrou ibope na casa dos 42 pontos e 66% de share (participação no total de TVs ligadas no horário).


Um dos problemas da novela foi a escolha do vilão. Henri Castelli não convenceu ninguém como o maquiavélico J.J. Mais parecia um garoto mimado, disposto a tudo para atender aos seus caprichos. Nem os seus traços de desequilíbrio emocional por conta do abandono da mãe foram suficientes para fortalecer o perfil de vilão. Nem o dele, nem o de Mel Lisboa, que também quase passou desapercebida pela novela.


Um dos pontos fortes do enredo foi a relação de amor do personagem de Marcos Caruso com o filho Rafael (Sérgio Marone), que ficou paraplégico na história, e a doença de Almerinda, personagem vivida pela portuguesinha Joana Solnado.


No dia 20 estréia no lugar de Como Uma Onda, Alma Gêmea, de Walcyr Carrasco, que tem a missão de levantar a audiência no horário. A trama retrata um amor que vem de vidas passadas e traz Priscila Fantim e Du Moscovis como protagonistas.’



REDE PÚBLICA DE TV


Laurindo Leal Filho


‘Por um modelo mais criativo ‘, copyright O Estado de São Paulo, 29/05/05


‘Os anos 20 do século passado registram uma curiosa coincidência para a história da radiodifusão no Brasil e no Reino Unido. Aqui, Edgard RoquettePinto, um intelectual multifacetado, via no rádio a possibilidade de um salto cultural semelhante ao trazido pelos livros à humanidade e fundava a primeira emissora brasileira, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Lá, John Reith, um engenheiro calvinista escocês, atendia a um anúncio de jornal, empregava-se na recém-criada BBC, chegando logo ao posto de diretor-geral. Via no rádio a possibilidade de levar para os lares o que de melhor existe das realizações humanas.


Sem se conhecer, separados pelo Atlântico, coincidiam na idéia de que o invento, ao se popularizar, socializaria sem discriminações a riqueza espiritual de seus povos. Além de contribuir para elevar as condições de cidadania através da difusão equilibrada de informações.


No Reino Unido, a BBC será dirigida por um conselho independente do governo e financiada por uma taxa paga por todos os proprietários de receptores de rádio. Lá, o modelo permanece em vigor até hoje, revigorado com a chegada da televisão.


Aqui, na curva dos anos 1930, o primeiro governo Vargas abriu a possibilidade da veiculação da propaganda pelo rádio, descaracterizando a idéia inicial. A televisão, ao ser implantada, seguiu a trilha do rádio como empreendimento comercial, modelo que se tornou hegemônico em nosso país.


Tendo como indicador absoluto de qualidade os índices de audiência, a televisão no Brasil distanciou-se dos pioneiros da radiodifusão. Oferece ao público apenas aquilo que dá perspectivas mais imediatas de lucro, excluindo uma ampla gama de manifestações culturais e artísticas, sobre as quais a sociedade tem o direito de acesso.


Para reverter esse quadro, torna-se necessária uma rede pública nacional de televisão, com força suficiente para servir de contraponto e de referência ao modelo comercial. Como fazer isso? Do ponto de vista institucional, criando um Conselho Coordenador Nacional das Emissoras não comerciais, reunindo neste primeiro momento todas as instituições que se enquadrem nesse perfil.


Do ponto de vista do financiamento, nenhuma das alternativas hoje existentes deveria deixar de ser levada em conta, com exceção do anúncio comercial, incompatível com a linguagem de uma televisão pública. O apelo ao consumo, conquistado através da emoção, é inconciliável com uma programação mais reflexiva, balizadora do modelo público. Mas devem ser considerados recursos provenientes do Estado; de apoios culturais; de doações efetuadas por pessoas físicas e jurídicas; de serviços prestados a terceiros, da venda de produtos e do aluguel que deveria ser pago pelas concessionárias privadas pelo uso do espectro eletromagnético. Sustentada por essa base institucional e financeira, a nova rede disputaria audiência com as emissoras comerciais em igualdade de condições, como ocorre hoje em países como a França, a Alemanha e o Reino Unido.


Mas aí chegamos ao ponto mais importante. O suporte institucional e financeiro é fundamental, mas só ele não garante qualidade capaz de conquistar o telespectador. É preciso abrir a TV à experimentação e à criatividade dos produtores brasileiros. A elas se associam o papel crítico da própria televisão e a oferta de programas de qualidade em toda a sua progragamação. Com isso, estaria sendo dada oportunidade ao público de conhecer e de se acostumar com o ‘biscoito fino’, no dizer de Oswald de Andrade. Sem saber o que é bom, fica difícil exigir o melhor. O resultado de uma programação desse tipo seria não só de dar diretamente ao público o melhor da arte, da cultura e da informação existentes no País, mas também o de levar a televisão comercial a rever seus padrões, como aliás já aconteceu quando a programação infantil da TV Cultura de São Paulo atingiu dois dígitos de audiência e forçou um dos concorrentes a rever seus programas para aquela faixa etária.


Estaria no ar uma nova e saudável concorrência. Não mais por recursos, já que a maior parte dos financiamentos das redes pública e privada viriam de fontes diversas, mas por uma audiência cada vez mais exigente, qualificada e atuante.


Teríamos uma televisão com a cara do País, aberta para o mundo, diversificada e plural, fiadora da democracia.


Laurindo Leal Filho é sociólogo, jornalista, professor da USP e autor de A Melhor Televisão do Mundo, o Modelo Britânico de Televisão e Atrás das Câmeras, Relações entre Estado, Cultura e Televisão’



TV CULTURA


Valmir Santos


‘TV Cultura já reativou núcleo de dramaturgia ‘, copyright Folha de São Paulo, 31/05/05


‘A TV Cultura de São Paulo reativou seu núcleo de dramaturgia e mantém no ar, há três semanas, o projeto ‘Senta que Lá Vem Comédia’, um teleteatro gravado.


Aos sábados, sempre às 22h, é apresentada uma comédia de autor brasileiro, justamente na faixa dos humorísticos ‘A Praça É Nossa’ (SBT) e ‘Zorra Total’ (Globo).


As gravações acontecem no teatro Maria Della Costa. O quarto teleteatro da série vai ao ar no próximo sábado: ‘Um Edifício Chamado 200’, texto de Paulo Pontes, dos anos 70, agora dirigido por José Renato.


No elenco, Tuca Andrada, Rachel Ripani, Verônica Lo Turco e outros.


As próximas atrações são ‘O Primo da Califórnia’, de Joaquim Manuel de Macedo (11/ 6); ‘Fulaninha e Dona Coisa’ (18/6), de Noemi Marinho; e ‘Onde Canta o Sabiá’ (25/6), de Gastão Tojeiro.


‘O projeto pretende mostrar para o público que existem novas linguagens e caminhos para a teledramaturgia na televisão brasileira, fora as tradicionais novelas’, diz a coordenadora do núcleo de dramaturgia, Analy Alvarez.


Já foram exibidos ‘Defeito de Família’, de França Junior, dirigido por John Herbert; ‘Toda Donzela Tem um Pai que É uma Fera’, de Gláucio Gil, por Roberto Lage; e ‘O Noviço’, de Martins Pena, com direção de Antônio Petrin.’



DOIS A UM


Esther Hamburger


‘‘Dois a Um’ comemora com geléia brasileira’, copyright Folha de São Paulo, 31/05/05


‘No último domingo, o ‘Dois a Um’, programa apresentado por Mônica Waldvogel, comemorou seu primeiro ano de existência promovendo o encontro entre o erudito José Celso Martinez Correia, legendário diretor do Teatro Oficina, e o popular Ratinho, apresentador de TV.


Tropicalista, oswaldiano, engajado nas múltiplas possibilidades de troca que a mistura brasileira sugere, Zé Celso procurou desarmar o agressivo colega de trabalho afirmando o terreno comum da comunicação. Ratinho mordeu a isca coerente com sua raiz popular, sua experiência no circo-teatro, sua vocação para palhaço, tradição que Zé Celso preza.


Nessa toada, Sílvio Santos, o dono da emissora que transmite o programa, foi saudado com a patente mais alta de palhaço-mor.


O diretor do Oficina aproveitou a ocasião para pedir o apoio de Ratinho para sua campanha pela construção de um gigantesco teatro-estádio, projeto que parecia ter encontrado vazão em uma heterodoxa parceria com Sílvio Santos, mas que estaria esbarrando no ‘financeiro’ do grupo SS.


A conversa foi rica em pérolas da geléia geral brasileira. Os referenciais ideológicos e partidários de esquerda e direita se confundem. No melê, as provocações cultural-transformadoras de Zé Celso se sobressaem.


Ratinho se define como ‘meio de direita’, defende Lula, acusa FHC de elitismo e define o MST como capitalista. Zé Celso critica Lula, elogia Gil e desconcerta o colega de programa ao admirar seu belo corpo de ator.


Ratinho entrou na defensiva, repetindo sua fórmula ‘sou popular, mas autêntico’, antiintelectual e antielite brasileira. Mas terminou seduzido pelo apelo carnavalizante do teatrólogo.


Talvez a reivindicação esteja deslocada. Se os palhaços Sílvio e Ratinho têm seus programas de auditório, o palhaço Zé Celso merece ter o seu. No palco televisivo, poderá falar não para 15 mil, mas para 15 milhões.


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP’