‘O fim de ‘Sex and the City’ e de ‘Friends’ foram decisivos na definição das prioridades de estúdios e emissoras de TV dos EUA para a temporada 2004-2005.
A lacuna deixada por ‘Friends’ foi ocupada por ‘Joey’, uma inspirada sitcom derivada do seriado que durante dez anos fez a alegria de milhões de telespectadores do mundo inteiro. O ator limítrofe interpretado por Matt LeBlanc está mais engraçado do que nunca, agora que se mudou de Nova York para Los Angeles e contracena com Paul Costanzo (seu sobrinho inteligente Michael) e Drea DeMatteo (sua irmã Gina).
Para atrair o público que sofre com a ausência de ‘Sex and the City’, a rede ABC apostou em uma fórmula parecida, mas ao mesmo tempo radicalmente diferente. Em ‘Desperate Housewives’, as protagonistas também formam um quarteto, mas, em vez de solteiras soltas em Manhattan, elas são donas-de-casa que vivem com suas famílias em um daqueles condomínios sem nenhum glamour e sem a agitação das metrópoles. Assim como em ‘Sex and the City’, a nova série apresenta uma visão do universo feminino na América atual, mas através do prisma de quatro arquétipos bem diferentes. Saem Carrie, Miranda, Charlotte e Samantha para que entrem Lynette, Bree, Susan e Gabrielle.
Lynette (Felicity Huffman) é uma executiva que um dia dá à luz trigêmeos e troca o laptop por uma pilha de fraldas. A conservadona Susan (Teri Hatcher, de ‘As Novas Aventuras do Superman’) é uma linda mulher que perdeu seu marido para uma garota mais nova após 14 anos de casamento. Gabrielle (Eva Longoria) é uma ex-modelo que trocou a passarela por um marido rico e uma casa nos subúrbios. Por fim, Bree (Marcia Cross) é um exemplo da dona-de-casa perfeita, mas por trás de seu sorriso plastificado e sua casa impecável está uma família absolutamente infeliz.
Outra personagem muito presente na série é a narradora, uma quinta mulher que morre logo no início do primeiro episódio. É ela quem apresenta ao telespectador as aventuras e desventuras de suas mal-amadas vizinhas, que sempre se reúnem para falar de suas vidas idiotas, para detonar seus maridos (que são todos uns bananas ou uns canalhas) e para tentar descobrir se a amiga realmente se matou ou foi assassinada. As conversas são apimentadas e invariavelmente acabam abordando o tema sexo.
Se não praticam muito, pelo menos elas falam sobre o assunto com desenvoltura. Por causa disso, aliás, a série já foi apelidada de ‘No Sex in the City’.
Outras atrações
Além de seriados, a nova temporada da TV paga inclui ainda ‘reality shows’, documentários e game shows. O canal Fox, que já exibiu atrações como ‘Joe Millionaire’ e ‘Temptation Island’, agora aposta em um entretenimento mais ‘familiar’. Amanhã estréia ‘Troca de Família’, ‘reality show’ em que duas mães trocam de posição e uma vai passar uns dias com o marido e os filhos da outra. Depois dessa experiência, elas se encontram e discutem sobre o que observaram na casa alheia. A fórmula original, desenvolvida na Inglaterra, já é exibida no Brasil pelo People+Arts, mas a Fox vai mostrar agora uma versão americana do programa.
No canal Sony, a safra de novidades traz para o país as reportagens que o polêmico Michael Moore gravou para a série de documentários ‘The Awful Truth’. Mesmo tendo sido produzidas em 1999 e 2000, as matérias ainda são atuais, divertidas e curiosas. Moore desafia a indústria do tabaco, esculacha políticos corruptos e mostra os bastidores nada edificantes de um parque de diversões, entre outras coisas. O programa será exibido nas noites de sábado, sempre às 22h.
Ainda no Sony, a última novidade é uma das coisas mais bizarras que a TV deve levar ao ar em 2004/2005: a transmissão de jogos de pôquer. Em ‘Celebrity Poker Showdown’, a cada domingo um grupo de atores conhecidos do público disputará um torneio e quem ganhar vai doar US$ 250 mil para uma entidade de caridade a sua escolha. Ao que parece, os programadores da TV paga ainda acreditam cegamente que as atrações que fazem sucesso nos EUA têm tudo para estourar por aqui… Ou será que a coisa é mesmo assim?’
TV PAGA
‘Sony: cinco novas atrações’, copyright O Estado de S. Paulo, 1/11/2004
‘Depois de apostar em séries que não emplacaram na última temporada – como Whoopi, It’s All Relative e Happy Family -, o canal Sony estréia cinco atrações a partir de hoje. CSI: NY já está fadada ao sucesso. Terceiro derivado da série de investigação de cenas de crime, ambientado em Nova York, o produto protagonizado por Gary Sinise vai bem nos EUA. Estréia quinta, às 20 horas.
O polêmico documentarista Michael Moore (de Tiros em Columbine e Farenheit 9/11) entra em cena com a série The Awful Truth, que foi ao ar nos EUA em 1999 e 2000 pelo canal pago Bravo – que exibe Queer Eye for the Straight Guy lá -, e mostra, em 24 capítulos, as indústrias mais poderosas daquele país. Moore invade uma fábrica de cigarros, uma firma de armas e pega no pé do presidente George W. Bush – sua vítima favorita. Aos sábados, às 21 horas.
O produtor Aaron Spelling, responsável por séries como Barrados no Baile e Melrose Place, assina Summerland, drama que envolve a protagonista Ava (Lori Loughlin, de Full House) e seus três sobrinhos, que ficam sob sua guarda após a morte de sua irmã e de seu cunhado. Entra na programação amanhã, às 20 horas.
Uma atração que deve surpreender é Desperate Housewives, comédia de humor negro, que já garantiu uma segunda temporada nos EUA e mostra a vida de um círculo de amigos na visão de uma suicida. Estréia quinta, às 21 horas.
Dave Foley, de Kids in the Hall e Newsradio, comanda um game show com celebridades, ao lado do expert em pôquer, Phil Gordon. Os famosos competem por US$ 250 mil, doados a instituições de caridade. Já passaram pelo show Ben Affleck, Martin Sheen, Matthew Perry, Sara Rue, entre outros. Domingos, às 19 horas.’
Kike Martins da Costa
‘Crimes e risadas em série’, copyright Folha de S. Paulo, 31/10/2004
‘A partir de amanhã, os canais Sony, Warner, Fox e Universal dão um tempo nas reprises e trazem para a TV por assinatura do Brasil episódios inéditos de seriados de sucesso e algumas das principais novidades da TV norte-americana.
São 11 estréias que contemplam vários gêneros. O canal Fox vai lançar apenas duas novas séries, mas foi o que mais ousou. Com ‘Deadwood’, a emissora ressuscita a tradição esquecida dos faroestes na TV e, em ‘Playmakers’, o canal traz para o país a primeira produção de teledramaturgia da ESPN.
No canal Sony, os fãs de histórias policiais envolvendo complicados crimes poderão ver mais um filhote de ‘CSI’, desta vez ambientada em Nova York.
Quem curte uma boa sitcom poderá se divertir com as trapalhadas de ‘Joey’ (personagem de ‘Friends’), agora em carreira solo. As órfãs de ‘Sex and the City’ também vão respirar aliviadas com ‘Desperate Housewives’, uma série mais deprê, mas com a mesma alma feminina e o mesmo humor fino e inteligente.
Para os mais politizados, a pedida é ‘Jack & Bobby’, que mostra a infância e a adolescência de dois irmãos, sendo que um deles vai se tornar presidente dos Estados Unidos quando crescer.
A política também aparece nos episódios inéditos da premiada ‘The West Wing’, do Warner Channel. Como o protagonista do seriado é o presidente democrata Joshua Bartlett (interpretado há cinco temporadas por Martin Sheen), os produtores já estão pensando na possibilidade de abreviar seu mandato e substituí-lo por um republicano, dependendo do resultado da eleição que define nesta semana quem será o inquilino da Casa Branca a partir do ano que vem.’
TV BANDEIRANTES
‘Marlene Mattos avalia fim da sua temporada na Band’, copyright Folha de S. Paulo, 31/10/2004
‘A partir de amanhã, Marlene Mattos não é mais a poderosa da Band. A saída ocorre nove meses após a admissão e mais de um ano antes do fim do contrato. Alívio para o canal, insatisfeito com sua atuação no comando artístico. E para ela, descontente com a demissão de sua pupila Preta Gil e com a falta de liberdade para mudar a programação.
A contratação da ex-global foi um dos principais investimentos da emissora nos últimos anos e o primeiro grande projeto da diretora após o rompimento da sociedade de 20 anos com Xuxa.
E tudo termina para Marlene no momento em que a ‘rainha dos baixinhos’ enfrenta uma das fases mais difíceis no Ibope. Leia o que a diretora pensa sobre essa coincidência e sua saída da Band.
Folha – Por que a passagem pela Bandeirantes já terminou?
Marlene Mattos – 2005 está na minha porta anunciando que 2010 chegará em breve, e estarei com 60 anos. Portanto tenho a obrigação de saber perceber uma mudança de pensamento, considerar a necessidade de avaliar o momento e atender ao pedido do coração. Foi o que eu fiz quando encurtei o tempo do contrato.
Folha – Quem decidiu romper previamente o seu contrato?
Marlene – Para mim, isso não tem importância, mas a decisão foi minha e aceita pela Band.
Folha – Sua saída da Band coincide com a fase difícil de Xuxa no Ibope. Concorda que o fim da sociedade tenha prejudicado as duas? Há a possibilidade de voltar a trabalhar com a apresentadora ou na Globo?
Marlene – Não concordo. Acho que todos os dias são influenciados por mudanças e nada permanece igual! Tudo isso faz parte de um passado. Meu presente hoje é descansar 15 dias e depois disponibilizar minhas energias, minha vontade, meu desejo de continuar na batalha.
Folha – Quais são seus planos?
Marlene – Continuar trabalhando. Vivo do que sei fazer em TV. Minha empresa, 2MS, cuida de alguns artistas e é gerenciada por minha irmã, Ângela Mattos.
Folha – Tem convites de TVs?
Marlene – Ainda não, mas sei que irão surgir. Faço parte da lista dos bons profissionais e estou aberta para fazer TV fechada.
Folha – O fato de o horário nobre da Band ser preenchido por religião e de todas as noites estarem amarradas em contrato com Gilberto Barros limitou a sua capacidade de ação?
Marlene – Até tentei sugerir mudanças, mas logo percebi que a Band estava satisfeita com o seu horário nobre.
Folha – Faltou algo para que o programa de Preta Gil emplacasse no Ibope ou ela precisava apenas de mais tempo no ar?
Marlene – Li um pensamento que tem a ver com o episódio Preta: ‘O novo só existe de verdade quando o velho compreende e admite que é preciso dois tempos para ver um’. Ela tem talento, carisma, boa formação e é informada. Precisa de tempo, paciência e alguém para administrar a artista que tem dentro dela.
Folha – A decisão de demiti-la colaborou para sua saída?
Marlene – Colaborou, mas não foi decisiva.
Folha – Que avaliação faz hoje da Bandeirantes?
Marlene – É a quarta TV do país, em imagem e conteúdo.’