A maior novidade trazida pelos jornais de quinta-feira (15/12) foi a revelação de que o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, contratou a empresa Kroll para espionar jornalistas em 2004. De acordo com matéria da Folha de S. Paulo, ‘os alvos da investigação foram repórteres e jornais que apuraram e publicaram informações contrárias aos interesses comerciais de Dantas.’ A Folha informou ainda que obteve cópias de relatórios da Kroll, em inglês. Um deles ‘aponta a existência de uma suposta ‘campanha’ da mídia para danificar a imagem de Dantas, da Brasil Telecom e do Banco Opportunity’ e ‘acusa Nelson Tanure, controlador do ‘Jornal do Brasil’ e da ‘Gazeta Mercantil’, de ser ‘um dos autores’ da campanha.’ Os textos completos sobre este novo caso envolvendo grampos, Dantas e o polêmico Nelson Tanure pode ser lido abaixo, na seleção de textos do Entre Aspas.
Outro assunto novo é a liberação dos documentos sobre o regime militar que estavam nos arquivos da Agência Brasileira de Inteligência. Todos os grandes jornais noticiam o fato e a Folha publica um artigo da ministra Dilma Roussef, chefe da Casa Civil, comemorando a decisão do governo. Também é novidade a notícia, em todos os jornais, decisão judicial que obriga o cineasta e ator Guilherme Fontes a devolver R$ 30 milhões ao Estado, captados para financiar a filmagem do longa-metragem ‘Chatô’, sobre a vida de Assis Chateaubriand, que Fontes começou em 1999 e nunca concluiu.
No Globo, há ainda um interessante artigo de Helena Chagas sobre os problemas de comunicação do governo Lula em comparação com a gestão anterior.
Leia abaixo os textos desta quinta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.
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Folha de S. Paulo
Quinta-feira, 22 de dezembro de 2005
JORNALISTAS ESPIONADOS
Kroll espionou jornalistas a pedido de Daniel Dantas
‘A pedido do banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, a empresa Kroll, multinacional do ramo da espionagem, bisbilhotou o cotidiano de vários jornalistas durante o ano de 2004. Os alvos da investigação foram repórteres e jornais que apuraram e publicaram informações contrárias aos interesses comerciais de Dantas.
A Folha obteve cópia de dois dos relatórios produzidos pela Kroll. Compõem um dossiê guardado nos arquivos do Opportunity. Foram lidos pessoalmente por Dantas e pela executiva Carla Cico, recém-destituída do comando da Brasil Telecom.
Os documentos foram redigidos em inglês. Um deles tem o seguinte título: ‘Manipulação da Imprensa no Brasil pela Telecom Itália’. O texto aponta a existência de uma suposta ‘campanha’ da mídia para danificar a imagem de Dantas, da Brasil Telecom e do Banco Opportunity.
A Kroll acusa Nelson Tanure, controlador do ‘Jornal do Brasil’ e da ‘Gazeta Mercantil’, de ser ‘um dos autores’ da campanha. Anota que o empresário, que hoje tenta assumir também o comando da companhia aérea Varig, agiu por encomenda da Telecom Itália, grupo que se esforçava para minar o controle que Dantas exercia na Brasil Telecom.
Segundo a Kroll, valendo-se de seu ‘grupo de mídia’ e de ‘uma rede de jornalistas’, Tanure promoveu, a partir de 2001, a publicação contínua de reportagens com o objetivo de prejudicar a imagem do Opportunity e de Dantas.
Além de Tanure, diz o documento, a estratégia supostamente encomendada pela Telecom Itália envolveria ‘outras pessoas’. O texto menciona os nomes do empresário Paulo Marinho, ligado a Tanure, e de Luis Roberto Demarco, um ex-sócio de Daniel Dantas no Opportunity, com o qual o banqueiro trava batalha judicial.
Com o ‘suporte de elementos do establishment brasileiro’, diz o relatório, a ‘campanha de imprensa’ visava produzir um escândalo de corrupção contra Dantas e seu grupo. Seria ‘o último de uma série de esforços’ da Telecom Itália para destituir o banqueiro do controle acionário da Brasil Telecom.
Em troca dos supostos ataques a Dantas e ao Opportunity, o ‘Jornal do Brasil’, uma das publicações geridas por Nelson Tanure, teria recebido da TIM, empresa de telefonia celular controlada pela Telecom Itália, aportes financeiros na forma de anúncios publicitários. Entre agosto e dezembro de 2002, diz o relatório, a TIM teria repassado ao ‘JB’ R$ 1,2 milhão em anúncios. Em 2003, o jornal teria recebido mais R$ 1,18 milhão. E, entre janeiro e março de 2004, mais R$ 964,4 mil.
Citando dados do IVC (Instituto Verificador de Circulação), a Kroll insinua que os investimentos publicitários da TIM no ‘Jornal do Brasil’ seriam incompatíveis com a tiragem da publicação.
O ‘JB’ ‘publica uma média de 100 mil exemplares aos domingos e cerca de 70 mil em dias de semana’, diz o documento. ‘Vários executivos de publicidade disseram à Kroll que certos pagamentos publicitários feitos pela TIM (…) podem não ser justificáveis pela circulação do jornal’, anota o documento confidencial.
A Folha obteve cópia de um segundo relatório confidencial da Kroll repassado ao Opportunity. Trata de uma investigação em torno de Evaldo Haddad Fenerich, conhecido como Ucho Haddad. Publicou na internet, segundo a Kroll, ‘uma série de artigos contra o Banco Opportunity’.
O documento menciona quatro endereços eletrônicos que seriam abastecidos por Haddad: www.ucho.info; www.ucho.com.br; www.farolbrasil.com.br; e www.letrasdocoracao.com.br.
A Kroll o acusa de envolvimento em fraudes. Acusa-o também de ter tentado vender a jornalistas uma versão do Dossiê Cayman, como ficou conhecida a papelada falsa sobre aplicações fictícias da cúpula do PSDB no exterior.
A Folha apurou que, além dos dois relatórios, foram produzidos outros documentos confidenciais com relatos sobre a atuação de outros jornalistas. A reportagem não conseguiu, ainda, obter cópias desses relatórios. Josias de Souza escreve o blog ‘Nos Bastidores do Poder’ no endereço www.folha.com.br/blogs/josiasdesouza’
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Empresa diz ter feito ‘investigação legítima’
‘No esforço para mapear os movimentos de Nelson Tanure, a Kroll teve o auxílio de funcionários do próprio ‘Jornal do Brasil’, uma das publicações controladas pelo empresário. Citando fontes anônimas do ‘JB’, o relatório da multinacional diz que Tanure requisitava pessoalmente a elaboração de reportagens contra Daniel Dantas e o Opportunity. Depois, lia e autorizava as publicações.
‘O repórter responsável por esses artigos é Gilberto Menezes Cortes’, diz o texto, ‘que age sob instruções explícitas de Tanure’. Outro jornalista ‘especializado em artigos anti-Opportunity é o colunista Ricardo Boechat, que foi admitido por Tanure em 17 de julho de 2001, depois de ser demitido pelo ‘Globo’ (…)’.
Nos textos do ‘Jornal do Brasil’, diz o relatório, ‘Dantas é freqüentemente associado a adjetivos relacionados ao demônio’. O documento cita um texto supostamente publicado em 20 de agosto de 2000, sob o título ‘Dantas e seu inferno na Terra’. Pela contabilidade da Kroll, a esmagadora maioria dos textos que o ‘JB’ publicou sobre o Opportunity e Dantas entre 2002 e 2004 tinham um viés contrário aos personagens.
Eduardo Gomide, diretor de Serviços Financeiros do escritório da Kroll no Brasil, disse que a empresa ‘não faz espionagem’. Segundo ele, o teor do memorando é fruto de ‘investigação legítima’.
O documento contém, segundo Gomide, ‘uma análise do clima de jornais brasileiros em relação a um assunto’. Ele afirma que a Kroll ‘não faz escuta telefônica’.’
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Investimento é normal, diz ‘JB’
‘O empresário Nelson Tanure disse, por meio de sua assessoria, que os investimentos publicitários da empresa de telefonia celular Tim no ‘Jornal do Brasil’ são absolutamente normais.
A Telecom Itália nega que tenha financiado campanha contra Daniel Dantas e o Opportunity: ‘Os investimentos publicitários que a Tim realiza nos diversos meios de comunicação seguem as estratégias de marketing da empresa’. Em relação ao ‘Jornal do Brasil’, ‘a relação custo/benefício foi sempre levada em conta’.
Tanure classificou de ‘ridículas’ e ‘improcedentes’ as afirmações da Kroll de que ele fiscalizaria a execução das reportagens do jornalista Gilberto Menezes Côrtes, colaborador do jornal, sobre o Opportunity e seu controlador Daniel Dantas. Disse que nem mesmo comparece à redação.
Menezes Côrtes, por sua vez, chamou o documento de ‘um dossiê típico de arapongas’. A diferença, afirmou ele, é que, ao contrário dos agentes do extinto SNI (Serviço Nacional de Informações), os funcionários da Kroll ‘são regiamente pagos em dólar’.
Quanto ao método de trabalho empregado pela Kroll, disse ainda Menezes Côrtes, ‘é o mesmo’ empregado pelos serviços de informação da ditadura. ‘Reúnem recortes de jornais e tentam construir uma história.’
O repórter, que tem uma reputação que classifica como ‘impecável’, disse que vai exigir da Kroll e do Opportunity ‘uma retificação do que foi divulgado’. Se não for atendido, disse que tomará as ‘medidas legais’ contra as ‘acusações mentirosas e desprovidas de qualquer fundamento’.
‘Jamais em 33 anos de profissão recebi instruções de um dono de jornal de como deveria proceder em matérias que fiz’, disse Menezes Côrtes: ‘ Quando muito, os editores (e foram vários e importantes em minha carreira) conversavam comigo dando boas dicas e discutindo a edição da matéria, mas a responsabilidade, na maioria dos casos, era minha’.
‘Não seria, portanto, o senhor Nelson Tanure quem iria me orientar direta ou indiretamente sobre minhas matérias’, disse.
Ricardo Boechat, o outro jornalista mencionado no relatório, hoje já desvinculado do ‘JB’, disse: ‘Se a Kroll está afirmando essas coisas, quem pagou para ela fazer isso é que deve explicar em que medida vê fundamento’.
‘O que posso dizer’, acrescentou Boechat, ‘é que todas as notas que eu publiquei, em relação aos muitos conflitos nos quais o Opportunity ou o Daniel Dantas eram protagonistas, foram notas factuais. Quem tiver qualquer dúvida é só pegar os arquivos e verificar o que está lá’, afirmou. ‘Muitas dessas notas’, disse Boechat, ‘constituíram-se em furos, com informações inéditas, que tiveram grande repercussão. Uma delas antecipou o rompimento do Citibank com o Opportunity’.
‘Assumi a chefia de redação do ‘JB’ em 7 de setembro de 2001. Saí em outubro de 2002. Posso afirmar categoricamente que meus últimos contatos telefônicos com o Tanure se esgotam entre o fim de 2002 e a alvorada de 2003.’
Evaldo Haddad Fenerich disse que não comentaria o assunto. Afirmou que uma decisão judicial o proíbe até de mencionar o nome de Daniel Dantas.’
ARQUIVOS LIBERADOS
A memória é nossa
‘Ontem, dia 21 de dezembro, fez-se história. Os arquivos produzidos e acumulados no período de repressão e perseguição política pós-1964 foram transferidos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para o Arquivo Nacional. Deixam de constituir, portanto, parte do acervo de inteligência investigativa e passam a compor o conjunto da memória do país.
A determinação do presidente Lula no sentido de garantir a transferência e a abertura dos arquivos até o dia 31 de dezembro de 2005, conforme editado no decreto nº 5.854, foi antecipada e cumprida de forma objetiva, tranqüila e sem traumas.
Encontra-se sob os cuidados do Arquivo Nacional, órgão vinculado à Casa Civil da Presidência da República, o acervo dos extintos Serviço Nacional de Inteligência (SNI), Conselho de Segurança Nacional (CSN) e Comissão Geral de Investigações (CGI).
O SNI, órgão de inteligência do governo federal entre os anos de 1964 e 1990, produziu documentos próprios e acumulou relatórios, informes, inquéritos, depoimentos, fotos e outros materiais oriundos das Forças Armadas, do Departamento de Polícia Federal, dos Dops, das Secretarias de Segurança Pública dos Estados, dentre outras instâncias de investigação e repressão política.
O acervo do CSN é composto, sobretudo, de processos e documentos referentes às cassações de direitos políticos ocorridas entre 1964 e 1980, período de sua existência.
A CGI, comissão responsável pela apuração de corrupção e atos de enriquecimento ilícito, acumulou os processos e inquéritos produzidos entre 1968 e 1979.
Todo esse acervo registra uma parte da história do Brasil em cerca de 220 mil microfilmes (1 milhão de folhas), 13 arquivos de aço com documentos originais, fotos, livros, revistas e panfletos, além de quase 1.500 caixas-arquivo com processos e inquéritos já devidamente tratados.
Com o escopo de viabilizar a transferência e o perfeito acondicionamento desse material, as instalações do Arquivo Nacional de Brasília foram reformadas. O acervo está sendo arquivado em sala climatizada, com monitoramento 24 horas por dia e controle de acesso digital. Em sala contígua, igualmente monitorada e controlada, instalou-se uma rede informatizada de pesquisa e consulta à base de dados para a elaboração de certidões e separação dos documentos por parte dos técnicos arquivistas.
A consulta ao acervo será assegurada ao público mediante a expedição de certidões com a transcrição literal do texto constante do documento ou cópia do documento solicitado.
Como o prazo máximo para sigilo é de 30 anos para documentos ultra-secretos que se refiram a questões relativas à segurança do Estado e da sociedade, e considerando não ter havido sua prorrogação legal, nenhum documento produzido até 1975 permanece protegido por sigilo.
Para os documentos produzidos após o ano de 1975, há de se observar a respectiva expiração do prazo de reserva, havendo ainda a possibilidade de pessoa interessada requerer a revisão do prazo à Comissão de Averiguação e Análise de Documentos, instituída pelo presidente Lula com a edição do decreto nº 5.301/05.
Nossa principal preocupação com o conteúdo dos documentos diz respeito à honra, à imagem, à intimidade e à vida privada das pessoas envolvidas nas investigações, nos interrogatórios e nos processos constantes do acervo, cuja preservação é direito assegurado pela Constituição Federal, assim como pelas leis nº 5.901/91 e nº 11.111/05.
Assim é que não somente o exercício do direito de acesso irrestrito mas, sobretudo, exclusivo por parte de todos aqueles diretamente envolvidos ou de seus familiares passa a ser imediatamente assegurado.
Mais do que o cumprimento de um compromisso público e de uma determinação legal, a abertura desses arquivos representa a possibilidade de a sociedade brasileira conhecer uma parte obscura de sua história recente. Para nós que lutamos pela redemocratização do país e fomos vítimas da repressão do período da ditadura, representa a conquista do direito de ter acesso aos documentos que dizem respeito às nossas próprias vidas e às nossas atividades políticas e que embasaram as acusações feitas a nós. É como se pudéssemos finalmente conhecer as informações que a repressão coletou a nosso respeito.
É assim que, respeitando a honra, a imagem, a intimidade e a vida privada das pessoas, devolvemos parte da memória nacional à sociedade brasileira. Esses arquivos a ela pertencem e, agora, por ela poderão ser pesquisados, estudados e, principalmente, preservados para que as novas gerações possam conhecer aquilo a que demoramos tantos anos para ter acesso e compreender a importância de alguns dos valores mais caros da democracia, como a liberdade de expressão e o respeito à diversidade de opinião.
Dilma Vana Rousseff, 58, economista, mestre em teoria econômica pela Unicamp, é ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República. Foi ministra das Minas e Energia (2003-05), secretária da Fazenda de Porto Alegre (1986-88) e secretária de Estado de Energia, Minas e Comunicações do Rio Grande do Sul (93-94 e 99-2002).’
Pedro Dias Leite
Ex-guerrilheira ‘abre’ arquivos da ditadura
‘Coube a uma ex-guerrilheira, a hoje ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, anunciar ontem o fim de um capítulo da ditadura militar. Centenas de milhares de documentos dos órgãos de investigação do regime foram transferidos ontem da sede da Agência Brasileira de Inteligência para o Arquivo Nacional de Brasília.
De acordo com Dilma e com integrantes do governo ligados à transferência dos arquivos, todos os documentos anteriores a 1975 -justamente o período mais duro do regime militar- estão liberados, porque não houve, em nenhum momento deste governo ou do anterior, a renovação do sigilo sobre os papéis ultra-secretos, que têm prazo de 30 anos.
A ministra não quis dar certeza de que todos os documentos foram transferidos de fato. ‘Não tenho a menor condição de afirmar o que aconteceu nos anos anteriores, se estão intactos ou não.’
Na prática o acesso a esses documentos ainda deve ser limitado, especialmente no começo. Eles estão organizados, em grande parte, como fichas pessoais, e, para não haver violação de direitos individuais, somente poderão ser estudados com autorização dos investigados.
‘Tudo que se refere à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das pessoas, há garantia de acesso restrito ao diretamente interessado, ao cônjuge, aos ascendentes ou descendentes. Aos demais, as informações relativas a terceiros estão protegidas, você pode consultar desde que o nome seja preservado, a não ser com a expressa autorização’, afirmou Dilma ontem de manhã.
No entanto, segundo um integrante do governo responsável pela transferência dos arquivos, a intenção é que, agora que estão sob cuidado de historiadores, os documentos sejam classificados por assuntos também. Assim, seria mais fácil seu estudo por pesquisadores e jornalistas, apenas com a omissão dos nomes dos envolvidos nos episódios. Os arquivos devem estar abertos para consulta a partir de janeiro.
A medida dá um acesso mais amplo aos arquivos. Antes, quem quisesse saber o que havia sobre si próprio, recebia um resumo da Abin com as informações. Agora, terá o número do documento, sua origem e o teor, entre aspas.
Perseguida pelo regime militar, a ministra estava emocionada. Com fama de ser muito dura nas negociações e com seus auxiliares, ontem soltava frases sem terminá-las, embargava a voz e chegou a ficar com os olhos marejados. ‘Fico emocionada obviamente’, admitiu. ‘É muito importante um país se redemocratizar, eu sou fruto desse momento’, complementou a ministra.
Depois de cerimônia para empossar o novo secretário especial de Direitos Humanos, Paulo de Tarso Vannuchi, 55, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou a medida: ‘Só poderia ser aberto quando a gente estivesse preparado, a Dilma fez no momento certo, o Zé Dirceu [antecessor no cargo] já tinha trabalhado nisso…’.’
GRAMPO NOS EUA
Juiz renuncia em protesto contra grampo
‘Um juiz federal dos EUA renunciou ontem a seu cargo no tribunal especial que autoriza o monitoramento de cidadãos americanos por parte do governo. A saída foi um protesto pela autorização dada pelo presidente George W. Bush à espionagem, sem o necessário respaldo do tribunal, de moradores dos EUA suspeitos de ligação com terroristas estrangeiros, segundo o jornal ‘The Washington Post’.
Citando duas fontes, o diário informou que o juiz James Robertson, um dos 11 do Tribunal de Vigilância de Inteligência Estrangeira, enviou sua renúncia ao chefe da Suprema Corte, John Roberts.
O ‘Post’ disse que a carta não dá nenhuma explicação sobre os motivos para a renúncia de Robertson, e ele mesmo não quis comentar o caso ontem.
Robertson é considerado um juiz liberal, nomeado para o cargo pelo ex-presidente Bill Clinton (1993-2001) e que freqüentemente contrariou as demandas do governo americano por mais poderes na guerra contra o terrorismo.
A revelação de que o governo Bush autorizou a NSA (sigla em inglês para Agência de Segurança Nacional, a mais poderosa agência de inteligência dos EUA) a vigiar americanos após o 11 de Setembro deflagrou uma grande discussão entre juízes federais, inclusive os do tribunal especial.
Segundo o ‘Post’, Robertson disse reservadamente a colegas que estava preocupado que as informações obtida pela NSA sem mandado possam ter sido usadas pela agência para, depois, conseguir os mandados necessários.
O presidente do tribunal especial, juiz Collen Kollar-Kotelly, havia expressado a mesma inquietação em 2004 e insistiu que o Departamento da Justiça se comprometesse por escrito que tais coisas não estavam ocorrendo.
Grampo local
A ação de monitoramento sem mandado judicial autorizada por Bush capturou, aparentemente sem querer, um pequeno número de comunicações puramente domésticas, segundo o jornal ‘The New York Times’.
O diário, citando fontes não identificadas, disse que essas ligações foram grampeadas a despeito da ordem da Casa Branca de que uma das pontas das ligações monitoradas tinha de ser necessariamente no exterior.
As autoridades citadas dizem que a vigilância da NSA sobre conversas entre pessoas dentro dos EUA deve ter sido acidental, causada por problemas técnicos que não permitiram determinar se a comunicação era de fato ‘internacional’.
Especialistas em segurança nacional e em telecomunicações disseram que mesmo que a NSA tentasse ser a mais fiel possível à ordem do governo, a logística do programa deve ter tornado difícil cumprir estritamente a ordem, segundo o ‘Times’.
O governo Bush tem insistido que a política de autorizar, sem mandado judicial, o monitoramento de telefonemas e e-mails trocados por americanos suspeitos de ligação com terroristas é legal e necessário para defender o país após o 11 de Setembro.
A Casa Branca procurou minimizar o impacto da medida sobre os direitos civis, dizendo que o programa tem um alcance relativamente pequeno e que os líderes mais importantes do Congresso foram informados adequadamente sobre a ação. Com agências internacionais’
Iuri Dantas
Lei de 78 manda governo pedir mandado judicial
‘O debate sobre a legalidade do programa de espionagem doméstica promovido pelo presidente George W. Bush reside basicamente no uso da Lei de Vigilância de Inteligência Estrangeira, conhecida como Fisa, na sigla em inglês, uma lei criada em 1978, durante o governo de Jimmy Carter, para disciplinar a obtenção de inteligência sobre ameaças aos EUA. Como conseqüência prática da lei, foi criada um tribunal sigiloso para avaliar os pedidos de espionagem de pessoas dentro dos EUA.
O Fisa estabelece dois cenários para a espionagem conduzida pelo governo. No primeiro, basta uma autorização do presidente americano para que a NSA (Agência de Segurança Nacional) monitore ‘sinais’ de pessoas no exterior, quando avaliar que é uma ameaça.
Na segunda hipótese, o governo precisa de uma autorização do tribunal para espionar pessoas em solo americano. A Casa Branca diz que sua ação se baseia nos poderes excepcionais conferidos ao presidente em tempo de guerra.’
TELEVISÃO
Globo terá novo programa de esportes
‘A Globo vai estrear em 2006 um novo programa de esportes. Será uma atração exibida nas manhãs dos sábados, um ‘Esporte Espetacular’ (tradicional matinal esportivo dos domingos) voltado para um público mais jovem.
Segundo Octávio Florisbal, diretor-geral da Globo, o novo programa será focado em esportes radicais, como o skate e o surfe. De acordo com o executivo, há demanda comercial para mais um programa esportivo. Ao longo de 2005, a Globo testou o público de esportes das manhãs de sábado com algumas transmissões, bem-sucedidas, de basquete e vôlei. Ainda não está certo se o novo programa estreará em abril ou no segundo semestre.
Outra novidade esportiva da Globo em 2006 será o lançamento de um canal, o Première F.C., só de futebol brasileiro para distribuição em TV paga no exterior. Será o segundo canal pago internacional da Globo _o primeiro, a Globo Internacional, retransmite praticamente a mesma programação da emissora no Brasil, exceto filmes e desenhos.
Em 2006, a Globo vai intensificar também a venda para TVs estrangeiras de direitos de campeonatos de futebol brasileiros, como o Brasileirão, a Copa do Brasil, o Paulista e o Carioca. Recentemente, a emissora lançou no exterior a marca Brazilian Magical Football, retomando as vendas internacionais de direitos esportivos, filão que abandonara em 2002.
OUTRO CANAL
Escalada 1 Pelo quarto dia consecutivo, a Record venceu o SBT no horário nobre (das 18h às 24h), terça-feira, por nove pontos a oito no Ibope. Um dos trunfos da Record foi a série de documentários ‘Fim dos Tempos’, que custou R$ 1,4 milhão e teve efeitos especiais simulando o que aconteceria se uma bomba atômica atingisse SP.
Escalada 2 Pontuada com citações bíblicas, ‘Fim dos Tempos’ deu média de 11 pontos e bateu o SBT nos três dias que foi ao ar. Estimulada, a emissora deve produzir mais documentários em 2006.
Núcleo fixo 1 A novela mudou, mas o elenco de apoio que fala inglês continua o mesmo. Segunda-feira, dois ‘gringos’ de ‘América’ apareceram em ‘Belíssima’, interpretando executivos da Bloomingdale’s negociando com Júlia Assunção (Glória Pires).
Núcleo fixo 2 Um dos americanos de ‘Belíssima’ era o ator Leonardo Thierry, que em ‘América’ conseguiu a façanha de interpretar dois juízes distintos de Miami.
Cesta O ‘Caldeirão do Huck’ deste sábado traz uma entrevista com Carlos Alberto Parreira, técnico da seleção. Além de especular sobre a escalação do Brasil na Alemanha, Parreira recebeu um pacote de presentes pitorescos, como um aparelho de fazer chapinha para Ronaldinho Gaúcho, cola para o goleiro Dida passar nas luvas e até um sapato de salto alto com serrote para evitar deslumbramentos.’
CASO CHATÔ
Fontes terá de devolver R$ 30 mi por ‘Chatô’
‘O ator Guilherme Fontes foi chamado a devolver R$ 30 milhões ao Estado, referentes ao uso de dinheiro público no longa ‘Chatô’, que ele começou a filmar em 1999 e nunca concluiu.
A Ancine (Agência Nacional do Cinema), que regula o setor audiovisual, divulgou que enviou ontem a Fontes carta-cobrança com esse valor e o prazo de 30 dias para que ele devolva o dinheiro ou apresente o filme pronto.
A Folha tentou falar com Fontes nos telefones de sua casa e celular e por meio da assessoria de imprensa da novela ‘Bang Bang’ (Globo), da qual ele participa, mas não obteve resposta até a conclusão desta edição.
Orçamento
‘Chatô’ é baseado no livro homônimo de Fernando Morais sobre o magnata das comunicações Assis Chateaubriand (1892-1968). O orçamento do filme, de R$ 12 milhões, foi aprovado pelo MinC (Ministério da Cultura) em 1996.
Com a autorização do ministério, Fontes reuniu cerca de R$ 8,5 milhões por meio das leis de renúncia fiscal (que autorizam empresas estatais e privadas a destinar parte de seu Imposto de Renda devido a projetos culturais).
A Ancine diz que o cálculo de R$ 30 milhões corrige e atualiza o valor captado. Se o diretor não devolver o dinheiro nem entregar o filme em 30 dias, a agência pedirá ao TCU (Tribunal de Contas da União) que execute a cobrança.
Em 2001, o TCU inocentou Fontes das suspeitas de uso indevido do dinheiro, que haviam sido levantadas pelo Ministério da Cultura em 1999. Naquele ano, o MinC negou a Fontes mais prazo para captar o total de seu orçamento e pediu prestação de contas da verba usada até ali. Fontes, então, interrompeu as filmagens.
O processo do TCU que concluiu não ter havido ilegalidade no uso de dinheiro público no filme ‘Chatô’ pode ser reaberto em até cinco anos após seu julgamento, caso surjam fatos novos.’
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O Globo
Quinta-feira, 22 de dezembro de 2005
CRISE POLÍTICA
Quem não se comunica…
‘Comunicar mal não é atributo exclusivo do governo Lula. Entre seus antecessores, era recorrente a reclamação de que os ministérios não conseguiam vender seu peixe à população. Se isso já é ruim para qualquer governante, torna-se dramático às vésperas de uma campanha de reeleição.
Ainda mais em meio ao desgaste de uma crise política que vem sangrando a popularidade do presidente da República a cada mês. É por isso que, passada a virada do ano, vem novidade por aí na comunicação do governo. E não é a contratação do novo marqueteiro para o lugar de Duda Mendonça. Esse personagem – possivelmente o publicitário João Santana – deve mesmo ser recrutado já em janeiro pelo PT, por quem será pago para atuar na campanha de 2006.
Mas a principal mudança deve ocorrer na Esplanada, onde o presidente vai se movimentar para ressuscitar a Secom ou criar algo semelhante. Fulminada pela crise junto com seu titular, o ex-ministro Luiz Gushiken, a pasta foi anexada à Secretaria Geral de Luiz Dulci, cuja primeira ação foi não agir. Mergulhou para tirar a polêmica secretaria do tiroteio, mas agora chegou-se à conclusão de que é preciso fazer a comunicação de governo emergir.
Nas últimas semanas, foram poucas as reuniões no Planalto em que o presidente não reclamou enfaticamente do esquema de comunicação. O mais recente exemplo de oportunidade perdida citado foi o pagamento de US$ 15 bilhões que simbolizou, de uma vez por todas, o fim das relações de dependência do país com o FMI – assunto de slogans e bandeiras históricas da esquerda.
Assim como ocorreu com os números do Pnad que apontaram a desconcentração de renda nos três anos de Lula, na avaliação do Planalto a quitação antecipada da dívida com o FMI também não foi devidamente explorada. A ocasião pedia um anúncio mais estrepitoso, quem sabe até em reunião ministerial, mostrando ao público o último cheque ao FMI, diz um interlocutor presidencial.
Avalia-se também que, da mesma forma como não consegue mostrar as realizações – que normalmente já teriam pouco peso diante dos escândalos que envolveram o PT – o governo foi incapaz de mobilizar sua defesa no pior momento da crise. Pouco se ouviu dos ministros, sobretudo do PT, no auge do bombardeio para convencer o povo e ou os formadores de opinião. Foi-se o apoio da classe média, há sinais de corrosão da popularidade do governo até nas faixas de baixa renda.
O resultado de tudo isso é que, sem linha de frente ou estratégia de comunicação, e considerando-se o melhor comunicador do governo, Lula desandou a falar. Ele é, de fato, um fenômeno em cima de um palanque. Mas, como ocorre sempre com quem fala demais, acaba cansando. Ou passa do ponto, assustando determinados setores com comparações com a Venezuela de Hugo Chávez e críticas às elites – justamente o público que precisa reconquistar para a reeleição.
Crise à parte, há quem considere, como o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que a incapacidade de se comunicar bem no governo é um problema típico das esquerdas. A direita, diz ele, sempre deu muita atenção a esse tipo de coisa, desde os malfadados tempos do Ministério da Propaganda de Goebbels na Alemanha hitlerista…
– A questão não é fazer propaganda. Mas é mostrar, por exemplo, que esse governo distribuiu renda, controlou a inflação, fez a economia crescer, teve resultados excelentes com o Bolsa-Família. Ou que, por exemplo, graças às ações na área de Minas e Energia, o risco de apagão no país está completamente descartado. Tudo isso ocorreu, mas pouca gente toma conhecimento. Por quê? Há uma dificuldade dos governos de esquerda para mostrar o que estão fazendo durante o processo – diz Thomaz Bastos, integrante da coordenação de governo.
Política de comunicação não é mágica. Ainda está para ser inventada aquela que poderia dar um jeito no desgaste provocado pelo mensalão, pela crise política e pela perda da bandeira da ética pelo PT. Nada disso se apaga. Não se trata também de uma questão de aumentar verbas publicitárias e bombardear o país com propaganda. A esta altura, não resolve.
O que o governo Lula, que também tem suas realizações positivas, parece estar percebendo é que precisa se comunicar melhor com a sociedade. Só resta saber se não será tarde demais.’
Cristiane Jungblut
Lula volta se queixar da imprensa
‘No dia em que o governo anunciou a abertura de arquivos da ditadura militar, com sua transferência para o Arquivo Nacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu posse ontem ao seu terceiro secretário especial dos Direitos Humanos: o petista e cientista político Paulo Vannuchi. Ao discursar, Lula disse que as ações na área dos direitos humanos serão uma marca do seu governo. A secretaria recentemente voltou a ter o status de ministério. Lula disse que a informação também é uma questão de direitos humanos e reclamou que nem sempre se publica tudo o que o governo está realizando.
Vannuchi: tortura ainda é regra em polícias estaduais
Vannuchi, ex-preso político na década de 70, comemorou a abertura dos arquivos da ditadura, mas disse que a tortura não acabou nas polícias estaduais.
Amigo de Lula, Paulo Vannuchi afirmou ainda que serão necessários vários governos comprometidos como o atual para que haja avanços satisfatórios na área de direitos humanos, principalmente na proteção da criança e do adolescente.
– Muita coisa foi construída nesse período, muita coisa (…) Faz parte dos direitos humanos as pessoas receberem as informações corretas para poder saber o que está acontecendo numa nação, numa comunidade, para fazer juízo de valor daquilo que o governo está fazendo ou não – disse Lula. – Uma das coisas que marcará nosso governo será a política de direitos humanos.
Vannuchi disse que era uma feliz coincidência tomar posse justamente ontem.
– Este governo pode falar com autoridade na defesa dos direitos humanos. Mas a tortura ainda é regra em muitas polícia estaduais – disse o secretário.
Secretário foi diretor do Instituto da Cidadania
Vannuchi é o terceiro responsável pela política de direitos humanos do governo. Ele sucede a Mário Mamede, que substituíra Nilmário Miranda. Recentemente, a Secretaria Especial de Direitos Humanos voltou a ter status de ministério, que havia perdido quando Nilmário deixou o governo. Vannucchi foi diretor do Instituto da Cidadania, ONG fundada em 1990 e ligada ao PT.’
ARQUIVOS LIBERADOS
Arquivos da ditadura são liberados para famílias
‘O governo transferiu ontem arquivos e documentos do período da ditadura para o Arquivo Nacional de Brasília. Serão liberados para consulta documentos datados até 1975. Após esse ano, o acesso depende da classificação (secreto ou ultra-secreto). Nesse caso, os papéis podem levar de 20 a 30 anos para se tornarem públicos. Os arquivos estarão abertos a consulta pública, mas os nomes dos envolvidos terão que ser preservados, assim como sua intimidade, vida privada, honra e imagem. Acesso irrestrito somente aos parentes.
– Os documentos estão deixando de ser parte do serviço de inteligência e passam a fazer parte da História. Serão um importante objeto de reflexão para a sociedade – disse a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Documentos estavam guardados em três lugares
Ao anunciar a liberação dos arquivos, Dilma se emocionou.
– Não tenho como não ficar emocionada. Este é um momento importante da redemocratização. Sou fruto desse momento – disse Dilma, que foi presa política e chegou a ser torturada.
Perguntada se os arquivos podem apontar os algozes dos ativistas, ela respondeu:
– Seria muita ingenuidade acreditar nisso.
Os documentos estavam com o extinto Serviço Nacional de Informações (SNI), o Conselho de Segurança Nacional (CSN) e a Comissão Geral de Investigações (CGI). O SNI mantinha arquivos das Forças Armadas, da Polícia Federal, do Dops e das secretarias de Segurança Pública. O CSN guardava documentos das cassações políticas. Os papéis da CGI envolvem casos de enriquecimento ilícito.
Após a posse do novo secretário especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, Lula disse que os arquivos estão sendo abertos no momento certo:
– Só podia ser aberto quando a gente estivesse preparado. É muita coisa para você prestar informação para a sociedade. Dilma fez no momento certo. Zé Dirceu já tinha trabalhado. É a sequência de tudo que vem acontecendo desde a Proclamação da República.’
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O Estado de S. Paulo
Quinta-feira, 22 de dezembro de 2005
ARQUIVOS LIBERADOS
Arquivos da ditadura passam a ser públicos
‘A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, uma das vítimas da repressão, foi a responsável por anunciar ontem que o Arquivo Nacional em Brasília agora abriga documentos da ditadura, transferidos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). ‘Com a abertura dos arquivos se completa uma trajetória. Ela é pedagógica e serve para aprender o valor da democracia’, disse, de olhos marejados. ‘O que está zerado, institucionalmente, é a democracia. Mas não há como apagar a história.’
Ela acha que os arquivos estarão à disposição para consulta em 2 semanas. Os documentos, do período de 1964 a 1990, pertenceram aos extintos Serviço Nacional de Informações, Conselho de Segurança Nacional e Comissão Geral de Investigações. Cópia de todos ficará no Arquivo Nacional do Rio.
Na prática, o acesso a arquivos não é simples. Dilma explicou que a Constituição garante o direito à privacidade e a divulgação dos dados de uma pessoa depende de sua autorização.
Dilma considera ‘ingenuidade’ achar que os papéis terão detalhes de operações da ditadura. ‘Não tenho como afirmar se os arquivos estão intactos. Se houve arquivos que desapareceram, os historiadores é que vão saber.’
Mais tarde, o presidente Lula disse que a abertura dos arquivos ocorre ‘no momento certo’. Os papéis, argumentou, tinham de ser ‘preparados para abrir, porque é muita coisa para prestar informações à sociedade’.’
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Governo optou por meia solução ao abrir arquivos
‘Amigos do ex-ministro José Dirceu confidenciaram, depois de sua saída do governo, que um dos atritos mais penosos em sua relação com Lula foi a resistência do presidente a abrir de uma vez os arquivos secretos da ditadura.
Disponibilizar os arquivos do SNI, com a margem de segurança dos 30 anos que protegem os documentos ultra-secretos, nem era tão complicado. O problema eram os documentos e corpos da guerrilha do Araguaia, cujos registros e localizações estavam guardados em desconhecidos subterrâneos do Exército.
Na contramão dos governos civis da Argentina e do Chile, que impuseram aos militares a entrega dos arquivos – o governo Lula oferece uma abertura parcial dos arquivos sem a certeza dos registros integrais dos registros da inteligência militar e sem os documentos e corpos do Araguaia, para desencanto de militantes dos direitos humanos e historiadores. Os primeiros não poderão enterrar seus mortos; os segundos terão de contar a História pela metade.’
GRAMPO NOS EUA
Big Brother Bush
‘E scandalizou, mas a rigor não surpreendeu, considerando o retrospecto, a revelação do New York Times de que desde fins de 2001 o presidente George W. Bush vem mandando grampear, sem autorização judicial, comunicações telefônicas, fax e mensagens de correio eletrônico de cidadãos americanos, moradores e visitantes dos Estados Unidos, no país e com o exterior. Depois de um dia de hesitação, Bush não só admitiu o fato, mas declarou que a espionagem continuará ‘porque salva vidas’ no que considera ser o front doméstico da guerra ao terrorismo. Ele bem que poderia ter dito, à maneira do ditador brasileiro Getúlio Vargas, de quem decerto nunca ouviu falar, ‘a lei, ora a lei’. E também ‘o Congresso, ora o Congresso’.
Essa foi a quarta vez em três meses que a Casa Branca foi apanhada atentando contra os direitos civis indissociáveis dos valores e das tradições que fizeram dos Estados Unidos a Meca das liberdades individuais, com base em interpretações flagrantemente descabidas da amplitude dos poderes do Executivo e da autoridade presidencial. O Washington Post noticiou em outubro que o Pentágono, a pretexto de identificar supostos inimigos internos dos EUA, compilou uma base de dados com nomes dos participantes de protestos pacíficos contra a invasão do Iraque. No mês seguinte, o mesmo jornal informou que o FBI, invocando atribuições aplicáveis a casos de suspeitos de terrorismo, violou, em segredo, o sigilo telefônico, de e-mail e bancário de milhares de pessoas – contra as quais não havia suspeita alguma.
E, dias depois da descoberta dos grampos autorizados por Bush, divulgou-se que o FBI bisbilhotava também movimentos ambientalistas, sociedades protetoras de animais e pelo menos uma organização trabalhista católica. É farinha do mesmo saco do governo que, entre outras violências, decidiu que as Convenções de Genebra sobre o tratamento a prisioneiros de guerra não se aplicam a ‘combatentes inimigos’ capturados seja lá onde for; que eles podem ficar detidos indefinidamente sem processo formal; que é legítimo seqüestrar suspeitos e levá-los para serem interrogados em países, da Europa Oriental à Ásia Central, onde a tortura é corriqueira. Bush só não chegou à infâmia de legalizar a tortura de acusados de ligações com o terror graças à obstinação do senador republicano John McCain, que foi prisioneiro de guerra e vítima de torturas sistemáticas no Vietnã.
Se algo gera perplexidade no caso das gravações clandestinas determinadas por Bush é o fato de que ele poderia conseguir que a Justiça as autorizasse. Uma lei de 1978 criou um tribunal secreto incumbido de julgar pedidos do gênero do Executivo, com a obrigação de se pronunciar em horas. Ou ainda, conforme a mesma lei, o governo poderia fazer o grampo e requerer a sua legalização daí a dois dias. A explicação que ocorre é que, obedecendo à legislação, a Casa Branca teria que persuadir os juízes da necessidade da medida, correndo o risco, por menor que fosse, de ter a sua pretensão rejeitada por insuficiente ‘causa provável’. É por aí, ao que tudo indica, que se chega ao fundo da questão.
Bush e mais ainda o seu todo-poderoso vice Dick Cheney, assim como o secretário de Defesa Donald Rumsfeld, têm escasso apreço pelos freios e contrapesos de que o Judiciário e o Legislativo podem lançar mão para prevenir os abusos do Poder Executivo. Enchem a boca para falar de liberdade e democracia, mas têm noções muito peculiares do que sejam uma coisa e outra. Nisso não diferem de Richard Nixon e dos seus homens – a não ser pela proeza de os superar em matéria de falta de escrúpulos. Cheney, em especial, é um autocrata obcecado por tudo centralizar e tudo controlar.
A tendência a imitar o onipresente Grande Irmão orwelliano, compartilhada por Bush, não é um efeito colateral do 11 de Setembro. O que o monstruoso ultraje fez foi exacerbar as características políticas e pessoais do bushismo, que constitui a mais chocante violação, em toda a história dos Estados Unidos, dos universalmente admirados princípios que informam a democracia nascida na Convenção de Filadélfia, em 1787.’
CASO CHATÔ
Guilherme Fontes tem 30 dias para devolver R$ 30 mi à União
‘Um dos maiores imbróglios do cinema nacional está prestes a ter um desfecho, 15 anos depois de iniciado. A diretoria da Agência Nacional do Cinema (Ancine) aprovou ontem emissão de carta de cobrança para que a empresa responsável pelo filme Chatô – O Rei do Brasil, a produtora Guilherme Fontes Filmes Ltda., devolva aos cofres públicos da União os valores captados, a partir de 1995, por meio das Leis Rouanet e do Audiovisual, ‘devidamente corrigidos’, cerca de R$ 30 milhões. A empresa pertence ao ator Guilherme Fontes (o Jeff Wall Street da novela Bang Bang, da Globo) e à sua mãe, Yolanda Machado Medina Coeli.
O prazo para a produtora devolver o dinheiro é de 30 dias. Caso não cumpra a exigência da Ancine, a decisão será encaminhada ao Tribunal de Contas da União (TCU), que procederá a cobrança. Fontes não pode mais pedir prorrogação do prazo, segundo Luiz Fernando Noel, superintendente de Desenvolvimento Industrial da Ancine. Sua única alternativa é, em 30 dias, devolver o dinheiro ou apresentar o filme pronto.
Em 2002, o TCU julgou que o Ministério da Cultura tinha cometido um tipo de pré-julgamento ao congelar a produção por suspeita de irregularidades. Com isso, o ministério teria abortado os prazos de Guilherme Fontes para a realização do filme. O tribunal lhe deu mais seis meses, naquele ano, para a captação dos recursos finais. Desde então, e apesar de ter recebido recursos novos, ele não conseguiu concluir a produção. Em meados deste ano, ele fez novas filmagens no Maranhão e obteve o apoio da prefeitura do Rio.
O problema atual, segundo a Ancine, é que Fontes, por problemas legais, não pediu a prorrogação do prazo para continuar captando em 2006. ‘Já houve uma tolerância máxima em não encaminhar esse projeto anteriormente’, disse Luiz Fernando Noel. ‘Esse é um procedimento que tem fundamentos legais e não é específico para o caso dele , mas para todos os produtores’.
Até as 20 horas de ontem, Guilherme Fontes não foi localizado para comentar a decisão. Em outubro, ele disse que todos os problemas que teve com o filme se deveram à ação de um ‘cartel’ do cinema nacional e os atrasos foram por causa das multas e da excessiva fiscalização que sofreu. Fontes anunciava um iminente acordo com a Globo Filmes para distribuir e exibir a produção, que estaria ‘na lata’.’
INTERNET
Empresa brasileira acha carros no Google Earth
‘O Google Earth, serviço da gigante americana de buscas via internet, gera negócios para outras empresas de tecnologia. A Logikos, companhia brasileira de rastreamento de veículos, integrou seu sistema do Google, que mostra fotos via satélite da Terra. Com isso, os clientes podem ver onde estão os carros. A localização é atualizada periodicamente, de minuto a minuto ou de 30 em 30 segundos, por exemplo.
‘Foi uma demanda interna’, explicou Alexandre Guimarães, gerente de Desenvolvimento da Logikos, sobre a integração de seu sistema com o serviço do Google. ‘Usávamos o Google Earth como ferramenta na hora do sinistro, recortando e colando as coordenadas. O pessoal interno perguntou se não havia uma maneira automática de passar os dados do nosso sistema para o Google Earth.’ A integração levou 30 dias.
O Google Brasil informou que não tem conhecimento de outras empresas no País que usem o Google Earth integrado a um sistema de localização de veículos, que existem companhias brasileiras em outros setores – como mercado imobiliário e bancos – e organizações de governo que usam a ferramenta.
Os clientes da Logikos que queiram usar o Google Earth para rastrear a frota precisam pagar uma assinatura anual de US$ 400 ao Google. A Logikos paga a mesma taxa. ‘Entramos em contato com o Google na hora de divulgar o serviço e eles gostaram da idéia’, afirmou Guimarães.
‘O Google Earth é bastante útil para empresas com problemas de segurança ou que trabalham em locais não-mapeados, como aterros sanitários’, explicou o executivo. Ele contou o caso de um roubo de caminhão em São Paulo, quando o sistema mostrou que os ladrões pararam primeiro em uma favela (onde deixaram o motorista) e depois em um posto de gasolina, onde descarregavam a carga roubada e foram presos pela polícia: ‘Só pelo mapa, sem as fotos, não dava para saber que haviam parado num posto’.
O sistema ajuda a evitar fraudes. Por exemplo, no caso de uma empresa de coleta de lixo seletivo, permite a identificação de pontos não-programados de coleta, evitando que o motorista tenha seus próprios clientes, atendidos com o caminhão da companhia. ‘Houve o caso de uma pessoa que entregou um atestado médico e foi para Santos com o carro da empresa.’
A Logikos atende a mais de 200 clientes, com 2,5 mil veículos, e deve faturar R$ 7 milhões em 2006. O rastreamento dos veículos é feito por sistema de localização via satélite (na sigla em inglês, GPS). As informações são transmitidas pela rede da Nextel. A empresa acaba de fechar acordos com a Claro e a TIM para transmitir as coordenadas dos veículos também pelas redes celulares das operadoras.’
TELEVISÃO
Xuxa dividida entre baixinhos e teens
‘Xuxa recebe o repórter do Estado no seu escritório na Barra. Veste um blazer preto sobre camiseta com efígie do Mickey e calça jeans. A pedido do repórter, tira o blazer na hora da foto. Está linda, com os seios fartos que a tornaram mais sexy, desde a aplicação do silicone. Xuxa fez dois shows em São Paulo (sábado e domingo) no fim de semana passado; continua com o programa no ar; estrela o especial de Natal da Globo, que vai ao ar na noite de 24, espremido entre a novela das 9 (Belíssima) e a Missa do Galo. No domingo, dia 25, como um presente de Natal, ela aterrissa em mais de 150 cinemas de todo o País, cumprindo o que já faz parte do ritual da data. Não existe Natal no Brasil sem o novo disco do rei Roberto Carlos nem o novo filme da rainha dos baixinhos.
Ela é Maria da Graça, lembram-se? Maria da Graça Meneghel. Como o presidente, que virou Luiz Inácio Lula da Silva, também é Maria da Graça Xuxa Meneghel, mesmo que continue sendo só Xuxa no imaginário dos fãs. São mais de 20 anos de estrada. Durante todo este tempo, o culto a Xuxa tem passado por mutações. As mães que se postavam com as filhas diante da TV para assistir ao seu programa viraram avós, as filhas agora são as mães e – milagre – há uma nova geração de baixinhos adorando sua rainha. Desde Lua de Cristal, no começo dos anos 1990, Xuxa já estrelou oito filmes produzidos por Diler Trindade. Fizeram 22,5 milhões de espectadores. O maior sucesso da dupla foi justamente Lua de Cristal, com 5 milhões de espectadores. O ‘fracasso’ foi um filme que fez, mesmo assim, espetaculares 1,7 milhão de espectadores, Xuxa e o Tesouro da Cidade Perdida, no ano passado. Sua média é de mais de 2 milhões, por filme. Espera mantê-la com Xuxinha e Guto contra os Monstros do Espaço.
É uma animação dirigida por Clewerson Saremba, estreante que antes trabalhou com desenho de publicidade. Xuxa, de carne e osso, aparece em algumas cenas (dirigidas por Moacyr Góes) que fazem a ligação da história. Na maior parte do tempo, quem está no primeiro plano é Xuxinha, a projeção animada de Xuxa. Xuxinha e Guto são dois anjos da guarda que protegem dois garotos traquinas, verdadeiros pestinhas. Na hora H, Xuxinha sacrifica a imortalidade para que um deles possa viver e vira menina. Peraí – o que é isso senão Asas do Desejo, de Wim Wenders, refeito em Hollywood como A Cidade dos Anjos, com Meg Ryan? Xuxa está cheia de expectativa em relação ao desempenho do novo filme. Do sucesso da personagem na telona depende uma série de coisas – o surgimento de uma série e o descanso a que ela almeja, trabalhando menos dias por semana, substituída pela Xuxinha em seu programa de TV.
Os críticos detectam uma mudança em Xuxa. Ela está menos mercenária – seu atual programa de TV investe menos no consumo, o que dá lugar a uma responsabilidade social maior. Xuxa mercenária? Ela reconhece a fama. Conta que, após o Planeta Xuxa, foi até ‘Dona Marluce’, a todo-poderosa superintendente de Operações da Globo, Marluce Dias da Silva, mostrar seu projeto de programa, Xuxa no Mundo da Imaginação. A Globo não estava muito receptiva. Sairia mais barato exibir desenhos no horário. Xuxa mostrou o projeto e disse que tinha um senão, que talvez desagradasse ao Departamento de Marketing da emissora. Ela não queria merchandising, pelo menos não nos moldes que vinha praticando. Dona Marluce foi categórica – ‘Mas isso nunca foi uma exigência da Globo; era uma exigência sua, para aumentar o faturamento de seus produtos.’ Xuxa faz mea-culpa. Estava mal assessorada, mas não joga a culpa nos outros. ‘Ouço muito o que me dizem, mas sempre tenho a palavra final.’
Até a erotização da infância, da qual ela volta e meia é acusada, merece um comentário. ‘Mas como eu vou falar com os adolescentes ignorando o sexo?’ Acrescenta que desde que colocou o silicone, seu apelo erótico cresceu. São coisas que não dão para segurar. Fala até de Pelé, a quem excluiu do seu livro oficial de carreira. ‘Não excluí, não. Ele está lá, citado. Mas é um livro sobre a minha carreira, não sobre a minha vida sentimental. Se fosse sobre essa última, ele teria de ocupar todo um capítulo. Ficamos juntos por seis anos.’ Xuxa abre o jogo. Fala de tudo. A queda de audiência do programa de TV, por exemplo. Ela foi à direção da Globo. ‘Se os meus shows vivem lotados, os filmes batem recordes, os CDs e DVDs me enchem de discos de ouro, por que só a TV não funciona mais?’ Descobriu coisas interessantes.
Seu programa matinal estava engessado entre o de Ana Maria Braga e a novelinha do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Saía de um programa adulto para outro infantil e com uma duração muito curta para ir se desligando da audiência anterior e preparando a audiência da atração seguinte. Outro problema é que as emissoras concorrentes exibem muitos desenhos e existem canais da TV paga só com desenhos no horário. Atraem uma audiência muito grande – justamente a dos baixinhos. Na verdade, o programa de Xuxa perdeu audiência durante poucos dias, mas o caso repercutiu na imprensa porque era ela, a rainha dos baixinhos. ‘Quando recuperei a audiência e a Globo voltou a ganhar nas manhãs, ninguém mais se interessou pelo assunto’, provoca. Sabe que não é fácil se equilibrar entre esses dois segmentos – os baixinhos e os adolescentes, cada grupo com suas expectativas e até necessidades.
Pode até ser acusada de falta de ambição, mas o que quer é manter a coroa de rainha dos baixinhos. Faz a ressalva. ‘Quero a coroa, mas também quero sair do trono e me sentar com eles no chão, fazer o programa do ponto de vista deles, com eles, para eles.’ Por conta disso, o apelo consumista está sendo diminuído, não anulado, em troca da tal responsabilidade social que os críticos identificam. A coisa do consumo sempre tem. Nos shows, não pode impedir que, na frente dos ginásios e teatros, vendam tudo – camisetas, bonés, álbuns de figurinha. ‘Mas na Disney, em qualquer lugar, é assim. As pessoas sempre querem uma lembrancinha’, comenta. Seu melhor programa é a Fundação Xuxa Meneghel. ‘Recebi tanto dos baixinhos que queria retribuir.’ A fundação, criada em 1989, atende mais de mil crianças, às quais oferece educação, qualificação profissional, inclusão social.
O repórter provoca. Xuxa, como outras personalidades da era da imagem, leva uma vida pública. Nela, até o privado vira público. Casamento, parto. A imprensa está sempre atrás de Xuxa, tudo o que ela faz vira notícia. Ela jura que se expõe cada vez menos. ‘Não vou a festas, gosto de me trancar em casa, vestindo jeans surrado e comendo pipoca com a Sasha, enquanto a gente vê filmes na TV ou assiste a DVDs.’ Bate pesado na pirataria. Acha uma vergonha. Tem funcionáros, mantém uma fundação, cada show implica a movimentação de 150 pessoas, no mínimo, com todos os gastos que uma operação desse porte encerra. Xuxa gera empregos diretos e indiretos. A pirataria prejudica. Os seis DVDs da série Xuxa e os Baixinhos – o sexto acaba de ser lançado – já venderam mais de 5 milhões de cópias. Mostra o certificado, para ninguém dizer que está mentindo. O número seria maior, se não houvesse pirataria.
Critica o presidente, que assistiu a 2 Filhos de Francisco num DVD pirata. ‘Se foi um assessor que mostrou, então tem de punir o assessor. O que não pode é dar mau exemplo.’ Sobre a questão público/privado, conta uma história divertida. Uma vez, no Recife, vestiu peruca, óculos escuros, tirou o anel, tudo isso para ir numa feirinha sem ser reconhecida. ‘Adoro feirinha’, confessa. Para não chamar a atenção pela voz, apontava o dedo na hora de perguntar o preço. Uma menina sacou (e ela imita o sotaque nordestino) – ‘Mainha, olha, não é a mão de Xuxa?’ Sua persona é tão forte que Xuxa, não adianta, consegue ser pública até quando pretende permanecer privada.
Na TV, neste sábado, ela realiza um sonho, com o especial de Natal da Globo, que retrata a festa tal como é comemorada nos quatro cantos do Brasil. Chama-se Folias de Natal. Xuxa tomou como elogio o que lhe disse um dos convidados, Milton Nascimento. Ele agradeceu pelo Natal brasileiro, sem neve de mentira. Um Natal quente, com muita cor, frutas e comidas brasileiras. Baixa um gauchês rápido em Xuxa. Falou em fruta e ela diz que está sentindo o cheirinho de butiá. Você não sabe que fruta é essa? Você só precisa saber que é boa. E importar do Rio Grande. Ou então, melhor ainda, ir ao Sul e comer butiá diretamente da árvore. Quem foi que disse que a felicidade não existe?
O repórter viajou a convite da empresa produtora Diler e Associados’
Keila Jimenez
TVs festejam o saldo do ano
‘O ano que termina foi bom comercialmente para as TVs, mas 2006 promete ser bem melhor. Pelo menos é isso que apontam os diretores comerciais das principais redes.
Na Globo, o crescimento do investimento publicitário cresceu cerca de 13% este ano em relação a 2004. Boa média, se pensarmos que na divisão do bolo a rede leva maior fatia – cerca de 70% dos investimentos publicitários em mídia vão para as mãos dela -, mas o próximo ano promete mais. ‘O mercado teve um ano positivo, mas embora ainda seja cedo para falar em números, não há dúvidas de que a Copa do Mundo é um momento especial para a TV’, fala o superintendente comercial da rede, Willy Haas.
Uma prova do bom ano comercial é que tanto a Copa, como Fórmula 1, JK, o pacote de Futebol 2006 e o Pan de 2007 já estão com praticamente todos os seus patrocínios vendidos na Globo. ‘Numa visão mais pessimista, esperamos para 2006 um crescimento do mercado de 8%, realista, em torno dos 10%, e otimista, 12%’, acredita ele.
Na Record, o crescimento foi mais gordo: 40% em relação a 2004. ‘Novelas, O Aprendiz, a nova linha de shows e futebol impulsionaram esse crescimento’, fala o superintendente comercial da Record, Walter Zagari. ‘Para 2006, esperamos um crescimento de 35%, que se deve a estréias como Avassaladoras, Cidadão Brasileiro, Aprendiz 3 e a um pacote de filmes ‘, diz ele.
A RedeTV! viu seu faturamento crescer cerca de 30% em relação a 2004 e espera repetir a meta em 2006. Na Band, o crescimento ficou em torno dos 25%, apostando em novidades como Floribella, futebol europeu e no jornalismo de Carlos Nascimento.
‘Queremos crescer cerca de 20% em 2006’, promete o diretor comercial da Band, Marcelo Mainardi.’
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