Leila Cordeiro

‘Responda depressa: a violência estimula os programas sensacionalistas na TV ou são esses programas que estimulam ainda mais a criminalidade nos grandes centros? Nem um nem outro, penso eu. O que realmente incentiva esse tipo popularesco de atração é, sem dúvida, a audiência.

A Folha de São Paulo deste domingo deu uma má notícia para quem já estava comemorando o fim do ‘Cidade Alerta’ da Record. Curiosamente, sem o seu mais famoso ‘mundo cão’ de cada dia, os telespectadores acabaram migrando para o similar ‘Brasil Urgente’, elevando o ibope da Band no horário. A emissora aproveitou a deixa para divulgar que não pretende tirar o programa do ar, pois argumenta que ele apenas relata a violência no país, sem sensacionalismo.

Tudo bem que cada emissora de TV defenda o seu produto, mas negar que ele seja sensacionalista é querer tapar o sol com a peneira. A campanha ‘Quem financia a baixaria é contra a cidadania’ tem combatido esse tipo de programa e outras aberrações que invadem a casa dos telespectadores. Até mesmo as novelas do horário nobre da TV que estão exagerando nas cenas de sexo e nu. A campanha divulga periodicamente as reclamações do público que se sente ofendido por cenas chocantes e escandalosas.

Em contraponto à campanha contra a baixaria na TV, há uma boa parte do público que aumenta os índices de audiência quando são mostradas cenas indecentes ou de produção desqualificada. Fica a dúvida no ar: será que o público que reclama tanto da qualidade da programação da TV é o mesmo que corre para frente da telinha quando são mostradas imagens sensacionalistas ou cenas picantes nas novelas de grande audiência?

Apesar do empenho da campanha contra a baixaria, que vem conquistando algumas vitórias como essa decisão da Record de decretar o fim do Cidade Alerta, os reality shows importados estão tomando conta da programação televisiva, a ponto dos empresários brigarem pelos direitos sobre a versão brasileira. Como é o caso do tristemente famoso Big Brother, na Globo, copiado por Silvio Santos no SBT que malandramente fez pequenas alterações no modelo estrangeiro e lançou a ‘novidade’ com o nome de Casa dos Artistas.

Agora é a Record que está apostando num novo reality show. Comprou os direitos de ‘The Apprentice’, apresentado nos EUA pelo bilionário Donald Trump. Na versão brasileira, O Aprendiz, tem como apresentador o publicitário Roberto Justus. Nada contra importar programas de outros países. O problema é que nem sempre imitam programas de qualidade. Exemplo disso é o ‘Fear Factor’, programa da rede americana NBC, onde as pessoas tem que fazer coisas inacreditáveis como comer baratas e ratos e enfrentar obstáculos quase intransponíveis.

Correndo na contramão da baixaria está o antigo seriado mexicano Chavez, líder de audiência no SBT há anos. Apesar de chato e ultrapassado, o direito de transmissão no Brasil desta vez foi disputado a tapa pelas redes. A emissora mexicana deve ter levado em conta a máxima de que ‘antiguidade é posto’ e garantiu ao SBT o direito de continuar exibindo o Chavez. O próprio Silvio diz que Chavez é uma espécie de curinga no SBT. Quando algum programa vai mal das pernas, ele é substituído por Chavez e sua bizarra turma que garantem uma subida de audiência.

Portanto, estamos conversados. Cada emissora briga pelos pontos no Ibope com as armas que possui. Cabe ao telespectador reclamar seus direitos e escolher melhor seu entretenimento, dizendo não à baixaria e aos programas de baixa qualidade. Afinal, um canal de TV é uma concessão do governo onde o público é o patrão. Ou deveria ser.’

‘Lá vai um balde de água fria para quem comemorou a extinção do ‘Cidade Alerta’ (Record) no início deste mês: parte dos ‘órfãos’ do líder de audiência do ‘mundo cão’ migrou para o similar ‘Brasil Urgente’ (Band), o que deu fôlego à sobrevivência do sensacionalismo na televisão.

A Bandeirantes contabiliza um crescimento de 32% de audiência no horário desde que o ‘Cidade Alerta’ saiu do ar (3 de junho), em comparação com as três últimas semanas de existência do telejornal. Passou de 3,6 para 4,8 pontos de média no Ibope, enquanto a Record registrou queda de 24% no horário, de 9,7 para 7,4 (cada ponto equivale a 52,3 mil domicílios na Grande São Paulo).

Assim, qualquer plano de tirar José Luiz Datena das notícias policialescas do ‘Brasil Urgente’ está completamente descartado por ora pela direção da Bandeirantes.

Ao contrário da Record, a Band diz não sofrer pressão do governo ou de anunciantes pelo fim do telejornal popular. Também afirma não considerar que o programa seja sensacionalista ou que prejudique a imagem de credibilidade jornalística da emissora.

‘Ele é necessário diante de nossa realidade violenta. Se a Inglaterra tivesse 50 assassinatos em um final de semana, como acontece aqui, certamente a televisão inglesa teria um programa assim’, diz Marcelo Parada, vice-presidente da Rede Bandeirantes.

Para ele, o ‘Brasil Urgente’ possui um caráter de ‘serviço ao telespectador, utilidade pública’.

A Rede TV!, apesar de não ter faturado no Ibope -ao menos por enquanto- com a extinção do ‘Cidade Alerta’, descartou o antigo projeto de acabar com o seu representante do ‘mundo cão’, o ‘Repórter Cidadão’.

A decisão da Record de tirar o policial do ar só reforçou a análise da direção da Rede TV! de que há espaço para esse tipo de noticiário. ‘Acredito que o público do ‘Cidade Alerta’ acabe migrando para o ‘Repórter Cidadão’, afirma José Emílio Ambrósio, diretor de jornalismo da Rede TV!.

Ele argumenta que o programa, apresentado por Ney Gonçalves Dias, ‘vem abandonando’ o estilo policialesco, focando em prestação de serviço, e possui ‘uma função importante em uma realidade de desigualdade social’.

O ‘Repórter Cidadão’ tem mantido uma média de cinco pontos no Ibope. Somada à audiência do ‘Brasil Urgente’, são mais de 512 mil domicílios sintonizados no ‘mundo cão’ só na Grande São Paulo. Isso sem falar que o ‘Cidade Alerta’ continua no ar no Rio de Janeiro, comandado por Wagner Montes, e que há vários similares regionais pelo Brasil. Todos exibidos em horário classificado como livre pelo governo federal, isto é, liberados para menores de 12 anos.

Baixaria

A ‘crise de identidade’ do ‘mundo cão’ na TV, que teve seu espaço reduzido na programação, é considerada uma vitória pela campanha Quem Financia a Baixaria É contra a Cidadania, da Câmara dos Deputados. Após obter destaque na mídia, a iniciativa ganhou adesão de anunciantes, como as Casas Bahia.’

‘Enquanto o ‘mundo cão’ sobrevive no telejornalismo da Band, a ‘ex-barraqueira’ Márcia Goldschmidt também amplia seu espaço na programação.

Apresentadora do dominical ‘Jogo da Vida’, que explora sentimentalismo e debates pouco profundos, Márcia deverá comandar um programa na mesma linha de segunda a sexta a partir de agosto.

A nova atração deverá anteceder o policial ‘Brasil Urgente’, no horário hoje ocupado pelo ‘Clube do Fã’ (17h30), que sai do ar.

Além do comando do ‘Brasil Urgente’, Datena deverá seguir com seu novo programa ‘light’, ‘No Coração do Brasil’, uma espécie de ‘gente que faz’, veiculado no final das noites de sexta.

Com médias de quatro pontos no Ibope, o ‘Globo Repórter’ da Band agradou a direção.

Teledramaturgia

Para o próximo ano, a Bandeirantes prepara o lançamento de um segundo horário de novelas. Além de uma nova edição da infanto-juvenil ‘Florisbela’, pretende colocar no ar uma história ‘mais adulta’.

Estão em análises sinopses de Ana Maria Moretzshon, autora de novelas da Globo (‘Estrela Guia’, ‘Sabor da Paixão’). Ela atuou na Band nos anos 90, com ‘Perdidos de Amor’, ‘Serras Azuis’ e ‘Meu Pé de Laranja Lima’.

A direção do futuro núcleo de teledramaturgia ficará a cargo de Herval Rossano, que, após anos na Globo, teve sucesso na Record com ‘A Escrava Isaura’. Após brigar com a direção da emissora e tirar férias, ele inicia o trabalho na Band nesta semana.’

‘A Band vai dar um ‘banho de imagem’ em Márcia Goldschmidt. A apresentadora, que era vista como ‘barraqueira’, quer se tornar uma versão da americana Oprah Winfrey, eleita pela revista ‘Forbes’ a celebridade mais poderosa do mundo. Oprah é popular, mas muito prestigiada.

A ‘plástica’ visa a estréia do novo programa diário de Goldschmidt, que estréia em agosto. Para elaborar o programa, internamente chamado de ‘Projeto Oprah’, a Band contratou um diretor de criação (Marcus Fernandes, ex-Nickelodeon) e tentou entregar a produção musical às responsáveis pela ‘rádio’ da Daslu, mas elas desistiram. A campanha de lançamento será feita pela agência Lew, Lara. A emissora articula um pouco provável encontro de Goldschmidt e Oprah.

Pesquisas feitas pela Band mostram que a imagem de Goldschmidt melhorou depois que ela deixou de apresentar o ‘Hora da Verdade’. Ela não é mais vista como ‘barraqueira’, mas como ‘autêntica’ e ‘corajosa’.

A Band diz que o novo programa não será cópia do de Oprah, mas parecido com o dominical ‘Jogo da Vida’, que é mais focado em relacionamentos amorosos. ‘O que a Band busca é o parâmetro da personagem Oprah, com seus potenciais de comunicação’, diz Marcelo Parada, vice-presidente. Ou seja, a Band quer que Goldschmidt tenha prestígio, audiência e dê faturamento.

OUTRO CANAL

Rock A Globo está fechando negociação para transmitir show que a banda Rolling Stones fará no Rio de Janeiro no início de 2006.

Retorno O mergulhador e documentarista Lawrence Wahba está de volta à Globo, depois de um ano como contratado exclusivo da Record (‘Domingo Espetacular’). Ele terá um quadro fixo mensal no ‘Domingão do Faustão’ e participará do ‘Fantástico’.

Massacre As mulheres foram muito mal nas primeiras gravações do ‘reality show’ ‘O Aprendiz 2’, da Record. Dos cinco participantes eliminados até a semana passada, quatro eram mulheres _ou seja, metade do grupo feminino que entrou no programa.

Exótico Um dos produtos mais procurados na central de atendimento ao telespectador da TV Globo no mês passado foi o avental usado por Beiçola (Marcos Oliveira) em ‘A Grande Família’. O público queria saber onde comprar o avental, que tem pastéis estampados. O produto ainda não é vendido.

Queijo Pode render a visita de Carlos Massa, o Ratinho, à Band na semana passada. O apresentador ouviu da Band que, se conseguir romper amigavelmente com o SBT, sem pagamento de multa, as portas da emissora estão abertas para ele.’

‘A operadora de TV paga Sky, segunda maior do país, começa a distribuir nesta quarta-feira o canal americano Playgirl, o primeiro disponível no Brasil com programação erótica feita por e especialmente para mulheres.

‘A gente sabe que as mulheres são metade da audiência dos canais eróticos, como Sexy Hot e Playboy TV. Mas as pesquisas indicam que elas não gostam de cenas em que as mulheres são subjugadas’, diz Ricardo Rihan, diretor de programação da Sky.

A base do conteúdo do Playgirl não são filmes, mas encenações curtas de fantasias eróticas narradas por mulheres. Há também sexo explícito, mas as mulheres sempre aparecem no comando, a fotografia valoriza o corpo do homem _que vira objeto sexual.

A Sky já fez pesquisas com mulheres para avaliar o conteúdo do canal. ‘Elas adoraram a produção, que é mais refinada. O material não explícito não foi tão bem recebido. É um tabu achar que mulher não gosta de conteúdo mais apimentado’, afirma Rihan.

O executivo diz que viu dez DVDs com programação do Playgirl e não viu uma única cena de mulher transando com mulher. De mulher com dois homens, há, mas eles estão a serviço dela.

Vendido pelo sistema ‘pay-per-view’, o Playgirl será inicialmente oferecido em blocos de duas horas de conteúdo, por R$ 10. Mas tende a ser vendido em pacotes mensais e de fins de semana.

OUTRO CANAL

Salvação A atriz Camila Morgado pediu e terá um papel na minissérie ‘JK’, de Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira. Ela interpretará uma jornalista paulista e terá a chance de se redimir pela ‘over’ May de ‘América’. Caco Ciocler, que faz Ed, seu par na novela das oito, também está confirmado na minissérie.

Amante Outra atriz ‘reservada’ para ‘JK’ é Malu Mader, que também está nos planos de Gilberto Braga para uma microssérie baseada no romance ‘As Relações Perigosas’, mas sem previsão de quando será produzida. Na minissérie, Malu fará uma personagem que sintetizará todas as mulheres que se apaixonaram pelo presidente Juscelino Kubitschek.

Aprovado O Warner Channel fez pesquisas com grupos de mulheres heterossexuais para avaliar a série lésbica ‘The L Word’. Não houve rejeição. As mulheres só pediram para que o seriado não seja exibido muito cedo, para que suas filhas não se influenciem por ele. A série vai entrar no ar aos domingos, às 23h, em julho.

Esquentou Wanilton Alves Pereira, o Jacaré, entrará na ‘guerra’ pela audiência das tardes de sábado, disputando público com Raul Gil (Record) e Gilberto Barros (Band). A Rede TV! prevê a estréia da nova atração em agosto. O programa será popular, mas menos tosco do que a versão diária. Terá jogos, música e interatividade.’