‘Faz 45 dias que Paulo Henrique Amorim pediu férias no UOL para criar a revista Tudo a Ver, que estréia dia 2, às 17h30, na Record. Ao lado de Janine Borba (ex-Bandeirantes), Amorim vai chamar reportagens de moda, saúde, beleza, gastronomia, polícia, economia, além de colunistas como a top model Ana Hickmann. No meio de uma reunião com sua equipe, o jornalista concedeu esta entrevista ao Estado em que, entre muitas coisas, defende que há condição de se ter uma ‘TV de qualidade e popular’ ao mesmo tempo.
Estado – Por que você vai ancorar um programa feminino?
Paulo Henrique Amorim – Comecei minha carreira em uma revista feminina, Jóia, da Editora Bloch, escrevendo a biografia de Coco Chanel. E Tudo a Ver não é exatamente um programa feminino, mas um programa com reportagens de interesse da mulher. Teremos matérias de polícia, de futebol, moda, gastronomia. Vamos fazer um programa para toda a família. Célia Pardi não foi contratada como diretora porque dirigiu a revista Claudia muitos anos, mas porque precisamos do olhar de uma jornalista competente para tratar de saúde, dieta, longevidade, educação, finanças da família.
Estado – De que maneira o programa vai cobrir polícia?
Amorim – Vamos tratar do assunto da maneira que faço tudo até hoje:
jornalisticamente. Não será o Cidade Alerta. O quadro vai se chamar Segurança/Insegurança e o colunista será Percival de Souza.
Estado – Qual é a razão para colocar esse programa no fim da tarde?
Amorim – Está faltando um programa desse tipo e com os recursos que a Record está colocando à disposição.
Estado – Quais recursos?
Amorim – A emissora está investindo muito dinheiro não só na contratação de profissionais de qualidade, mas também em equipamentos, novos softwares de computação gráfica. Teremos sete repórteres na rua e colunistas. Ana Hickman vai ao Bom Retiro para mostrar como a mulher pode se tornar uma princesa gastando R$ 100, Cris Flores, repórter da Contigo!, vai falar do mundo das estrelas, o chef Eduardo Guedes vai apresentar receitas.
Estado – Qual é a receita do programa?
Amorim – Será um programa inteligente e bem-humorado.
Estado – Será um contraponto ao mundo-cão que predomina no horário?
Amorim – Não, este programa estava sendo concebido para uma outra hora – de manhã. Depois a empresa decidiu mudar para o horário do Cidade Alerta.
Estado – Quem é o seu público-alvo?
Amorim – Quero falar com todos os brasileiros e brasileiras de todas as classes sociais e de todas as idades. Tenho um velho sonho de fazer um programa jornalístico popular e de bom gosto. Quero fazer esta revista para a minha mãe e para a minha tia.
Estado – É possível conjugar popular com bom gosto na TV?
Amorim – Claro, é só ver os filmes do Steven Spielberg e os programas que o Boni fez na Globo: o Fantástico e as novelas são programas populares.
Equívoco é achar que popular é sinônimo de mau gosto. Vamos mostrar que há condições de se fazer uma TV de qualidade e popular.’
BELEZA COMPRADA
‘Cirurgia plástica faz TV ficar mais feia’, copyright O Estado de S. Paulo, 21/07/04
‘Desde a adolescência, Tatyana Schimidt, de 29 anos, experimentou todas as fórmulas, dietas e medicamentos para emagrecer.
Algumas vezes, conseguiu resultados, mas tiveram curta duração. Quando a balança atingiu os 116 quilos, Tatyana decidiu fazer uma operação de redução de estômago. Coincidentemente, a produção de Beleza Comprada, da GNT, estava à caça de pessoas que já estivessem com cirurgia plástica marcada e a convidou para participar do programa.
Tatyana aceitou compartilhar com outras pessoas, pela tela da TV, todos os meandros que envolveram sua operação.
Para ela, a experiência de expor um pedaço tão íntimo de sua vida foi válida. ‘Pensei em quantas pessoas não estão nessa situação, que não estão se sentindo bem assim’, explica Tatyana, dois meses depois da cirurgia e 15 quilos mais magra. Beleza Comprada faz parte de um novo filão que ‘contaminou’ também a telinha brasileira, sobretudo a por assinatura: o de acompanhar o antes e o depois na vida do cidadão comum que se submete à cirurgia plástica, passando inclusive pela dolorosa fase de recuperação.
Mas parece que o voyeurismo do público consegue superar qualquer ojeriza ao sofrimento. Como não ficar curioso em conferir os milagres que uma cirurgia pode oferecer a pessoas desprovidas de qualquer atributo genético, como as apresentadas pelo reality show americano Extreme Makeover, exibido no Brasil pela Sony?
Por aqui, encontramos atrações relacionadas ao assunto para todos os gostos, desde os mais bizarros, como I Want a Famous Face, da MTV, até os mais documentais, como a já mencionada produção brasileira Beleza Comprada e Cirurgia Plástica, da Discovery Health. No dia 17 de agosto, a Fox adere à tendência ao estrear o seriado de ficção Nip/Tuck, que foi polêmico nos EUA, por retratar o lado superficial da cirurgia plástica. ‘É a nossa maior aposta para este ano’, diz Fabiana Lang, diretora de Marketing da Fox.
Tudo que cai na TV tem chances de virar espetáculo e entretenimento. E não é diferente com a cirurgia plástica. Mas a grande questão que surge é: até que ponto esses programas, expostos num veículo de tamanho alcance, têm poder de vender falsas ilusões a um público que não tenha discernimento para saber que a plástica não é a solução para todos os seus problemas? Diretor do Beleza Comprada, Jorge Espírito Santo diz não fazer juízo de valores. ‘Existem escolhas na vida das pessoas. Se elas quiserem mudar, isso é legítimo.’
Para o psicólogo Antonio Carlos Amador Pereira, a questão é complicada. ‘Hoje, a imagem é tudo’, avalia. ‘Até alguns anos atrás, a facilidade da reconstituição corporal era para poucos, mas atualmente está ficando mais acessível para uma maior faixa da população. E os programas de TV são meios para isso.’ Segundo Pereira, mudanças drásticas, como as propostas pelo reality show I Want a Famous Face (nas quais os participantes buscam ficar com a cara de seu ídolo), podem ser uma armadilha. ‘Você muda seu rosto, mas você se reconhece como um ídolo?’, indaga. ‘Você mexe com sua identidade quando você mexe com seu corpo.’ O psicólogo garante não ser contra a cirurgia, mas aconselha que ela não seja feita por impulso, senão lá se vão anos de terapia. ‘A pessoa pode não ficar feliz com o resultado, pode não ser o que ela esperava.’
As advertências são reforçadas pelo psicólogo e psicoterapeuta Ari Rehseld, supervisor da Clínica de Psicologia da PUC, que retoma o exemplo do programa I Want a Famous Face. ‘Existe um problema na idolatria: seu ídolo pode deixar de ser ídolo, por algum motivo. Aí, você olha no espelho e continua a ver a cara dele.’ Para ele, esse é o produto da ditadura estética, em que as pessoas se preocupam mais com a aparência e perdem contato com aquilo que não se mede pela aparência, como os valores e a identidade.
O diretor de programação da MTV, Zico Góes, admite que o apelo deI Want a Famous Face é ‘óbvio’. ‘Chegamos a nos perguntar se o programa não está incentivando as pessoas, mas pelo fato de exibir cruezas e dor, ele mostra que a plástica não é tão sensacional. É um processo complicado, dolorido e pode dar errado’, afirma. Segundo ele, o reality show tem dado boa audiência, mas consciente do conteúdo um tanto quanto polêmico, a MTV o coloca no ar só depois das 22 horas do domingo. ‘Todo mundo que critica assistiu ao programa até o fim, não queremos transmitir uma mensagem, como acontece com Jackass.’
A supervalorização da aparência permeia a programação de TV da mesma forma que rege a vida e o imaginário da sociedade. A antropóloga Silvia Borelli, pesquisadora nas áreas de cultura, mídias e novas tecnologias, acredita que esse ideal de beleza da atualidade está ligado ao modelo de cultura de massa e de ‘juvenização’ da sociedade. O modelo do ‘sejam belos, fortes e jovens’.
‘Tanto que as experiências dos mais velhos, as memórias, estão fragilizadas’, pondera a antropóloga. ‘É como se falasse: use a plástica, a ginástica, todos os recursos para você conseguir estar lá na frente e não ficar para trás.’
Autora do livro Beleza sem Cirurgia – Tudo o Que Você Pode Fazer para Adiar a Plástica, escrita em parceria com a jornalista Mônica Martinez, a dermatologista Patrícia Rittes é adepta de intervenções menos agressivas, à base de cosméticos e produtos. Para a profissional, pessoas que forem atraídas pela cirurgia precisam ficar atentas ao fato de que elas sobem à mesa de uma forma e saem de outra. ‘Acho esses programas de TV muito camuflados, não mostram os problemas, as complicações, só a porção mágica’, afirma ela, que lembra ainda do episódio do cantor Marcus Menna, que sofreu uma parada cardíaca após uma lipo.
O cirurgião plástico Bernardo Fróes diz que muitos programas vendem ilusão. ‘A maioria banaliza a especialidade, o resto vulgariza’, avalia.
Para Fróes, esses tipos de reality shows não terão vida longa. Maria Thereza Fracca Rocco, professora titular da USP e especialista em TV, discorda e acha que terão vida longa sim. ‘São reality shows reais, mais fortes e apelativos que Big Brother, Casa dos Artistas e outros.’Só que estes mexem com a saúde, acho muito sério tratar a vida humana como se fosse show.’ Para ela, no entanto, é o que a audiência quer ver. ‘Não adianta colocar a culpa na TV: ela só dá o que as pessoas pedem’, pondera. ‘A novela Metamorphoses, por exemplo, foi mal no ibope. O público sabe o que quer.’’
TV RECORD
‘Record terá ‘reality show’ que dá emprego’, copyright Folha de S. Paulo, 22/07/04
‘A Record encerrou nesta semana as negociações para produzir a versão brasileira do ‘reality show’ ‘The Apprentice’, em que o milionário norte-americano Donald Trump oferece um emprego ao vencedor.
A rede selecionará um empresário brasileiro para o papel de Trump. Pode pertencer a qualquer área de negócios, contanto que seja uma ‘celebridade’ e que tenha bom desempenho diante das câmeras.
A produção deverá ser em parceria com a Casablanca (‘Metamorphoses’ e ‘Turma do Gueto’), e a supervisão, da multinacional Freemantle, detentora dos direitos de ‘reality shows’ como ‘Popstars’ e ‘American Idol’.
Para ‘O Aprendiz’ brasileiro, que chegou a ser negociado com a Rede TV!, vão ser selecionados oito homens e oito mulheres, e a competição inicial será entre a equipe feminina e a masculina. Podem ser universitários e recém-formados na área do milionário ou simplesmente pessoas com capacidade para se adaptar ao negócio. O ‘magnata’ passará tarefas aos grupos e eliminará um candidato da equipe perdedora. O ‘reality’ deve ter 15 episódios.
Na versão original, Trump oferece contrato de um ano, com salário anual de US$ 250 mil. O valor nacional não está definido. A Record deve exibir ‘O Aprendiz’ no fim do ano, quando terminar a versão norte-americana que estréia em agosto no People & Arts.’
MTV
‘MTV prepara um novo ‘namoro na TV’’, copyright Folha de S. Paulo, 23/07/04
‘Sem o ‘Fica Comigo’ desde o final do ano passado, a MTV prepara a estréia de um novo programa no estilo ‘namoro na TV’.
Desta vez, no entanto, o formato não vai ser o mesmo do apresentado por Fernanda Lima, que rendeu boas audiências e repercussão para o canal. A MTV Brasil seguirá a tendência da norte-americana, apostando nos chamados ‘reality shows’ de namoro.
O primeiro deverá ser semelhante ao ‘Room Raiders’ (‘Invasores de Quarto’). O selecionado para arrumar um namorado ou namorada terá três pretendentes que não conhece. Para escolher seu par, irá invadir o quarto dos candidatos. Os três não poderão estar em casa nem serem informados da invasão. O invasor terá de escolher o parceiro pelos seus objetos, roupas ou pelo modo como (des)organiza o quarto. O ‘Room Raiders’ original estréia no Brasil no dia 19 de agosto, e a versão brasileira já é planejada.
Outro que pode ser produzido no país é o ‘Date Mom’ (‘Namore a Mãe’). A lógica é a mesma. Sem conhecer os pretendentes, quem procura o parceiro terá de levar a mãe de cada um para um encontro e tentar arrancar informações sobre seu rebento.
A terceira aposta é ‘Wanna Come In’, que monitora o encontro de três casais. O garoto recebe orientações de um ‘treinador’ por meio de um ponto eletrônico no ouvido. O que levar a menina para casa ganha um prêmio.’