‘Patrícia Pillar está encantando o público como a fazendeira Emerenciana, que deixa o sossego do lar parar defender o coronel Boanerges (Tony Ramos) da ‘ingratidão do povo’. Casada com o ministro Ciro Gomes, Patrícia não vê semelhanças entre o marido da novela e o da vida real: ‘Para mim, ele é representado pelo Neco, que tem idéias novas.’
Estado – Por que uma atriz loira de olhos azuis é escalada para interpretar sem-terra e fazendeira?
Patrícia Pillar – Tive sorte de encontrar diretores irresponsáveis o suficiente para me darem personagens que não teriam exatamente o meu tipo. É ótimo, sempre gosto de fazer coisas que me levem a caminhos não costumeiros.
Estado – Sua entrada na TV foi no papel de atriz, não foi?
Patrícia – Foi na novela Roque Santeiro, eu era a atriz que ia para Asa Branca filmar a história do Roque. Trabalhei com o Luiz Armando Queiroz, Lima Duarte, Regina Duarte, José Wilker. Depois trabalhei em Sinhá Moça, Vida Nova, Salomé, Rainha da Sucata, Um Anjo Caiu do Céu e Cabocla.
Estado – Como você se sente no papel da Emerenciana?
Patrícia – A personagem é muito bem desenvolvida. Acabei de gravar o capítulo 94 e até agora não tive uma cena chata de fazer. Agora que o marido (Tony Ramos) começa a ter problemas na política, ela toma partido porque fica inconformada com a ingratidão do povo.
Estado – Quando o ministro Ciro Gomes era candidato à Presidência, você tomou partido dele? O povo foi ingrato com ele?
Patrícia – Não existe paralelo entre Ciro e Boanerges. Para mim, ele é representado pelo Neco (personagem de Danton Mello), que é o novo, que tem idéias novas.
Estado – O ministro Ciro Gomes vê a novela?
Patrícia – O horário é ruim para ele, mas quando dá, ele vê. Ele adora novela, mas é muito crítico.
Estado – Ele dá dicas?
Patrícia – Dá sim, especialmente quando estou no processo de criação e fico angustiada. Trocamos muitas idéias, ele sempre me cobra profundidade, de mostrar os sentimentos do personagem.
Estado – E você dava toques durante a campanha eleitoral?
Patrícia – Ele gosta de ouvir a opinião das pessoas, e a minha também.
Estado – Das personagens da TV, de qual você mais gostou?
Patrícia – Esta é a quarta novela de Benedito Ruy Barbosa que faço. Luana, a bóia-fria de O Rei do Gado, foi muito importante na minha carreira. A fazendeira que fiz em Renascer também foi muito interessante: ela era meio amoral, era amante do jagunço e poderia ter matado o coronel.
Estado – A que você atribui a boa audiência de ‘Cabocla’?
Patrícia – É a volta da poesia e da delicadeza. A história é bem contada, Cabocla tem um humor meio ingênuo. Ela é um bolsão no meio da programação da tarde onde o tempo corre diferente. Tem temperatura e sabor próprios.
Estado – A novela tem muitos atores iniciantes. Você acha que isso atrapalha?
Patrícia – Não, é muito legal. Os novatos fazem um trabalho de preparação sério, são aplicados, estudiosos. Paloma Riani, Malvino Salvador, Maria Flor, eles não são apenas desinibidos, são bons mesmo.
Estado – Que papel você gostaria de ter feito?
Patrícia – Maria, de Os Maias, é uma personagem maravilhosa, uma das mais bonitas que já vi.
Estado – O que você queria fazer na TV?
Patrícia – Gosto de trabalhar em novela, mas queria fazer um seriado como o Mulher que, durante dois anos foi muito bacana, fiz com Eva Wilma.’
TV DIGITAL
‘Demora da TV digital preocupa canais abertos’, copyright O Estado de S. Paulo, 23/08/04
As emissoras brasileiras têm pressa para a TV digital. Enquanto o governo articula o desenvolvimento de um sistema nacional, a TV aberta e o rádio acabam sobrando como únicos serviços analógicos em um ambiente eminentemente digital. ‘Essa indefinição tem travado o nosso setor’, afirmou o diretor de Tecnologia da Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET), Olímpio Franco. ‘As demais mídias – como a TV a cabo, a TV por satélite, internet e agora palms e celulares – vêm comendo mercado da TV terrestre, devido a suas limitações de qualidade, flexibilidade de usos e de aplicativos mais modernos, como interatividade e a mobilidade.’
‘Todos os outros meios já estão digitais’, afirmou o diretor de Tecnologia da Record, José Marcelo Amaral. ‘Isso nos preocupa.’ A TV digital tem sons e imagens melhores que a atual. Também possibilita a oferta de novos serviços, como comércio eletrônico, banco em casa, conteúdos de internet e TV no celular. O governo espera definir até março de 2005 uma especificação de sistema brasileiro, para ser comparado com os três grandes padrões mundiais:
o americano Advanced Television System Committee (ATSC), o europeu Digital Video Broadcasting (DVB) e o japonês Integrated Services Digital Broadcasting (ISDB).
O processo, que começou há 10 anos, está atrasado. Setenta e nove universidades e centros de pesquisa foram habilitados para participar do desenvolvimento da tecnologia local, chamada Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD), e concorrerem a uma verba governamental de R$ 65 milhões.
Ainda não foram selecionados os consórcios que farão a pesquisa e os editais prevêem um prazo de 10 meses. A TV digital deve ser o principal tema a ser discutido no evento Broadcast & Cable, organizado pela SET, que acontece de quarta a sexta-feira em São Paulo.
O prazo para desenvolvimento do sistema digital brasileiro é apertado e os recursos escassos. São R$ 65 milhões e 10 meses de desenvolvimento. No Japão, por exemplo, foram gastos mais de US$ 1 bilhão, num período de cinco anos, para se desenvolver o sistema local. Em 2000, o sistema japonês foi apontado pelo grupo formado pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) e pela SET como o que melhor atende às necessidades brasileiras. A Universidade Mackenzie testou os três sistemas internacionais entre 1999 e 2000. O japonês teve a melhor performance, seguido do europeu e, por último, do americano. ‘O sistema japonês permite maior flexibilidade’, explicou Amaral, da Record. A tecnologia prevê a recepção móvel, em aparelhos como o celular.
A principal crítica ao sistema japonês, na época, era que ainda não funcionava comercialmente. O Brasil demorou tanto para decidir que isso não vale mais. O Japão iniciou suas operações comerciais de TV digital terrestre, com sinal aberto, em dezembro do ano passado. Foram vendidos 1,1 milhão de receptores, de acordo com Murilo Pederneiras, consultor brasileiro do Digital Broadcasting Experts Group (DiBEG), grupo japonês. ‘Desde a proposta de sistema brasileiro, as conversas com o governo praticamente pararam’, afirmou Pederneiras.
Com a TV paga tornando-se digital, e com a competição da internet, a TV aberta começa a sentir a migração da fatia de espectadores com maior poder aquisitivo, o mais interessante para os anunciantes. O grande temor é que a verba publicitária também comece a migrar para o ambiente de TV por assinatura. ‘Os anunciantes focam em quem tem dinheiro’, destacou Paulo Henrique Castro, gerente do Departamento de Projetos de Transmissão Digital da Globo.’
TV SEM TELEFONE
‘Telefones interativos da TV entram na mira da Justiça’, copyright Folha de S. Paulo, 23/08/04
‘O Portal de Voz do SBT, o Alô Band, o ‘Swing com Syang’ (Gazeta) e outros programas e comerciais de chats (bate-papos) telefônicos estão na mira da Justiça.
São sistemas nos quais o telespectador liga para um número de celular divulgado pelas emissoras a fim de participar da programação, concorrer a prêmios ou conversar com outros usuários.
As TVs colocam todo o custo dessa nova forma de interatividade -usada para diversificar os programas, elevar o Ibope e até realizar pesquisas com a audiência- na conta telefônica do telespectador. E o preço é de ligação para celular local ou até de longa distância (no caso do SBT).
Para o juiz Aroldo José Wa- shington, da 4ª Vara da Justiça Federal de SP, o uso desses celulares é uma manobra para driblar a proibição do antigo sistema 0900, determinada por sentença assinada por ele em 2003. As linhas iniciadas por 0900 foram largamente utilizadas para sorteios de carros e outros prêmios na TV, além de telessexos, em meados dos anos 90. Washington afirmou à Folha que os celulares interativos ferem o direito do consumidor e estão suspensos até esclarecimentos formais à Justiça.
Na última quinta, ele acionou o Ministério Público Federal para que sua sentença seja cumprida, e TVs e operadoras telefônicas que estão desrespeitando as normas, punidas. Na opinião do juiz, as emissoras deveriam, no mínimo, dividir o custo da interatividade com o telespectador. ‘Cobrar tudo do usuário a preço de celular é quase estelionato. As TVs são as grandes interessadas em receber essas chamadas. Deveriam, ao menos, utilizar telefones fixos, cuja ligação tem custo mais baixo. E o ideal, do ponto de vista da defesa do consumidor, é que a participação seja gratuita, por 0800.’
A responsável pela tecnologia do Alô Band é a britânica One World Interactive, presente em mais de 70 países e instalada no Brasil desde o início deste ano.
A empresa é também produtora do ‘Swing com Syang’ e do ‘Happy Line’, no qual meninas de pouca roupa conversam com telespectadores por telefone e comandam jogos de perguntas e respostas. Os programas são exibidos na TV Gazeta, em horários arrendados pela companhia.
A One World produz ainda comerciais de outros chats telefônicos de ‘namoro e amizade’ por celular e compra as madrugadas de emissoras para exibi-los.
O lucro se dá da seguinte forma: o telespectador paga a ligação em sua conta telefônica (como qualquer outra chamada), e o valor é repassado para a operadora de celular da qual faz parte o número interativo (os da One World são da Claro). Por contrato, a operadora de celular divide o bolo com a empresa dona da tecnologia. A TV recebe parte do valor ou, no mínimo, usa o serviço de interatividade sem nenhum custo.
A sentença é resultado de uma ação civil pública do Ministério Público Federal gerada por denúncias de órgãos de defesa do consumidor, em 97. A decisão impõe limites ao uso de números telefônicos para os chamados Serviços de Valor Adicionado (SVAs).
Determina, por exemplo, que o usuário pague, no máximo, por cinco minutos de ligação para linhas iniciadas por 0300 (que custa quase o triplo de um pulso normal). O sistema, hoje mais controlado, já foi amplamente utilizado para informações por telefone, como saldos bancários, e para interatividade na Rede TV! e Band, em 2001. Na Globo, serviu para votação em ‘reality shows’ como ‘Big Brother Brasil’ e ‘Fama’.
De acordo com a sentença, é proibido cobrar ligações por tempo (ex: R$ 4 o minuto) e é obrigatória a criação de uma linha 0800 (ligação grátis) para que o usuário possa bloquear chamadas para esses números. Segundo o juiz, é um modo de evitar que crianças e adolescentes, ‘mais suscetíveis aos apelos da TV’, façam longas ligações sem autorização dos pais, que ‘depois se assustam com as contas telefônicas’.’
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‘Emissoras dizem apenas cobrar pela ligação’, copyright Folha de S. Paulo, 23/08/04
‘O principal ponto de toda essa polêmica é que o Portal de Voz do SBT, o Alô Band, o ‘Swing com Syang’, Happy Line e outros que utilizam celulares cobram pelo custo normal da ligação (local ou de longa distância). Essa é a defesa das emissoras e das empresas donas desse tipo de tecnologia interativa.
A assessoria do SBT afirmou que seu Portal de Voz não se enquadra na sentença do Serviço de Valor Adicionado. ‘Cobramos ligação normal, e não serviço.’
Marcelo Parada, vice-presidente da Bandeirantes, tem o mesmo argumento. ‘O que o consumidor paga é a chamada telefônica, e isso existe em qualquer lugar do mundo. Não é a mesma mecânica do 0900. Se amanhã vier uma determinação judicial de que não se faça mais uso desses celulares, nós a seguiremos. Mas até hoje isso ainda não aconteceu.’
Lacunas
Guilherme Ieno Costa, advogado da One World Interactive, afirma que no modelo 0900 se cobrava pelo SVA. ‘Hoje, cobramos apenas o valor da chamada.’
Segundo ele, a sentença é ‘confusa, genérica e possui lacunas’. ‘Na interpretação literal do que está no texto, até os chats de internet estariam proibidos, já que o acesso a eles é feito por meio de ligação telefônica’, diz.
O juiz Aroldo José Wa- shington nega e afirma que a internet não está contemplada na decisão, ‘restrita a serviços pelo telefone’.
O advogado da One World Interactive afirma que, diferentemente do que diz o juiz, o uso de celulares interativos não está suspenso, mas apenas o de alguns determinados chats telefônicos, como Papo Legal, Disque Amizade e Alô Galera.
Ele ainda diz que a decisão não é clara quanto a quem deve cumprir as normas -se emissoras de televisão ou apenas as operadoras de celular. Segundo Costa, outro problema é que a decisão entra em contradição com a Lei Geral de Telecomunicações, que daria liberdade para a realização dos Serviços de Valor Adicionado.
Ao menos em um ponto a Justiça, as operadoras, as TVs e as criadoras dos chats concordam: esse é o mais quente capítulo da interatividade na TV dos últimos anos.’
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‘Chats das TVs abrigam papos com teor sexual’, copyright Folha de S. Paulo, 23/08/04
‘Os chats telefônicos veiculados pelas TVs não têm o controle dos bate-papos dos telespectadores, que, não raro, adquirem tom sexual. A Folha ouviu conversas do chat do ‘Swing com Syang’. Em várias, eram ditos palavrões e expressões chulas, como ‘eu sou o língua de ouro e quero te lamber’.
No ‘Happy Lyne’, as apresentadoras usam roupas sensuais e estimulam o clima de erotismo. Telespectadores disseram gastar até R$ 900 com esse tipo de entretenimento e já marcaram encontros com pessoas que conheceram nos bate-papos. Uma garota de 17 anos foi a um shopping encontrar um rapaz que conheceu no chat da Syang durante a madrugada.
O juiz Aroldo José Washington disse já ter tido acesso ao conteúdo dos chats. Para ele, são serviços que podem ferir o Estatuto da Criança e do Adolescente e precisariam, pelo menos, ser controlados. ‘Para participar, seria preciso, por exemplo, comprar um cartão pré-pago.’ Essa é, segundo ele, uma forma de os pais controlarem o acesso dos filhos a esses serviços. A sentença assinada por Washington proíbe os telessexos e ‘outros que atentem contra a moral da sociedade e o Estatuto da Criança e do Adolescente’.
Guilherme Ieno Costa, advogado da One World (produtora do ‘Swing com Syang’ e do ‘Happy Lyne’), diz que a empresa e a operadora realmente não têm controle do conteúdo dos chats. Para ele, no entanto, se o juiz quer enquadrar os bate-papos na sentença, ‘tem de ser claro’. ‘O que atenta contra a moral da sociedade e o Estatuto da Criança e do Adolescente? Enquanto isso não for esclarecido, a sentença perde o poder de ser aplicada.’’