Domingo, 30 de março de 2025 ISSN 1519-7670 - Ano 2025 - nº 1331

Leila Reis

‘Reality show é cultura? Não, mas pode ser um revelador da falta dela. Os deslizes – ou demonstração de desconhecimento – dos participantes do Sem Saída, da Record, têm sido tantos que renderam um quadro dentro do programa, segundo o apresentador Márcio Garcia, batizado internamente de ‘os piores momentos’.

Achar que o papa João Paulo II incendiou Roma, que a Coréia é capital do Japão e que o Oceano Pacífico banha o Rio de Janeiro não é o fim do mundo, é quase. Sem Saída tem o seu mérito. O programa da Record – por mais foras que sejam dados – mexe com uma coisa que os outros realities shows ignoram: o cérebro.

Em vez de colocar pessoas dentro de gaiolas durante uma noite inteira ou fazê-las abrir cadeados e caixas para descobrir uma senha qualquer, o programa da Record estimula participantes e telespectadores a remexerem no seu baú de conhecimentos.

Por mais precário que seja o repertório de perguntas, é simpático desafiar as pessoas por meio do que elas sabem e não por meio do que elas têm. Os tropeços na História e na Geografia não desmerecem as pessoas comuns. Mais do que isso, evidenciam que a TV, neste país imenso e semi-ilustrado, tem uma função maior do que entreter, perseguir audiência e vender produtos.

Pesquisa a ser divulgada pelo Instituto Paulo Montenegro na quarta, no Dia Mundial de Combate ao Analfabetismo, dá indícios do quanto é vital o engajamento de veículos de comunicação na melhoria do repertório de conhecimentos do cidadão brasileiro.

A pesquisa – que mede habilidades em cálculo matemático – mostra que apenas 23% da população sabe usar, na prática, a Matemática. Esse mesmo estudo sobre alfabetismo funcional detectou, no ano passado, que 9% dos brasileiros são analfabetos absolutos. Ou seja, até mesmo tendo ido à escola, não sabem ler e nem escrever. E que apenas 25% dos cidadãos deste país têm o domínio amplo da Língua Portuguesa. Diante desse quadro, é possível lavar as mãos sem uma pontinha de dor na consciência?

Então, não venham dizer que quem quer educação pela TV que procure levantar cedo para assistir ao Telecurso. Essa piadinha recorrente nos gabinetes daqueles que mandam na programação da TV torna-se de muito mau gosto diante da realidade que os números da pesquisa escancara.

Mais poderoso do que qualquer um, o veículo televisão não pode se furtar à responsabilidade para com o telespectador que, em primeira e última instância, garante a sobrevivência das emissoras.

Isso não quer dizer que as redes devam matar o público de tédio com programas maçantes. A TV brasileira tem história, competência e profissionais de gabarito para fazer programas divertidos, interessantes e com conteúdo. E não precisa de grandes estripulias e idéias fantásticas para dar demonstrações públicas de responsabilidade social.

É só pegar o que já faz e colocar no tom. Respeitar a Língua Portuguesa, os direitos humanos, respeitar as diferenças e, principalmente, a inteligência do telespectador.’



TV BANDEIRANTES
Renata Gallo

‘Band embarca na onda dos reality shows’, copyright O Estado de S. Paulo, 5/09/04

‘Sem a apresentação de nenhuma nova estrela ou alarde, a Band anunciou esta semana uma série de mudanças em sua grade. Entre novos jornalísticos e seriados, a maior novidade é a estréia de dois realities show – Tá na Mão e Na Pressão – atração até então inédita na emissora.

O primeiro a entrar na grade será o Tá Na Mão, que será apresentado por Otávio Mesquita. O programa, apesar de ser chamado de reality show, é um teste de resistência. Lembra daquela época que pipocavam em shoppings concursos de quem ficava mais tempo se beijando, ou dançando, ou dentro de um carro? Pois é, o Tá na Mão trará 15 participantes – entre professor de hip hop, administrador de condomínio e, obviamente, modelo – que terão de ficar com a mão em um carro.

As regras são bem simples: não se pode dormir, nem comer, nem se apoiar em nada. Quem desencostar a mão do carro está eliminado. Descanso só 10 minutos de duas em duas horas e 15 minutos a cada seis horas para as refeições.

Nas edições nos outros países, o recorde de tempo foi na Inglaterra onde um participante ficou três dias e meio ininterruptos com a mão colada no carro.

Por isso, a Band pretende fazer novas temporadas do Tá na Mão todos os meses.

A partir desta quarta, o programa será transmitido durante 24 horas com flashes ao vivo. Para isso, Otávio Mesquita irá contar com a ajuda de três repórteres: Christiano Cochrane, Marcela Rafea e Pietra Ferrari.

As mudanças mais visíveis na grade, no entanto, começam no dia 20, quando estréiam três programas. Alguns novos, outros nem tanto, como é o caso de Os Três Patetas, que passa a ser exibido de segunda a sexta, às 13h30. Com isso, o Melhor da Tarde, de Astrid Fontenelle e Leão Lobo, perderá meia hora de duração e ficará no ar das 14 às 16 horas.

Folga para Gilberto – A emissora também coloca no ar no mesmo dia a série Dragnet e o programa de reportagens especiais 60 Minutos. Para comportar todas as atrações, a Band abriu mão do Boa Noite Brasil, de Gilberto Barros, que não será mais transmitido às segundas.

Decisão amigável, segundo o vice-presidente do canal Marcelo Parada. De acordo com Parada, apesar de a imprensa ter noticiado que a Band estava tentando limar do contrato de Gilberto Barros a cláusula que exigia que ele tivesse um programa diário, a emissora nunca se preocupou com isso. ‘Nós estamos muito satisfeitos com o resultado dado pelo Gilberto, mas achamos que ele precisava descansar’, diz. Portanto, em vez de ir ao ar seis dias na semana como vem fazendo, o apresentador agora só fará programa cinco dias da semana – quatro dias com o Boa Noite Brasil e aos sábados com seu Sabadaço.

Nas segundas, sua vaga será ocupado por Dragnet, série policial exibida no Brasil pelo canal a cabo USA. A atração, uma produção da Universal Pictures, conta a história de dois investigadores veteranos – tenente Joe Friday (Ed O’Neil) e o sargento Frank Smith (Ethan Embry) – que passam todo o tempo seguindo pistas, buscando provas e testemunhas para solucionar crimes diversos. Dragnet é um remake da série de mesmo nome exibida na década de 50 e será apresentado semanalmente.

O 60 Minutos será um programa de reportagens especiais que terá no comando o jornalista Marcos Hummel, que saiu do Jornal da Band para dar lugar a Carlos Nascimento. Toda segunda, por volta das 23 horas, Hummel irá apresentar três ou quatro matérias sobre temas diversos como saúde, meio ambiente ou comportamento. Uma espécie de Globo Repórter ou mais precisamente Repórter Record, atração da rede de Edir Macedo que não coincidentemente vai ao ar no mesmo dia, uma hora antes do novo 60 Minutos. O jornalístico também irá investir em matérias internacionais – produzidas pela Band ou por outras emissoras. No caso da segunda opção, a Band já conta com a parceria da Frontline World, produtora independente que faz matérias nos cantos mais inusitados do mundo.

De última hora – A princípio, a data de estréia do outro reality da emissora, o Na Pressão, também seria dia 20, mas, um dia após a coletiva de imprensa, a Band informou que o programa foi adiado para outubro e que a nova data de estréia não está definida. Segundo o Estado apurou, Ligia Mendes, ex-Band Verão, até então confirmadíssima para ser apresentadora do programa, deve sair do projeto. O Na Pressão tem formato da Endemol Globo e será a primeira atração a ser transmitida longe das dependências da família Marinho.’



BBB 5
Keila Jimenez

‘Anunciante sorteia gente para o ‘BBB’’, copyright O Estado de S. Paulo, 4/09/04

‘Depois de alavancar a audiência de seu site com as inscrições do Big Brother 3, e de faturar alto com a venda de revistas com cupons para participar do BBB4, a Globo resolveu fisgar um bom patrocinador com a promoção Quero Ser um Big Brother, na quinta edição do programa.

A rede já lançou no mercado publicitário um plano comercial em que disponibiliza a chance de patrocinar uma promoção que colocará dois participantes – um homem e uma mulher – dentro da casa do BBB5, que estréia em janeiro na Globo.

Pela bagatela de R$ 6 milhões, o patrocinador poderá sortear os participantes entre os consumidores de seus produtos – enviando cartas com comprovante de compra dos produtos (cupons, embalagens) – para integrarem o time de confinados da atração.

O sorteio terá ampla divulgação na programação da Globo, com ações comerciais explicando a mecânica da promoção. A marca também terá ações de merchandising em programas como Domingão do Faustão, Mais Você e Caldeirão do Huck.

A promoção ficará no ar de outubro a dezembro. A Globo dará prioridade na compra desse espaço para os patrocinadores do BBB5, de acordo com a ordem de compra das cotas de patrocínio, que também não são baratinhas.

A emissora está oferecendo cinco cotas nacionais de patrocínio do reality show, cada uma ao custo de R$ 6,5 milhões.

No plano comercial, a emissora ainda apresenta dados de audiência nacionais das última edições do BBB, que mostram diferenças significativas no ibope do programa em cada região do País.

A quarta edição do BBB chegou a ter em Fortaleza share de 80% (porcentual de televisores sintonizados na Globo dentro do universo de aparelhos ligados no horário), enquanto em Curitiba, o share do reality show não passou da casa dos 60%. Em Florianópolis, por exemplo, o programa teve média de 38 pontos (diferente do share, é o índice absoluto, que considera todos os domicílios com TV e não apenas as TVs ligadas) durante toda a sua exibição, enquanto no Recife, o BBB4 chegou a alcançar média de 61 pontos, segundo dados do Ibope.’



ENTREVISTA / RENATA SORRAH
Leila Reis

‘‘Sempre fiz mulheres surtadas’’, copyright O Estado de S. Paulo, 3/09/04

‘Louca de pedra e má como bruxa de conto de fadas. É assim Nazaré que Renata Sorrah ostenta toda noite em Senhora do Destino. A ladra de criança é a primeira vilã na carreira de 34 anos de Renata que, segundo ela, é repleta de mulheres ‘surtadas’, porém nunca de assassinas. Nesta entrevista, a atriz diz que aguarda o grande momento do duelo com a antagonista Maria do Carmo (Suzana Vieira) e que condenaria Nazaré à solidão.

Estado – Nazaré está chamando para si o ódio nacional. Era isso o que queria?

Renata Sorrah – Não, o que eu quero é fazer bem a personagem. Se bem que a raiva que as pessoas tiverem de mim será indício de que estou fazendo uma Nazaré convincente. Ela é uma perfeita maléfica, mas é passional, por isso faz tantas trapalhadas.

Estado – As pessoas têm se manifestado?

Renata – Já percebo um certo constrangimento na rua. As pessoas pedem para eu parar de roubar criança. O mais freqüente é receber elogios, as pessoas da minha rua estão gostando.

Estado – Ela vai matar o motorista de táxi e mais um?

Renata – Tenho lido isso, mas não recebi ainda os capítulos em que ela mata alguém. Será que ela é uma serial killer?

Estado – Na sua galeria de personagens, qual é o ranking das malvadas?

Renata – Em 34 anos de TV, Nazaré é a minha primeira vilã. Ela é a pior de todas porque rouba criança!

Estado – Você fez várias heroínas românticas. Por que especializaram você em mulheres problemáticas?

Renata – Sempre fiz mulheres surtadas. Eu lido bem com esses tipos que têm picos de adrenalina, mulheres que têm inquietações.

Estado – Você considera Heleninha Roitman (da novela ‘Vale Tudo’) a sua melhor personagem?

Renata – É a mais famosa, mas fiz outras muito boas. Leonor, de Brilhante, Pilar Batista, de Pedra sobre Pedra, e Carolina Dávila, de Roda de Fogo.

Carolina usava umas ombreiras enormes. Sabe que na época dessa novela fui entregar um prêmio em uma cidade do interior e todas as mulheres usavam ombreiras? Estavam de Carolina Dávila!

Estado – Você sabia que no site de relacionamento orkut tem uma comunidade chamada Heleninha Roitman para os que gostam de beber? Por que a personagem marcou tanto?

Renata – Não sabia. Acho que Heleninha pegou porque o público teve uma identificação qualquer com ela naquele momento. O alcoolismo dela, as recaídas, deve ter representado problemas que diziam alguma coisa para o telespectador. Novela é um folhetim popular, quase um cordel.

Estado – Qual será o grande momento de Nazaré na novela?

Renata – Será o grande duelo entre ela e Maria do Carmo (Suzana Vieira). O momento em que a filha terá de decidir entre a mãe biológica e a que a criou.

Estado – Qual é a punição que você daria a ela?

Renata – Ela é uma mulher cheia de problemas, mas seu castigo deve ser a solidão, de preferência, presa.

Estado – A TV reconhece o seu talento?

Renata – Não tenho o menor ressentimento, sempre gostei do que fiz na TV e no teatro. Desemprego não faz parte do meu repertório porque eu produzo, gero meu emprego e de mais gente. Estou em cartaz no Rio com Medeia, dirigido pela Bia Lessa, com teatro lotado todos os dias. Tenho três filmes para estrear: Árido Movie, de Lírio Ferreira, Nina, de Hélio Dália, e Dona da História, do Daniel Filho. Não posso me queixar.’