Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Leila Reis

‘Animado com a audiência dos primeiros capítulos de Escrava Isaura (13 pontos de média no Ibope), o advogado Dênis Munhoz, presidente da Record, já planeja estrear outra novela no ano que vem, no lugar do Cidade Alerta. Nesta entrevista ao Caderno 2, Munhoz diz que a estrela de sua programação é o jornalismo e que a meta agora é criar um padrão de qualidade para atrair ‘o mercado publicitário’.

Que tipo de emissora a Record quer ser?

Temos procurado dar total prioridade à qualidade da programação, pois é isso que valoriza a TV e atrai o mercado publicitário. Sabemos que o retorno não é a curto prazo, mas o fato é que estamos implantando uma nova política de programação para criar um padrão de qualidade.

Qual é a estrela da emissora?

É o jornalismo, porque ele dá mais credibilidade, presta serviço à população. Hoje a Record se orgulha de ter a maior produção de jornalismo diária: quase sete horas, sem contar o jornalismo esportivo. Jornal da Record, Domingo Espetacular, Fala Brasil, Edição de Notícias, Cidade Alerta, Tudo a Ver. Produzimos mais do que a Globo.

É verdade que o maior faturamento é do jornal do Boris Casoy?

O jornal do Boris está entre os três maiores faturamentos da emissora.

Quais são os outros?

Futebol e a linha de shows.

De que maneira a novela Metamorphoses influenciou na decisão de produzir novela?

De maneira alguma. Metamorphoses foi resultado de uma parceria com a Casablanca que não atingiu o resultado esperado, por isso não renovamos o contrato.

A Turma do Gueto, feita com a Casablanca, também acaba?

Acaba sim, porque a série não se encaixa no novo tipo de programação. Esteve um ano e meio no ar, cumpriu o papel de mostrar a realidade na periferia, mas a audiência vinha caindo muito. Começou com 11 pontos de média (Ibope), mas caiu para 5.

A Escrava Isaura estreou muito bem. Essa performance anima a Record a abrir mais um horário na grade?

Em março ou abril do ano que vem colocamos uma outra novela no ar. Mas já havia essa idéia antes de A Escrava Isaura, nos preparamos para isso.

A que o senhor atribui a boa audiência de A Escrava Isaura?

É uma novela que fez sucesso no mundo inteiro, é bem-feita, tem um bom elenco, a direção de Herval Rossano e um investimento de sete milhões de dólares em tecnologia. Para fazer novela no padrão de qualidade da Globo é preciso gastar.

Quanto custa o capítulo?

Cerca de US$ 50 mil. Vamos continuar investindo em dramaturgia, a Record não vai voltar nem com o eventual fracasso de uma novela. Isso está decidido desde antes de Metamorphoses.

Qual foi a melhor e a pior aposta da Record nos últimos tempos?

As melhores foram A Escrava Isaura e Domingo Espetacular que trouxeram audiência e faturamento. A que frustrou as nossas expectativas foi Metamorphoses.

Cidade Alerta está mesmo com os dias contados?

Até entrar a segunda novela no ar, Cidade Alerta continua.

O programa se encaixa no novo padrão de qualidade da Record?

É um programa de prestação de serviços, é um programa bem-feito, que não mente, não aumenta.

Então ele sai do ar porque não fatura?

O custo do Cidade Alerta é muito alto. E precisamos do horário para a novela.

O que o senhor acha que falta à TV?

Investir em conteúdo nacional. Comprar enlatados é mais barato, mas eles não geram emprego, não contribuem para o desenvolvimento da TV. Outro cuidado é não se deixar seduzir pelo apelo fácil, pela baixaria, porque a audiência que ela traz é ilusória. Eles não se sustentam porque o público cansa.

Qual é a meta da Record?

Ficar no segundo lugar. Estamos em 92% do território nacional e temos vários programas que batem o SBT – A Escrava Isaura, Cidade Alerta, Raul Gil, o programa do Netinho – mas até o final de 2005 seremos o segundo durante toda a programação.’



TV BANDEIRANTES
Daniel Castro

‘‘Caixa Preta’ acaba; Angélica quer Preta Gil’, copyright Folha de S. Paulo, 20/10/04

‘A apresentadora Preta Gil, filha do ministro Gilberto Gil, foi demitida ontem à tarde da Band, onde tinha contrato até março. Mas sua popularidade está alta na Globo, emissora em que está sendo disputada por duas produções.

Em comunicado oficial, a Band anunciou que a emissora e Preta Gil chegaram a um acordo e decidiram antecipar o final do contrato. O ‘Caixa Preta’, programa que Preta apresenta desde 31 de julho, terá só mais três edições _a última vai ao ar no dia 6 de novembro.

O principal problema é a baixa audiência da atração idealizada por Marlene Mattos, que marcou só dois pontos no último sábado.

Mas a cúpula da emissora também estava insatisfeita com atitudes da própria Preta _como a divulgação de que adorou ser convidada para atuar em ‘América’, próxima novela das oito da Globo, que estréia em março.

Anteontem, Preta recebeu mais uma proposta da Globo. O diretor do ‘Vídeo Show’, Mariozinho Vaz, a convidou para teste para apresentar o ‘Vídeo Game’ durante a licença-maternidade de Angélica, a partir de março.

O nome de Preta Gil foi sugestão da própria Angélica. A atriz e apresentadora irá disputar a vaga com Fernanda Lima _Luana Piovani e Ivete Sangalo não irão mais fazer testes.

A ex-VJ da MTV foi bem avaliada no piloto que gravou na semana passada. Mas teve gente a achou muito ‘cool’, que faltou energia. Angélica não vetou Fernanda Lima, mas seu apoio a Preta Gil poderá ser decisivo.

OUTRO CANAL

Insuportável

A cúpula da Globo vai chamar Suzana Vieira para um ‘enquadramento’. Não agüenta mais reclamações, principalmente dos mais humildes, de seus ataques de estrelismos nos bastidores de ‘Senhora do Destino’. Tem gente que diz que ela se acha dona da novela.

Cutuca 1

Se não for apenas uma bolha de início de novela, ‘A Escrava Isaura’, da Record, vai dar trabalho para a Globo. Estreou com 12 pontos de média, anteontem. Cresceu em cima da Globo.

Cutuca 2

A novela das sete da Globo, ‘Começar de Novo’, alvo de ‘A Escrava Isaura’, deu anteontem 32 pontos. Duas segundas-feiras antes, marcou 37 pontos.

Estratégia

A Globo encurtou o ‘SP TV – 2ª Edição’ de 17 para 13 minutos e esticou as novelas das seis e das sete. Mas diz que foi por acomodação da grade ao horário eleitoral.

Crise?

Diretor-geral de ‘Começar de Novo’, Carlos Araújo vai entregar o cargo no final do mês. Segundo a Globo, ele está cansado porque emendou as gravações da minissérie ‘Um Só Coração’ (que acabou em abril) com as da novela das sete, que passa por ajustes.

Quase lá

À exceção de falhas de áudio, ‘A Escrava Isaura’, escrita e dirigida por ex-globais, até parece novela de época da Globo.’



RODA VIVA, 18 ANOS
Laura Mattos

‘Aos 18, ‘Roda Viva’ volta a ter platéia VIP’, copyright Folha de S. Paulo, 20/10/04

‘O programa ‘Roda Viva’, da TV Cultura, aproveita a maioridade para resgatar suas origens.

Além de um novo cenário, a comemoração do 18º aniversário trará de volta ao estúdio uma platéia de convidados que deixou de existir poucos anos após a estréia, em 29 de setembro de 1986.

Como no início, o entrevistado ficará no centro de uma arena com três níveis. Um pouco acima da altura da cadeira giratória central, estarão os entrevistadores e, numa bancada superior à deles, haverá 12 convidados VIPs relacionados ao tema do programa.

Uma entrevista com o ministro da Fazenda, por exemplo, poderá contar com a presença de banqueiros e economistas.

Dessa forma, ‘Roda Viva’ retoma seu projeto original, desenvolvido por Marcos Weinstock, diretor de criação da TV Cultura à época. A platéia foi criada ‘para esquentar o clima da entrevista’, de acordo com texto assinado por ele e por Valdir Zwetsch (então coordenador de jornalismo da emissora), em revista institucional sobre os 18 anos do programa.

O desafio desta vez é não deixar com que esses participantes sejam meras figuras decorativas do cenário, o que fez com que a platéia fosse anteriormente eliminada e que voltou a ocorrer anteontem, na edição especial de 18 anos.

Segundo Marco Antônio Coelho Filho, diretor de jornalismo da TV Cultura, será implementado um sistema de votação na nova bancada, para que os convidados possam participar das discussões por meio de enquetes.

Durante a entrevista, o mediador poderá propor algo como: ‘Você concorda com tal resposta do entrevistado?’. Cada participante acionará o botão ‘sim’ ou ‘não’ numa espécie de controle remoto. Uma central fará o cômputo geral dos votos, e o resultado será divulgado ao vivo.

Chapa-branca

A TV Cultura, mantida majoritariamente por verbas do governo estadual de São Paulo, criou o ‘Roda Viva’ na gestão do governador Franco Montoro com a intenção de acabar com a imagem de ‘chapa-branca’ da emissora.

O relato faz parte da revista institucional lançada pelo canal em comemoração aos 18 anos de seu programa de entrevistas.

A publicação traz textos de mediadores que já passaram pelo ‘Roda Viva’, do primeiro deles, o jornalista Rodolpho Gamberini, ao atual, Paulo Markun.

Gamberini, que mediou as entrevistas entre 1986 e 1987, relembra a participação de Ayrton Senna, na qual o piloto afirmou que não pensava na possibilidade de morrer na pista. Resgata ainda confissão do jogador de futebol Dadá Maravilha de que várias vezes chupara laranja com doping nos intervalos das partidas.

Já Markun, na bancada desde 1998, cita uma entrevista com o ex-chefe do SNI (Serviço Nacional de Informações) Newton Cruz, que se irritou com as perguntas. No calor da discussão, o mediador interferiu dizendo que a cadeira do centro do ‘Roda Viva’ era bem mais ‘mansinha’ do que as que ele havia conhecido na ditadura militar (1964-1985).

Anteontem, a Cultura fez festa em sua sede para comemorar a maioridade, e o programa contou com ex-mediadores no centro da roda.’



ESCRAVA ISAURA
Leila Reis

‘‘Escrava’ abre espaço’, copyright O Estado de S. Paulo, 24/10/04

‘ ‘O bom desempenho da no vela da Record no ibope mostra que há público para ficção nacional fora da Globo’

Sob todos os pontos de vista, este é o país das novelas. Para o público, os dramas em capítulos diários são quase um vício. Para o mercado publicitário, uma ampla vitrine para seus produtos. E para as emissoras, em conseqüência, o sonho dourado que lhes garante – se tudo sair nos conformes – anunciantes comprometidos por mais de seis meses. Ou seja, novela com audiência é sinônimo de dinheiro em caixa.

Essa percepção justifica a euforia que tomou conta da Record esta semana. Depois do desastre chamado Metamorphoses – que misturava máfia japonesa e ‘transplante de rosto’ -, Escrava Isaura se saiu tão bem que conseguiu tirar do SBT o segundo lugar no ranking de audiência no horário, em sua estréia. A saga da escrava branca imaginada por Bernardo Guimarães acrescentou 5 pontos à média do Ibope da Record no horário, que foi para 12% (na Grande São Paulo).

O bom desempenho se repetiu em outras praças. No Recife, a média dos três primeiros capítulos foi de 19 pontos. Em Salvador, foi de 13, em Curitiba, Fortaleza e Rio de Janeiro, em torno de 10.

A engrenada que a novela deu de saída estimula a ousadia. A direção da Record já fala em inaugurar um segundo horário de novela em março ou abril.

Os requisitos que levam uma novela ao sucesso e outras ao fracasso são uma incógnita. A boa acolhida à Escrava Isaura não pode ser explicada somente pela reprise de uma história produzida pela Globo em 1978, que correu o mundo com Lucélia Santos no papel de Isaura e Rubens de Falco, no de Leôncio.

A regravação de sucessos não é garantia de ibope. O SBT fez gol no remake de Éramos Seis, mas naufragou na reedição de Os Ossos do Barão e de As Pupilas do Senhor Reitor.

A emissora credita a entrada com pé direito a Herval Rossano (veterano que dirigiu a primeira versão na Globo), ao elenco e ao investimento. Pode ser isso e mais alguma coisa. O fato é que, ao contrário da antecessora, Metamorphoses, o espectador sentiu o profissionalismo a que se acostumou na Globo. Escrava Isaura traz uma narrativa com pé e com cabeça, tem atores experimentados para segurar a trama e um cuidado visual pouco visto fora da Globo.

Rubens de Falco, no papel do Comendador Almeida (pai do personagem que defendeu há 26 anos), está magnificamente perverso. Nem o excesso de pancake (a equipe da maquiagem acha que pode funcionar como fonte da juventude) embota a caracterização que Rubens faz do escravocrata brasileiro e que permeia o imaginário popular. Leopoldo Pacheco é um Leôncio bem convincente e também de acordo com a imagem que se tem da oligarquia que se beneficiava da mão-de-obra negra não só na lavoura. A protagonista Bianca Rinaldi é meio careteira, mas desempenha direito.

A s cenas da senzala, do trabalho no campo e da paisagem rural são bem resolvidas, têm iluminação e textura que denotam cuidado. O pecado é cometido nos figurinos. Os vestidos e adereços da matriarca Gertrudes (Norma Blum) são pavorosos. Os das outras damas parecem bolos de noiva de tão enfeitados.

Talvez seja uma atitude ideológica, uma propensão a torcer pelo lado mais fraco. Mas a verdade é que o figurino dos escravos e das mucamas da fazenda é mais fashion.

O fato é que a novela Escrava Isaura está apontando um caminho interessante. Primeiro porque mostra que é possível emplacar uma novela sem lançar mão de dramalhões mexicanos. Mais do que isso, ao agradar uma parte significativa da audiência, amplia a oportunidade de trabalho para roteiristas, técnicos e atores experientes como Miriam Mehler, Mayara Magri e Paulo Figueiredo. E ajuda a formar novos profissionais que até então só tinham a porta da Globo para bater.’



ANTI-TV
O Estado de S. Paulo

‘Americano cria aparato contra os televisores’, copyright O Estado de S. Paulo, 24/10/04

‘Muitas pessoas amam a televisão, mas, aparentemente, algumas já estão saturadas dela. Um novo aparato que permite que as pessoas desliguem a maioria das TVs em qualquer lugar – de aeroportos a restaurantes – está sendo vendido em ritmo rápido. ‘Pensei que seria somente uma gota, mas estamos inundados’, diz o inventor da bugiganga, Mitch Altman. ‘Eu não imaginava que teria tanta gente com vontade de desligar as TVs.’

ChovendoO aparelho móvel funciona como um controle remoto universal, mas somente liga ou desliga televisores. Com um zap no botão, o aparato viaja por uma seqüência de 200 códigos que controlam cerca de mil modelos de televisores. Altman afirma que a maior parte das TVs deveria reagir ao comando do controle remoto em 17 segundos, no entanto, leva cerca de um minuto para o aparelho emitir todos os códigos.

Altman, de 47 anos, teve a idéia de criar o TV-B-Gone há uma década, quando estava com uns amigos em um restaurante e percebeu que todos estavam grudados na telinha em vez de conversar entre si.

Altman lembra de ter passado a maior parte de sua infância cativado pela televisão, assistindo a atrações independentemente de estar ou não se divertindo. Ele abandonou essa mania quando adulto e não possui TV há 24 anos.

O inventor testou discretamente seu TV-B-Gone em vários lugares, inclusive em outros países fora dos Estados Unidos, e, com exceção de Hong Kong, teve geralmente pouca reação negativa das pessoas quando a luminosidade e o barulho da TV desapareciam.

Apesar de tudo, Altman não acha que toda a TV é ruim. ‘Há tão pouco tempo em nossas vidas. Por que temos de desperdiçar tanto tempo com algo que não é necessariamente divertido?’, fala o inventor.’