‘Os realities shows americanos, que durante anos foram comendo espaço das séries, entraram em decadência. Talvez por excesso, a audiência cansou-se de assistir à ‘realidade’ dos escolhidos pela produção. Isso indica que o gênero vai definhar, devolver o terreno das séries, mas não vai morrer.
Na contramão, a TV brasileira tem engordado sua audiência à custa do reality show. O mais interessante, até fora da Globo. O Big Brother Brasil é um sucesso esperado há cinco temporadas. Mas a Record parece ter descoberto o caminho das pedras. O diário Sem Saída, animado por Márcio Garcia, está garantindo os 5 pontos no Ibope de cada noite. Mas O Aprendiz, exibido às terças e quintas, pode-se dizer, está se tornando coqueluche.
Corre que profissionais de RH estão recomendando o programa a título de treinamento para funcionários de suas empresas. Existem telespectadores que estão enxergando mais atributos no programa do que uma competição entre adultos por um bom emprego. É isso que fez o programa ‘pegar’. Há uma parcela do público que acha estar aprendendo marketing e publicidade pela TV. Mais do que isso, acha ter conseguido um acesso ao mundo corporativo e à possibilidade de captar ensinamentos de adequação no ambiente de trabalho. O programa ganhou um caráter de MBA, uma espécie de telecurso para ascensão profissional.
Tem mais, não representa ascensão em qualquer mundo, mas no da publicidade que, na tradução do cinema e da TV, é o mundo do glamour, do sucesso e do dinheiro. Como o programa é capitaneado pelo publicitário-galã Roberto Justus, torna-se também o mundo das mulheres bonitas e loiras.
O fato é que O Aprendiz está trazendo tanta alegria para a emissora, que a direção já negocia uma segunda temporada com a dona do formato – a americana Fremantle, que produz o The Apprentice, estrelado por Donald Trump – para aproveitar o bom ibope (média entre 9 e 10 pontos na Grande São Paulo).
Como Roberto Justus não deve ter muitas vagas de R$ 250 mil/ano em sua empresa, a NewCom, parece que os patrocinadores é que vão empregar o vencedor da próxima edição.
Não são só as fantasias de ascensão do telespectador médio que garantem a boa audiência de O Aprendiz. O programa é entretenimento, bem-feito, editado na linguagem MTViana (os cortes são muitos) e, claro, está centrado em uma competição que naturalmente cria torcidas. Quem consegue ver um jogo sem tomar partido de uma equipe ou de um dos concorrentes e não implicar com outros?
Até a canastrice de Roberto Justus, absolutamente engessado pela falta de jogo de cintura, é bem colocada no programa. É até maldade comparar sua performance com a de Donald Trump, em The Apprentice (exibido no canal pago People & Arts; nesta quarta-feira vai ao ar o último episódio). Além do cabelo espalhafatoso, o empresário americano tem mais anos de malandragem do que Justus de publicidade.’
Daniel Castro
‘Aprendiz é casado com patrocinadora’, copyright Folha de S. Paulo, 18/11/04
‘Exibido pela Record e pelo canal pago People+Arts, o ‘reality show’ ‘O Aprendiz’ se intitula, nas palavras do apresentador, Roberto Justus, uma ‘competição ética e leal’ por um emprego com salário de R$ 250 mil/ano. Mas já há pelo menos uma suspeita de conflito ético no programa.
Um dos concorrentes ao emprego, o empresário Flávio Nogueira de Melo Oliveira, é marido de Gabriela Baumgart, gerente de marketing do complexo Center Norte, do qual um shopping, o Lar Center, patrocina a exibição do ‘reality’ no People+Arts.
A família Baumgart é fundadora e controladora do Center Norte. Nos intervalos de ‘O Aprendiz’ no People+Arts aparecem vinhetas dizendo que o ‘segmento é um oferecimento do Lar Center’. Na Record, foi ao ar um anúncio do Center Norte durante o primeiro episódio, no dia 4.
As partes envolvidas negam influência do Center Norte na seleção de Flávio Melo, dono de uma empresa de turismo sobre rodas.
A assessoria do Center Norte afirma que o Lar Center patrocina um programa que passava no horário de ‘O Aprendiz’, não o próprio. O People+Arts diz que não há relação entre patrocinador e programa. O canal ‘não apita’ no programa, segundo sua assessoria. A Record, que ‘apita’ no ‘reality’, relata que só a Vivo é patrocinadora de ‘O Aprendiz’ e que o Center Norte é um ‘anunciante como outro qualquer’.’
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‘Record já planeja 2ª edição de `Aprendiz´’, copyright Folha de S. Paulo, 17/11/04
‘A Record vai exibir em 2005 uma segunda edição de ‘O Aprendiz’, que estreou há duas semanas. Com média de nove pontos nos três primeiros episódios e audiência qualificada, o ‘reality show’ do publicitário Roberto Justus é considerado um sucesso pela Record.
Ontem, diretores da rede se reuniram com executivos da Freemantle, empresa que licencia os direitos do ‘reality show’, para discutir a realização da segunda versão. Segundo um alto diretor da Record, foi uma ‘reunião pré-conclusiva’, o que significa que os próximos passos serão a discussão de detalhes contratuais.
A Record planeja exibir ‘O Aprendiz 2’ a partir de agosto ou setembro do ano que vem.
Na reunião de ontem, também foi negociada a compra do formato de ‘American Idol’, igualmente licenciado pela Freemantle. Assim como ‘O Aprendiz’, ‘American Idol’ liderou a audiência da TV aberta norte-americana. Pode ser considerado um ‘Fama’ (Globo) melhorado. Nos EUA, revelou novos talentos musicais de fato.
A versão brasileira de ‘American Idol’, que poderá ser apresentada por Márcio Garcia, está nos planos da Record para ser exibida a partir de março, em duas edições semanais, às terças e quintas, por volta das 22h. A rede já negocia patrocinadores.
Com ‘O Aprendiz’ e ‘American Idol’, a Record quer preencher uma faixa de ‘reality shows’.’
TV OBSOLETA
‘Televisão de hoje sairá de moda, diz Gates’, copyright Folha de S. Paulo, 17/11/04
‘REUTERS – Bill Gates prevê para a indústria do entretenimento um futuro em que a transmissão tradicional de televisão vai se tornar obsoleta. É uma visão positiva, entretanto, porque, na visão dele, estão surgindo novos e melhores modelos de negócios que se tornaram possíveis devido à tecnologia.
‘A televisão transmitida em rede está sendo desafiada. Isso não é novidade para ninguém’, disse Gates. ‘Você sabe, a ABC era mais valiosa pela sua franquia de esportes (ESPN) do que pela sua franquia de transmissão, mesmo anos atrás. Isso foi reconhecido. As redes ainda têm uma posição tranqüila, superinteressante, mas em breve não vai ser como hoje.’
A diferença fundamental, segundo ele, será a morte dos conceitos atuais referentes a canais e programações. ‘A idéia de ter apenas aquela coisa linear -você não muda o seu canal e segue a programação, e as notícias locais alavancam a audiência de toda a programação- está saindo de moda, mas devagar.’
Tecnologia e conteúdo
Gates explica que hoje essa mudança vem sendo causada pelos gravadores digitais de vídeo e pela amplitude dos canais de cabo e satélite disponíveis. Mas, num futuro próximo, a chegada da edição 2005 do Media Center para Windows XP, da Microsoft, e de outras tecnologias oferecerá mais opções e flexibilidade tanto para os criadores como para o público.
‘O ideal para quem cuida do conteúdo seria uma tecnologia para pôr o seu conteúdo na internet e relacionar-se diretamente com o público’, disse Gates. ‘Esse modelo para um pequeno volume de conteúdo é o futuro.’
Isso significa, de acordo com Gates, que a Microsoft está trabalhando mais estreitamente do que nunca com os estúdios e distribuidores. A empresa vem adotando ações tais como criar um grupo de convergência para mídia, entretenimento e tecnologia e trazer o veterano em entretenimento Blair Westlake para chefiá-lo. Gates acrescentou que ele e o diretor-presidente da Microsoft, Steve Ballmer, têm conversado com os diretores dos estúdios, enquanto Hank Vigil, vice-presidente corporativo para estratégia de consumidor e parcerias, e Westlake vêm fazendo o mesmo com seus correspondentes.
‘Estamos conversando com eles sobre novas formas de criatividade’, disse Gates, ressaltando que é importante ‘deixar claro que o papel deles e o nosso são bastante diferentes e complementares. Estou muito satisfeito com o relacionamento que temos com os estúdios. Também precisamos trabalhar com os distribuidores e as empresas de TV a cabo e satélite. Não se pode ignorar nenhuma das partes desse ecossistema’.
Testes
Ele mencionou alguns dos projetos que a ABC realizou, como o que criou interatividade em duas telas, de modo que o consumidor usava um computador e assistia à televisão simultaneamente, e o que criou interatividade em uma só tela, possibilitada pelo Windows Media Center. Mas ele está ansioso para ver o que as mentes criativas da indústria de entretenimento produzirão à medida que as ferramentas se tornarem mais disseminadas.
‘Fizemos mais painéis de aparência futurista com esse material do que qualquer um, mas isso ainda é uma coisa desconhecida’, disse Gates. ‘Acredito totalmente nessa tecnologia.’
A Microsoft identificou diversos problemas que devem ser solucionados para que sua visão se torne uma realidade. Um deles é a boa vontade dos estúdios para disponibilizar conteúdo.
‘Estamos tentando conseguir que eles sejam mais agressivos na colocação de títulos de vídeo na internet em resoluções cada vez melhores’, disse ele. ‘E estamos examinando as diversas abordagens de direitos digitais e o modo como deviam ser.’
Proteção antipirataria
Outro problema é trabalhar com os proprietários de conteúdo para determinar a próxima geração de mídia física, que oferecerá alta definição, provavelmente no formato Disco Ótico Avançado (AOD Advanced Optical Disk) ou blu-ray.
O nome blu-ray vem do laser azul utilizado na nova tecnologia. Os CDs e DVDs atuais utilizam laser de cor vermelha. A principal vantagem do uso de um laser azul é que ele possui um comprimento de onda mais curto (405 nanômetros) do que o do laser vermelho (650 nanômetros), o que significa que é possível focar o feixe de luz com muito mais precisão. Isso permite que os dados sejam armazenados mais próximos uns dos outros no disco. Isso torna possível guardar mais dados em um disco do mesmo tamanho.
‘Seria bom ter uma geração após o DVD, mas acho que eles estão, corretamente, insistindo para que o novo formato tenha um sistema de proteção contra cópia melhor que o DVD’, disse Gates. ‘Eles não achavam que o DVD fosse tão vulnerável quanto ele acabou se revelando.’
Receita publicitária
Influenciando tudo isso está a publicidade. ‘Você realmente afeta as coisas quando muda a sua fonte de recursos’, disse Gates. ‘É preciso pensar na publicidade para entender como o valor dessas franquias vai mudar.’
Publicidade que os consumidores ou pulam ou não vêem até que seja tarde demais são, na opinião de Gates, financeiramente ‘equivalentes à pirataria’.
‘Estamos dizendo a eles que a tecnologia vai mudar o modelo publicitário e permitir a criação de publicidade personalizada, direcionada’, disse Gates. ‘Isso vai tornar os anúncios mais interessantes, de modo que tenham mais impacto e diminuam chances de serem pulados, pois serão direcionados às pessoas que, de fato, o anunciante quer atingir.’
Outro projeto da Microsoft adota essa abordagem ainda mais individualizada e com um potencial ainda mais amplo. Trata-se do TV2: ‘A idéia do projeto é fazer uma transmissão de alta-definição direcionada, específica para cada casa. Isso é algo espantoso.’
Também conhecida como IPTV, essa tecnologia entrega televisão diretamente nas casas pela internet e, portanto, desvia-se dos serviços existentes de TV a cabo e por satélite. A Microsoft está realizando testes em parceria com a subsidiária da Swisscom, a Bluewin, na Suíça, com a SBC, nos Estados Unidos, e com a Reliance Infocomm, na Índia; outras empresas de banda larga estão planejando ampliar os testes antes do final do próximo ano.
‘A infra-estrutura de cabos e telecomunicações tem de ser ampliada. Assim você poderá transmitir publicidade personalizada’, diz Gates. ‘Não custa nada dizer: ‘OK, a essa família vamos enviar este anúncio, àquela, este outro’. E, se o espectador quiser parar e interagir com o anúncio, tudo bem: a programação vai continuar disponível para ele.’
Outras frentes
A Microsoft está envolvida em muitas outras atividades ligadas a entretenimento. Gates falou, entre outros assuntos, sobre videogames e o modo como eles inspirarão novas formas de entretenimento interativo, particularmente através do Xbox e sua capacidade de funcionar em rede de banda larga, e sobre dispositivos convergentes, como telefones móveis que podem controlar e tocar uma coleção de músicas, além de suas funções de comunicação e de organização.
Ele também está examinando tecnologias fundamentais, como a mudança dos papéis dos conversores de sinais, das plataformas de jogos e dos computadores. ‘São três feras diferentes (no sentido de que ‘são três coisas diferentes que nos preocupam’) atualmente, e não podem sê-lo no futuro,’ afirmou Gates.
Tradução de Angela Caracik.’
AMERICAN IDOL
‘Record terá `American Idol´’, copyright O Estado de S. Paulo, 20/11/04
‘Dólares, alguns dólares. Esse é o ‘detalhe’ que falta ser acertado para que a Record produza no Brasil uma versão do reality show americano American Idol, uma espécie de show de calouros repaginado.
A emissora está negociando o formato com a Freemantle, empresa que vendeu à rede os direitos da versão de The Aprenttice, com Donald Trump, que por aqui virou O Aprendiz, com Roberto Justus.
A idéia da Record é exibir a versão de American Idol no primeiro trimestre de 2005, com a nova grade de programação da rede. Segundo o planejamento da casa, o reality será exibido duas vezes por semana, à noite, e terá Márcio Garcia no comando.
A partir de dezembro o apresentador estará livre, pois a primeira edição de sua atração, o Sem Saída, chega ao fim. A idéia é fazer uma nova edição do Sem Saída em setembro de 2005.
Assim como O Aprendiz, American Idol liderou a audiência nos Estados Unidos e revelou talentos de verdade. Em seu formato, vários aspirantes a cantores disputam etapa por etapa um concurso de calouros em que os jurados também fazem parte do show. São três pessoas ligadas à indústria fonográfica: um executivo de gravadora, um cantor famoso e um crítico de música.
A Record já pensa em nomes para compor o júri do seu American Idol. Um deles é um dos proprietários da gravadora Trama.
Nome, por sinal, é um dos problemas que a emissora vai enfrentar. A rede quer mudar o batismo do produto – American Idol nada tem a ver com o público brasileiro -, mas ainda não tem outra idéia.’