Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Lilian Fernandes


‘Por muito tempo, mesmo após o lançamento de ‘Carandiru’, o diretor Hector Babenco foi perseguido pelos personagens do livro ‘Estação Carandiru’, escrito por seu médico, Drauzio Varella, e fonte inspiradora do filme. Pelos que entraram na fita e pelos que ficaram de fora. E também por aqueles que apareceram na telona mas foram pouco explorados. A solução, para se livrar dos fantasmas, foi criar a série ‘Carandiru – Outras histórias’, que estréia hoje, às 23h10m, na Rede Globo.


– Era como se ainda houvesse tinta no tinteiro. O roteiro de ‘Carandiru’ levou dois anos para ser escrito, porque havia muito material no livro, e mesmo assim histórias importantes ficaram de fora. Um dia comentei isso com o Guel Arraes ( diretor de núcleo da Rede Globo ) e ele se interessou – conta Babenco.


Série custou cerca de R$ 5 milhões


Começou então, literalmente, uma negociação. Guel, responsável pela maior parte das produções independentes que vão ao ar na emissora, pediu a Babenco que fizesse um piloto. O diretor retrucou que seria impossível, já que os cenários que usou no filme sobre os internos da extinta Casa de Detenção de São Paulo estavam desmontados. Não faria sentido desencaixotá-los, alegou, nem investir na recuperação de parte do presídio paulista (quase totalmente implodido em 2002) a não ser que houvesse série. Guel então pediu que ele remontasse a história de Floriano Peixoto e Ricardo Blat, que interpretaram ladrões de banco cuja amizade foi abalada depois que um acusou a mulher do outro de infidelidade. Babenco remontou:


– Por coincidência, eu tinha rodado mais três ou quatro cenas desta história que ficaram fora do filme na última hora. Depois que eles viram o piloto, a Globo me chamou para uma reunião e expliquei que a série só seria viável financeiramente se eu fizesse quatro capítulos. E eles disseram: ‘Mas nós queremos que você faça dez’. Aí pude medir o interesse deles.


‘Carandiru – Outras histórias’, cujo custo foi de aproximadamente R$ 5 milhões, foi rodada em película 16mm e finalizada em alta definição. Para viabilizá-la, a equipe de arte retirou toneladas de entulho e recuperou o Pavilhão 5 do Carandiru, que não foi destruído. Diferentemente do que aconteceu quando o filme foi rodado, o presídio ficou inteiramente à disposição da série.


– É irônico, né? Rodamos a maior parte do filme em cenários montados num estúdio de 1.800 metros. Na época, só pudemos filmar no exterior do presídio e no pátio interno durante 28 dias, cercados por 6.500 presos e na maior tensão. Nem sempre era possível trabalhar. Desta vez, a gente literalmente se mudou de mala e cuia para lá.


Apesar da facilidade, a série não se restringiu aos muros daquilo que um dia foi o Carandiru: ao todo, foram usadas 96 locações. ‘O julgamento’, história escolhida para a estréia, é a que mais teve cenas rodadas no presídio, por mostrar uma insólita reunião em que os detentos esperam decidir o destino de dois homens. A direção foi de Walter Carvalho, conceituado diretor de fotografia que tem se arriscado nesta área.


– Justamente no ano passado eu tinha filmado o documentário ‘Travessia do tempo’ em parceria com a Dorrit Harazim, sobre um homem que passou 27 anos preso no Carandiru. Isto me ajudou a entender este universo – diz Carvalho, que se mudou para São Paulo em janeiro e só voltou ao Rio em abril, por causa da série.


As histórias, desta vez, foram livremente inspiradas no relato de Drauzio Varella – que, inclusive, co-roteirizou uma delas, ‘Vila Prudente’. Cada uma narra o que teria acontecido com algum dos presos antes de sua prisão ou depois de sua libertação, sempre a partir de um encontro deles com o médico, vivido mais uma vez por Luiz Carlos Vasconcelos. Metade do elenco é o mesmo do filme. Como Rodrigo Santoro e Gero Camillo, intérpretes de personagens marcantes no longa, não puderam participar da série, foi criado um outro casal homossexual, Madona e Edelson, interpretado por Roberto Alencar e João Miguel nos capítulos ‘Love story I’ e ‘Love story II’, que encerram a série e se complementam.


Para Babenco, o fim de um ciclo


Walter Carvalho dirigiu quatro episódios. Roberto Gervitz ficou com outros quatro e Babenco, que assinou a direção-geral, foi responsável pelos dois últimos. Os roteiristas foram os mesmos do filme: Victor Navas, Fernando Bonassi e o próprio Babenco. A exceção é ‘Vila Prudente’, que leva também as assinaturas de Drauzio Varella e Jefferson Peixoto.


O trabalho de pré-produção começou em novembro, quando os diretores se reuniram com os roteiristas e saíram em busca de locações. Em janeiro, começaram as filmagens, em ritmo frenético, para não estourar orçamento: os cineastas tiveram seis dias para filmar cada episódio. Quando terminavam um, já estavam preparando o seguinte.


Algumas histórias, como a primeira, terão algo da crueza do filme lançado em 2003. Outras são quase leves, como a de ‘Ezequiel, o azarado’, que mostra a vida do surfista interpretado por Lázaro Ramos antes de se viciar em drogas e teve locações em Santos e Maresias, no litoral paulista.


– As histórias é que determinam que tipo de filme você vai fazer. É preciso respeitá-las e deixá-las desabrochar. Se há alguma coisa que as une, é a humanidade dos personagens – diz Roberto Gervitz, que começou a carreira em 1977, como assistente de montagem de ‘Lúcio Flávio, passageiro da agonia’, filme de Babenco.


‘Carandiru — Outras histórias’ tem tudo para estourar: a exibição do filme, na última segunda-feira, rendeu à Rede Globo 43 pontos de audiência (a média do horário gira em torno de 35) e 77% de share (participação na audiência total). Babenco conta que, antes mesmo do bom resultado, a direção da emissora já cogitara a possibilidade de continuar a série, a exemplo do que aconteceu com ‘Cidade dos homens’, que derivou do longa ‘Cidade de Deus’. Mas, pelo menos por enquanto, o diretor garante que esta hipótese está descartada.


– Com esta série, fechei um ciclo. Acabou a tinta do tinteiro e eu não estou disposto a comprar refil. Se eu fizer algo mais para a televisão, será uma outra história.’



JK NA TV


Daniel Castro


‘‘Rainha da Noite’ será co-estrela de ‘JK’’, copyright Folha de S. Paulo, 10/06/05


‘Intitulada a ‘Rainha da Noite’ paulistana, a empresária Lilian Gonçalves, 54, terá parte de sua história contada na minissérie ‘JK’, sobre o presidente Juscelino Kubitschek, o construtor de Brasília, que a Globo exibirá em 2006.


‘Além da trama principal sobre JK, a minissérie terá mais duas sub-tramas, uma de caráter fictício e outra com a infância e a juventude de Lilian, cuja mãe foi cozinheira no Catetinho, primeira residência presidencial de Brasília’, revela Maria Adelaide Amaral, autora da minissérie.


Menina pobre que só soube na adolescência que o cantor Nelson Gonçalves era seu pai, Lilian fugiu para São Paulo aos 14 anos, com documentos que diziam ter 18. De garçonete virou dona de uma rede de bares, a Biroska. Hoje, diz, seus seis bares, todos em Santa Cecília (centro), empregam mais de 300 pessoas, sendo cem músicos, e recebem 420 mil clientes por ano. Ela já foi tema de desfile de Carnaval da Vai-Vai.


Lilian conta que sua mãe foi para Brasília com nove filhos no final dos anos 50, quando a cidade estava em obras. ‘Alguém descobriu que minha mãe sabia cozinhar e a indicou para Juscelino Kubitschek’, diz. ‘Lembro que JK me pegava no colo e dizia que eu seria importante’, afirma.


A minissérie retratará a vida de Gonçalves até 1976, quando JK morreu e Lilian tinha 25 anos. ‘Nessa época eu estava começando como empresária’, diz.


OUTRO CANAL


Reforço Diretor de ‘A Escrava Isaura’, da Record, Herval Rossano assinou anteontem com a Band. Será diretor do núcleo de teledramaturgia da emissora. Em 2006, além de uma segunda temporada de ‘Floribella’, a Band produzirá mais uma novela ou minissérie.


Decote A versão do SBT de ‘Os Ricos Também Choram’, originalmente um clássico da telenovela mexicana, terá ingrediente bem brasileiro: a sensualidade. A antagonista Sofia (Ludmila Dayer), por exemplo, será bem ousada.


Virada 1 Pela primeira em sua existência, a Rede TV! ultrapassou a Band na média diária semanal (segunda a domingo, das 7h às 24h). Em maio, na Grande SP, a emissora marcou 2,1 pontos no Ibope, contra 2,0 da Band. Ambas disputam a quarta colocação no Ibope.


Virada 2 A Rede TV! cresceu só em maio meio ponto. Atribui boa parte desse resultado ao ‘Pânico na TV’, ao ‘Programa do Jacaré’ e às transmissões da Série B do Campeonato Brasileiro de futebol, que começaram em abril, nas tardes de sábado.


Virada 3 A Rede TV! foi a quarta maior audiência em maio apenas na Grande SP. Na média nacional do Ibope, esse posto ainda é da Band, com folga. E, mesmo em SP, a Band leva vantagem na média acumulada no ano. Tem 1,9 ponto, contra 1,7 da Rede TV!.’