Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Luciana Coelho

‘Depoimentos inéditos sobre o envolvimento do cantor Michael Jackson com meninos foram ao ar anteontem em um especial do canal ABC, sob o título ‘The Secret Life of Michael Jackson’ (a vida secreta de Michael Jackson).

O programa, de duas horas, é assinado por Martin Bashir. O trabalho anterior do jornalista britânico, ‘Vivendo com Michael Jackson’ (03), deu origem ao caso atual contra o astro, acusado de molestar um menino de 13 anos. O julgamento, suspenso até terça, deve se arrastar por seis meses.

No momento mais contundente do novo filme, Bashir reproduz trechos da gravação das sessões de uma outra suposta vítima com um psiquiatra. Em 1993, a família do menino, que acompanhava Jackson em turnês e dormia em sua casa, acusou o cantor de molestá-lo, mas o caso terminou com um acordo milionário que proibiu a família de falar à imprensa.

‘Uma noite estávamos dormindo no quarto dele, acho que em Neverland, quando ele se inclinou e me abraçou. Não achei nada demais. Então me beijou por um bom tempo. Primeiro um ‘selinho’. Depois colocou a língua na minha boca’, diz, em um dos trechos exibidos. Em outro, o adolescente é minucioso: ‘Uma vez, quando ele estava me masturbando, começou a me masturbar com a boca. E, se eu não fizesse isso, era como se eu não o amasse’.

Sem apresentar conclusões, Bashir compila depoimentos sobre a relação de Jackson com o que chama de seus ‘amiguinhos especiais’. Há entrevistas com antigos ‘preferidos’ -aqueles que dizem ter sido escolhidos para dividir a cama com ele-, investigadores que estiveram no rancho, ex-funcionários, familiares dos meninos, jornalistas e, a favor do cantor, sua irmã LaToya e o biógrafo J. Randy Tamborrelli.

Dos seis meninos entrevistados -alguns adultos, outros ainda crianças-, cinco afirmam que sua relação ‘não tinha nada de sexual’. Apenas um, Terry George, diz que o cantor conversou com ele sobre masturbação por telefone. A história, ocorrida nos anos 80, já havia saído na imprensa.

Corey Feldman (‘Goonies’) e Macaulay Culkin (‘Esqueceram de Mim’), que conheceram Jackson quando astros mirins, aparecem em entrevistas repetidas -Culkin em gravação de 2003 na qual defende o cantor, e Feldman em depoimentos recentes na TV em que diz que Jackson lhe mostrou livro com fotos de genitálias.

A promotoria solicitou ao juiz Rodney Melville que as entrevistas sejam exibidas no julgamento como provas da acusação.

No filme de 2003, Jackson aparece de mãos dadas com sua suposta vítima e diz a Bashir não haver problemas em dividir sua cama com meninos. Segundo a acusação, o menino começou a ser molestado duas semanas depois de o documentário ir ao ar.’



TV RECORD
Daniel Castro

‘Autor de primeira troca Globo pela Record’, copyright Folha de S. Paulo, 17/02/05

‘Autor do primeiro time da Globo, Lauro César Muniz cansou de ficar na ‘geladeira’ e informou à direção da emissora, anteontem, que não irá renovar seu contrato, que vence em março. Depois de 33 anos de Globo, anuncia que está mudando para a Record.

Muniz fez parte do time que renovou a telenovela brasileira. Escreveu grandes sucessos como ‘O Casarão ‘(1976), ‘Os Gigantes’ (1979), ‘Roda de Fogo’ (1886), ‘O Salvador da Pátria’ (1979) e ‘Chiquinha Gonzaga’ (1999). Mas estava fora do ar desde a minissérie ‘Aquarela do Brasil’ (2000).

Desde então, Muniz apresentou à Globo cinco projetos.

Há duas semanas, sabendo do descontentamento de Muniz, a Globo desengavetou ‘Imperatriz do Café’, cujos direitos pertencem a Regina Duarte. O projeto, inicialmente uma minissérie que seria exibida em 2004, se transformaria agora em novela das seis. Mas o autor recusou a proposta.

Muniz não esconde sua mágoa com a Globo. ‘[‘Imperatriz do Café’] estava no limbo, como minhas outras propostas. Houve um nítido processo de congelamento do meu nome. Maquinações me afastaram do trabalho’, diz.

O autor diz que a proposta da Record, onde irá inaugurar a faixa das 21h, foi ‘irrecusável’. ‘Fiquei impressionado com a visão dos responsáveis pelas telenovelas da Record. Em poucos anos estarão disputando a liderança de audiência apoiados na teledramaturgia.’

OUTRO CANAL

Ofendido 1 Advogados de Gugu Liberato enviaram ontem notificação ao cantor Pedro Netto exigindo a retirada do ar do site www.omisteriosocontatudo.com.br, em que ele acusa o apresentador do SBT de ser ‘um farsante capaz de passar por cima de tudo e de todos pela audiência’ e de ter ‘destruído’ sua carreira.

Ofendido 2 Netto é o ‘cantor misterioso’ que, em 1997, para aparecer no ‘Domingo Legal’, sobrevoou o SBT de helicóptero. O ‘mistério’ deu ibope e Gugu, diz Netto, o manteve preso a um contrato que o impedia de aparecer em outras TVs.

Outro lado ‘Esse senhor reivindicou reparação. Isso não foi reconhecido pela Justiça, que o condenou e considerou que ele estava se beneficiando com a situação’, disse Gugu sobre o caso.

Pechincha 1 A Disney abaixou o preço que pedia pelo Oscar e reabriu negociações com a Globo. Ontem de manhã, a transação foi fechada. Para exibir o Oscar, a Globo irá antecipar a exibição de ‘Fantástico’ e ‘Big Brother Brasil’, que terão flashes do tapete vermelho e da cerimônia, dia 27.

Pechincha 2 A Globo começará a transmitir o Oscar ao vivo por volta das 23h, meia hora depois do início da festa. Antes mesmo de fechar o contrato, a emissora colocou no mercado publicitário, na terça, a venda de duas cotas de patrocínio (R$ 750 mil cada uma).’



TV & CINEMA
Marcelo Bartolomei

‘Emissoras de televisão entram na disputa com a Globo pelos espectadores do cinema’, copyright Folha de S. Paulo, 17/02/05

‘O monopólio da co-produção da TV no cinema brasileiro está ameaçado. Com a entrada da Band Filmes e do SBT Filmes no mercado, a Globo deixa de ser a única TV no país a investir no audiovisual, setor estrategicamente discutido pelo governo federal com o polêmico projeto de criação da Ancinav (Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual).

A Band lança amanhã em 20 cinemas do país ‘Garrincha – Estrela Solitária’, com André Gonçalves e Taís Araújo e direção de Milton Alencar Jr. O SBT, segunda emissora na briga pela audiência da TV aberta, lançou ontem sua estratégia para combater o poderio global: inicia, ao lado do estúdio Warner Bros. e da Diler & Associados, sua ofensiva no cinema.

Desde que foi lançada, em 97, a Globo Filmes co-produziu 31 longas e obteve, até hoje, as maiores bilheterias do cinema nacional.

Para o produtor Diler Trindade, 60, não existe monopólio. ‘A Globo Filmes foi a única a apoiar o cinema num momento em que o governo pensava em tutelar a participação da TV. Agora, que venham novos investidores. A Globo Filmes é um marco fundamental’, disse o produtor, responsável, na Globo, por sucessos como ‘Maria, a Mãe do Filho de Deus’, com o padre Marcelo Rossi.

Segundo José Carlos de Oliveira, 46, diretor-geral da Warner, a entrada do SBT no mercado significa ampliação da cinematografia nacional: ‘Fizemos, estamos fazendo e continuaremos a fazer projetos com a Globo Filmes. O SBT é uma nova janela’.

Apesar de apresentarem projetos nitidamente menores, porém semelhantes ao da Globo, as novas empresas começam a funcionar com nomes de peso.

A Band tem na agenda ainda ‘Brasileirinho’, documentário sobre o choro do finlandês Mika Kaurismäki, e ‘O Veneno da Madrugada’, de Ruy Guerra.

Melhor momento

O Ministério da Cultura vê a entrada das emissoras no mercado com entusiasmo. ‘A concorrência de TVs é uma iniciativa bem-vinda. Todo filme tem direito a fomento do governo federal, e estamos abertos a acordos para aumentar cada vez mais a produção’, afirmou Mário Diamante, 40, assessor especial da Secretaria do Audiovisual do MinC.

A abertura do mercado à concorrência ocorre no mesmo momento em que o cinema brasileiro, já recuperado dos duros golpes que sofreu no passado, passa por sua melhor fase: há diversidade de temas, investimentos por meio de incentivos fiscais, bons cineastas e vontade de transformar o setor numa indústria.

‘A televisão tem de dar uma contribuição para o cinema nacional’, disse Cláudio Petraglia, 75, diretor da Band Filmes. Segundo ele, a principal diferença da Band Filmes para a concorrência é não ter elenco próprio.

Seu primeiro produto conta só com ajuda na promoção. Mas a emissora também pretende co-produzir num futuro próximo. O primeiro projeto é ‘Um Homem Chamado Rondon’, minissérie de 20 capítulos de 45 minutos cada um que será aproveitada em dois longas sobre a saga do marechal Cândido Rondon, previsto para 2006 a um custo de US$ 4,5 milhões (R$ 11,6 milhões), em realização conjunta com Casablanca, Barra Filmes e Memória Civelli Produções Culturais.

Elenco

A entrada do SBT no mercado ocorre com parte do elenco da emissora. Para fazer ‘Coisa de Mulher’, que será dirigido por Eliana Fonseca -a mesma de ‘Eliana em o Segredo dos Golfinhos’, que teve a marca Record Filmes como parceira-, escalou as apresentadoras Adriane Galisteu e Hebe Camargo.

‘Coisa de Mulher’, uma comédia romântica nos mesmos moldes de ‘Sex and the City’, segundo Trindade, custou R$ 4,8 milhões, está na fase de pós-produção e deve estrear ainda neste ano, sob a expectativa de levar 600 mil, em média, aos cinemas.

Ao contrário do SBT e da Band, no entanto, a Record ainda não anunciou seus planos para o futuro, uma vez que seu primeiro filme ainda está em cartaz nos cinemas, tendo feito 255 mil espectadores até a semana passada.’

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‘Brasil tenta aumentar produção com formato para a televisão’, copyright Folha de S. Paulo, 17/02/05

‘Está mais fácil fechar acordos de co-produção no exterior que no Brasil. A afirmação, do assessor especial da Secretaria do Audiovisual do MinC (Ministério da Cultura), Mário Diamante, 40, revela o atual panorama cinematográfico brasileiro, que tem produzido, lançado e exibido suas obras de forma independente da TV.

A versão se confirma a partir da assinatura de um acordo com a Alemanha, feita hoje em Berlim, para co-produção audiovisual -que inclui a realização de telefilmes- entre os dois países.

Na Europa, o modelo de cine-TV foi uma iniciativa do Estado. Em alguns países, há uma taxação sobre a venda de eletrodomésticos que é revertida diretamente à produção audiovisual; diferentemente do Brasil, onde a produção se constrói com incentivos fiscais.

O novo conceito se baseia na co-produção para exibição, tentativa de quebrar o atual e problemático sistema da distribuição no país, que tem alta demanda de filmes, mas dificuldades na hora de lançar os produtos. ‘Alguns realizadores estão começando a fazer filmes num novo formato, pensando na televisão’, disse.

Em 2003, segundo a empresa Filme B, que faz estatísticas sobre cinema, foram lançados 225 filmes no Brasil -entre 195 estrangeiros e 30 nacionais.

Segundo Diamante, as TVs podem participar da formulação dos editais públicos, com poder de escolha e até mesmo de veto aos projetos aprovados. ‘Atualmente, o governo federal injeta R$ 15 milhões em produção, tirados do Orçamento anual.’

Para ele, um dos exemplos mais bem-sucedidos da área é o DocTV, programa de fomento à produção e à teledifusão do documentário, que faz parceria com as TVs públicas e dá oportunidade para realizar documentários para a televisão.’