Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Luís Costa Pinto

‘1. Não estabelecerei uma disputa de biografias com o jornalista Paulo Moreira Leite. Cada um tem a história de vida que merece. Gosto da minha e não preciso assacar adjetivos raivosos contra outrem para defendê-la. 2. O relato que fiz para Ibsen Pinheiro tinha por destino ser um capítulo ou um trecho de um capítulo da biografia do ex-deputado, e não uma reportagem de capa de Istoé. Uma vez publicado fora do contexto global de um processo, terminou por ser mal compreendido por alguns leitores. Não sou mitômano. Sempre soube que Ibsen não fora cassado em razão de um erro de Veja que ajudei a perpetrar e que também teve curso em diversos jornais entre os dias 12 e 14 de novembro de 1993. Os jornais não usavam Veja para se referir à soma mal feita de US$ 1 milhão em depósitos na conta de Ibsen Pinheiro: usavam a subcomissão bancária da CPI do Orçamento. O texto de Veja ajudou a formar opinião pública contra Ibsen. A informação foi corrigida na revista na semana seguinte, da mesma forma como o foi nos jornais daquela semana: burocraticamente. Meu depoimento, dentro de uma conjuntura que sustentasse uma revisão do caso feita pelo próprio Ibsen, teria sua importância histórica corretamente ponderada. 3. Contei o pedaço de uma história que tinha passado por mim e sob a minha perspectiva. Assumi a minha parcela de culpa no erro. Não organizei um libelo acusatório contra Paulo Moreira Leite. Não sei que conversas ele teve ou deixou de ter naquele princípio de manhã de sábado, há 11 anos, antes de fechar a edição da revista que sempre quis dirigir. Foi por isso que recusei o pedido de Ibsen para escrever sua biografia: não tinha tempo para apurar tantos detalhes. Isso exigiria dedicação. Meu relato deveria servir de base para uma apuração, e não para uma publicação imediata do que escrevera para o ex-presidente da Câmara. Publicado em meio ao debate sobre a oportunidade ou não do Conselho Federal de Jornalismo (que sou contra, e já deixei essa opinião consignada em artigos no Correio Braziliense e no Jornal do Brasil), a admissão de meu erro ampliou-se e perdeu o foco. O gancho jornalístico para essa publicação, nesse momento, é indiscutível. Mas o prejuízo para o sucesso desse debate também o é. 4. Não sabia que já há 11 anos era considerado por Paulo Moreira Leite um dos principais jornalistas em atividade no País. Nunca soube, por ele, que tinha entrada franca na direção de redação de Veja nos bons anos que trabalhei lá. Veja ajudou muito a minha formação profissional, deu-me espaço para escrever boas páginas do jornalismo. Infelizmente, a revista se vê no centro desse debate como se fosse sócia majoritária daquele erro. Em novembro de 1993 eu tinha 24 anos e, a despeito de ser o autor de alguns bons furos de reportagem, trabalhava como a caminhar no fio da navalha entre a arrogância que o passado me impunha e a insegurança de ser cobrado a acertar sempre. Errei uma vez. Meu erro não foi fundamental nem foi o único em meio ao processo que cassou Ibsen. Sete anos depois, admiti-o privadamente. Agora, assumo-o publicamente. Fui o único a errar?’



Adam Sun

‘Ibsen Pinheiro’, in Carta aos Leitores, copyright IstoÉ, 24/08/08

‘A respeito da reportagem ‘A verdade aparece’, na qual fui citado nominal, funcional e etnicamente, tenho a dizer que: 1. Não é verdade que tenha gritado: ‘Lula, essa soma não dá US$ 1 milhão. Dá US$ 1.000.’ 2. Não é verdade que a checagem tenha recebido um prêmio de US$ 1.000 por ter detectado e corrigido um erro. 3. Não é verdade a afirmação de que ‘Adam Sun ganhou esse prêmio’. Em 18/11/93, à época em que saiu a reportagem de capa sobre o deputado Ibsen Pinheiro, encaminhei à minha equipe em Veja a seguinte mensagem: ‘Incentivo à Checagem. Veja 1314, 17/11/93, p.31: Cheque no valor de Cr$ 8 milhões, em 16/3/93, valeria cerca de US$ 350 (e não US$ 350.000) e cheque de Cr$ 16 milhões, em 29/7/93, valeria cerca de US$ 250 (e não US$ 250.000). A checagem (Margô) evitou a publicação de tamanha besteira… Como incentivo, Mario Sergio [diretor de redação da revista] concederá a Margô [a jornalista Maria Margarida Negro] um prêmio de US$ 500… Parabéns.’ À luz desse registro, elaborado no calor da hora, há quase 11 anos – portanto isento de eventuais trapaças de nossas memórias, afirmo que: 1. A prática da checagem sempre foi a de confrontar dados e cruzar informações objetivamente. A base concreta e palpável foram esses dois cheques e a partir da cotação cambial nas datas em que foram emitidos descobriu-se que a conversão foi supervalorizada em 1.000 vezes. Margô alertou-me sobre essas discrepâncias – 350 x 350.000 e 250 x 250.000. Refizemos os cálculos e confirmamos o erro de conversão ao editor de Brasil e ao autor da reportagem. Como de praxe, teria dito: ‘Lula, o valor desse cheque é de apenas 350 dólares. E não 350.000’. Contaria ainda de como a apuração da checagem chegou a esse resultado: em 16/3/1993, pela cotação do Banco Central, 1 dólar valia Cr$ 22.405. Portanto, Cr$ 8 milhões correspondiam a US$ 350 (e não US$ 350.000 como tinha mandado em seu relatório); em 29/7/93, 1 dólar valia Cr$ 70.252. Portanto Cr$ 16 milhões correspondiam a US$ 250 – e não US$ 250.000. Esse é o procedimento padrão adotado pela checagem nas redações de Veja até hoje, creio, e pela revista Época, até 2002. Não basta matar a cobra; tem de mostrar o pau. 2. O prêmio concedido por esse furo de apuração da checagem foi de US$ 500, metade do que foi apregoado em ‘A verdade aparece’. 3. Quem mereceu e levou esse prêmio foi Margô, como era do conhecimento público e notório na redação da revista. 4. Efetivamente, não há referência a esses cheques tanto na capa como no texto interno. Não haveria outro jeito: uma vez detectado o erro, faz-se a correção. Caso contrário, não teria sentido manter uma equipe de jornalistas na redação para zelar pela qualidade das informações publicadas. A respeito da soma de US$ 1 milhão, cito a edição 1314 de Veja de 17/11/93, à p. 32: … ‘A CPI descobriu que no dia 23/4/1991… um depósito de 182.000 dólares… um exame extenuante feito por um auditor do Banco Central, a pedido da CPI, chegou a uma conclusão dramática. Entre 1989 e 1993, o deputado recebeu 881.000 dólares em depósitos numa outra conta… Ou seja: somadas, as duas contas revelam depósitos de 1 milhão de dólares’. À luz dessa reportagem: 1. Os depósitos bancários ocorreram entre 1989 e 1993. Nesse período o país teve Cruzado, Cruzado Novo, Cruzeiro e Cruzeiro Novo. Só para atualizar os depósitos no padrão monetário nacional vigente demandaria certo tempo. Convertê-los em dólar, outro par de horas. Essa checagem seria extenuante e impraticável nas condições de fechamento, além de que ninguém era auditor. 2. ‘Somadas, as duas contas revelam depósitos de 1 milhão de dólares’. A checagem somou 182.000 dólares com 881.000, valores dados por ‘um auditor do Banco Central, a pedido da CPI’, e o resultado conferia: um pouco mais de 1 milhão. Como essa conclusão partiu de uma fonte ouvida pela reportagem, nesses casos, o procedimento adotado pela checagem é reconfirmar com o autor da apuração a veracidade e a exatidão dessas informações. O que foi feito. Ou seja: não é verdade que a checagem descobriu que a soma dá US$ 1.000 e não US$ 1 milhão. Sempre me pautei pelo rigor da verdade dos fatos. Todos os erros de informação quando detectados pela minha equipe, tanto em Veja como em Época, eram sanados antes de a matéria ser publicada. Afirmar que a checagem sob a minha responsabilidade deixou de corrigir uma informação errada intencionalmente e ainda por cima ser conivente com esse tipo de mau jornalismo é uma injustiça ignóbil. A verdade quando sustentada em fatos é a que prevalece, prevaleceu e prevalecerá.’



Luís Costa Pinto

‘Ibsen Pinheiro’, in Carta aos Leitores, copyright IstoÉ, 24/08/08

‘1. Adam é o mais completo profissional que conheci em atividade nesse ramo específico do jornalismo, a checagem de informações. Trabalhamos juntos em Veja e em Época. Seu grito específico a dizer ‘Lula, essa soma não dá US$ 1 milhão. Dá US$ 1.000’, ecoava até há pouco em minha consciência. Sei o que ouvi. 2. De fato, como diz Adam, a capa de Veja foi corrigida naquele início de manhã, mas não se alterou a linha do texto interno nem a opção por dar capa ao assunto. 3. A capa ‘Até Tu, Ibsen’, de Veja, foi um elemento crucial para formar opinião contra o ex-deputado. Veja era e é o veículo impresso de maior poder de formação de opinião pública. Se houvesse tempo e poder de decisão para isso, descoberto o erro de soma pela checagem, aquela capa não se sustentaria. Para sustentá-la, foi-se buscar uma declaração em on do então deputado Benito Gama, presidente da subcomissão bancária da CPI do Orçamento. 4. O processo contra Ibsen Pinheiro foi político. Dentro desse contexto de processo político é que a reportagem de capa de Veja, que continha um erro, ajudou a formar opinião pró-cassação do ex-deputado. Veja não foi o único veículo que errou e Adam sabe que, se houvesse tempo e decisão, aquela capa não teria sido publicada. Anos depois, até eu sair de Época em 2001, cobrava-me isso nas madrugadas que varamos juntos a checar outros tantos textos jornalísticos. 5. A informação que tive, à época, é que o prêmio dado à checagem fora de US$ 1.000, igual aos prêmios merecidos por furos de reportagem.’



Paulo Lustosa

‘Ibsen Pinheiro’, in Carta aos Leitores, copyright IstoÉ, 24/08/08

‘Parabenizo ISTOÉ e o jornalista Luís Costa Pinto pela coragem com que trouxeram a público a dramática história que resultou na cassação e difamação de Ibsen Pinheiro, originada por erro de imprensa. Incluo-me entre os que, no início da década de 90, sugeriram o nome de Ibsen à Presidência da República. Jamais compartilhei do linchamento público a que foi submetido e admirei a coragem e altivez com que enfrentou silenciosamente o seu martírio político. Da reportagem de ISTOÉ há diversas lições a tirar. A primeira, dada pela própria revista, de que a liberdade de imprensa é o melhor antídoto contra os erros da imprensa. Foi afinal uma revista que reparou o erro de outra. Depois da revelação desse episódio, creio que a imprensa brasileira trabalhará sob paradigmas de maior rigor. A segunda lição, dada pelo próprio Ibsen, é a de que vale a pena confiar na verdade e na Justiça e continuar lutando pelo resgate de sua história pessoal. A reportagem de ISTOÉ é um momento alto da história do jornalismo brasileiro e faz justiça, ainda que tardia, a um grande brasileiro. Ibsen é talvez a maior vítima de uma praga que precisa ser banida definitivamente da vida pública brasileira: o denuncismo. Creio que a matéria de ISTOÉ dá decisiva colaboração nesse sentido. ‘A verdade aparece’ (ISTOÉ 1819). Paulo Lustosa é Secretário-executivo do Ministério das Comunicações’



Aloizio Mercadante

‘Ibsen Pinheiro’, in Carta aos Leitores, copyright IstoÉ, 24/08/08

‘Em relação à reportagem publicada na edição 1819 de ISTOÉ, de 18 de agosto de 2004, intitulada ‘A verdade aparece’, informo que o assessor Waldomiro Diniz jamais foi meu ‘braço direito’ na chamada CPI do Orçamento, que integrei como membro titular. Informo, ainda, que o referido assessor não teve qualquer atuação, nem teve acesso a qualquer tipo de informação, na subcomissão de assuntos bancários da CPI, integrada por mim, pelo senador José Paulo Bisol e pelo deputado Sigmaringa Seixas.’