‘O jogador Thuram parece ser o mais politizado da seleção francesa. Há dias esteve num programa de televisão e fez uma bem-humorada escalação da seleção segundo Sarkozy, o ministro do Interior que quer deportar os filhos de imigrantes presos em manifestações e tem feito declarações duras contra o que chamou de ‘la racaille’, a ralé, dos banlieus em revolta. O hipotético time do Sarkozy seria só de dois brancos, o Barthes no gol e um outro na frente. Sem muitas chances na próxima Copa do Mundo, como se vê. O Barthes não tem sido o titular, mas seu substituto manteria a proporção entre brancos e negros, como Thuram, e magrebinos na seleção azul. Thuram foi muito aplaudido no programa, mas o fato é que Sarkozy tem o apoio da maioria dos franceses. Outro fato é que a seleção francesa, com sua ostensiva minoria branca, representa um país que não existe. Era curioso ver franceses e alemães jogando, há uma semana, no Stade de France, que fica quase no meio de uma das áreas mais conturbadas dos arredores de Paris. Lá dentro, torcia-se contra os brancos pelo que era, para todos os efeitos, pelo menos visuais, a seleção do inimigo que assustava lá fora.
A discussão na Europa depois das explosões dos banlieus tem sido em grande parte semântica: a diferença entre integração e assimilação, e o que funciona melhor. A França se propõe assimilar suas minorias raciais. Não se trata só de proibir as meninas muçulmanas de usarem seus lenços tradicionais nas escolas. Trata-se de impor os valores e os costumes da maioria – ou, para usar um tom bem francês, de uma civilização – em troca dos benefícios da cidadania. Há dias, na televisão, Chirac chamou os jovens dos banlieus, incluindo, presumivelmente, a ‘racaille’ ameaçada por Sarkozy, de filhas e filhos da República. Uma maneira de dizer que a República compungida cuidaria do seu caso mas também insistiria na lealdade exclusiva. Em países como a Inglaterra optou-se pela integração, ou pela integração possível, sem exigir muitos sacrifícios de identidades culturais. Não tem faltado gente para dizer que o modelo francês pifou.
E aproveitar para alegar que a França está pagando também por resistir, como outros países europeus, ao modelo econômico anglo-saxão, que traria trabalho e prosperidade para todos os filhos da República. Mas pelo que se tem visto, a integração inglesa não é melhor do que a assimilação francesa para evitar conflitos raciais. E a tese da superioridade da economia neoliberal não resiste um minuto a estatísticas, a tomadas como aquelas da subclasse de Nova Orleans entregue à própria miséria depois da enchente ou, para não ir tão longe, a toda a história recente da América Latina.
Quanto ao futebol, Thuram e seus companheiros estarão na Copa para defender uma França. Só não se sabe exatamente qual.’
Demétrio Magnoli
‘O véu e a República’, copyright Folha de S. Paulo, 17/11/2005
‘A Constituição francesa de 1793 durou poucos meses, mas permanece como o principal documento legal emanado da Revolução. Ela concedeu a cidadania aos estrangeiros domiciliados na França por um ano e, também, a ‘qualquer estrangeiro considerado pelo corpo legislativo como necessitado de tratamento humano’. A ‘lei do véu’, que entrou em vigor em agosto do ano passado e proíbe o uso de símbolos religiosos ostensivos nas escolas públicas francesas, é um fruto tardio dessa tradição. A França é um contrato entre cidadãos que não se distinguem perante a lei pela sua origem ou cultura. Nas escolas públicas da República, os jovens não são cristãos, muçulmanos ou judeus: são estudantes.
‘Seria contrário à liberdade apagar os símbolos que representam crenças pessoais’. Com essas palavras, o papa João Paulo 2º expressou sua oposição à ‘lei do véu’, perfilando-se com religiosos islâmicos de vários países. Os Estados Unidos, por meio de um relatório oficial sobre liberdade religiosa, também criticaram a lei francesa. ‘Acreditamos que as muçulmanas tenham o total direito de usar o véu’, afirmou John Hanford, do Departamento de Estado.
O fogo contra a ‘lei do véu’ reuniu integristas e libertários. Os primeiros, islâmicos ou cristãos, usam a bandeira da liberdade religiosa para atacar o princípio de separação entre Estado e religião. No fundo, é a própria noção de escola pública que lhes é estranha. Os libertários dividem-se em duas correntes: os ultraliberais, que fazem da liberdade individual um valor absoluto, e os multiculturalistas, que enxergam a sociedade sob o prisma de identidades culturais de grupos. Ambos resistem, pela direita ou pela esquerda, ao princípio da igualdade política dos cidadãos.
Ao contrário do que se previa, as jovens muçulmanas não se insurgiram contra a ‘lei do véu’. As garotas, em geral, interpretaram a proibição como a conquista de uma liberdade. Ao descobrir a cabeça compulsoriamente à entrada da escola e encarar de igual para igual seus colegas do sexo masculino, realizam a sua própria vontade, que é negada no ambiente familiar e nos círculos públicos dos subúrbios onde moram.
Os atuais distúrbios na França provocaram o reencontro intelectual de integristas, ultraliberais e multiculturalistas do mundo inteiro. Contra todas as evidências factuais, eles encontraram na sedição dos subúrbios o levante muçulmano profetizado por suas próprias convicções ideológicas. Quase em uníssono, diagnosticaram a falência do ‘modelo francês’ (isto é: do princípio da igualdade política dos cidadãos) e receitaram o coquetel ‘anglo-saxão’ (e brasileiro?) de políticas compensatórias, ações afirmativas e cotas universitárias. Eles sugerem registrar na lei as desigualdades sociais, cancelando de uma vez por todas a promessa de igualdade de 1789.
Encerrados no véu do seu dogma, eles não podem ver o paradoxo da sedição dos subúrbios. Os jovens amotinados não querem o sopão dos pobres que vem junto com os rótulos de ‘muçulmanos’ ou ‘afrodescendentes’, mas, sim, ser tão franceses como os demais que vivem na parte luminosa da cidade. Querem tornar verdadeira a mensagem que lhes enviou Jacques Chirac: ‘seja qual for sua origem, vocês são todos filhas e filhos da República’.
Não pode existir prova maior da vitalidade do ‘modelo francês’.
Demétrio Magnoli escreve às quintas-feiras nesta coluna.’
INTERNET
Otávio Dias
‘Na disputa pelo controle da internet, todos cantam vitória’, copyright O Estado de S. Paulo, 17/11/05
‘Os Estados Unidos cantaram vitória; os países que pressionavam por uma internacionalização da gestão da internet, entre eles o Brasil, também. Assim começou a Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação, ontem, em Túnis.
Na noite de terça-feira, mais de cem países chegaram a um acordo sobre a polêmica questão do controle da internet. Os EUA mantiveram o controle sobre os aspectos técnicos da administração da rede mundial de computadores, preservando o cerne de sua função atual.
Foi criado, no entanto, o Fórum de Governança da Internet, do qual participarão governos e representantes de empresas e da sociedade civil. O fórum não terá poder decisório em questões relativas à administração da Web, mas articulará políticas em áreas importantes como segurança no ciberespaço (combate a spams, vírus etc.), políticas de inclusão digital e regras mais claras para o comércio online internacional, entre outras.
Como muitas ações importantes para o funcionamento da rede dependem de ações de governos, empresas e entidades civis, há espaço para a obtenção de resultados concretos. Não há hoje um fórum único para discutir os complexos temas surgidos com o crescimento da internet e das novas tecnologias digitais. Mas a gestão de domínios e de endereços da internet, assim como a administração dos computadores centrais responsáveis pelo funcionamento da rede, permanecerão sob responsabilidade da Icann (Internet Corporation of Assigned Names and Numbers), sediada na Califórnia.
A Icann é uma organização privada, sem fins lucrativos e ‘quase independente’, à qual o governo americano delegou a gestão da rede. O órgão manterá seu poder de decisão sobre os aspectos técnicos da administração da internet. ‘Não mudamos nada no que diz respeito ao papel do governo americano e aos aspectos técnicos que tanto nos preocupavam’, disse o embaixador David Gross, chefe da delegação americana na cúpula.
Mas outros participantes têm outra visão. Para a União Européia, que foi o fiel da balança na decisão de criar o fórum, haverá ‘uma internacionalização maior na governança da internet e uma maior cooperação’.
O documento, que deverá ser aprovado no final da cúpula amanhã, prevê que cada país seja ouvido em decisões que a Icann venha a tomar relativas ao seu domínio. Por exemplo: o Brasil participará de decisões sobre o domínio ‘.br’.
Já o embaixador Antonino Marques Porto, representante do Brasil nas negociações, acredita que o fórum terá influência e acabará sendo ouvido pelos EUA. ‘Foi criado um fórum multilateral e internacional, que poderá discutir e estabelecer políticas muito mais transparentes em relação à internet’, disse ao Estado.
Ele avaliou o acordo como uma vitória dos países que defende a internacionalização do controle da internet. O Brasil é um dos líderes do grupo, do qual participam outras nações em desenvolvimento.
A UE mudou de posição recentemente e passou a apoiar a criação de um novo organismo, o que teve um peso fundamental na conclusão do acordo.
O primeiro encontro do Fórum de Governança da Internet será em 2006. ‘Viramos uma nova página na história da internet nesta conferência’, disse o secretário-geral da cúpula, Yoshio Utsumi. Já o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, na sessão de abertura da conferência, ontem, buscou um apaziguamento com os EUA: ‘Quero deixar bem claro que a ONU não quer assumir funções, policiar ou controlar a internet.
A gestão diária da rede deve ser deixada para instituições técnicas. Foi criado um órgão que discutirá questões e terá sua voz ouvida. É um bom início de cooperação. Por terem criado a internet e investido em sua infraestrutura, os EUA dizem que têm o direito a manter o controle.’
***
‘Uma anfitriã avessa à liberdade dos internautas’, copyright O Estado de S. Paulo, 17/11/05
‘É irônica a realização da Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação na Tunísia, já que o país é conhecido por cercear a liberdade de expressão e, mais, por bloquear sites que o governo considera inadequados. Há, inclusive, denúncias de que ativistas do país foram impedidos de participar do evento.
Entidades de defesa dos direitos humanos organizaram um encontro paralelo, a Cúpula dos Cidadãos sobre a Sociedade da Informação, mas o governo, na última hora, retirou a licença para sua realização e impediu jornalistas estrangeiros de ir à coletiva de imprensa do grupo.
Robert Menard, secretário-geral da ONG Repórteres sem Fronteiras, que denuncia a censura ao trabalho jornalístico, disse que foi impedido de se credenciar para o evento. ‘Banir o chefe de uma organização internacional que defende a liberdade de expressão é inaceitável.’
A ONU tem sido criticada por não dar o devido peso à censura à internet em vários países e por concordar que a Tunísia sediasse o evento. Para o secretário-geral da organização, Kofi Annan, a realização da conferência no país será positiva à liberdade de expressão no país a médio prazo. ‘Não estamos fazendo esta cúpula para termos efeitos imediatos, mas no futuro.’
A questão da censura e da liberdade de expressão também foi abordada no debate sobre a criação de um fórum internacional para gerir a internet. Um dos argumentos dos EUA ao se opor à medida foi o de que uma maior influência de governos pode resultar em maior censura na rede. Citou Irã, China e Cuba, que defenderam a criação do fórum e são conhecidos por censurar o acesso à internet. Mas há países que não censuram a internet e são favoráveis a uma gestão internacional, entre eles Brasil, Índia e os países da União Européia.’
Folha de S. Paulo
‘EUA mantêm controle da internet por 5 anos’, copyright Folha de S. Paulo, 17/11/2005
‘Os Estados Unidos vão manter o controle do sistema que guia o tráfego de informação na internet por pelo menos mais cinco anos, mas países que pleiteavam uma participação maior da comunidade internacional nos assuntos relacionados à rede mundial também conseguiram uma vitória: a criação de um fórum para a discussão de grandes questões da internet, como o crescimento do ‘spam’ e o abismo tecnológico entre nações ricas e pobres.
Negociadores que participam da Cúpula Mundial da Sociedade da Informação da ONU (Organização das Nações Unidas), que vai até amanhã em Tunis, na Tunísia, disseram a agências internacionais que o fórum não terá poderes para regular a internet nem vai tirar o controle dos EUA sobre o sistema de domínios. As decisões constam de um texto que deve ser aprovado durante a cúpula.
Países como o Brasil e o Irã defendiam que os Estados Unidos cedessem o controle do sistema à ONU ou a outro órgão internacional. Já os EUA argumentam que um órgão deste tipo seria burocrático e dificultaria a inovação.
‘Que fique bem claro: a ONU não quer controlar ou policiar a internet. O gerenciamento da internet no dia-a-dia tem que ser deixado a instituições técnicas’, disse o secretário-geral da ONU, Kofi Annan.
Alguns países consideraram que o acordo pode levar, no futuro, a um controle internacional da internet. ‘Você pode argumentar que eles conservaram a situação como está por hoje, mas não para o futuro’, disse Bernd Pfaffenbach, ministro da Economia da União Européia. ‘Nós queremos influenciar as decisões, nós queremos ser consultados se houver uma mudança estrutural.’
O acordo a que os países chegaram determina que a organização Icann (Corporação da Internet para Nomes e Números Designados) continuará sendo responsável pelo sistema de domínios, que faz com que cada endereço de site (www.folha.com.br, por exemplo) seja correspondente a um endereço numérico.
Se esse sistema não fosse centralizado (se cada país tivesse o seu, por exemplo), um mesmo endereço digitado poderia levar a sites diferentes, dependendo da localização do usuário.
O Icann responde ao Departamento do Comércio dos EUA e está sujeito a leis da Califórnia e a leis federais dos EUA.
Gil
O ministro brasileiro da Cultura, Gilberto Gil, defendeu ontem o software livre no discurso oficial do Brasil na Cúpula Mundial da Sociedade da Informação, que acontece na Tunísia.
Gil disse que o software livre, que geralmente tem o código aberto e é gratuito, é importante no combate à exclusão digital, de acordo com a Agência Brasil.
‘O software livre é alternativa essencial para países em desenvolvimento que, como o Brasil, lutam contra a escassez de recursos para as políticas publicas’, disse Gil. ‘As vantagens são enormes, variando da redução de custos à geração de empregos.’
Com agências internacionais’
***
‘Google lança classificados on-line’, copyright Folha de S. Paulo, 17/11/2005
‘O Google, operadora da ferramenta de busca mais utilizada da internet, lançou ontem um site de anúncios classificados, medida que pode gerar uma nova disputa com o site de leilões on-line eBay.
O Google Base é um site gratuito que permite aos usuários criar anúncios e outros tipos de conteúdo, como receitas culinárias e resenhas de produtos. O Google hospedará as informações ou incluirá links para outros sites.
O site reflete a intenção do Google de atuar como central de armazenamento de informações on-line, estratégia que pode ajudar a empresa a vender mais anúncios na internet.
‘Basicamente, o novo site permite que pequenas empresas ou que pessoas vendam qualquer coisa on-line’, disse Jason Schrotberger, da Turner Investment Partners. ‘Acreditamos que isso é extremamente importante.’’
TV BANDEIRANTES
Daniel Castro
‘Band compra ‘Mandacaru’ e adia novela’, copyright Folha de S. Paulo, 17/11/2005
‘A Band está negociando a aquisição de ‘Mandacaru’, novela sobre os sucessores de Lampião e Maria Bonita, exibida pela extinta Manchete entre 1997 e 1998. A emissora já tem um acordo apalavrado com Jaquito Kapeller, ex-dirigente da Manchete e detentor dos direitos da novela e de ‘Xica da Silva’. Antes, Kapeller tentou vender ‘Mandacaru’ para o SBT.
A Band deve estrear ‘Mandacaru’ em março. O lançamento da segunda faixa de novelas próprias foi adiado para o segundo semestre. ‘Mandacaru’ irá ‘esquentar’ o horário da nova produção.
A Band não tem recursos para produzir sozinha uma segunda novela _já realiza, em co-produção, a infanto-juvenil ‘Floribella’, que terá segunda temporada. A emissora negocia parceria com a produtora portuguesa NBP para dividir ‘Amor de Perdição’, baseada na obra de Camilo Castelo Branco, adaptada por Aimar Labaki. O título foi aprovado pela NBP, mas a produtora depende de um acordo com a TVI, rede que exibiria a novela em Portugal.
A Band também ‘esfriou’ as negociações pela compra de dois estúdios em São Paulo.
O horário de exibição de ‘Mandacaru’ ainda não está definido. A novela foi classificada em 1997 como inadequada para antes das 22h, mas a Band tentará reclassificá-la no Ministério da Justiça.
A trama, sobre o cangaço e ambientada na Bahia dos anos 30, traz Murilo Rosa, de ‘América’.
OUTRO CANAL
Banido 1 Advogados e executivos da Rede TV! praticamente passaram o dia de ontem trancados em reunião, discutindo o futuro incerto de João Kléber. Já era dado como quase certo que o programa ‘Tarde Quente’, de pegadinhas, não voltará ao ar em janeiro, após a suspensão de 60 dias imposta pela Justiça Federal.
Banido 2 O outro programa de João Kléber, o ‘Eu Vi na TV’, tende a não durar muito tempo. Para poder voltar ao ar na terça, após corte de seu sinal por ordem judicial, a Rede TV! fechou acordo com o Ministério Público em que se comprometeu a não mais exibir o quadro ‘Teste de Fidelidade’ com ‘mulheres sendo ‘testadas’ por atores’. Isso reduziu muito a ‘força’ do programa.
Grade Já uma tradição da Globo nos últimos anos, o ‘Festival Nacional’, com filmes brasileiros, não será exibido pela emissora no início de 2006. A Globo optou por estrear a minissérie ‘JK’ em 3 de janeiro, a primeira terça-feira do ano, que ficará uma semana ‘colada’ na novela das oito. O festival ficou para abril ou julho.
Bumbum Além de Luciana Gimenez, da Rede TV!, a Globo gravou vinheta de Carnaval do Rio com Adriane Galisteu, do SBT. A decisão de exibir as vinhetas com famosas de outras emissoras, cada uma representando uma escola, caberá à cúpula da Globo. Juliana Paes e Carol Castro também gravaram vinhetas.’