Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Luís Nassif explica o que
está em jogo na TV Digital


Leia abaixo os textos desta quinta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006


TV DIGITAL
Luís Nassif


Hélio Costa e a TV digital


‘Pelos prazos de desincompatibilização para as próximas eleições, provavelmente o ministro das Comunicações, Hélio Costa, não participará da decisão final sobre o padrão da TV digital brasileira. Não será ruim para o país.


Em sua recente participação no ‘Observatório da Imprensa’ -programa de televisão transmitido pela Rede Educativa-, ele dividiu em dois os grupos de discussão: os que têm visão técnica e isenta, e querem o melhor para o Brasil (ele), e os críticos, que servem aos interesses das empresas de telefonia fixa. É uma simplificação que não cola.


Primeiro, vamos demarcar posições:


1) O ministro defende o interesse dos radiodifusores. É direito dele, mas não venha com a história de que sua motivação é técnica e isenta;


2) Embora insista em dizer que ‘para o governo brasileiro’ o padrão japonês é o melhor, o ministro definitivamente não fala pelo governo brasileiro. No seu nível têm os ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e o da Ciência e Tecnologia e, acima deles, a Casa Civil;


3) Quando sustenta que o sistema japonês é o melhor ‘hoje’, e diz que o americano atenderá às especificações exigidas em julho, está admitindo cinco meses de diferença no estágio tecnológico entre ambos. Esse prazo é suficiente para jogar para segundo plano critérios de política industrial, tecnológica, potencial exportador, modelo de negócio?;


4) O ministro não tem a menor idéia do que serão os modelos futuros de negócio dos diversos setores envolvidos no tema: radiodifusores, telefonia fixa, celular e produtores independentes. Virá uma nova lei em breve, unificando a Lei Geral de Telecomunicações e a Lei de Radiodifusão, definindo as regras para a convergência digital e o ministro patrocina um padrão sem levar em conta o que será esse futuro.


Posto isso, vamos às bandeiras legítimas que, representando os radiodifusores, o ministro defende. Primeiro, a proibição de que as empresas de telefonia sejam produtoras de conteúdo. A nova legislação tem que delimitar claramente o papel do operador de rede (o que distribui conteúdo), o produtor de conteúdo e o distribuidor (o que junta produtores em torno de um modelo de vendas único). E tem que preservar a produção de conteúdo em mãos nacionais. Em qualquer outro ramo de atividade, quem domina a transmissão não pode deter o monopólio dos serviços. Segundo, as TVs abertas têm o direito de vender sua imagem pelos celulares sem passar pelo crivo das operadoras.


O ministro tem razão quando fala na desproporção de força entre as empresas de telefonia (grandes multinacionais) e as emissoras brasileiras (de capital nacional, com faturamento sensivelmente inferior). Mas não aborda, em nenhum momento, a concentração de poder na área, nem anunciou medida alguma para impedir movimentos de associação que podem levar à monopolização do setor.


Um modelo civilizado de regulação tem que delimitar claramente a atividade de cada agente, impedir a concentração de poder, defender as emissoras nacionais contra as teles multinacionais, mas defender o produtor nacional contra o poder de oligopólio do atual modelo de radiodifusão.’



Paulo Saab


TV digital, sem ofensas e paixões


‘A escolha de um padrão tecnológico para a implantação da TV digital em nosso país ganhou contornos mais acirrados na medida em que se aproxima a decisão sobre qual sistema será escolhido. Existem três padrões, chamados de ‘europeu’ (DVB), ‘americano’ (ATSC) e ‘japonês’ (ISDB), diretamente envolvidos na disputa.


A decisão, que será tomada após estudos que se arrastam há uma década e que envolveram diferentes visões dentro do próprio governo, está cercada de fortes interesses, não só pela grandeza do mercado brasileiro e pela possibilidade de ampliar nossas exportações, mas também pela mudança de padrões de comportamento e consumo que a TV digital vai representar.


No aspecto do negócio em si, o acirramento se ampliou na medida em que, além da escolha do padrão técnico propriamente dito, entraram em cena interesses de empresas de telecomunicações, visando ganhar espaço num mercado até aqui dominado pelos radiodifusores.


Nesse cenário, a Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos) chamou a si -como é inerente a um setor que visa atender o comprador final- a tarefa de representar e de avaliar o processo em nome daquele que é a razão de ser desse setor: o consumidor. Some-se a isso o fato de existir, dentro da entidade, empresas ligadas aos três padrões em avaliação.


Dessa forma, acima da escolha de um padrão, a Eletros voltou-se para defender a definição de um modelo de negócios que dê ao consumidor brasileiro, independentemente do sistema técnico adotado, a possibilidade de acesso à nova tecnologia dentro do menor prazo de tempo e nas melhores condições possíveis, de forma aberta, como é hoje a TV analógica, e sem maiores investimentos além da escolha do aparelho e da marca de seu receptor -também da forma como ocorre hoje na TV analógica.


Cabe destacar, nessa discussão acirrada, que os números e projeções até agora apresentados são, em sua maioria, dissociados da realidade e significam ensaios feitos sobre perspectivas ou possibilidades -e não sobre a realidade do mercado nacional.


Dentro dessa condição -de estar atenta ao mercado e, certamente, dentro da missão de defender a economia brasileira-, a Eletros tem se dedicado a oferecer sua contribuição e seu conhecimento, por meio da experiência dos fabricantes a ela associados, como subsídio à decisão final sobre o padrão e também como forma de estimular um modelo de negócio que viabilize a implantação dentro dos parâmetros da realidade do país, sem sonhos ou paixões -como às vezes ocorre com alguns agentes envolvidos na questão.


Essa oferta de conhecimento e experiência deve se dar em um ambiente de estudos e discussões sobre a TV digital, onde tudo seja absolutamente transparente e onde o consumidor possa ser esclarecido sobre o que é de fato a TV digital -o que até hoje não aconteceu, pois as sondagens de opinião mostram amplo desconhecimento sobre o que será a TV digital. A percepção do público, por enquanto, está associada apenas a um de seus benefícios: melhores imagem e som.


Ao insistir de público na transparência dos estudos, a Eletros deixa evidente sua intenção de colaborar no processo decisório. A contribuição do setor é no sentido de que o país adote um modelo de negócio e um padrão que permitam ao Brasil ter uma indústria produtora de receptores de sinais de TV que atenda aos interesses e às possibilidades de seus consumidores, que permita inserir o Brasil na competição pelo mercado mundial e gere, com isso, divisas e empregos no país -sem que fatores emocionais e políticos que envolvem decisões importantes prevaleçam sobre a racionalidade dos fatos.


Ao consumidor brasileiro cabe ainda esclarecer: TV analógica, como é hoje, e TV digital, como virá em breve (com melhor som, melhor imagem e muitas outras funções a serem mais bem esclarecidas), conviverão por pelo menos uma década e meia no mercado, sem prejuízo para o comprador de qualquer tipo de aparelho receptor de sinal de TV. À parte as discussões em andamento, tranqüilize-se, portanto, o consumidor. A indústria nacional precisa dele -e por ele seguirá lutando.


Paulo Saab é presidente da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos).’


Folha de S. Paulo


TV digital pode ganhar incentivo fiscal


‘O ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB-MG), afirmou que está negociando com a Fazenda redução da carga tributária para importação de equipamentos de informática e de instrumentos eletrônicos para a implantação da TV digital no país.


Segundo ele, as emissoras investirão aproximadamente US$ 10 bilhões em dez anos para substituir o sistema analógico pelo digital. Ele disse que deverá haver financiamento ainda para a compra dos conversores (aparelhos que serão acoplados aos atuais aparelhos analógicos para que eles possam receber a transmissão digital).


Costa não quis dar detalhes, mas informou que nos últimos dias o governo brasileiro começou a negociar com governos e empresas estrangeiros contrapartidas novas que serão decisivas na definição do padrão.


‘Nós temos entendimentos sigilosos que estão sendo mantidos com pelo menos quatro ou cinco indústrias relacionadas com a TV digital para grandes desenvolvimentos na área industrial. Infelizmente, não podemos entrar nos detalhes dessas conversações’, disse. Para o ministro, essas negociações ‘têm por objetivo colocar o Brasil na dianteira da tecnologia da TV digital’.


Ontem havia a expectativa de que o governo divulgasse, na internet, uma síntese com a posição final do CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações) sobre o assunto. Costa, no entanto, disse que o relatório será apresentado só ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. ‘O relatório do CPqD é um instrumento de informação para o presidente da República na decisão final’, disse.


Ele informou que hoje o Ministério das Comunicações divulgará os relatórios de cada um dos 22 consórcios que participaram dos estudos em seu endereço eletrônico (www.mc.gov.br).


Costa informou que o relatório exclusivo do presidente não dirá claramente qual padrão de TV digital o Brasil deverá adotar: norte-americano (ATSC), europeu (DVB) ou japonês (ISDB). ‘O relatório não indica necessariamente o modelo. Nunca foi solicitado ao CPqD fazer uma indicação final do que seria o sistema brasileiro de TV digital. O CPqD entra para sistematizar as informações sem dar opinião’, afirmou o ministro.


Emissoras


Na manhã de ontem, representantes das principais emissoras de televisão do país estiveram reunidos no Palácio do Planalto com os ministros encarregados de decidir sobre o padrão de TV digital. Na reunião, as emissoras reforçaram seu posicionamento favorável à adoção do padrão japonês.


‘A nossa conclusão é que o sistema japonês é o sistema que interessa não à radiodifusão, mas que interessa ao Brasil, que interessa à geração atual e às gerações futuras’ disse Inácio Pizzani, presidente da Abert (Associação Brasileiras das Emissoras de Rádio e Televisão), após a reunião.


‘Foi uma reunião muito produtiva, onde vários pontos foram esclarecidos. As televisões colocaram a importância de nós evoluirmos para a televisão de alta definição no Brasil e também para que possamos transmitir para alvos móveis e alvos portáteis’, afirmou João Roberto Marinho, vice-presidente da Rede Globo. ‘Acho que ficou muito claro quais são as coisas mais importantes que a televisão digital pode trazer para o nosso negócio. Agora os ministros vão trabalhar, acho que já ouviram todos os setores. O nosso foi o último. Esperamos que a decisão evolua’, afirmou.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Em campanha


‘As pesquisas tornaram urgente o que antes era paralelo, na cobertura eletrônica: as estratégias eleitorais.


Sobre Lula, apesar dos avanços, só se discute como ele pode crescer na classe média e em São Paulo. No Valor On Line, em longa reportagem:


– A estratégia de conversão da classe média ainda está em aberto, mas se aposta num pacote de bondades tributárias, na linha do reajuste da tabela do Imposto de Renda.


Está na ‘classe média paulista’ o centro da ‘preocupação no palácio’, diz o jornal. E concorda o Blog do Alon:


– São Paulo é um problemão para Lula. Desde a volta das diretas, ninguém ganha eleição de presidente perdendo em SP.


Acrescenta que ‘uma pesquisa reservada, que circula entre tucanos paulistas’, mostra que Geraldo Alckmin e José Serra, ‘ambos, batem Lula na proporção de 3:2 no primeiro turno’. Sabe-se lá a que pesquisa se refere, mas ele acrescenta:


– A favor de Lula: a diferença entre ele e os tucanos em São Paulo está diminuindo.


Sobre o anti-Lula, seja quem for, o blog de Jorge Moreno no Globo Online também já ecoa preocupação geográfica:


– A cúpula do PFL fechou: Jorge Bornhausen será o candidato a vice, seja Serra ou Alckmin o candidato. ACM luta por Agripino Maia [do Nordeste]. Tem certa razão: uma chapa sul-sudeste é esquisita.


A Folha Online apontou outro conflito oposicionista:


– Líderes do PSDB querem FHC longe da cena eleitoral.


Segundo o blog de Josias de Souza, lideranças tucanas ‘acham que a superexposição a que o ex-presidente vem se submetendo nas últimas semanas está influindo na recuperação de Lula nas pesquisas’.


E ‘não bastaria a discrição de FHC’, ele teria que ‘se afastar em definitivo do noticiário, restringindo as suas opiniões ao público interno’.


Mas é claro que ele não vai. Ontem mesmo, como ecoavam sites e blogs, FHC deu longa entrevista ao colombiano ‘El Tiempo’, com ataques a Lula -e elogios ao acordo comercial de Colômbia e EUA.


Mais dos tucanos. O blog Primeira Leitura, entre outros, apontou os dois meses sem propaganda do PSDB na TV como responsável, em parte, pela recuperação de Lula.


Por coincidência, mal chegou a noite e lá estava um comercial com Serra se dizendo ‘sempre a favor dos mais pobres’.


Curiosamente, o tucano foi seguido, de imediato, por comercial de Marta Suplicy, pré-candidata petista ao governo de São Paulo, que saiu prometendo ‘CEUs em todo o Estado’.


NEGRO E POBRE


José Luiz Datena, que transmitia ao vivo na Band, não se agüentou diante da absolvição do coronel do massacre do Carandiru pelo Tribunal de Justiça de São Paulo: ‘Cadeia no Brasil é para negro e pobre’. Em minutos, a notícia já corria mundo pela internet. Na Globo, o ‘SPTV’ encerrou sua curta reportagem dizendo que a acusação ‘vai recorrer em Brasília’


DESIGUALDADE X CRESCIMENTO


O ‘Financial Times’, no rastro do Banco Mundial, fez editorial sobre desigualdade e crescimento na América Latina, Brasil em particular. Na tradução da BBC Brasil:


– A crença econômica convencional sugere que o crescimento econômico reduz a pobreza. Porém, como o estudo do Banco Mundial argumenta, a pobreza retarda o crescimento ao reproduzir padrões de exclusão social e de diferença de renda… A pobreza é uma das razões pelas quais o Brasil cresceu apenas 2,3% em 2005, apesar dos altos preços das commodities.


Não sem ironia, encerrou o ‘Financial Times’:


– Pode parecer heresia a alguns ouvidos, mas certo grau de redistribuição seria bom para o crescimento.


IRAQUE SOB TUTELA


Novos vídeos e fotos exibidos por TV australiana mostram maus-tratos e humilhação de presos iraquianos’


TORTURA AMERICANA
Folha de S. Paulo


Imagens revivem tortura em Abu Ghraib


‘Um canal de TV da Austrália exibiu ontem fotos e vídeos inéditos de maus-tratos contra detentos iraquianos ocorridos em 2003 na prisão de Abu Ghraib, mantida pelos EUA perto de Bagdá.


As imagens de prisioneiros nus, alguns ensangüentados e jogados pelo chão, podem ser contemporâneas às divulgadas em abril de 2004 e que provocaram uma polêmica internacional, de acordo com o canal SBS.


Alegando seu conteúdo chocante, o programa ‘Dateline’, do SBS, não divulgou todas as centenas de imagens que obteve.


Um dos vídeos mostra cinco homens encapuzados se masturbando em frente à câmera.


Em outra imagem, um detento algemado bate a própria cabeça contra a porta de metal de uma cela. Ele é visto depois lambuzado de fezes e dependurado de cabeça para baixo e nu em um beliche dentro de uma cela.


Como em 2004, vários detentos nus e encapuzados aparecem amontoados e ameaçados por cães. Há também imagens de um homem com um corte profundo no pescoço e de presos supostamente mortos.


É possível ver o rosto dos militares americanos envolvidos nos abusos em poucos casos. De acordo com o SBS, muitas das novas imagens mostravam os soldados Charles Graner e Lynndie England – dois dos militares americanos que já foram processados pelos abusos -fazendo sexo.


Exibidas por canais de TV árabes como Al Arabiya e Al Jazira, as imagens indignaram a região e provocaram pedidos de retirada das tropas estrangeiras.


‘Essas fotos reacendem uma dor que começou com a ocupação do Iraque. Foi uma facada no coração ver meu povo pagando por nenhuma razão’, disse o professor iraquiano Hanan Adeeb.


O SBS se negou a dar detalhes sobre a procedência das imagens, mas afirmou que elas fazem parte de um pacote que a ONG American Civil Liberties Union estava tentando obter do governo americano sob a Foia, lei sobre a liberdade de informação.


‘[O programa] ‘Dateline’ está seguro da credibilidade da fonte desses novos vídeos e fotos’, disse o SBS em nota. ‘Eles são inteiramente consistentes com a descrição do material não divulgado feita em diversos relatórios do Exército americano sobre os abusos.’


Segundo a agência France Presse, uma fonte do Departamento da Defesa dos EUA confirmou a autenticidade das imagens. O porta-voz do Pentágono, Bryan Whitman, criticou a divulgação.


‘Os maus-tratos em Abu Ghraib foram amplamente investigados’, disse. ‘O departamento acredita que novas divulgações de imagens possam inflamar e possivelmente incitar uma violência desnecessária no mundo e pôr em perigo nossos militares que estão servindo ao redor do mundo.’


O governo iraquiano concordou. ‘Sinto que trazer à tona esses assuntos apenas irá aumentar a tensão em uma já frágil situação no Iraque e não ajuda em nada’, concordou Labeed Abbawi, assessor da Chancelaria iraquiana.


Com agências internacionais’


CHINA
Folha de S. Paulo


Empresas de internet são alvo da Câmara dos EUA


‘Uma audiência subordinada à Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos EUA foi realizada ontem para discutir a acusação de que empresas de internet estariam colaborando com o governo chinês em sua repressão à liberdade de acesso à rede e de expressão. Representantes da Microsoft, da Yahoo, da Cisco Systems e da Google estiveram presentes.


O deputado democrata Tom Lantos disse que as empresas acumularam muita riqueza e influência, ‘mas aparentemente muito pouca responsabilidade social’.


As companhias pediram que o governo dos EUA ajude a guiar o trabalho naquele mercado.


Elliot Schrage, da Google, disse: ‘Os requisitos para fazer negócios na China incluem autocensura, algo que vai contra os mais básicos valores e compromissos da Google como companhia’. Schrage argumentou que, mesmo assim, a Google quis entrar no país asiático, supondo que teria ‘uma contribuição significativa, mesmo que imperfeita, para a expansão do acesso à informação’.


As empresas disseram que o governo americano deveria assumir o papel de encorajar a liberdade de acesso em nível internacional.


O governo chinês negou ontem que haja prisões relacionadas a opiniões veiculadas na internet.


Segundo o jornal oficial ‘China Daily’, Liu Zhengrong, do Conselho de Informações do governo, disse que os controles chineses são similares aos dos EUA, do Reino Unido e de outros países. ‘Ninguém na China foi preso simplesmente pelo que disse na internet’, disse Liu. Mas há casos de dissidentes presos após criticar o governo na internet.


A campanha de controle sobre a mídia do presidente Hu Jintao está criando divergências dentro da elite política do país. Treze veteranos do Partido Comunista Chinês distribuíram nesta semana uma carta para criticar o governo por ataques ‘inconstitucionais’ e ‘ilegais’ à liberdade de expressão.


Com agências internacionais’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Ratinho volta à polêmica, ‘mas sem apelar’


‘Durou menos de um ano a fase ‘light’ de Carlos Massa, o Ratinho. A partir de março, o apresentador retoma o controle de seu programa, que voltará a ser polêmico, como nos velhos tempos.


‘Não vou ter teste de DNA, porque isso já esgotou. Vamos fazer um programa mais popular, mas sem apelação. O Silvio [Santos, dono do SBT] não quer palavrão nem ato obsceno. Vamos ter mais quadros polêmicos, para dar mais audiência’, diz Ratinho.


Desde maio do ano passado, o ‘Programa do Ratinho’ está sob uma espécie de ‘intervenção’. A atração, que sempre foi dirigida por amigos de Ratinho, passou a ser comandada pelo jornalista Carlos Amorim. Ratinho aposentou as camisas de cores berrantes e adotou terno e gravata (que, segundo ele, serão mantidos). O programa virou uma ‘revista popular sem esculhambação’.


O SBT avalia que a meta de ‘limpar a imagem’ do ‘Programa do Ratinho’ foi atingida, tanto que ele saiu do ‘ranking da baixaria’ e conseguiu classificação livre no Ministério da Justiça.


Ratinho, no entanto, não se sente à vontade no ‘formato’.


Uma nova equipe de produção já está sendo montada. Carlos Amorim e sua equipe serão deslocados para outros projetos do SBT. Américo Ribeiro, amigo do apresentador, retomará a direção do programa. Existe a possibilidade também de o programa, hoje às 17h, mudar para o horário nobre.


OUTRO CANAL


Chamariz 1 A Record vai gastar R$ 455 mil (o custo de três capítulos de novela) apenas em uma promoção para atrair telespectadores para ‘Cidadão Brasileiro’, que estréia em 13 de março. A emissora sorteará um carro (de R$ 25 mil cada) por dia, durante os primeiros 15 capítulos, e uma casa de R$ 80 mil.


Chamariz 2 ‘Cidadão Brasileiro’, de Lauro César Muniz, inaugurará a faixa de ‘novela das oito’ da Record. Será exibida das 20h30 às 21h20, com a missão de tirar audiência do ‘Jornal Nacional’ e um pouco da de ‘Belíssima’.


Escalação A Globo definiu anteontem os apresentadores do Oscar neste ano. Maria Beltrão, da GloboNews, entra no lugar de Renato Machado. José Wilker está confirmado como comentarista.


Martelo A cúpula da Globo também confirmou anteontem que a próxima minissérie será de Glória Perez e contará a história do Estado do Acre. Perez já recebeu sinal verde para escrever.


S.O.S. A Record deixará de exibir a série ‘Avassaladoras’, que vai muito mal no Ibope, às sextas. Passará a apresentá-las às segundas, dia em que há mais gente vendo TV.


Regresso De volta de Portugal, Silvia Pfeifer está negociando um contrato de longa duração com a Globo.’


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Impasse na renovação com o SBT pode levar Gugu Liberato para a Rede Record


‘Insatisfeito com a proposta do SBT para renovação de seu contrato, o apresentador Gugu Liberato pode abrir negociações com a Record. Ontem, ele pediu uma reunião com a Record.


Um executivo da rede confirmou à Folha que, por enquanto, existe apenas um ‘flerte’. A Record, diz, ainda avalia a viabilidade de contratar Liberato, que está insatisfeito com o SBT porque a emissora quer reduzir em até 40% seus ganhos atuais.


Ontem, o apresentador mandou um funcionário retirar seus objetos no SBT. ‘Não quero nem pretendo ir para qualquer emissora no momento. Meu contrato termina em 31 de março e, apesar da carta de renovação não estar sendo respeitada, quero continuar a ter boas relações com o SBT’, disse Liberato.


A carta é um instrumento que renova o contrato por mais um ano. Liberato diz que não está sendo respeitada porque o SBT não quer mantê-la nas atuais condições.’


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O Globo


Quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006


GUERRA DAS CHARGES
Luis Fernando Verissimo


Sentimentos ambíguos


‘Chargistas dinamarqueses devem estar sentindo o mesmo que Salman Rushdie quando seu livro também inflamou o islã e sua morte foi pedida para desagravar o Profeta: um misto de terror e vaidade. Afinal, artistas e intelectuais, por mais pretensiosos que sejam, nunca esperam que sua obra vá incendiar o mundo. Até pressupõem que têm uma liberdade tácita para serem extremados e irreverentes o quanto quiserem, já que o que fazem é apenas arte, não realidade. Humoristas têm essa licença presumida mais do que outros, porque a sua é a arte do exagero, duplamente separada do real, portanto duplamente isenta de maiores conseqüências. Podem ser censurados ou proibidos por ditaduras terrestres com medo do ridículo, mas jamais se imaginariam afrontando todo um sistema cosmogônico. E de repente se descobrem premiados com esta dúbia distinção: sua arte atingiu um deus e mobilizou uma nação inteira. Eles não podem deixar de estar sentindo um certo orgulho – nenhum grande artista do passado foi tão conseqüente quanto eles – enquanto vêem se as portas e as janelas estão bem trancadas.


A reação às charges ofensivas surpreendeu em parte porque no Ocidente se perdeu o conceito de blasfêmia. Entre os sentimentos ambíguos que essa revolta do islã provoca se poderia supor a inveja dos outros monoteísmos, que não contaram com o mesmo fervor dos seus fiéis contra a secularização e olha no que deu. A idéia secularista de que o avanço da civilização depende do declínio do sagrado é mais ou menos consensual, e o fanatismo islâmico, em contraste com a tolerância e o pluralismo de religiões que se modernizaram, seria uma prova disso. Mas existe uma civilização muçulmana que, resistindo ao fanatismo, não relativizou o sagrado. Uma civilização antiga que já foi mais avançada do que a européia e foi, mesmo, corrida da Europa pelo fanatismo cristão. Ao mesmo tempo, em algumas das sociedades mais avançadas do mundo existem e prosperam crenças e seitas obscurantistas que representam o ‘sagrado’ na sua forma mais primitiva, convivendo com a civilização.


Querendo dizer o quê? Que não há um choque de civilizações nem um choque entre um mundo civilizado e um bárbaro. Há uma diferença entre um extremo do sentimento religioso para o qual a blasfêmia ainda é um mal absoluto e um extremo do pensamento secular que diz que nada deve ser sagrado. Onde estão os humoristas. Alguns apavorados.’


Héctor Ricardo Leis


Confusão entre religião e política


‘O conflito internacional detonado pelo cartunista do jornal dinamarquês ‘Jyllands-Posten’ não se reduz a uma disputa entre diferentes valores. Não são a liberdade de expressão ou a defesa da dignidade religiosa que estão em discussão. É uma questão muito mais importante, com a qual o mundo civilizado não pode conviver ou compactuar. Até agora, no entanto, esta questão permanece na obscuridade talvez por conta da extrema complexidade de sua solução.


A pergunta a nos fazermos é: se a legislação em vigor no país onde um muçulmano vive permite que sejam publicadas caricaturas de Maomé, com que direito um cidadão de fé muçulmana que nele viva pode se indignar e proferir ameaças às instituições deste país?


Não há qualquer problema no fato de cidadãos da Arábia Saudita ou do Irã, por exemplo, não aceitarem publicações de charges com Maomé nos jornais de seus respectivos países. Se a legislação de seus Estados assim o estabelecer, não existe argumento válido, mesmo que em defesa da liberdade de expressão, para defender o direito à publicação. Certamente, em muitos países islâmicos o cartunista do jornal ‘Jyllands-Posten’ não encontraria espaço para publicar seu material. Mas isso não seria problema nenhum, nem seria objeto legítimo de protesto, já que ele não é um sujeito de direito nesses países.


Além disso, devemos considerar que cartunistas ocidentais batem à vontade em todos os símbolos sagrados de qualquer cultura, inclusive do cristianismo. Não se trata, portanto, de campanha antiislâmica, mas sim de um rotineiro trabalho daqueles cujo ofício consiste em fazer-nos rir com seus desenhos.


De que se trata, então?


Num mundo onde grupos islâmicos, alguns dos quais apelando para a morte e a destruição de indivíduos que não vivem de acordo com a sua fé, vivem em países que não participam da mesma crença religiosa, o escândalo criado em torno do episódio, politicamente insignificante, revela algo mais que intolerância. Revela uma confusão entre religião e política, entre Igreja e Estado. E isso o mundo ocidental não pode negociar.


A natureza íntima de uma religião é expressar a palavra de Deus, explicando os mistérios da existência humana num plano transcendente. Desde sua origem, a Igreja Católica fez clara distinção entre o que é de César e o que é de Deus – e a última encíclica do Papa Bento XVI, ‘Deus caritas est’, é mais um claro exemplo disso. O desenvolvimento da civilização ocidental tem como base a distinção entre Igreja e Estado: nem o Estado pode impor a religião, nem a Igreja pode pretender que o Estado faça o que é de seu exclusivo interesse. Jacob Burckhardt, um dos maiores historiadores do século XIX, nas suas ‘Reflexões sobre a História Universal’ mostra que a atual situação não é uma novidade. Segundo ele, a fusão entre Igreja e Estado é um dado essencial do islamismo. Assim sendo, seu sistema de Estado é ‘inevitavelmente despótico’. Burckhardt chega mais longe e se pergunta até que ponto o islamismo comporta algum tipo de Estado, isto é, algum tipo de Estado de Direito, tal como se entende no Ocidente.


Não parece, portanto, existir conflito de valores entre Ocidente e o islamismo no que diz respeito às charges com Maomé. Conflito de valores é um fenômeno que apenas pode existir em países que separam religião e política, como acontece no Ocidente. Na maioria dos países islâmicos, não existem nem podem existir conflitos de valores precisamente pela preeminência do fator religioso na vida política. Nessas condições, o conflito de valores é decodificado como declaração de guerra e só pode concluir com a eliminação do ‘inimigo’. Tal como ensinava Max Weber, a política desaparece quando ela é subordinada a uma ética da convicção de tipo único. A importância do problema que enfrenta hoje o Ocidente deriva da importância da convicção religiosa para os cidadãos dos países islâmicos. Sem uma convicção forte na pluralidade dos valores e na separação Igreja-Estado, nem o Ocidente poderá se defender eficientemente dos ataques dos muçulmanos radicais, nem tampouco poderá ajudar os cidadãos dessa fé a viver no mundo atual.


HÉCTOR RICARDO LEIS é professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).’


O Globo


Charges: mais 3 mortes no Paquistão


‘ISLAMABAD. Pelo terceiro dia consecutivo, cerca de 20 mil pessoas protestaram nas ruas de cidades do Paquistão contra a publicação das charges de Maomé na imprensa ocidental. Três pessoas morreram nas manifestações de ontem. Nos dois últimos dias cinco pessoas morreram no país em protestos.


As maiores manifestações ocorreram na cidade de Peshawar. Radicais colocaram fogo numa lanchonete da rede americana KFC e duas lojas da empresa de telefonia celular norueguesa Telenor, além de bancos, cinemas e ônibus.


Alguns radicais fizeram disparos contra os policiais, que responderam ao fogo. Um dos dois mortos foi um menino de 8 anos, atingido por um tiro.


– O protesto estava transcorrendo de forma pacífica antes que partidários do talibã armados se infiltrassem e começassem a atirar contra os policiais e incendiar lojas – disse Attiqullah, chefe da polícia local.


A terceira morte ocorreu em Lahore, onde duas pessoas já tinham morrido na terça-feira. Um homem ficara no meio de um fogo cruzado entre policiais e um bando armado e foi atingido.


Parlamento Europeu debate reação às charges


A reação de radicais islâmicos à publicação das charges foi debatida na sessão de ontem do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, na França.


Os Verdes criticaram a francesa Carrefour e a suíça Nestlé pelas empresas terem anunciado no mundo árabe que não são dinamarquesas nem vendem produtos deste país. Os grupos partidários Verde e Democrata Liberal solicitaram que a CE não leve adiante a idéia de pedir para a imprensa européia criar um código de conduta para respeitar valores religiosos. Um parlamentar do bloco conservador levou publicações de países islâmicos com charges ‘contra valores ocidentais e nossa religião’.


No texto de uma declaração aprovada por todos os partidos, não há críticas à publicação das charges, mas pede-se respeito a ‘sentimentos e crenças’, alertando que a independência da mídia ‘não pode ser minada por qualquer pessoa ou grupo que se sintam ofendidos’.


Na Jordânia, o principal diplomata da UE, Javier Solana, disse que o bloco europeu proporá à ONU um mecanismo que garanta o respeito às religiões.’


Mayumi Aibe


O humor como remédio contra o radicalismo


‘Ao acompanhar com espanto a crise desencadeada pelas charges de Maomé, um cartunista israelense de Tel Aviv resolveu dar uma resposta que ‘precisa ser a certa’. Amitai Sandy, um judeu de 29 anos, lançou um concurso de charges anti-semitas, no site www.boomka.org. Para o artista, os judeus não podem jamais perder a capacidade de rir de si mesmos.


– Vi a reação do jornal iraniano que lançou o concurso e achei que o problema não era tão grande, já que os jornais no Irã costumam publicar caricaturas anti-semitas. Resolvi lançar nosso próprio concurso para mostrar que não temos medo de fazer piadas sobre nós mesmos.


O cartunista diz que já recebeu dez trabalhos desde o lançamento do concurso. Sandy garante que não vai haver censura, defendendo que nenhum assunto deva ser tabu, nem o Holocausto.


– Não acho que o Holocausto deva ser um assunto sagrado, no qual ninguém pode tocar. Não aconteceu em outro planeta. Foi um ato de humanos contra humanos. E, justamente pelo risco de acontecer de novo, acho que devemos falar sobre isso. Inclusive os sobreviventes do Holocausto fizeram as melhores charges sobre o assunto. A maioria ficou apenas na esfera privada, não é um costume publicá-las – diz.


Para o artista, o famoso senso de humor autodepreciativo é uma qualidade do povo judeu. E o humor, acima de tudo, uma arma para combater intolerância e valores cristalizados pelas religiões.


– Eu acredito que o humor é uma das melhores formas de questionar os valores. Uma boa educação é a melhor maneira de se duvidar de uma crença – diz. Do Globo Online’


INTERNET
Fernando Duarte


Operadora de celular britânica fecha acordo para dar acesso ao Skype


‘LONDRES. Numa aplicação para lá de prática do provérbio ‘Se não pode vencê-los, junte-se a eles’, a operadora de telefonia celular britânica Hutchinson Three Networks anunciou ontem um acordo com a Skype, que opera o chamado serviço de voz sobre internet, ou VoIP, que resultará em aparelhos capazes de fazer chamadas gratuitas entre telefones e computadores ainda esse ano. O acordo, anunciado durante um congresso de telefonia em Barcelona, é o passo mais ousado até agora por uma operadora européia diante da ameaça representada por companhias como a Skype.


O novo sistema deverá ser testado em pelo menos cinco países europeus antes do lançamento definitivo, previsto para o início de 2007, quando os aparelhos dos fabricantes associados já virão adaptados para o software do Skype. E desde já é uma ameaça para a concorrência, especialmente porque a maioria dos rivais ainda não opera exclusivamente na chamada banda 3G (que permite a transmissão de vídeos, por exemplo).


Embora não tenha anunciado valores, já se sabe que os assinantes do novo sistema pagarão uma taxa fixa pelo acesso à rede da Hutchinson em troca de ligações ilimitadas entre telefones compatíveis e mesmo PCs domésticos.


– Não é um serviço inteiramente gratuito, mas estamos oferecendo uma combinação de serviços atraente para o consumidor, que aumenta seu espectro de escolha em serviços de telecomunicações – disse um porta-voz da Hutchinson.


Com apenas 11 milhões de usuários na Europa, a Hutchinson espera, com o acordo, aumentar sua forças na batalha com concorrentes como Vodafone e T-Mobile, sobretudo no Reino Unido, onde há mais de um aparelho por habitante. O Skype se mostrou um excelente negócio até agora, com sua oferta de ligações gratuitas de computador para computador e a preços reduzidos entre micros e telefones. No ano passado, a empresa foi comprada pelo site de leilões Ebay por US$ 2,6 bilhões.


Para os analistas, resta saber mais detalhes do pacote. Afinal, pelo menos no Reino Unido, três em cada quatro ligações feitas de celulares são para outros celulares, e os custos de algumas operadoras ainda são menores que os do Skype.’


TV DIGITAL
Mônica Tavares


Emissoras pedem TV digital com todos os recursos


‘Os representantes das emissoras de televisão deixaram claras ontem para o governo as características que consideram essenciais no padrão de TV digital que será implantado no país. A tecnologia, defenderam, deve permitir ao mesmo tempo alta definição (som e imagem semelhantes aos de cinema), portabilidade (TV pelo celular) e mobilidade (TVs em ônibus, táxis e carros).


Os radiodifusores estiveram reunidos com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, com os ministros das Comunicações, Hélio Costa; do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan; e da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende; e com o secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, Hélcio Tokeshi.


O vice-presidente das Organizações Globo, João Roberto Marinho, afirmou que o setor relatou ao governo os impactos que a implantação da TV digital terá na radiodifusão e as possibilidades de negócios que a nova tecnologia permite. Porém, afirmou que a negociação do padrão tecnológico é uma questão de governo. Ele afirmou ainda que as emissoras apresentaram uma avaliação da tecnologia feita por universidades e pela Sociedade de Engenharia de Televisão (SET).


– Foi uma reunião muito produtiva, na qual foram esclarecidos vários pontos. As emissoras mostraram a importância de se evoluir para a televisão de alta definição, com possibilidade de transmitirmos para alvos móveis e alvos portáteis – afirmou Marinho.


O presidente da Rede Bandeirantes, Jonnhy Saad, disse que vários aspectos técnicos sobre a TV digital foram abordados durante a reunião com os ministros:


– O discurso da radiodifusão brasileira está bastante alinhado, todos temos consciência de que sem alta definição o Brasil está fora desse jogo. Estamos absolutamente conscientes de que sem a portabilidade, a mobilidade e a robustez, sem todos esses recursos, não conseguimos competir com as mídias, especialmente com as mídias pagas.


Os radiodifusores, segundo o presidente da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), José Inácio Pizzani, já estudam os padrões de TV digital há dez anos, fazendo inclusive testes de campo:


– A opinião dos radiodifusores é antiga. Nossa conclusão é que o sistema japonês, com conteúdo agregado pelo pessoal da (universidade) Mackenzie e da USP, é o que interessa não à radiodifusão, mas que interessa ao Brasil.’


Mônica Tavares e Eliane Oliveira


Ministro quer menos tributos sobre importação de equipamentos


‘O ministro das Comunicações, Hélio Costa, pediu a seu colega da Fazenda, Antonio Palocci, a redução da carga tributária sobre os equipamentos de radiodifusão a serem importados pelas emissoras de TV. Para Costa, a carga pode ser reduzida um pouco e teria como objetivo permitir a modernização do parque transmissor brasileiro com a entrada da TV digital. Também está em estudo uma subvenção para a compra do set-up box (conversor) por parte dos consumidores. Isso seria feito pelo Banco Popular, que faz financiamentos de R$ 100 a R$ 200, justamente o preço estimado do aparelho.


O governo dos EUA, por exemplo, está destinando US$ 1 bilhão para subvencionar o preço do conversor em seu mercado. O ministro adiantou que o Brasil mantém ‘entendimentos sigilosos’ com quatro ou cinco indústrias relacionadas à TV digital de forma a fazer do Brasil um importante centro da tecnologia. As negociações são entre governos, dentro das contrapartidas oferecidas pelos padrões de TV digital (japonês, americano e europeu).


– Não podemos entrar em detalhes destas negociações, mas elas têm como objetivo colocar o Brasil na dianteira da tecnologia da TV digital e da era digital – afirmou Costa.


Segundo ele, as emissoras têm condições de iniciar os testes da TV digital em meados deste ano em São Paulo, para no início do segundo semestre começarem as transmissões comerciais. Os investimentos previstos no setor com a TV digital são de pelo menos US$ 10 bilhões nos próximos dez anos.


A expectativa de Costa é que logo depois do carnaval os relatórios setoriais dos ministérios envolvidos na escolha do padrão estejam prontos e sejam enviados à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Deverão ser publicados hoje, no site do Ministério das Comunicações, os relatórios dos 22 consórcios que fizeram as pesquisas. O relatório do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), que consolida os estudos, será enviado ao presidente da República, mas não indicará um padrão. Costa informou que será apresentada a escolha de cada um dos consórcios em cada quesito – por exemplo, a tecnologia de transmissão.


Segundo o ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, com a reunião com representantes das TVs abertas o governo fechou o leque de consultas para tomar uma decisão após o carnaval. Ele disse que as propostas dos radiodifusores são interessantes e que é importante que a TV digital privilegie a TV aberta, porque atinge toda a sociedade. Quanto ao padrão a ser escolhido, o ministro afirmou que ainda há muitos questionamentos.


– Não é exclusivamente uma decisão técnica, é uma decisão conjunta que envolve a técnica, a indústria e o comércio – complementou Costa.’


CHINA
Gilberto Scofield Jr.


Comunistas veteranos chineses repudiam censura


‘PEQUIM e WASHINGTON. Numa reação surpreendente desde que a China virou alvo de críticas da comunidade internacional por seguidos atos de censura à liberdade de expressão, um grupo composto por veteranos integrantes do Partido Comunista da China (PCC), acadêmicos e ex-editores dos maiores jornais do país divulgou uma carta aberta à população – devidamente omitida pela mídia estatal – condenando a decisão do governo de Pequim de ter fechado o suplemento semanal ‘Bingdian’, que circulava com o jornal ‘China Youth Daily’, e de aumentar a censura à mídia.


A carta é assinada, entre outros, por Li Rui, ex-secretário e biógrafo oficial de Mao Tsé-tung; Hu Jiwei, ex-editor do ‘Diário do Povo’ (o principal jornal do PCC); Li Pu, ex-chefe da agência de notícias estatal Xinghua; e Zhu Houze, ex-chefe do Departamento Central de Propaganda do PCC. Eles consideram o fechamento do ‘Bingdian’ não um caso individual, ‘mas a continuação de práticas de uma administração maligna, como o fechamento de jornais ou o afastamento de editores’.


O trecho mais contundente da carta, assinada por 13 pessoas, mostra um racha fundamental entre as alas liberal e conservadora do PCC, como só se teve notícia após o massacre da Praça da Paz Celestial, em 1989. Um dos poucos jornais livres da China, o ‘South China Morning Post’, de Hong Kong, reproduziu o trecho: ‘Somos todos antigos revolucionários inspirados por nosso senso de liberdade, apesar de já estarmos envelhecendo (…), mas, revendo as lições que aprendemos nos últimos 70 anos, sabemos que, uma vez perdida a liberdade de expressão, as autoridades só conseguem ouvir uma só voz’.


A carta teve forte repercussão e foi motivo de ferozes debates em vários blogs na internet chinesa, apesar da censura à rede. Reagindo a pressões de grupos de defesa dos direitos humanos e dos EUA, Liu Zhenrong, diretor do Escritório de Informações do Conselho de Estado da China e responsável pelos assuntos de internet, afirmou que a censura que o país faz sobre a internet não difere muito da praticada pelos EUA:


– Regular a internet de acordo com a lei é prática internacional.


Ontem, as principais empresas americanas de internet defenderam no Congresso dos EUA sua atuação na China. Representantes de Microsoft, Google, Yahoo e Cisco Systems afirmaram que, apesar da restrição, os internautas chineses valorizam o acesso que têm à rede. Os executivos disseram que são obrigados a respeitar as normas locais e pediram que o governo americano pressione a China.


O Congresso precisou intimar as empresas, que ignoraram o convite anterior para que esclarecessem suas atuações na China. As críticas mais ferozes partiram do deputado democrata Tom Lantos, que classificou como nauseante a colaboração das empresas com Pequim.


(*) Com agências internacionais’


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006


MEMÓRIA / NELSON RODRIGUES
Gilberto de Mello Kujawski


Atualidade de Nelson Rodrigues


‘O que impressiona em Nelson Rodrigues é sua ilimitada e desafiadora capacidade de questionamento. Ele questiona tudo e todos – a representação teatral, a asma de Otto Lara Rezende, o preconceito contra Juscelino, a literata consagrada (Clarice Lispector), a educação sexual, a fotografia, o perigo da aviação, o maio de 1968, a cidade de São Paulo e sua falta de horizonte, Ferreira Gullar, Chico Buarque, etc. Questiona, severamente, inclusive a si mesmo.


Fica evidente que, com tamanha e tão radical liberdade de questionamento, Nelson jamais se poderia comprometer nem com a esquerda nem com a direita. Nem com os artigos de fé da primeira nem com o dogmatismo sufocante da segunda. Nada resiste aos ataques de sua ironia corrosiva e irreverência histriônica. O histrionismo é traço forte de sua personalidade dilacerada e teatral. A tal ponto chegava a tensão de sua veia histriônica que vestia a fantasia do reacionário só para gozar de seus oponentes. Dizia-se ‘reacionário de alto a baixo, da cabeça aos sapatos’. E todos acreditavam, até ele mesmo. A esquerda tripudiava. Pintava Nelson Rodrigues como o papa do reacionarismo, o perfeito monstro jurássico, obscurantista e perverso. Hoje essa mesma esquerda o festeja com reiteradas citações, como se fosse o gênio da raça. Nelson sempre foi vingativo, até depois de morto.


Pois bem, chegou a hora de desfazer o equívoco do ‘reacionarismo’ do autor de Vestido de Noiva. Que ele foi inimigo figadal das posições e dos maneirismos da esquerda não há a menor dúvida. De onde se segue que um antiprogressista tão feroz só poderia ser um opaco intelectual direitista, um reacionário dos mais completos e odiosos, certo? Errado. A leitura atenta de seus textos leva à convicção de que na censura acerba de Nelson às posturas da esquerda falava mais alto, mais do que a indignação contra a esquerda, a revolta contra a praga da ‘politização’, a politização daquilo que não deve e não pode ser politizado porque faz parte constitutiva da vida humana em sua dimensão mais elemental e compenetrada consigo mesma, totalmente alheia às divisões políticas e sociais. A idéia de que ‘tudo é política’ conduz diretamente ao totalitarismo. Por isso é preciso preservar a pessoa, em sua intimidade e em sua liberdade, do compromisso fanatizado com a vida pública, sem esquecer que a vida humana, em suas entranhas, é vida privada.


Quando nosso autor manifesta seu furor contra aquele professor ‘psicólogo e socialista’ que quer doutrinar uma menina de 4 anos de idade no ódio contra a ordem burguesa, não é, precisamente, a esquerda o alvo de sua fúria, e sim a politização da infância e da educação. Não se politiza a infância nem a educação, como não se politiza a inteligência, a liberdade de pensamento e opinião. E que dizer do sujeito que lança a frase: ‘Que importa Shakespeare? Ou Sófocles? Ou Ibsen? Importa o Terceiro Mundo.’ Não se politiza a arte. Shakespeare, Sófocles e Ibsen possuem um valor autônomo que não pode ser abalado pela fome do Nordeste, assim como uma figura geométrica perfeita e exata não pode ser refutada pelas formas imperfeitas do mundo empírico. A politização mistura as estações, subverte os níveis, confunde os valores e polui a vida que jorra pura como água da bica. Aquele par ridículo ao qual sempre volta, o ‘padre de passeata’ e a ‘freira de minissaia’, não exprime mais do que sua censura encarniçada à politização da religião.


Nelson Rodrigues sempre foi e quis ser rigorosamente inatual. Suas opiniões, suas idéias e impressões eram incrivelmente datadas, beirando o anacronismo. Certa vez dirigiu a uma desconhecida, em público, esta frase sublime: ‘Você parece uma vamp do cinema mudo.’ A jovem reagiu com indignação (‘Isso é elogio ou insulto?’). E, no entanto, o que se evidencia hoje é que sua visão das coisas apresenta muito mais validade do que as opiniões políticas daqueles intelectuais europeus que ele mesmo chamava de ‘os velhos infames’: Romain Rolland, Jean-Paul Sartre, M. Merleau-Ponty, Bertold Brecht, todos fanaticamente stalinistas. Hoje, quando Stalin passou e implodiu a União Soviética, o progressismo daqueles intelectuais envelheceu para sempre. O que ficou e ficará eternamente é a conversa entre amigos, a graça das mulheres e sua elegância, uma partida de futebol, o poente do Leblon, a sedução do cinema mudo, a beleza do teatro, o encanto da infância e da juventude, sem falar naquele ensopadinho de abóbora com carne-seca que fazia as delícias do jornalista boêmio em suas fomes na madrugada. Tudo o que suscitava a alegria de viver de Nelson e seu entusiasmo torrencial pela vida.


Nelson não corria atrás da unanimidade fácil das opiniões políticas, estéticas e morais (‘toda unanimidade é burra’), nunca foi um maria-vai-com-as-outras. Rejeitava as posturas rigidamente ideológicas, as idéias feitas, as opiniões reinantes, e regredia para o estágio primitivo da vida em flor, em sua pulsão mais intensa, espontânea e original. Queria recuperar o homem e a mulher em sua puridade, conforme transparece em seu artigo Na fila por Love Story: ‘Eu direi que o filme é, exatamente, uma história de amor. E lá encontramos, no jovem casal que representa, essa coisa anacrônica, mais fora de moda, que é o ser humano. Insistirão os idiotas da objetividade: ‘E que é que nós sentimos?’ Respondo: ‘Sentimos, justamente, do primeiro ao último segundo, uma nostalgia brutal do ser humano.’ (O remador de Ben-Hur, Cia. das Letras)


De onde se conclui que a atualidade de Nelson Rodrigues está no que ele tem de mais inatual: a busca do ser humano em sua puridade, naquilo que ele tem de permanente sob as mais diversas ideologias e os mais contraditórios sistemas políticos.


Nelson, que tanto amava os paradoxos, foi, ele mesmo, um paradoxo vivo.


Gilberto de Mello Kujawski, escritor, jornalista, é autor, entre outras obras, de A identidade nacional e outros ensaios (Funpec).’


GUERRA DAS CHARGES
O Estado de S. Paulo


Novos protestos no Paquistão deixam 3 mortos e 50 feridos


‘REUTERS, EFE, AP E AFP ISLAMABAD – Três paquistaneses morreram e mais de 50 ficaram feridos ontem nas cidades de Peshawar (noroeste) e Lahore (oeste), cenários da maior onda de protesto ocorrrida até agora no Paquistão contra a publicação por jornais europeus de caricaturas do profeta Maomé. Os incidentes mais graves ocorreram em Peshawar, onde o protesto reuniu 50 mil manifestantes. Ali morreram duas pessoas, um adulto e uma criança de 8 anos. Teriam sido baleados por policiais que atiraram para o ar a fim de conter a multidão. Irados participantes da marcha haviam incendiado uma lanchonete do grupo americano KFC, dois postos da empresa norueguesa de telefonia celular Telenor, agências bancárias, dois cinemas, um terminal rodoviário e vários ônibus. Um porta-voz da polícia negou responsabilidade dos agentes nas mortes, assegurando que havia arruaceiros armados no meio de multidão.


Em Lahore, onde ocorreram duas mortes na terça-feira, as manifestações prosseguiram ontem pelo segundo dia consecutivo. Um jovem de 18 anos morreu, aparentemente, no fogo cruzado durante um tiroteio entre estudantes da universidade local e policiais que tentavam conter a manifestação.


O governo paquistanês voltou a pedir calma à população. ‘Nossa indignação contra a profanação deve ser expressa de maneira pacífica e ordeira’, disse um porta-voz do Ministério do Interior. ‘Não vamos tolerar distúrbios nem depredações’, insistiu.


SOLIDARIEDADE


As charges de Maomé foram publicadas pela primeira vez em setembro na Dinamarca, pelo jornal Jyllands-Posten, e reproduzidas recentemente por vários jornais europeus, em nome da liberdade de imprensa – o que revoltou o mundo islâmico. A Dinamarca, principal alvo da onda de protesto, recebeu ontem a solidariedade de seus parceiros da União Européia. No entanto, líderes da comunidade européia destacaram que se torna absolutamente necessário um uso responsável da liberdade de imprensa.


Para Heinz Fischer, presidente da Áustria (país que exerce a presidência rotativa da UE), a imprensa européia deve se autodisciplinar, para evitar crises perigosas e desnecessárias.


No Parlamento Europeu, o deputado Daniel Cohn-Bendit, líder da bancada verde, e Karen Riis-Joergensen, líder dos liberais, pediram à Comissão Européia (órgão executivo da UE) que encoraje a mídia a adotar voluntariamente um código de conduta que evite ofender sensibilidades religiosas.


O presidente da CE, o português José Manuel Durão Barroso, prometeu estudar a proposta. Ele condenou as manifestações de violência que se alastram pelos países islâmicos. Criticou também o boicote de alguns desses países, entre os quais a Indonésia e Irã, a produtos de exportação dinamarqueses. Foi muito aplaudido quando disse que as restrições impostas a um país da comunidade atingiam todos os seus membros.


No Irã, palco de violentos manifestações, o Ministério das Relações Exteriores enviou ontem notas de protesto às embaixadas de 17 países europeus, condenando com veemência a republicação das caricaturas pela mídia européia. ‘A publicação desses desenhos que ignora os valores de mais de 1,5 bilhão de islâmicos contraria os princípios da democracia e da liberdade de expressão’, diz o documento.’


CHINA
O Estado de S. Paulo


Grandes da web são acusadas de ajudar a China


‘AP, AFP E THE NEW YORK TIMES – WASHINGTON


Vários congressistas americanos pressionaram ontem quatro grandes empresas de internet às quais acusaram de ajudar o governo chinês a reprimir a dissidência interna em troca do acesso a um mercado em expansão.


Representantes da Microsoft Corp., Yahoo! Inc., Cisco Systems Inc. e Google Inc. se defenderam ontem em uma reunião do subcomitê de Relações Internacionais da Câmara Baixa, mas um membro da direção do Google reconheceu que descobrir como atuar no mercado chinês da internet ‘foi um exercício árduo’.


Os legisladores, no entanto, se mostraram céticos diante das explicações das empresas, que só se dispuseram a prestar declarações depois de serem alvo de críticas da imprensa e da atenção do governo.


O deputado Tom Lantos, o principal democrata do comitê, disse que as companhias tinham conquistado grandes fortunas e influência, ‘mas, aparentemente, pouca responsabilidade social’. ‘Suas ações abomináveis na China são uma desgraça’, disse Lantos. ‘Não compreendo como seus diretores podem dormir à noite.’ A China tem 1,3 bilhão de habitantes e apenas 111 milhões estão conectados à rede atualmente.


O presidente do subcomitê, o republicano Christopher Smith, planeja apresentar uma lei que restringiria a possibilidade de uma companhia de censurar ou filtrar informações políticas ou religiosas.


As companhias, em declarações preparadas com antecedência, pediram orientação para trabalhar no que chamaram de um mercado que representa um desafio. Elliot Schrage, do Google, disse que ‘as condições para negociar com a China incluem a autocensura, que é contrária aos valores e compromissos fundamentais do Google como companhia’.Michel Callahan, do Yahoo!, declarou que ‘estas questões vão além de uma companhia ou setor. Apelamos ao governo dos EUA para que faça o possível para nos ajudar a prover de serviços benéficos os cidadãos chineses de um modo legal e de acordo com nossos valores compartilhados’.


O governo chinês disse ontem que as regulamentações sobre internet na China cumprem totalmente a prática internacional e Pequim dá boas vindas aos provedores estrangeiros que desejem fornecer serviços de acordo com a lei.


O governo também negou as acusações de dissidentes e grupos de defesa dos direitos humanos de que alguns internautas foram presos por causa de comentários feitos na internet.


O Yahoo! foi acusado pelo Repórteres Sem Fronteiras de ter entregado informações às autoridades chinesas que levaram à prisão de dois jornalistas recentemente.’


TV DIGITAL
Gerusa Marques


TV digital: governo longe do consenso


‘Os nove ministros envolvidos na escolha do padrão de TV digital do Brasil não vão apresentar documento único sobre o assunto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Como não há consenso sobre o melhor padrão e os benefícios da escolha, cada um vai elaborar um relatório com as considerações e recomendações específicas de cada área. Os relatórios serão entregues logo depois do carnaval e o presidente terá pouco mais de uma semana para anunciar a decisão, marcada para 10 de março.


O ministro das Comunicações, Hélio Costa, disse ontem, após reunião no Palácio do Planalto com dirigentes das emissoras de TV, que o governo continua trabalhando para fazer em setembro a primeira transmissão comercial da televisão digital no País.


Essa foi a última de uma série de reuniões promovidas pelo governo, em que foram ouvidos representantes dos três padrões de TV digital em estudo – europeu, japonês e americano -, da indústria de televisores e das empresas de telefonia.


Os encontros deixaram de fora representantes da sociedade civil que, segundo Costa, podem ainda ser ouvidos quando o governo prosseguir com as discussões sobre programação e o modelo de negócios. ‘Nada impede que nós venhamos a dar o primeiro passo decisivo, que é a escolha do sistema. Se nós não fizermos isso, nós não teremos TV digital’, afirmou.


Os relatórios setoriais serão apresentados pelos Ministérios das Comunicações, da Casa Civil, da Fazenda, do Planejamento, do Desenvolvimento, da Ciência e Tecnologia, das Relações Exteriores, da Cultura e da Educação. Mas até lá o governo continuará negociando com os detentores dos três padrões.


Sem revelar o sistema a que se referiu, Costa sugeriu que a negociação com um dos três padrões está mais adiantada. ‘Há um entendimento de alto nível entre governos e empresas’, afirmou.


Os ministros estão discutindo também a possibilidade de reduzir o Imposto de Importação de equipamentos de transmissão que serão usados na TV digital. Estimam-se os investimentos em US$ 10 bilhões nos próximos dez anos para fazer essa troca.


O governo estuda ainda financiar a compra de aparelhos conversores de sinais digitais em analógicos, que permitem ao telespectador continuar usando o mesmo aparelho receptor.


Os dirigentes das emissoras de TV aberta insistiram, no encontro de ontem, na necessidade de a TV digital no Brasil ter alta definição de imagens e sons. ‘O discurso da radiodifusão brasileira está bastante alinhado. Todos temos consciência de que, sem alta definição, o Brasil está fora desse jogo, não consegue competir’, disse o presidente da Rede Bandeirantes, João Carlos Saad.


O presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Inácio Pizzani, foi mais explícito: ‘Nossa conclusão é que o sistema japonês é o sistema que interessa não só à radiodifusão, mas ao Brasil’.’


Lígia Formenti


Ministro defende tecnologia nacional


‘O ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, defendeu ontem uma quarta alternativa para a escolha do sistema digital de TV no País: a que incorpora tecnologia nacional. ‘Temos três sistemas propostos, mas nenhum traz o melhor codificador, que é o MPeg 4’, disse. ‘Por que não ter tudo do melhor?’, completou.


Para o ministro, a escolha ideal será a que for ‘mais aderente’ a modelos e tecnologias propostos por grupos brasileiros.


Há quase dois anos, o Ministério da Ciência e Tecnologia reuniu representantes da comunidade científica para discutir o modelo ideal de TV digital. Foram formados 22 consórcios com especialistas de várias instituições de pesquisa brasileiras.


‘O modelo melhor será o modelo do governo’, afirmou o ministro, um pouco antes de mencionar a quarta alternativa. ‘Se cada um ficar definido um ponto, não se chega a lugar nenhum’, completou Rezende.


O ministro das Comunicações, Hélio Costa, por exemplo, não hesita em afirmar ser favorável a adoção do modelo japonês. Pouco depois de defender o discurso único, Rezende não se conteve e sugeriu um ‘quarto modelo’.


Na disputa, também é analisada uma proposta de tecnologia européia e, por fim, americana. Esta última é a que, até agora, menos atraiu adeptos no governo.


Rezende participou ontem da reunião no Palácio do Planalto com representantes das TVs abertas para discutir qual modelo o País deve adotar. O ministro saiu no meio do encontro, mas, mesmo assim, teve uma impressão positiva.


‘Foi um encontro com gente de peso. Vários aspectos foram observados, mas há ainda muito o que pensar’, disse. Em sua avaliação, maior definição sobre o assunto somente será conquistada depois do carnaval. ‘Há vários aspectos pendentes. Vamos brincar o carnaval antes de resolver esse assunto.’’


MERCADO EDITORIAL / EUA
Stuart Elliott


Jornais dos EUA iniciam ofensiva publicitária


‘THE NEW YORK TIMES – A mídia impressa americana, acossada pela competição cada vez mais intensa pelos dólares da publicidade, tenta reagir. As associações dos setores de jornais e revistas planejam lançar campanhas elaboradas e caras para convencer empresas e agências a pensar melhor na mídia impressa como um meio de propaganda. Ambos os setores sofrem com um baixo crescimento enquanto enfrentam a internet, o marketing via e-mail e outros rivais mais novos.


A campanha das revistas está programada para começar primeiro, no dia 27, com uma série de anúncios chamativos dos Editores de Revistas dos EUA criados pela agência Mullen, de Massachusetts. A campanha é a segunda parte de um esforço de 3 anos e US$ 40 milhões em nome da indústria das revistas.


O foco da campanha das revistas serão anúncios de oito marcas e produtos, como as balas Altoids, da Kraft Foods; os cosméticos Cover Girl, da Procter & Gamble; a linha de carros Infiniti, da Nissan; e a varejista J. C. Penney. Os anúncios são desenhados para parecer terem sido arrancados das revistas onde aparecem. O texto ao lado dos anúncios ‘rasgados’ argumenta que as revistas atraem os leitores com ‘idéias que vivem para além da página’.


A campanha dos jornais começa em 20 de março. A Martin Agency, de Richmond, Virgínia, está criando os anúncios para a Associação dos Jornais dos EUA, que espera que seus membros doem espaço publicitário num valor de até US$ 50 milhões para realizar a campanha neste ano.


A iniciativa dos jornais aposta num tom humorístico para expor as virtudes da compra de espaço publicitário. Um anúncio, por exemplo, declara: ‘Todo dia tentamos imprimir alguma coisa com a qual as pessoas à direita e à esquerda possam realmente concordar. Chamamos isso de ‘propaganda’.’ A campanha afirma que o anúncio em jornais, ao contrário do que ocorre em alguns outros meios, é ‘um destino, não uma distração’.


‘É surpreendente eles não terem tentado algo assim antes’, disse Lauren Rich Fine, que acompanha o setor publicitário para o Merrill Lynch. ‘Ainda há valor na propaganda impressa, mas os anunciantes estão avaliando o retorno obtido.’ Miles E. Groves, da MG Strategic Research, endossou as preocupações de Fine. ‘O fraco desempenho do setor na entrada de 2006 complica uma projeção que eu já considerava ruim’, afirmou.


Ele previra em dezembro que os gastos com anúncios em jornais aumentaria 3,4% neste ano em relação a 2005.’


TELEVISÃO
Patrícia Villalba


Espiritualidade com delicadeza faz o sucesso de Walcyr Carrasco


‘Recorde no horário das seis parece que virou mesmo rotina na vida do autor Walcyr Carrasco. Primeiro, foi a adorável O Cravo e a Rosa, em 2000, que fez média de 34 pontos e surpreendentemente repetiu a marca quando foi reapresentada, à tarde, em 2003; em 2001, veio A Padroeira, também com bons índices e, depois, em 2003, Chocolate com Pimenta, a primeira parceria com o diretor Jorge Fernando e um sucesso ainda maior, com média nacional de 37 pontos. Agora, ele lapida o estilo, e lidando com delicadeza com o tema da espiritualidade, chega a conquistar 70% da audiência com Alma Gêma, que entra agora na reta final. É marca digna de novela das oito, e mais surpreendente ainda se pensarmos que ela foi alcançada em pleno horário de verão.


Carrasco não gosta, no entanto, de falar sobre fórmulas e possíveis segredos do sucesso – fica até mal-humorado quando é questionado sobre isso. Mas, diante dos fatos, reconhece que o toque de espiritualidade que deu à trama é, sim, um dos ingredientes que mais contribuiu para que ela arrebatasse tantos telespectadores. O quase historiador – antes de optar pela carreira de jornalista, ele cursou três anos de História na USP – que, não por acaso, é hoje chamado de mago das novelas de época recebeu o Estado para uma conversa.


O Cravo e a Rosa e Chocolate com Pimenta foram sucessos. Alma Gêmea, ainda mais. Você acha que o tema da espiritualidade é o diferencial que levou a um sucesso ainda maior?


Gosto muito do tema, claro, senão não escreveria sobre ele. Mas não posso dizer que seja o responsável pelo sucesso. As pessoas me perguntam por quê do sucesso, e eu digo que se a gente soubesse, seria fácil. No caso, acho que o tema da espiritualidade contribuiu sim, mas não só ele. Sem dúvida, este é um momento em que o tema da espiritualidade é muito forte no mundo inteiro.


E esta força foi determinante na escolha do tema para a novela?


Aí é que está: não. Faço questão de frisar que não penso assim. Sou Rosa Cruz há mais de 25 anos, e li sobre espiritualidade durante a minha vida toda. Foi o que me moveu na escola do tema.


Já vi você ser questionado se agora, depois do sucesso no horário das seis, estaria preparado para escrever uma novela das oito. Você vê uma distinção hierárquica entre os horários?


Não vejo uma distinção de fato, até porque a Alma Gêmea está dando um Ibope digno de novela das oito. Mas não sou só eu que não vejo esta distinção, o público também não vê, porque quando gosta de uma história, se deixa levar por ela. A Globo também não vê esta hierarquia entre as novelas, até porque é estrategicamente importante ter uma novela das seis que faz sucesso.


A formação em História foi determinante para que você agora escreva novelas de época?


Sim. O fundamental que eu aprendi na faculdade de História foi ter o entendimento de como pensavam as pessoas no passado. Isso é um fator de sucesso de uma novela de época, a chave está em você entender como os costumes da época refletiam na cabeça das pessoas.


Como foi quando escreveu Xica da Silva (1996) com pseudônimo?


Eu trabalhava no SBT, mas não como autor. Fui convidado para escrever para a Manchete, mas não consegui o desligamento do SBT, e achei que seria desconfortável escrever para outra emissora. Então, propus fazer com um pseudônimo – Adamo Angel -, mas hoje não faria isso. Foi muito interessante, porque pude ver a reação das pessoas sem estar na linha de frente da novela. Ninguém sabia, nem os atores, a equipe. Só o Walter Avancini (o diretor) sabia.


Basta um deslize na audiência para se ouvir falar que o modelo das novelas está desgastado. Você acha que é possível ou até mesmo necessária uma revolução na fórmula?


Não sei por que todo o crítico de arte privilegia a palavra revolução, como se a busca de uma nova forma fosse um fator de qualidade. E não é, necessariamente. Você pode promover uma revolução e sair uma coisa espantosa. A gente vive uma época em que a crítica acredita muito na busca pela forma. Mas eu acredito na busca pelo conteúdo. Nunca vou me esquecer de uma vez em que, quando era jornalista, me pediram uma matéria sobre a morte do biquíni, por causa da volta do maiô inteiro. Não fiz a matéria. E as mulheres continuam comprando biquínis, e o público ainda vê novela.


Você acha que como autor de novelas tem uma marca?


Acho que minhas novelas sempre têm um toque de humor. Se bem que o Silvio de Abreu (de Belíssima) também tem isso… Não sei, acho que estou construindo a minha marca.’


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‘É impressionante o que me pedem para fazer com a vilã’


‘Autor diz que público solicita coisas inacreditáveis para o fim de Cristina (Flávia Alessandra), mas adverte que crueldade tem limite


Entre o humor que passeia pelo pastelão de que o diretor Jorge Fernando tanto gosta e a ‘ingenuidade de época’ que está sempre presente nas novelas mais recentes de Walcyr Carrasco, Alma Gêmea fala não só de conceitos do espiritismo, mas de espiritualidade em vários de seus aspectos. É mais abrangente, por exemplo, que A Viagem, a mais famosa das novelas espíritas, sucesso em 1994 que começou a ser reapresentada pela segunda vez pela Globo na segunda-feira semana (leia ao lado).


Carrasco vai do xamanismo ao espiritismo, passa pelo fantasmagórico, e apóia a história dos protagonistas Serena e Rafael – vividos por Priscila Fantin e Eduardo Moscovis – na idéia romântica de que todos nós temos uma alma gêmea, um par genuíno que pode resistir a todas as adversidades da vida, até mesmo à morte. ‘Não fiz uma pesquisa formal para falar de espiritualidade nesta novela’, explica o autor. ‘Como sou Rosa Cruz, convivo com isso desde sempre. E por ser a Rosa Cruz uma ordem mística muito aberta, a gente acaba estudando desde os fenômenos xamânicos aos conceitos espíritas.’


O autor diz que a chave de uma novela de época está em se conseguir sintetizar o pensamento das pessoas no tempo em que se passa a trama. Em Alma Gêmea, neste sentido, é emblemática a história da personagem Alexandra (Nívea Stelmann), médium incompreendida que é tida como louca. O caso era muito comum – até Chico Xavier, quando criança, passou por isso. ‘Eu soube de várias histórias parecidas, e criei a personagem baseada na história de uma vizinha minha que, quando eu era adolescente, foi tida como esquizofrênica por ser médium’, conta o autor. ‘O curioso é que depois da novela comecei a ser procurado com muita freqüência por pessoas que passaram por isso.’


Carrasco rejeita qualquer tipo de tentativa de se estabelecer um receita para o sucesso da novela, que tem 67% da audiência grudada na Globo em plena seis horas da tarde, com o dia ainda claro por causa do horário de verão.


Um bom palpite é, com certeza, o próprio tema do espiritismo, que costuma arrebatar multidões seja na TV, em livros ou nos cinemas. Outro ingrediente são as esquetes de humor, na linha do que ele havia feito em Cravo e a Rosa e Chocolate com Pimenta, com as confusões do núcleo caipira, presente nas três novelas. E, claro, o desempenho excelente da maioria dos atores, como Drica Moraes, que também participou das outras duas novelas. Ela faz a divertida Olívia, um retrato da mulher desquitada da década de 40, dama de sangue azul que para sobreviver tem de assumir a administração de um restaurante.


Há ainda uma vilã detestável, peça fundamental do folhetim clássico. Linda e pérfida, a Cristina de Flávia Alessandra ajuda, e muito, no Ibope. A atriz passou um bom tempo como a campeã de cartas entre o elenco da Globo. E o banho de lama que ela tomou, ao ser atirada no chiqueiro-purgatório da novela por Mirna (Fernanda de Souza) fez a novela bater o recorde de audiência, registrando 48 pontos no dia 30 de janeiro. Foram 70% de share, o que significa que de cada 10 televisores ligados no País, 7 estavam sintonizados na novela. ‘É impressionante o que me pedem para fazer com a Cristina’, diverte-se o autor. ‘Nem que se eu fosse o autor mais cruel do mundo, poderia fazer. Dizem que prisão ou morte é pouco, que ela deveria ser cortada em pedacinhos.’


A novela termina no dia 10, e o castigo para a vilã vem a galope. Não será digno de um Encaixotando Helena, com a moça cortada em pedacinhos, mas com certeza lavará a alma da audiência, que parece mesmo gostar de se vingar dos maus personagens da ficção, já que é praticamente impossível atirar, por exemplo, um político corrupto na lama. Walcyr já concluiu o texto – dele, revela apenas que escreveu dois finais para a trama. Que o casal principal termina junto, não resta dúvida – afinal, é uma novela essencialmente romântica, e há de se fazer jus ao título. O público quer saber mesmo o destino de Cristina, que já foi expulsa de casa e anda sendo atormentada por um fantasma. É de Flávia Alessandra o grande final.’


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Outro Francisco vai para as telas


‘O diretor Breno Silveira e boa parte de sua equipe em 2 Filhos de Francisco vão se unir novamente para contar a vida de Chico Xavier, o médium mais famoso do País. O projeto é uma parceria entre Conspiração Filmes, Lumière e Columbia, com apoio da Globo Filmes. ‘Vai ser um filmão’, diz, empolgadíssimo, o escritor Marcel Souto Maior, autor de As Vidas de Chico Xavier (Editora Planeta, R$ 34,90), a biografia do médium que já vendeu cerca de 200 mil exemplares e que agora será adaptada para o cinema.


Agora em fase de roteirização, o filme deve começar a ser rodado no ano que vem e tem lançamento previsto para o final de 2007. Marcel participa da equipe de roteiro, a mesma de 2 Filhos de Francisco, que terá de novo Paula Andrade. ‘O roteiro de 2 Filhos é muito bom, muito jornalístico, e a idéia é repetirmos o processo’, antecipa Marcel. ‘Vamos na cidade de Chico, Pedro Leopoldo (em Minas), e devemos passar uma temporada em Uberaba, para onde ele se mudou em 1959.’


O escritor adianta, ainda, que o filme vai fugir dos efeitos especiais. ‘Não vamos ter nada de fantasmas, assombrações, essas coisas’, diz. ‘Queremos retratar a realidade com a verdade que o 2 Filhos tem. Vamos contar a história de um brasileiro movido pela fé que ajudou milhares de pessoas a lidarem com a morte.’


Marcel acaba de lançar As Lições de Chico Xavier (Editora Planeta, R$ 19), onde conta a relação dele – um jornalista cético – com o médium durante a produção da biografia. É o terceiro livro dele sobre o assunto. Por Trás do Véu de Ísis (Editora Planeta, R$ 29,90), livro-reportagem onde Marcel investiga os fenômenos mediúnicos, também vai ao cinema. ‘Será um documentário narrado por mim, e dirigido por Emiliano Ribeiro (de As Meninas)’, conta o autor.’


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Um tema entre a curiosidade e a fé


‘Antes de Walcyr Carrasco, em 1994, Ivani Ribeiro estreava a sua A Viagem que, por coincidência, começou a ser reprisada na segunda-feira pela Globo à tarde – a segunda vez dela no Vale a Pena Ver de Novo. Conta a história de Alexandre, numa interpretação impressionante de Guilherme Fontes, sujeito metido em trajes de couro e que passa de delinqüente pretensamente juvenil para ‘espírito sem luz’.


A trama, remake de um sucesso da Tupi em 1976, causou espécie, fomentou polêmica sobre a polêmica eterna da vida após a morte e é até hoje a maior audiência da emissora no horário das sete – fez 56 pontos na primeira semana de exibição e média de 52 pontos ao longo da exibição.


Entre a curiosidade e a fé, o tema do espiritismo é quase sempre sucesso, tanto em boas produções como em programas de gosto duvidoso. A onda não é exclusividade das novelas da Globo, mas está fortemente presente em seriados americanos também. Ghost Whisperer e Medium são dois exemplos de imensa popularidade – exibidos no Brasil pelo canal pago Sony.


Ex-musa adolescente e cantora que não deu muito certo, Jennifer Love Hewitt conquistou o público americano como a médium Melinda Gordon, de Ghost Whisperer, uma personagem acostumada a se comunicar com os mortos desde pequena. A série é baseada nas experiências do médium norte-americano James Van Praagh. Narra as aventuras de Melinda, que ajuda espíritos ainda apegados ao plano terrestre a resolverem seus problemas e encontrar a luz – aquela mesmo, do fim do túnel. Exibida nos Estados Unidos pela CBS, é vista por mais de 11 milhões de espectadores, a maior audiência no horário desde a estréia em setembro.


A brasileira Sônia Braga, figura fácil na TV americana ultimamente, fez uma participação especial na série. Ela vive uma mãe-fantasma de um lutador de boxe, no episódio que foi ao ar pela Sony no último dia 6.


Com menos sensibilidade que Ghost Whisperer, Medium também fala da vida de uma mulher que tem a capacidade de conversar com os mortos. É de novo inspirada numa história real – o que parece ser um ponto de honra de produções deste tipo, aliás -, desta vez a da médium Allison DuBois, vivida pela ex-musa do cinema cult Patrícia Arquette (de A Estrada Perdida, de David Lynch). Allison tenta equilibrar a vida doméstica com seus dons premonitórios, que incluem falar com os mortos, ver o futuro em sonho e até ler pensamentos. Poderia ser um aspecto interessante, não fosse tão mal aproveitado. Em vez disso, a trama bate pesado na mãozinha que a médium costuma dar à polícia americana na resolução de crimes.


A moça tanto ajuda, que acaba sendo contratada pela polícia do Texas – e, poxa vida, ela já é estudante de Direito… Sim, é um pouco xarope, e abusa do seu potencial fantasmagórico. Mas deu a Patrícia o Emmy de Melhor Atriz em Série Dramática e, ao lado de Ghost Whisperer, é um dos grandes sucessos da TV americana na linha do ‘eu vejo gente morta’.


Fora da ficção assumida como tal, e por falar em coisas muito difíceis mesmo de acreditar, outro que faz sucesso nos Estados Unidos é o médium John Edward, no papel dele mesmo. É um fenômeno de vendas que se estende por livrarias e palestras que ele dá em todo o território americano. Depois da experiência de enorme sucesso no canal a cabo Sci-Fi – com Crossing Over With John Edward, em 2001 -, ele estréia um novo programa no Women’s Entertainment no próximo mês, o John Edward Cross Country. Tem certa notoriedade no Brasil também, depois que Crossing Over… foi apresentado pelo canal pago People And Arts (como Fazendo Contato), uma espécie de mesa branca eletrônica.


Edward, em cena, reúne pessoas que perderam amigos e parentes, e diz receber, ali mesmo, mensagens – sopradas em seus ouvidos. A atuação dele é péssima e o cheiro de armação é forte, mas o fato é que o livro baseado no programa ficou algumas semanas entre as primeiras posições na lista dos mais vendidos, inclusive por aqui.’


Etienne Jacintho


Temporada ganha fôlego


‘Para competir com as boas séries dos canais Sony, AXN e Fox – que colocam no ar as novas temporadas de suas séries mais bem-sucedidas -, as emissoras pagas trazem boas novidades numa época em que quase não havia estréias. A TNT lança a série de investigação The Closer, além da nova temporada de Battlestar Galactica – a segunda fase da boa série jovem Veronica Mars está em cartaz desde 31 de janeiro, às terças, às 18 horas. Já o canal FX aposta em My Name is Earl e no não tão divertido The Office americano. Já a Fox colocará no ar outra série de investigação, Bones, em março.


Hoje, a Sony estréia a segunda fase de Desperate Housewives, às 20 horas. O episódio – imperdível para os fãs – mostra uma das melhores performances de Marcia Cross, a Bree. Nessa temporada, Desperate parece mais um novelão do que uma série. E traz novos personagens. Às 21 horas, o canal exibe o segundo ano de Grey’s Anatomy, que estreou no ano passado nos EUA sem nenhuma pretensão – na verdade, a estréia da série foi adiada algumas vezes -, é sucesso lá e vai muito bem por aqui.


Em março, o AXN trará a segunda temporada mais esperada da TV atualmente: a de Lost. Com novidades no elenco e mais mistérios a serem resolvidos – ou não -, o seriado chegará ao País no dia 6 de março, logo após a exibição do final da primeira temporada na Globo. Porém em um horário muito mais fácil, às 22 horas. E a Fox trará também em março a quinta fase de 24 Horas, a nova saga de Jack Bauer.


NOVAS SÉRIES


The Closer, na TNT, terá início no dia 19 de março, às 20 horas. A protagonista Kyra Sedgwick recebeu indicação ao Globo de Ouro por seu papel. Já a boa comédia My Name is Earl chegará ao FX em abril e The Office, em março. Bones estreará na Fox em 21 de março, às 22 horas.’


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