Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Luiz Francisco

‘O ‘Diário do Poder Judiciário’ da Bahia circulou ontem com uma edição especial relatando apenas as ‘realizações’ do primeiro ano da administração do presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Gilberto Caribé. Na edição de 16 páginas, o nome do desembargador é citado pelo menos 125 vezes e sua foto aparece em outras 15 oportunidades.

Uma delas ocupa a primeira página da edição, que é toda em cores, fugindo do padrão normal da impressão. Nas 16 páginas há um selo: ‘Edição Especial – 1º Ano da Administração Caribé’.

A assessoria de imprensa do órgão não revelou os valores gastos. Disse que não se tratava de propaganda pessoal, mas de ‘balanço’ de ano de administração que se limitava a divulgar ‘fatos’. Na capa, o título é ‘Tudo sobre as atividades do Poder Judiciário baiano nos últimos 12 meses’.

A legenda da foto do desembargador, na capa, diz: ‘O presidente Gilberto Caribé busca tornar a Justiça baiana mais célere, preservando a sua independência e respeitando os outros Poderes’.

A edição revela os encontros e inaugurações feitas pelo desembargador. A Folha ligou para o Ministério Público da BA para saber da legalidade da publicação, mas o procurador-chefe, Aquiles Siquara, não ligou de volta.’



POLÍTICA CULTURAL
Beth Néspoli

‘Teatro vai promover debate público’, copyright O Estado de S. Paulo, 4/2/05

‘Na noite de quarta-feira, um grupo de atores e diretores teatrais parecia não se dar conta do temporal de verão que despencava sobre a cidade. No palco do Teatro Fábrica, um dos novos espaços teatrais surgidos na cidade nos últimos dois anos, planejavam a organização de um debate aberto sobre políticas culturais públicas, marcado para o dia 16, às 20 horas, na Galeria Olido. Não era a primeira reunião do grupo. A mobilização da classe teatral vem sendo uma constante, desde o surgimento do movimento Arte contra a Barbárie, há cerca de 6 anos. ‘Mas é a primeira vez que passamos por uma mudança de gestão desde que o movimento alcançou conquistas como a aprovação e implantação da Lei de Fomento ao Teatro’, observa Sérgio Siviero, ator do Teatro da Vertigem, grupo dirigido por Antônio Araújo.

Diante do quadro de passagem de poder político na administração da cidade, e de problemas como atrasos e cancelamentos no pagamento de grupos com serviços já prestados ao município, uma das primeiras ações do movimento foi solicitar uma audiência com o recém-nomeado secretário municipal de Cultura, Emanoel Araújo. Assim, a novidade na conversa daquela noite chuvosa acabou sendo o encontro com o secretário. ‘A idéia era colocá-lo a par das políticas públicas que estão em andamento no últimos anos, fruto da organização do movimento que, fazemos questão de ressaltar, abriga pessoas das mais diversas opções estéticas e também partidárias’, diz Siviero. ‘Não somos uma voz única, pelo contrário. O que nos une é um modelo de política pública’, observa a diretora teatral Georgette Fadel.

‘Notamos que muitas críticas feitas ao programa público de fomento ao teatro – algumas vindas até mesmo de outros segmentos da classe teatral – são fruto de ignorância. Por isso, achamos importante promover um debate, com representantes de diversos segmentos da atividade artística, para mais uma vez explicitar o modelo de política pública proposto por essa lei – com suas implicações éticas e estéticas’, afirma Siviero. ‘Mas fazemos questão de um debate público: a transparência está no espírito da Lei de Fomento’, diz Sérgio Audi, ator do grupo Teatro Fábrica.

No palco do Fábrica, os artistas enfatizam que estavam planejando três ações diferentes: o encontro com o secretário, o debate do dia 16 e ainda uma série de manifestações artísticas, promovidas por grupos fomentados e grupos vocacionais que tomarão conta do centro da cidade no dia 5 de março. ‘A primeira delas, o encontro com o secretário, foi bastante profícua. Ele não só cedeu a Galeria Olido para abrigar o debate, que seria no Fábrica, como se comprometeu a participar da mesa’, conta José Fernando, diretor da cia. Teatro de Narradores.

Em entrevista ao Estado, na manhã de ontem, o secretário mostrou ter saído do encontro com uma boa impressão. ‘O compromisso com o debate está anotado na minha agenda. Fiquei impressionado com o nível da conversa, não sei como posso definir… Eu fiz teatro, criei cenografias para Chico de Assis (dramaturgo), nos tempo dos Centros Populares de Cultura’, lembrou. Guardadas as diferenças, o secretário apontou semelhanças entre esses dois `momentos´ teatrais, nos quais se busca não só democratizar o acesso do público ao teatro como ampliar e aprofundar a reflexão que essa arte pode propiciar. ‘O fomento ao teatro é importante; há problemas como pagamentos em atraso, mas o prefeito está disposto a cumprir todos os compromissos da gestão anterior’, diz.

No caso do fomento ao teatro, por se tratar de lei, já existe um aporte de verba, de R$ 9 milhões, destinado ao seu cumprimento no orçamento de 2005. Isso facilita, não? ‘Sim, facilita, embora existam mesmo problemas no que diz respeito aos recursos. Mas há clareza e sensibilidade da parte do prefeito para as questões dos artistas.’

A próxima ação do grupo será preparar um documento, para entregar ao secretário, com dados precisos das implicações do Fomento no panorama teatral. ‘Nesse documento estarão, por exemplo, os números do programa e dados sobre o seu alcance junto ao público, a forma como interferiu na `geografia cultural´ da cidade’, observa José Fernando. ‘Em três anos de programa 79 espetáculos foram criados por 53 grupos, atingindo um público de 1,3 milhão de espectadores nos quatro cantos da cidade’, argumenta Ney Piacentini, ator do Cia. do Latão e representante da Cooperativa Paulista de Teatro. ‘Isso é 10% da população’, enfatiza a diretora Georgette Fadel. No que diz respeito à estética, vale lembrar que, em 2003, a Associação Paulista de Críticos de Artes premiou seis espetáculos como os melhores do ano: três deles eram resultado do trabalho de grupos fomentados.’



Leonel Rocha

‘Setor de cultura vai receber R$ 1,2 bi neste ano’, copyright O Estado de S. Paulo, 3/2/05

‘Produtores culturais de todos os segmentos deverão receber, neste ano, cerca de R$ 1,2 bilhão do governo federal para financiar seus projetos. A estimativa foi feita ontem pelo subsecretário de Patrocínio da Secretaria de Comunicação Social do governo, Jafete Abrahão. Esse dinheiro vai ser repassado aos produtores diretamente através de recursos do Ministério da Cultura, de incentivos fiscais concedidos às empresas e das aplicações que serão feitas pelas empresas estatais federais. Um aumento de 20% em relação ao ano passado.

‘A cultura finalmente começou a ganhar espaço institucional e político. Já era hora’, comemorou o ministro da Cultura, Gilberto Gil, que compareceu ontem ao anúncio da política de investimento em produções culturais do Banco do Brasil. Com o ministro estavam vários artistas como os atores Walmor Chagas e Matheus Nachtergaele, o diretor Paulo José e o cineasta Vladimir Carvalho. ‘Ótimo não está, mas estamos melhorando’, disse Gil.

O BB anunciou ontem no centro cultural da instituição em Brasília que vai destinar cerca de R$ 47 milhões para o financiamento de espetáculos teatrais, dança, cinema e vídeo, shows musicais e concertos, exposições de artes plásticas, além de projetos educativos como oficinas de artes e cursos. Os novos recursos significam aumento de 33% em comparação com o ano passado.

‘Os investimentos do banco na área cultural geram emprego, renda e contabilizam sempre a contrapartida social, facilitando o acesso da sociedade à diversidade cultural brasileira’, afirmou o diretor de Marketing e Comunicação do BB, Henrique Pizzolato. Ele anunciou, ainda, a criação do centro cultural do banco no Recife para este ano e a ampliação de 84 para 273 dias a atividade cultural em um dos centros do BB e no circuito cultural do banco.

Com o aumento da verba para financiar a cultura, o BB já escolheu 235 projetos e deve realizar quase 2 mil apresentações e exposições neste ano. Em 2004 os centros culturais do BB receberam 3,9 milhões de pessoas. Na contabilidade da instituição, os 572 projetos realizados criaram 14 mil empregos diretos e outros 70 mil indiretos. Este ano, o BB vai assinar convênios até com o Movimento dos Sem-Terra para financiar o projeto Arca das Letras, uma biblioteca ambulante que vai circular entre as assentamentos rurais patrocinados pelo MST.’



Ricardo Westin

‘Banco do Brasil investirá R$ 46 mi’, copyright Folha de S. Paulo, 3/2/05

‘O Banco do Brasil anunciou ontem que os investimentos em seus centros culturais subirão de R$ 35 milhões, valor do ano passado, para R$ 46 milhões neste ano.

‘O aumento da rentabilidade do banco nos permitiu aumentar os recursos destinados à cultura’, afirmou Henrique Pizzolato, diretor de marketing e comunicação.

O anúncio da cifra foi feito no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) de Brasília e teve a presença do ministro da Cultura, Gilberto Gil, e do subsecretário de Patrocínios da Secom (Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica), Jafete Abrahão.

O Banco do Brasil tem hoje três centros culturais, em Brasília, São Paulo e Rio. O quarto CCBB, em Recife, fica pronto no ano que vem. No ano passado, 3,7 milhões de pessoas viram exposições, filmes e peças de teatro nos CCBBs.

Além dos centros culturais, há o chamado Circuito Cultural Banco do Brasil, com exposições e espetáculos que percorrem cidades que não têm um CCBB. De acordo com Pizzolato, esse ‘CCBB itinerante’ deve alcançar 18 cidades (foram 16 no ano passado).

Apesar da presença do ministro da Cultura e de um representante da Secretaria de Comunicação, os valores investidos em cultura não têm reforço de nenhum dos dois órgãos. Eles se limitam a um papel de coordenação para garantir a diversidade dos projetos aprovados e evitar que haja uma inflação nos custos da área cultural.

‘Vocês, artistas, têm de pressionar as empresas estatais e privadas para que liberem mais verbas’, afirmou o subsecretário da Secom, referindo-se ao fato de terem sido aprovados para este ano apenas 235 dos 2.500 projetos.

‘A inscrição pela internet dá mais transparência ao processo. Evita o balconismo’, disse o ator Matheus Nachtergaele, que neste ano apresenta a peça ‘Aníbal Cinco Minutos’, sobre a espera pelo resultado de um teste de HIV.

Já Gil falou que o setor cultural ‘ótimo não está, mas está melhorando’ e que, ‘felizmente’, os artistas são sempre ‘insaciáveis’. ‘Nunca estão satisfeitos com as verbas que têm, e isso é ótimo.’’



O DIA
Milton Coelho da Graça

‘O erro às vezes acende a lâmpada’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 4/2/05

‘A primeira página de O DIA no último dia de 2004 foi louvada em alguns setores do jornal como genial. Uma foto do busto de Carlos Drummond de Andrade, logo abaixo do logotipo, e, vazadas em fundo azul, algumas linhas com versos do grande poeta.

Nada poderia ser tão simbólico dos problemas do jornal, que perdeu mais de cem mil exemplares diários de circulação desde o lançamento do competidor EXTRA pelas Organizações Globo e sem nunca ter conseguido definir uma nova estratégia. Os problemas foram agravados com a morte de seu proprietário, Ari Carvalho, as brigas entre as três irmãs herdeiras, as constantes demissões de bons profissionais etc.

O diretor Paulo Fraga foi muito feliz ao definir os problemas de seu jornal em uma curta entrevista a Comunique-se, durante o Congresso Brasileiro de Jornais. ‘Somos a mortadela espremida entre os dois lados do pão – O GLOBO e o EXTRA – e temos de descobrir o nosso caminho.’

Mas os problemas internos foram definindo caminhos, ou melhor,descaminhos, distantes do desejo de Fraga. E, aí, tudo desembocou na edição de 31 de dezembro, uma parábola gráfica da falta de rumo: Drummond – infelizmente ainda um desconhecido para a maioria dos leitores do jornal, ilustrando o maior equívoco que um jornal dependente exclusivamente de venda em banca pode cometer: a manchete FELIZ ANO NOVO ficou abaixo da dobra, escondida do público.

Não temos maiores informações sobre o processo interno de decisão que culminou com o convite a Eucimar de Oliveira, diretor de redação de O DIA até março de 1998, para voltar a dirigir o jornal. Mas certamente foi um debate saudável baseado na convicção de que Eucimar – comandante de uma das melhores fases do jornal, e, depois, do planejamento, lançamento e vitoriosa ascensão do EXTRA – seria o nome mais indicado para tirar a mortadela de sua incômoda situação.’