Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Luiz Garcia

‘Num mundo ideal, campanhas eleitorais para prefeituras representariam a troca de votos por idéias sensatas, projetos viáveis e soluções práticas para problemas que afetam praticamente todos os eleitores.

É um tipo de campanha em que o universo pequeno deveria tornar bastante difícil vender pastéis de vento ao cidadão, que sabe onde lhe aperta o sapato.

Acontece que a disputa deste ano no Rio, lamenta-se informar, tem mostrado que a iguaria eólica é prato da temporada. Pensando bem, não há grande razão para espanto: isso faz destas eleições locais algo bastante parecido com todas as outras que a memória alcança.

No debate pela televisão, outro dia, candidatos prometeram dar solução municipal a diversas questões de responsabilidade estadual e federal. Falaram em resolver problemas na área do saneamento, que é província do governo do estado, e em oferecer isenção ou redução de impostos federais e estaduais. Houve quem acenasse com passagens de ônibus por um real ou ressuscitasse a afogada idéia de transportes públicos por mar (abandonada quando uma comissão de bravos vereadores testou o trajeto e em cinco minutos começou a vomitar as tripas).

Ninguém tentou se explicar quando a empulhação foi exposta no GLOBO do dia seguinte. Isso é grave: revela falta de amor à verdade e confiança em que o eleitorado é suficientemente desinformado. Pelo jeito, considera-se o eleitor carioca tão desatento como ignorante.

Esta semana, pelo menos três candidatos desrespeitaram a inteligência do eleitor ao prometerem proteger os camelôs do Centro da cidade contra o que seria a sanha assassina da Guarda Municipal. Dependendo do ângulo de visão do observador, a Guarda pode ser definida como devidamente enérgica ou desnecessariamente violenta. Além disso, quase ninguém é camelô por vocação: na grande maioria dos casos, a economia informal não é opção e sim último recurso.

Mas é preciso miopia aguda para não perceber que: 1. Não é raro que os próprios camelôs usem a violência na proteção de seus pontos; 2. Eles usurparam a possibilidade de trabalho dos deficientes físicos que antigamente trabalhavam nas calçadas; e 3. Vendem mercadoria pirata em grande escala.

Todos os candidatos sabem disso, e ofende a inteligência do eleitor quem faz a promessa de campanha de proteger contra a aplicação das leis urbanas quem, como disse um dos postulantes, ‘tem uma banquinha para vender coisas’. E o prefeito fará ofensa de igual porte se ordenar uma operação-porrete só para marcar sua falta de semelhança com os demais competidores.’



Eder Chiodetto

‘Candidatos retocam rosto para atrair eleitor’, copyright Folha de S. Paulo, 9/7/04

‘O início das campanhas oficiais às prefeituras, na última terça-feira, trouxe de volta as velhas imagens de candidatos à caça de situações de apelo popular. A prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), fez uma caminhada pelo centro da cidade durante a qual seu retrato oficial de campanha podia ser visto em faixas, cartazes e até nas kombis que transportam os cabos eleitorais.

Para espanto geral a imagem que começa a ocupar vários espaços na cidade mostra uma Marta muito mais jovem, sem marcas de rugas e com os olhos maiores e mais azuis que o habitual.

O uso de retoques na imagem de candidatos tem se tornado uma constante nas últimas campanhas. A intenção, ao que parece, é fazer com que o candidato transmita com seu semblante algo que nem sempre é possível observar em seu rosto no dia-a-dia.

Segundo Lázaro Lúcio Júnior, professor de software para mídia impressa da Impacta e especialista em tratamento de imagens pelo programa photoshop, a imagem da prefeita foi nitidamente retocada com vários tipos de ferramenta que o software possibilita.

‘Certamente essa imagem foi tratada com filtros que suavizam e até eliminam imperfeições da pele, como ‘clone stamp’, ‘healing brush’, ‘brightness/contrast’, ‘color balance’, filtros ‘dust & scratches’ e ‘unsharpen mask’, por exemplo. É possível fazer uma verdadeira limpeza de pele alternando esses filtros. O branco dos olhos, para dar mais vivacidade, e a uniformidade da tonalidade dos dentes também foram trabalhados. Fica claro o uso do filtro ‘liquify’, ótima ferramenta para abrir mais os olhos, diminuir o nariz, alterar o queixo etc. O tom amarelado que geralmente aparece nas imagens dos candidatos reforça a idéia de saúde’, diz.

Produto

O fotógrafo Bob Wolfenson, que já teve entre seus clientes vários políticos, prefere fotografar homens sem maquiagem e utiliza recursos de iluminação para amenizar ou acentuar algumas partes do rosto. ‘Numa campanha do José Serra para o Senado utilizei uma chapa de alumínio que serviu de rebatedor para suavizar as olheiras do candidato’, diz. ‘Para essas fotos geralmente utilizo uma luz chamada de cosmética, que é bem suave, sem relevo. Muitas vezes vejo a imagem finalizada pela agência de publicidade do candidato e me espanto ao ver no que ela se transformou. Mas não ligo, é como uma foto de produto, não é um retrato que leva a minha assinatura. Mais que a jovialidade, é a beleza que denota mais credibilidade. O Collor se elegeu por conta do cuidado que havia com a imagem dele’, conclui.

Para a publicitária Maria Lúcia Cucci, vice-presidente de mídia da Publicis Salles Norton, que atuou nas campanhas de Tancredo Neves e Ermínio de Moraes, a função desses retratos retocados é ‘encantar o eleitorado’.

‘Como a maior parte das pessoas nunca vai ter contato direto com os candidatos, essa é a imagem que ficará na lembrança. É preciso que o candidato transmita afabilidade, além de um aspecto bonito e saudável. Por isso, os óculos do Maluf foram mudados, e a Erundina aparece bem penteada, de batom e com um sorriso bem estudado. Hoje, os candidatos são vendidos como produtos. No fundo é tudo falso mesmo, é como foto de comida que fica linda, mas não serve para o consumo. Também é uma forma de rebater as imagens que a imprensa publica dos candidatos em situações constrangedoras.’

‘Mas essa imagem da Marta é um deboche. Ficou um exagero o rejuvenescimento. Na frente do meu escritório, há uma foto dela. No primeiro dia, estava com os olhos muito azuis e o olhar meio perdido. Depois, trocaram a foto por uma com o azul dos olhos mais escuros e olhar mais firme. O artifício pode sair pela culatra. Muito eleitor pode se sentir ludibriado por uma imagem falsa’, afirmou Cucci.’



Jade Augusto Gola

‘Das ruas para a TV’, copyright O Estado de S. Paulo, 9/7/04

‘A campanha na TV só começará em 17 de agosto, mas José Serra já está gravando cenas para os programas. Toda vez que vai para o corpo-a-corpo na rua, uma equipe o acompanha para cima e para baixo, captando imagens que possa usar.

Ontem, ao falar com jornalistas na creche Santa Luisa de Marillac, um técnico interrompeu Serra, tentando arrumar o microfone em sua lapela, que já virou uma peça permanente de vestuário: ‘E eu achando que fosse um jornalista me cutucando’, brincou o tucano.

A GW Comunicações é a responsável pela captação de imagens externas. Além de Serra, assessores vão atrás de notícias, entrevistam eleitores e fazem gravações de áudio sobre o dia-a-dia do tucano.’



Cesar Tartaglia e Elenilce Bottari

‘Crivella se esquece de duas TVs’, copyright O Globo, 10/7/04

‘O senador Marcelo Crivella, candidato a prefeito pelo PL, deixou de declarar ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) a propriedade de duas emissoras de TV, em São Paulo e na Bahia. O Ministério das Comunicações confirmou ontem que o candidato é cotista das duas empresas. No site do órgão, atualizado em janeiro deste ano, Crivella aparece como diretor da TV Cabrália, em Itabuna (BA), e sócio da TV Record de Franca (SP), ambas ligadas à Igreja Universal do Reino de Deus, da qual o senador — sobrinho de Edir Macedo, fundador da seita — é pastor. O candidato, que declarou patrimônio de R$ 21.846 ao TRE, disse ontem que se desfez das ações há mais de dez anos, mas que não se lembra para quem passou as cotas.

De acordo com a lei, Crivella fica sujeito a ter negado o registro de sua candidatura. Sem citar nomes, o presidente do TRE, desembargador Marcus Faver, disse que o candidato que tiver omitido informações sobre o patrimônio pode ser impugnado por outro concorrente, por um partido político ou pelo Ministério Público. O indeferimento da candidatura é a primeira das sanções cabíveis. No caso de o candidato se eleger antes de ser impugnado, ele fica sujeito à cassação do mandato.

— A impugnação deve ser feita junto ao juiz eleitoral. Ao TRE cabe dar curso ao processo, caso seja deferido pelo juiz, e receber o recurso do candidato impugnado — explicou.

Candidato não se lembra para quem vendeu TVs

O senador Crivella afirmou ontem que não tem mais participação nas emissoras. Ele atribuiu à morosidade do Ministério das Comunicações o fato de seu nome ainda constar no órgão como sócio das TVs.

— Não sou sócio delas. Há muitos anos essas ações já foram passadas para outras pessoas. Mas os processos do Ministério das Comunicações demoram dez anos para passar. Portanto, quero reafirmar que não sou sócio de nenhuma empresa de comunicações. Já faz tantos anos que nem me lembro, mas não foi ninguém da Igreja Universal — afirmou.

Segundo técnicos da Receita Federal, quem omite sua participação societária em emissoras de televisão ou rádio na declaração de bens do Imposto de Renda comete crime de sonegação fiscal. O dono tem que declarar à Receita tanto o capital do patrimônio quanto a remuneração que recebe dele. O sócio, de acordo com os técnicos, só fica desobrigado de prestar contas ao Fisco se a concessão estiver inativa — o que não é o caso. A TV Cabrália, no Sul da Bahia, é repetidora da Rede Mulher, e a Record está no ar há mais de 20 anos.

No documento que apresentou ao TRE, Crivella também não declarou o apartamento em que mora, na Barra da Tijuca. Segundo o senador, o imóvel é alugado e o aluguel é pago pela Igreja Universal. Na Avenida Afonso de Taynay, quase esquina com a Praia da Barra, o apartamento tem quatro suítes e 300 metros quadrados. Um apartamento ao lado do do senador está à venda por R$ 1,6 milhão.’