Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Luiz Garcia


‘Ponto para o presidente da República: durante boa parte do depoimento de José Dirceu, terça-feira, Lula deu duro no Palácio do Planalto. A intervalos, um assessor o informava sobre o placar, mas o chefe do governo não largou o timão.


Teve até tempo para presidir a instalação do Conselho Nacional da Juventude – e ânimo para profetizar que a imprensa, preocupada com assuntos escandalosos, não daria importância no dia seguinte ao histórico momento da criação do novo órgão:


– Como minha mãe dizia, coisa ruim sempre tem mais privilégio do que coisa boa no noticiário – vaticinou o presidente.


Na verdade, a instalação do conselho foi registrada. Mas faltou tempo, espaço ou ânimo nesta nossa mídia, incompetente e hipnotizada por questiúnculas de somenos, para ir mais longe. Até mesmo porque a iniciativa é boa. Junta governo e entidades privadas para articularem políticas públicas que façam bem aos jovens. Já ao ser instalado, por exemplo, o órgão começou a discutir o engajamento da rapaziada na campanha do desarmamento.


Por outro lado, também foi bom para o presidente que o parto tenha merecido escassa atenção. Se não dormisse no ponto, a mídia teria o dever de pedir uma explicação ao Planalto: se o conselho é mesmo ‘coisa boa’, como o Executivo explica que o tenha anunciado no fim do ano passado, prometendo sua instalação em janeiro, com verba garantida e tudo mais – e só agora, oito meses depois, tenha voltado a cuidar dele?


Tinha outras prioridades – como se tem visto, dirão os maldosos. Mas podia pelo menos pedir desculpas pelo atraso.


Jornais e programas de rádio e TV de quarta-feira deveriam mesmo registrar a instalação do Conselho da Juventude (o que, por exemplo, O GLOBO fez) – mas com o acompanhamento de criteriosa investigação sobre por que iniciativa tão importante teve tão longa gestação (o que O GLOBO não fez).


Em geral, e isso é universal – dos grandes jornais às conversas de comadres – a novidade ruim tende mesmo a atrair mais atenção do que a notícia boa. É da natureza humana. Mas nem todo fato positivo é notícia. Um homem público cumprir suas obrigações, por exemplo, é bom – mas só será notícia se o fizer em circunstâncias excepcionais, ou com resultados muito acima do esperado.


Qual a graça de saber que alguém fez o que é pago para fazer – a não ser, claro, que isso aconteça em condições particularmente adversas ou originais? E o único dado original na instalação do Conselho Nacional da Juventude foi a extraordinária demora – sem qualquer explicação fornecida – entre o anúncio do ano passado e o fato de agora.


Lula pode contar as favas: a mídia inteira tocará bumbo assim que se consumar a novidade de que o escândalo político do momento terminou com um buquê de boas notícias: um mundão de gente na cadeia e a entrada em vigor de leis eficazes regulamentando a atividade política no país, principalmente no que se refere ao financiamento de campanhas eleitorais.


É ver para crer. Ou, no caso de quem manda no país, será fazer para ver e crer.’



Merval Pereira


‘Ciro quase fora’, copyright O Globo, 05/08/05


‘O ministro Ciro Gomes, da Integração Nacional, atingido nos últimos dias pelo vendaval de acusações de corrupção que varre o Legislativo e o Executivo, está tão indignado que está repensando sua vida e não descarta a possibilidade de deixar o governo: ‘Pode ser que passe, mas estou com vontade de esperar uma calmaria e largar mão. Está ficando demais’, desabafa.


A saída teria o sentido de um protesto, contra tudo o que está acontecendo a seu redor no governo, e também em defesa de seu ex-secretário-adjunto Márcio Lacerda, que pediu demissão após seu nome aparecer em uma lista de sacadores do Banco Rural.


Ele já defendeu Lacerda em nota, e repeliu a informação de que o PTB recebeu do lobista Marcos Valério R$ 1 milhão para sua campanha à Presidência da República, que ele classifica hoje de ‘desastrada’. Sua questão pessoal, que considera ter sido ‘a gota d’água’, mistura-se com o desalento que lhe vem com a constatação do que está acontecendo. Com seu estilo agressivo, Ciro Gomes desabafa: ‘Esses canalhas não podiam ter feito uma coisa dessas, não podiam ter posto o país numa situação dessas. Eu só espero que se ache o filho da puta que fez isso’.


Ele faz questão de ressalvar a posição do presidente Lula, que considera estar isolado porque ‘todas as pessoas em quem confiou’ estão envolvidas nas denúncias. ‘O presidente não tem nada a ver com isso. Não é possível que ele possa estar envolvido em uma estupidez dessas’, desabafa Ciro, que revela que já conversou com Lula várias vezes e, ‘tanto no explícito, que era óbvio, quanto pelo implícito, pelo jeito que eu estou vendo, tenho segurança de que ele não estava’.


Ciro diz que não é difícil acreditar que, mesmo todos os seus principais assessores e dirigentes do PT estando envolvidos diretamente no esquema de corrupção que está sendo revelado pelas CPIs, o presidente não esteja. ‘Eu tenho muita vivência, e fui acusado sempre de ser centralizador. Mas são poucos os administradores que chegam ao nível em que ele chegou – eu já fui governador e o Lula é muito maior do que eu – que têm saco para acompanhar tudo’.


Ciro diz que, além de tudo, há também a conveniência: ‘Tem determinados serviços que você não quer fazer, e não quer saber o que estão fazendo. Mas você dá limites, não deixa sair do controle, você impõe, você quer saber o andamento, você avalia’. Ciro admite que, neste aspecto, Lula tem uma ‘inapetência completa’, que se traduziria pela falta de gosto ‘de traficar com político, não gosta dessas conversas moles que são muito chatas mesmo, eu também odeio, e delegou em confiança, e não supervisionou’.


O ministro Ciro Gomes está convencido de que ‘está tudo errado’ na condução da crise política. ‘Que alguém tenha falhado, isso é da vida. Quem errava era o PT, que dizia para o povo que ia fazer um governo de anjo. Mas não pode ser assim. Tem que ir para cima, localizar os responsáveis’. Ele se diz ‘muito indignado’, mas quer ter ‘pelo menos margem para refletir um pouco mais. Mas eu realmente estou cansado’.


Ele se refere ao lobista Marcos Valério como ‘bandido’, e se revolta com o fato de as listas que ele divulga serem publicadas nos jornais ‘com o meu retrato, o retrato do Gilberto Gil. E o presidente da Casa da Moeda está na lista e não colocam o retrato do Palocci’. Ciro Gomes acha que a explicação para isso pode estar na revelação de que o presidente Lula gostaria de tê-lo como candidato, caso não se candidate à reeleição.


Ele diz que há muito tempo está acostumado a ser grampeado, e por isso tinha uma diretriz: ‘Não faz, não quero, eu estou sendo grampeado, está todo mundo em cima de mim, é o mundo todo’. Na nota em que repeliu as acusações, Ciro Gomes classificou por duas vezes sua campanha presidencial de 2002 de ‘desastrada’, e explica: ‘A partir de mim mesmo, que disse muita besteira, a partir da aliança política imbecil que eu montei, a partir das loucuras que aconteceram’.


A coligação Frente Trabalhista reunia PPS-PDT-PTB, e logo no início da campanha o então presidente do PTB, o falecido José Carlos Martinez, foi afastado por denúncias. E passou a pressionar pela renúncia de Ciro quando sua candidatura começou a fazer água. Ciro atribui essa briga política à acusação de Pedro Martinez, de que o PTB teria repassado R$ 1 milhão para a campanha.


‘Foi uma campanha desastrada, mas limpa’, garante ele. Ciro diz que nunca admitiu que alguém fizesse besteira ‘não por moralismo, é que tenho inimigo demais’. Ele lembra de uma entrevista que deu durante a campanha, onde explicou por que seu irmão era o tesoureiro. ‘É exatamente por isso, porque o meu irmão, se fizer alguma coisa, fui eu que fiz. E não fez, porque eu não permito, porque ele sabe que meus telefones são grampeados a vida inteira’.


Segundo Ciro, seu ex-secretário-adjunto Márcio Lacerda ‘é um cara absolutamente limpo, não pegou um centavo dessa gente. Ele é um milionário de Minas Gerais que tinha uma coisa da política porque foi preso, virou meu amigo há 7, 8 anos atrás. Só me ajudou, só gastou dinheiro para me ajudar, só se sacrificou para me ajudar’.


Ciro garante que o pagamento para a empresa de publicidade New Trade, que pertence a seu cunhado, responsável pelo marketing de sua campanha, foi feito com nota fiscal, por trabalhos feitos no segundo turno da campanha eleitoral para Duda Mendonça.’



Regina Alvarez, Evandro Éboli e Adauri Antunes Barbosa


‘CPI aprova a convocação de sócia de Duda Mendonça’, copyright O Globo, 05/08/05


‘A CPI dos Correios aprovou ontem a convocação, para a próxima semana, de Zilmar Fernandes, sócia de Duda Mendonça, que fez a campanha do presidente Lula e tem três contratos no governo. Zilmar aparece na lista de sacadores de Marcos Valério, encaminhada à Polícia Federal e ao Ministério Público, como beneficiária de saques de R$ 15,5 milhões. Duda e Zilmar depõem hoje na PF, em São Paulo.


Parlamentares governistas tentaram evitar a convocação de Zilmar. A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) afirmou que, primeiro, a CPI teria que provar que o montante foi depositado nas contas de Zilmar. Ela quer convocar também os publicitários das últimas campanhas de candidatos do PSDB, como o de José Serra em 2002. Ela mostrou documentos mostrando que uma das empresas que fez a campanha de Serra é credora do PSDB e não teria cobrado a dívida.


– Estão convocando a Zilmar para atingir o publicitário do presidente – disse ela.


Na próxima semana, a CPI deverá ouvir também o empresário Cristiano Paz, sócio de Valério nas agências.


Duda foi convocado para depor na PF para esclarecer os repasses à sua sócia. O volume de recursos transferido a ela representa cerca de 50% a mais do valor declarado ao TSE como pagamentos aos marqueteiros da campanha de 2002. Os repasses foram todos feitos em 2003, mais da metade entre fevereiro e abril (R$ 10 milhões).


A PF também ouvirá a mulher do ex-presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha (PT-SP), Márcia Regina Milanesi Cunha, que sacou R$ 50 mil. Ontem, ela informou que não atenderia à convocação por estar em viagem.


Ontem, foram ouvidos o jornalista Gilberto Mansur, que sacou R$ 300 mil; Áureo Maricato, policial de Minas; e a funcionária do PT Solange Oliveira, que sacou R$ 100 mil. Segundo sua advogada, ela cumpriu ordens de Delúbio Soares.’



O Estado de S. Paulo


‘CPI se rebela ao saber que não estava na TV ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 05/08/05


‘MACHO: Um surto de desespero atacou os deputados e senadores da CPI do Mensalão ontem, quando souberam que nem a TV Senado nem a TV Câmara transmitiam ao vivo o depoimento do deputado Roberto Jefferson. ‘Isso é boicote!’, esbravejou o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP). O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ouviu os apelos desesperados e mandou a TV Senado transmitir a sessão ao vivo. Todos aplaudiram na comissão. A primeira sessão mais movimentada da CPI do Mensalão teve também um protesto das mulheres e uma demonstração de descontrole de Jefferson. Fora isso, foi tranqüila, repetitiva e desgastante. Quando fazia seu preâmbulo, Jefferson teceu considerações sobre a natureza do macho. Dizendo-se detentor de moral e ética, ‘porque quem tem ética não precisa fazer marketing’, se disse ‘macho’ para enfrentar a crise e garantiu que não recuaria de suas declarações. ‘Sou homem e não preciso pôr uma mulher de pé ao meu lado, sem calcinha, no carnaval, para provar’, referência ao episódio que envolveu o ex-presidente Itamar Franco e a modelo Lilian Ramos, em 1994. A frase deixou indignadas a deputada Perpétua Almeida (PC do B-AC) e a senadora Fátima Cleide (PT-RO), que exigiram que ele se contivesse. Jefferson reagiu: ‘Vou tratar daqui a pouco do cuecão ecológico e procurarei não ferir as suscetibilidades’, uma alusão a José Adalberto Vieira, preso em São Paulo com U$ 100 mil na cueca. Mais tarde, o próprio Jefferson não suportou uma provocação do senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Com um jornal de Aquidauana (MS) na mão, Suplicy afirmou que havia uma notícia lá segundo a qual Jefferson viajara para o Pantanal em companhia de Maurício Marinho, o funcionário dos Correios que foi flagrado embolsando R$ 3 mil de propina, o que deu origem a toda o escândalo de corrupção. Quando Suplicy entregou cópia do jornal para a Mesa, para ser anexada aos autos, Jefferson não se conteve. Apanhou-a e fez dela picadinho. Houve tumulto e foi preciso suspender a sessão.’



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‘Portugal Telecom nega negociação com partidos ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 05/08/05


‘O presidente da Portugal Telecom, Miguel Horta e Costa, garante que a empresa não participou do financiamento a nenhum partido político brasileiro. Em entrevista ao jornal português Diário Econômico, Horta e Costa afirmou categoricamente: ‘Dizer que a Portugal Telecom apóia partidos políticos, no Brasil ou em qualquer outro país do mundo, é uma heresia.’


Horta e Costa disse que, como a empresa é cotada na bolsa, com auditorias e controles, nenhum procedimento ilegal seria aprovado pelos auditores independentes. E afirma que nunca se reuniu com representantes do PT e do PTB e que todos os contatos são institucionais.


‘Recebi de fato o Marcos Valério’, confirmou Horta e Costa. Segundo ele, Valério queria falar com um representante da empresa portuguesa, que à época tinha o objetivo de adquirir a Telemig Celular – cliente da sua empresa de publicidade DNA.


Segundo o presidente da Portugal Telecom, as relações com o Brasil são institucionais. ‘Quando vou a Brasília, tenho reuniões com ministros, com a Anatel e com alguns congressistas que acompanham o setor’, justificou Horta e Costa. Ele contou, ainda, que os contatos com o presidente Lula destinaram-se apenas a discutir investimentos no Brasil.


SACO AZUL


Além da entrevista do presidente da Portugal Telecom, o escândalo no Brasil ganhou destaque em toda a imprensa portuguesa, dada a importância das empresas envolvidas.


O jornal Diário de Notícias destacou na edição de ontem que Lula estaria acossado pelas denúncias. Relata que o presidente teria ouvido no Palácio do Planalto as negociações para obter fundos para o ‘saco azul’ – como os portugueses chamam o caixa 2 dos partidos.


O jornal conta que, apesar de desmentidos por parte da Presidência e da Portugal Telecom, os jornais brasileiros registram a denúncia de que a empresa de telefonia – que controla 50% da Vivo – teria feito doações a partidos que poderiam atingir R$ 100 milhões. Relata também que Marcos Valério foi apresentado por Horta e Costa ao ministro Antônio Mexia como ‘um grande empresário com influência no Brasil’.


O jornal Público ressaltou na sua edição de ontem o desmentido da Portugal Telecom, dizendo que não participou do financiamento de partidos brasileiros. Citando a imprensa do Brasil, destaca que Marcos Valério foi recebido pelo então ministro Mexia e conta que a empresa de telefonia já investiu mais de 7 bilhões no País.


O Jornal de Negócios relata que a Portugal Telecom é a segunda empresa portuguesa envolvida nas denúncias feitas por Roberto Jefferson. A primeira foi o Banco Espírito Santo – que é o maior acionista português da empresa de telefonia.


COTAÇÃO ESTÁVEL


Apesar das denúncias, a cotação das ações da Portugal Telecom não sofreu grandes alterações, indicando que os investidores não acreditam que as denúncias vão afetar os resultados da empresa.


Uma das mais importantes analistas do mercado brasileiro, Cristina Casalinho, do BPI, acredita que neste momento não há um risco significativo para a economia brasileira.


Cristina aposta na estabilidade: ‘Mesmo na hipótese mais dramática, de destituição do presidente, as instituições são estáveis. Poderá haver um aumento da percepção do risco, mas momentâneo.’’



Folha de S. Paulo


‘O mundo fantástico de Lula’, copyright Folha de S. Paulo, 05/08/05


‘Se a presente crise política não resultar no impedimento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é evidente que ele poderá disputar sua própria sucessão. É o que prevê a Constituição. Pode-se ainda acrescentar que, se Lula for capaz de manter seus atuais índices de popularidade, concorrerá com boas chances.


Essas são considerações básicas que não precisariam ser repetidas, muito menos pelo próprio presidente da República e em tom de confronto, como o fez Lula anteontem em sua cidade natal, Garanhuns, ao afirmar que, se for candidato em 2006, ‘com ódio ou sem ódio, eles [opositores políticos e imprensa] vão ter que me engolir outra vez, porque o povo brasileiro vai querer’.


A crise que o país atravessa é grave, e as suspeitas vêm se aproximando perigosamente do Palácio do Planalto. Não é o momento de adicionar combustível retórico-eleitoral à já inflamável situação política. Repetidas vezes, porém, o presidente dá a impressão de que está vivendo num outro mundo, no qual ele, seus ministros e o seu partido nada têm a ver com os ultrajantes esquemas de corrupção que se vão revelando diante de um país cada vez mais perplexo.


Faria melhor Lula se deixasse as fronteiras desse seu país imaginário e se dirigisse à sociedade como um todo para explicar de forma convincente como foi possível que, sob a sua Presidência, uma verdadeira quadrilha se instalasse em empresas estatais e no comando de seu partido, o PT. A esta altura, a ausência de esclarecimentos já começa a soar como uma admissão de culpa.


É incrível que o presidente ainda insista na surrada e frágil tese de que há um complô da oposição e da mídia para derrubá-lo. Se existe algum conluio, é justamente para manter a Presidência da República fora do foco das investigações.


A política econômica conservadora mantida pelo governo já bastaria para assegurar-lhe a mão estendida do establishment, que vê com receio a perspectiva de turbulências mais fortes. Quanto à rivalidade interpartidária, convém mais à oposição enfrentar um Lula desgastado no pleito do ano que vem do que lançar-se nas incertezas de um processo de impeachment -para o qual, aliás, não parece haver nem elementos concretos nem condições políticas.


Lula está certo ao afirmar que não deve sua eleição a nenhum favor, mas aos 52 milhões de eleitores que sufragaram seu nome. É justamente por isso que precisa governar o Brasil real da crise, prestando ao país os esclarecimentos necessários, e não esse fantástico mundo de Lula.’



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‘Jefferson envolve Gushiken no ‘mensalão’’, copyright Folha de S. Paulo, 05/08/05


‘O deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), em seu depoimento à CPI do Mensalão, ontem, adicionou mais um personagem ao rol dos que considera responsáveis pela corrupção no governo. Além do ex-ministro José Dirceu, que considera o ‘chefe do Esquema’, disse que o ex-titular da Secom Luiz Gushiken, hoje chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos, permitiu a ‘escandalosa’ atuação de Marcos Valério em Brasília.


Além da suposta operação envolvendo a ajuda da Portugal Telecom ao PT e PTB, Jefferson procurou isentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de qualquer outro envolvimento. ‘Na questão do ‘mensalão’ e de Furnas [suposto desvio de recursos para caixa de partidos], percebi nitidamente que ele se sentiu traído’, afirmou. O depoimento teve início às 10h34 e terminou às 23h.


‘Digo que o Zé Dirceu era o chefe’, repetiu por algumas vezes ao falar sobre o suposto esquema de pagamento de mesada no Congresso, o chamado ‘mensalão’.


Apesar de ser o denunciante do esquema, Jefferson admitiu que por pelo menos três vezes foi beneficiário do dinheiro de Valério. Para reforçar o caixa de campanha de 2004, pagar dívidas da campanha de 2002 e para ajudar a um assessor do partido.


Sobre Gushiken, que perdeu o status de ministro na atual crise política, Jefferson afirmou. ‘Ele [Dirceu] não está só, o [Luiz] Gushiken está com ele com certeza. Não conversei isso [o ‘mensalão’] com o ministro Gushiken, mas ele autorizou que essa movimentação escandalosa dessas agências existissem’, afirmou. O ex-ministro chefiava a área de publicidade do governo federal.


‘Para mim passa pelo José Dirceu e pelo Gushiken, tem inteligência de governo nisso, não é um ato isolado do José Dirceu, ele não teria como fazer sozinho.’ Jefferson ressaltou, porém, como já havia afirmado antes, que Dirceu era o líder do esquema.


Nas mais de 12 horas de depoimento, Jefferson chegou a rasgar um jornal que continha uma acusação contra ele, que lhe fora entregue pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Ele disse que o PT não quis ‘dividir poder com uma burguesia que achava corrupta e prostituta’, e distribuiu ironias.


Em uma delas, disse que alimentava o desejo de que todos os senadores e deputados cedessem os seus mandatos aos jornalistas. ‘Gostaria de nomear os jornalistas para eles tomarem conta do país. Ia ser uma perfeição, não ia ter um erro. Imagina: William Boner [apresentador do ‘Jornal Nacional’] presidente do Congresso’, afirmou, arrancando risos.


Dois parlamentares perguntaram ainda ao petebista quais seriam os tais ‘instintos primitivos’ que Dirceu despertaria nele. ‘Superei. São sentimentos negativos que rezei ontem muito para superar’, disse o deputado.


Jefferson atacou ainda o Banco Rural, afirmando que não sabia por que o Banco Central não havia ainda feito intervenção na instituição, além de irritar deputadas e senadoras ao lembrar um episódio envolvendo o ex-presidente Itamar Franco (1992-1994) com uma modelo durante um Carnaval no Rio de Janeiro.


O petebista criticou também de forma veemente o ex-deputado federal Valdemar Costa Neto (PL-SP), chamado de ‘galo mutuca [fujão]’. Sobre o ex-tesoureiro do PL, Jacinto Lamas, ele disse: ‘O pai dele teve premonição. Disse: vai ser tesoureiro do Valdemar’. A Folha não conseguiu falar ontem com o presidente nacional do Partido Liberal.


DINHEIRO DO PT – Jefferson assume que o PTB recebeu recursos (R$ 1 milhão) do PT para pagar dívidas da campanha presidencial de 2002, quando apoiou o hoje ministro Ciro Gomes. Assumiu também ter recebido R$ 200 mil para uma ajuda particular a um motorista do PTB, mas negou que o tesoureiro informal da legenda, Emerson Palmieri, tenha feito saques nas contas de Valério. Sobre os R$ 4 milhões que teria recebido do PT para as eleições de 2004, disse que distribuiu tudo, mas se negou a dizer a quem. ‘Não tenho condições [de devolver o dinheiro]. Eu distribuí. Só não vou dizer para quem. Foi para coligações e para companheiros que eram candidatos’, afirmou, dizendo não haver entre esses nenhum deputado federal.


GALO MUTUCA – Sobre Valdemar Costa Neto (SP), presidente do PL, que renunciou na segunda-feira, disse: ‘Ele tem uma coisa similar ao Duda Mendonça. O Duda Mendonça gosta de briga de galo. E o Valdemar na briga de galo pode ser chamado de galo mutuca [galo de briga que foge da rinha], é corredor. (…) Ele é fraco, porque blefar em um jogo desse e depois ter que correr da banca? Correu; galo mutuca’.


PORTUGAL TELECOM – ‘Guardei para o Zé Dirceu aquilo. E ele falou até fino na hora de responder’, disse o deputado sobre o suposto acordo.


VARIG-TAP – Jefferson afirma que Marcos Valério, que teria ‘relações intestinais com pessoas do primeiro escalão do governo’, relatou a ele que tinha o objetivo de negociar a venda da Varig nas visitas que teria feito a Portugal. ‘Ele [Valério] intermediou negócios de transferência acionária da Varig, reestatização de linhas de transmissão, área de telefonia, ele disse que faz essa intermediação lá de telefonia, foi a Portugal se encontrar com o presidente da Portugal Telecom para tratar de assuntos dessa área. Há outros aspectos, é claro que há outras fontes’, acrescentou.


LULA – Além de afirmar dar um ‘cheque em branco’, Jefferson sugeriu que o presidente pode ter sido induzido a erro por confiar em Dirceu. ‘Eu aposto, pela formação do presidente, operário, que não tem aquela coisa da minúcia do contrato. Eu, que sou advogado, tenho de ler três, quatro vezes um decreto para entender o que está acontecendo. Pode ter sido induzido ao erro. Pode ter dito ‘ô Zé, dá aqui’. Assina uma pilha de papel por dia, agenda, agenda internacional, pode ser contaminado, mesmo que seja inocente’.


Apesar disso, sobrou ironia também para Lula: ‘Se o presidente Lula tomasse conta das cuecas dos assessores do PT, aí sim eu ia romper com ele’.


MINISTROS – Ele elogia Antonio Palocci (Fazenda), Roberto Rodrigues (Agricultura), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), Walfrido Mares Guia (Turismo) e Dilma Rousseff, sucessora de Dirceu. ‘Tente conversar qualquer conversa dessa [sobre ‘mensalão’] com a Dilma e vai ver se ela não te coloca para correr ou se você não sai preso de lá.’


PETISTAS – Jefferson disse que não acusa a bancada do PT de participar do ‘mensalão’. Citou nominalmente Paulo Rocha (PA) e Professor Luizinho (SP). ‘Botar o Luizinho com R$ 20 mil [de saque] é crueldade’. Durante o depoimento, o deputado Zico Bronzeado (PT-AC) admitiu ter recebido R$ 80 mil em caixa 2 nas eleições de 2002.


BANCO DO BRASIL E BANCO SANTOS – ‘Me parece que [o Rural] é a parte menor. Se for obedecida a proporção, a lista do Banco do Brasil é muito maior’, afirmou. Sobre o Banco Santos, disse que lista de instituições que ‘micaram’ é fundamental para se descobrir o destino de dinheiro desviado de fundos de pensão. Ele afirmou também que as agências de Valério perderam muito dinheiro naquele banco.


ITAMAR – Jefferson também atacou o ex-presidente Itamar Franco ao fazer uma comparação: ‘Quem tem ética não faz marketing dela. É como se eu [digo] ‘sou macho’ e boto uma mulher sem calcinha em cima de um palanque de Carnaval para provar que é macho. Quem é macho não precisa provar que é macho’. Senadoras e deputadas reclamaram dessa referência.


RURAL – Segundo Jefferson, o Banco Central teria que tomar providências contra o banco. ‘É um banco amoral, que sempre patrocina a corrupção’.


RENAN CALHEIROS E SEVERINO CAVALCANTI – Jefferson também atacou os presidentes do Senado e da Câmara, chamados de ‘frouxos’. ‘O presidente da Câmara e do Senado estão frouxos. Permitem que a crise deságüe aqui quando ela é culpa do Executivo. Ninguém teve a grandeza de estadista de defender o Legislativo. O Poder está acocorado’, afirmou.


FURNAS – Sobre o suposto desvio de recursos da estatal para o PTB e PT, novamente isenta Lula: ‘Lula acertou mudança da direção, não divisão do dinheiro’. ‘Essa conversa foi tratada por mim e o Zé Dirceu. (…) Esse detalhe dos R$ 3 milhões, que R$ 1,5 milhão ficaria com o PTB e R$ 1,5 milhão ficaria com o PT, isso não foi tratado na frente do presidente Lula ou teve conhecimento dele’.’



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‘Declarações são ‘inaceitáveis’, diz Gushiken ‘, copyright Folha de S. Paulo, 05/08/05


‘Ex-ministro da Secretaria de Comunicação de Governo e atual chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Luiz Gushiken rotulou ontem ‘inaceitáveis’ as declarações do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), segundo as quais ele atuaria, ao lado do ex-ministro José Dirceu, no comando de um suposto esquema de corrupção do governo federal.


A Portugal Telecom negou ‘discutir ou negociar operações que envolvessem o financiamento de partidos políticos brasileiros’.


Para Gushiken, as declarações de Jefferson durante depoimento à CPI do Mensalão atingiram sua ‘reputação’ e apenas contribuem para gerar um ‘clima geral de suspeição’.


‘O deputado Roberto Jefferson fez declarações que atingem a minha reputação e a minha conduta de homem público. Considero inaceitáveis o teor leviano e o tom de calúnia dessas afirmações’, afirmou em nota distribuída ontem à tarde.


Gushiken perdeu o status de ministro após ter se desgastado com o aumento dos investimentos em publicidade na revista de um cunhado, com a influência nos fundos de pensão e com o fato de a empresa de que foi sócio, a Globalprev, ter tido faturamento maior durante o governo do PT.


Sobre as falas de Jefferson à CPI, Gushiken afirma: ‘São falsas as insinuações e ilações a respeito do meu papel junto aos fundos de pensão, que obedecem a marcos regulatórios específicos e estão submetidos a amplo leque de instituições de fiscalização e controle’. Quanto à publicidade, agora sob a Secretaria Geral da Presidência, de Luiz Dulci, disse: ‘Cada órgão da administração é responsável pela definição dos valores a serem contratados para ações de publicidade e a respectiva gestão desses recursos’.’



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‘Irritado, petebista ataca Suplicy e rasga reportagem ‘, copyright Folha de S. Paulo, 05/08/05


‘No momento em que demonstrou maior irritação em seu quarto depoimento no Congresso sobre o escândalo do ‘mensalão’, o deputado Roberto Jefferson discutiu com o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), rasgou uma reportagem entregue à CPI pelo senador e se recusou a responder a outras perguntas do petista.


Houve alvoroço entre os integrantes da comissão, a sessão foi suspensa, e Jefferson acabou sendo advertido pelo vice-presidente da comissão, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), pela atitude.


O embate começou quando Suplicy questionou se Jefferson costumava ir ao pantanal. O petebista respondeu ser um ‘freqüentador’ de Aquidauana (MS) há mais de 20 anos e possuir um ‘amigo do peito’ chamado Totó Queiroz, morador do município. Disse que gostava de pescar e acampar, mas que não visitava a cidade desde setembro de 2001.


Na seqüência, Suplicy disse que encaminharia à mesa a cópia de uma reportagem publicada em um blog na internet que apontava que Jefferson fora visto almoçando com o ex-chefe de departamento dos Correios Mauricio Marinho nos arredores de Aquidauana, no primeiro semestre deste ano. A dona do restaurante seria a fonte da reportagem. Marinho, flagrado recebendo R$ 3.000 de empresários, foi o pivô do escândalo dos Correios.


Ao terminar de ler trechos da reportagem, Suplicy foi interrompido por Jefferson, que disparou: ‘Vossa Excelência tem sido vítima desses recursos. Mais escandaloso que ocorreu com Vossa Excelência, se eu tivesse praticado, teria sido preso’. Jefferson levantou suspeita sobre a atuação do petista no caso da morte de Ana Elisabeth Lofrano, mulher do ex-assessor da comissão de Orçamento José Carlos Alves dos Santos. À época, Suplicy disse que tinha pistas do desaparecimento de Elisabeth e viajou a Nova York, mas o corpo dela foi encontrado no Brasil. ‘Aquilo, se fosse eu, teria sido preso. Mas como era o senhor, tudo se perdoa’, disse Jefferson.


Após dez minutos de pausa, Suplicy voltou a inquirir Jefferson, que voltou à ofensiva: ‘A marca mais dura que tenho no meu coração, Vossa Excelência fez’. Lembrou que o petista o acusou de ‘corrupto’ por defender o governo Collor: ‘Sempre tive muita desconfiança com aqueles que batem no peito como moralistas. Todo moralista tem alguma coisa para encobrir’. Suplicy apenas informou o telefone do jornalista para checagem.’