Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Luiz Garcia


‘Os que não temiam, desconfiam; quem torcia, solta foguetes. Parece se espalhar, pelo menos na internet, que ainda representa pouco mais que o cocuruto da opinião nacional, mas sempre é sintoma respeitável: uma quase certeza de que o time das armas ganhará o plebiscito.


Se é verdade, aconteceu que o time que veste a camisa dos fabricantes de armas e munições (muitos, claro, sem percebê-lo ou sem se importar com isso, guiados apenas por suas convicções) chegou à conclusão de simples enunciado: o Estado não protege adequadamente o cidadão, e este tem o direito de se proteger como achar melhor.


Curiosamente, desapareceu da chuva de e-mails a discussão sobre o que realmente pretende o estatuto: limitar drasticamente os arsenais domésticos e assim contribuir para a redução dos homicídios em conflitos determinados. As mais comuns: crises domésticas, desavenças entre vizinhos, discussões no trânsito. Um outro objetivo, óbvio, dramático, é evitar os acidentes possíveis, e não raros, em casas onde há crianças e armas.


Essa é a essência da proibição proposta. Ela mostra seu alcance e seus limites: pouco adiantará, e sempre se disse isso, no combate aos traficantes e quadrilhas de assaltantes de residências. Nessas duas áreas, existindo comportamento racional, quem é a favor ou contra o comércio de armas poderia e deveria fazer causa comum, cobrando do Estado uma eficiência que ele ainda não mostrou.


Mas não se fala mais nisso, disso não se trata. E o que se tem lido na net, nos últimos dias, só pode ser definido, desculpem a imagem, como um tiroteio de balas perdidas. Exemplos colhidos em e-mails dos últimos cinco dias:


1. Haverá ‘total insegurança nas comunidades pobres, cujas casas ficarão sujeitas a invasões de toda ordem, visto a certeza de que os moradores estarão desarmados’. Uma situação inédita, absolutamente original, com certeza.


2. Quem mais se beneficiará ‘será o MST, que poderá invadir todas as fazendas produtivas e improdutivas do país, na certeza de que não será repelido; foi por isso que o governo petista lançou esse projeto.’


3. A posição do GLOBO e deste articulista significa ‘pregar a rendição e a covardia’. Em face de quê, mesmo?


4. ‘…para vocês do jornal O GLOBO… basta que aceitemos nossa insignificância diante dos bandidos, do Estado…’ Por que raios uma suposta insignificância do leitor ajuda o jornal? Pelo menos, os anunciantes, que pagam a maioria de nossas contas, detestam leitores insignificantes.


5. ‘O que V. Sa. parece querer e pregar é o homem almofadinha, florzinha, que acha que uma arma de fogo é algo com vida própria, capaz de sair atirando sozinha e matando as pessoas.’ Esse é pessoal comigo: mas juro que não conhecia essa minha preferência.


É claro que quem tem acesso à internet e vontade de usá-la representa uma minoria. Esse tipo de blitz tanto pode ser espontâneo como produção encomendada de um lobby bem organizado. Vai-se ver, é uma mistura. Ajudada pelo fator extracampo de que a campanha do desarmamento tem selo oficial: vem do governo federal.


E mesmo que o principal inspirador seja o ministro da Justiça, reconhecidamente inocente das recentes maracutaias brasilianas e palacianas, a inspiração federal pode ser o beijo da morte. Que sairá dando pulinhos de alegria. Abraçada aos fabricantes de armas, cartuchos e caixões mortuários.’



TODA MÍDIA


Nelson de Sá


‘EUA, Europa, Brasil’, copyright Folha de S. Paulo, 11/10/05


‘Começou com um artigo de Rob Portman, o representante comercial dos EUA, o novo ‘sub do sub do sub’, ontem no ‘Financial Times’.


O artigo ecoou de imediato nas edições, também de ontem, mas de outros horários, do ‘New York Times’ ao ‘Le Monde’ e ao ‘Valor’.


Portman propôs cortar 60% nos subsídios agrícolas que ‘distorcem o comércio internacional’, ao longo de cinco anos, desde que União Européia e Japão façam o mesmo:


– Os Estados Unidos estão dispostos a tomar duras decisões na agricultura, mas não podemos fazê-lo sozinhos.


Para começar, diz o texto em tom eloqüente que se baseia na ‘visão grandiosa’ de George W. Bush para o livre comércio, seria preciso cortar tarifas ‘usando a fórmula desenvolvida por Brasil e outros do grupo de 20 países em desenvolvimento’.


O chanceler Celso Amorim deveria comemorar, ele que criou e comanda o G20, mas insistiu na pressão. Dele, para o site da BBC Brasil:


– A movimentação dos Estados Unidos é positiva, mas não é ainda o que queremos.


Segundo o ‘Valor’, ‘o G20, grupo liderado pelo Brasil, calcula que só uma redução de 70% nos subsídios domésticos americanos terá efeito real’.


No vaivém de percentuais, os EUA pediram corte de 83% nos subsídios europeus e o G20 não aceita menos que 80%.


Mas a primeira reação da União Européia, à ‘movimentação’ dos EUA, foi ‘propor cortes menores em seus subsídios’ -e ‘criticar a relutância americana em reformar programas de apoio agrícola polêmicos’.


A UE, segundo reportagem adiantada ontem no site do ‘FT’, gasta três vezes mais do que os EUA em subsídios e quer, em vez dos 83% pedidos por Rob Portman, só 70%. Sem prazo para implantação.


De volta ao chanceler brasileiro, agora para o ‘Valor’, ele diz que ‘os países estão se aproximando dos pontos sensíveis e cabe aos EUA e à União Européia liderar o processo’:


– Eles vão ter que mostrar o que são capazes de fazer.


Enquanto pelo globo avançavam as negociações comerciais, o Brasil era só má notícia. Na Globo, Fátima Bernardes:


– Fazendas de cinco cidades de Mato Grosso do Sul foram interditadas pelo Ministério da Agricultura, depois de confirmado um foco de febre aftosa. O Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina.


Na Jovem Pan, um consultor disse que o foco de aftosa ‘desnorteou o mercado de pecuária’. E de bate-pronto, no enunciado da Folha Online, ‘ruralistas pressionam por liberação de verba para conter aftosa’.


Os sites das agências RIA Novosti e Itar-Tass noticiavam desde cedo que as autoridades russas já estudam vetar a importação de carne brasileira.


E tome mais má notícia, com Fátima Bernardes:


– A Colômbia anunciou que encontrou o vírus da gripe do frango numa granja a 200 quilômetros da capital, Bogotá.


MANO BROWN DIZ ‘SIM’


O ‘rapper’ Mano Brown falou. Depois de anos, deu longa entrevista a André Caramante, ontem no ‘Agora’ (agora.com.br), e defendeu o ‘sim’ no referendo:


– O que eu penso é que muitos amigos meus poderiam estar vivos hoje, se não fosse a arma.


Foi após um show em Mauá, Grande São Paulo, em que a maioria dos jovens se pronunciou pelas armas, quando o músico perguntou. Brown, depois:


– O bagulho está louco, mano, o pessoal quer arma.


E quer arma porque ‘o rico’ e a polícia têm:


– Então, eu sou a favor de desarmar todo mundo.


Brown também falou, aqui e ali, de Lula:


– Os anos estão passando, um governo de esquerda já assumiu e era esperança. As coisas estão muito lentas e a periferia é urgente, precisa das coisas para ontem e as coisas não estão acontecendo, está muito nebuloso.


Mais à frente, voltou ao assunto:


– O pobre não quer ficar desarmado porque sabe que do outro lado vai haver muitas armas contra ele. Então, virou quase uma guerra, né? O Brasil está à beira de um… o barril está para explodir mesmo, hein, meu. Se o Lula não conseguir dar um passo, se esse governo agora que vai entrar no último ano não fizer alguma coisa que seja visível aos olhos dos mais humildes, uma coisa que faça diferença dentro da casa das pessoas, a tendência é o Brasil voltar a ter um governo de direita, morô, meu, de pessoas que pregam a arma, a repressão, e a periferia continuar alienada. Agora, vai se alienar por outras coisas.’



JORNALISMO AMBIENTAL


Comunique-se


‘Santos será palco do Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 10/10/05


‘Nesta quarta-feira (12/10) começa o 1º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental, no Sesc Santos. A prática cotidiana do jornalismo e a vertente da sustentabilidade ambiental nas pautas jornalísticas serão alguns dos temas abordados no evento, que vai até 14/10.


Profissionais que atuam em jornais, emissoras de rádio e TV, Internet, assessorias de imprensa de empresas, governos e ONGs, além de especialistas em meio ambiente, estão chegando de nove países e 18 estados brasileiros para debater a presença do meio ambiente na mídia e nos processos de comunicação de massa, marketing e nas práticas de comunicação institucional.


São esperados cerca de mil profissionais e estudantes, que terão a oportunidade de conhecer, pessoalmente, alguns dos mais importantes nomes do jornalismo ambiental brasileiro e do mundo. Entre eles estão Vilmar Berna, ganhador do Prêmio Global 500 das Nações Unidas; Juarez Tosi, editor da EcoAgência, agência de notícias ambientais do Brasil; João Batista Santafé, moderador da Rede Brasileira de Jornalistas Ambientais; Ricardo Garcia, jornalista que atua em Portugal e co-fundador e membro da direção da Associação de Repórteres de Ciência e Ambiente (ARCA) na Europa, Maria Amparo Lasso, há dez anos diretora do Projeto Terramérica para a América Latina, um suplemento ambiental feito no México e que circula semanalmente em mais de 10 países latino-americanos; Adalberto Wodianer Marcondes, editor da Agência Envolverde, site de jornalismo ambiental do Brasil; Wilson Bueno, professor de jornalismo com trabalhos na área ambiental; e Bill Hinchberger, que já foi correspondente no Brasil para o jornal The Financial Times de Londres e para a revista norte-americana Business Week, além de mais centenas de profissionais que fazem parte da Rede Brasileira de Jornalistas Ambientais.


A abertura será no dia 12/10, às 15h30, com a presença do Secretário Executivo do Ministério do Meio Ambiente, Claudio Langone, autoridades ambientais do Estado de São Paulo e da Baixada Santistas e jornalistas dos principais veículos de comunicação da região. A entrada para a Solenidade de Abertura do 1º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental é franca.


Nos dias 13/10 e 14/10 as mesas de debates e seminários vão de 13h30 às 22h. Para mais informações, clique aqui.’



RELIGIÃO & MÍDIA


Thiago Reis


‘Evangélico ataca imagem de santa no Círio’, copyright Folha de S. Paulo, 11/10/05


‘A imagem da Nossa Senhora de Nazaré carregada na procissão do Círio -a maior manifestação religiosa do país- foi parcialmente destruída ontem, um dia após o evento, em Belém (PA).


A santa foi atingida por duas pedras atiradas a uma distância de 5 m pelo segurança José Ubiratan Leite, 34. Ele toma remédios controlados e terá de passar por exames que atestem sua sanidade mental. Segundo o delegado Edimar Melo, Leite, que se recusou a prestar esclarecimentos, é evangélico e portava uma carteirinha da Assembléia de Deus.


O incidente ocorreu por volta de 11h30. A multidão que se aglomerava em volta da praça santuária para cultuar a santa tentou linchar Leite, que foi protegido por policiais. A imagem de madeira, de 48 cm e 3 kg, teve danos na coroa e em sua base de sustentação.


Leite foi preso e autuado por dano ao patrimônio histórico e cultural -crime que pode dar de um a três anos de reclusão.


A santa, construída em 1969, na Itália, é uma réplica da original, datada de 1793, que está protegida no interior da Basílica de Nazaré, fora do alcance dos fiéis. Uma perícia seria realizada ontem. O objetivo é restaurar a peça ainda hoje, para que ela volte a ficar exposta ao público.


Segundo o coordenador do Círio, Flávio Américo, a segurança, feita por apenas dois guardas, será reforçada nos próximos dias.


Para o arcebispo metropolitano de Belém, dom Orani João Tempesta, a atitude demonstra ‘uma certa intolerância perigosa’. ‘O que me preocupa é o futuro, pois nossa cultura católica cristã sempre foi de respeito mútuo’, disse.


A santa danificada é carregada todos os anos na procissão do Círio, que tem início no segundo domingo de outubro.


A festa levou, anteontem, 2 milhões de pessoas às ruas da capital. No percurso de 4 km, os devotos transportam a réplica da catedral de Belém à Basílica. São feitas ainda novenas, missas e manifestações culturais. Essa foi a 213ª edição do evento.


A peça fica em exposição 15 dias após a festa. Depois, é substituída por outra réplica, maior, de gesso.


Assembléia de Deus


O pastor Cesar Vasconcelos, da Assembléia de Deus de Belém, disse que a igreja ‘repudia qualquer ato de violência religiosa’ e que o incidente se caracteriza como um ‘ato isolado’.


De acordo com o pastor, ‘ficou claro de que se trata de uma pessoa que tem uma deficiência e que a atitude não tem relação com a prática da igreja’.’



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‘Bispo da Universal chutou santa na TV Record há dez anos’, copyright Folha de S. Paulo, 11/10/05


‘A Igreja Universal do Reino de Deus levou ao auge seu repúdio ao culto que a Igreja Católica faz de imagens de santos em 12 de outubro de 1995. No dia de Nossa Senhora Aparecida (padroeira do Brasil), o bispo Sérgio Von Helder, então líder da igreja em São Paulo, deu 11 chutes e três socos em uma imagem da santa durante a gravação dos programas ‘Despertar da Fé’ e ‘Palavra de Vida’, transmitidos pela TV Record.


Dizendo tratar-se de ‘um pedaço de gesso’, Von Helder disse: ‘Isso não é santo coisa nenhuma’. ‘Será que Deus pode ser comparado a um boneco desse, tão feio, tão horrível?’, questionou.’