Tuesday, 12 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Lula conversará com empresários
e radiodifusores sobre TV Digital


Leia abaixo os textos de terça-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Globo


Terça-feira, 25 de abril de 2006


TV DIGITAL
Mônica Tavares e Aguinaldo Novo


Lula ouvirá empresas sobre TV digital


‘BRASÍLIA e SÃO PAULO. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá receber esta semana empresas brasileiras produtoras de televisores e de eletroeletrônicos. O objetivo da audiência, segundo o ministro das Comunicações, Hélio Costa, é saber se esses grupos pretendem investir no setor com a implantação da TV digital no país. As empresas serão escolhidas por Costa e pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende. Segundo Costa, Lula também vai se reunir, na próxima semana, com as emissoras de televisão:


– O que o presidente está querendo é ver o pulso das empresas brasileiras, qual a disposição delas. As empresas estrangeiras nós já sabemos. Agora queremos ver o empresário brasileiro, como ele está.


O ministro disse que não se trata de uma segunda rodada de negociações, porque a etapa de conversações com os empresários já foi vencida. A discussão será com os grupos que estão à frente no processo de transferência de tecnologia. Costa contou ainda que uma das idéias que surgiram na última reunião do comitê de ministros que estuda a TV digital foi que as empresas brasileiras possam se instalar também em alguns países da América do Sul, aproveitando a escolha do modelo na região.


Já o secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações, Roberto Pinto Martins, negou ontem, em audiência pública convocada pelo Ministério Público Federal em São Paulo, que os estudos sobre as tecnologias mais apropriadas ao país e quais sistemas poderiam ser desenvolvidos aqui, empreendidos pelos consórcios, estejam paralisados. Martins disse ainda que o governo voltará a se reunir nesta semana com os consórcios de pesquisadores que integram o Sistema Brasileiro de TV Digital, para decidir os próximos passos dos grupos de estudo.


– As pesquisas não estão paradas. Vamos no reunir para definir os próximos passos no desenvolvimento e integração das tecnologias – afirmou o secretário.’


CASO PIMENTA NEVES
Demétrio Weber


STJ muda decisão e libera julgamento de Pimenta


‘BRASÍLIA. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) reviu decisão anterior e marcou para 3 de maio o julgamento do jornalista Antonio Marcos Pimenta Neves. O júri havia sido suspenso em março por determinação do ministro Hélio Quaglia Barbosa. Em nova decisão, o ministro Barbosa, da 6 Turma do STJ, anulou na última quinta-feira a liminar que havia concedido anteriormente.


Pimenta Neves é réu confesso do assassinato da ex-namorada e também jornalista Sandra Gomide. Ele a matou com dois tiros em 20 de agosto de 2000, num haras em Ibiúna (SP), depois que ela rompeu o namoro. Pimenta Neves tinha então 63 anos. Sandra Gomide, 32 anos.


A Justiça paulista aceitou a denúncia do Ministério Público, que considerou torpe a motivação do crime. Foi justamente contra essa classificação que a defesa de Pimenta Neves recorreu inicialmente ao Tribunal de Justiça de São Paulo e depois ao STJ. Nos dois tribunais, porém, não obteve sucesso.


O TJ-SP entendeu que não cabia recurso ao STJ, mas a defesa do jornalista ajuizou um agravo de instrumento para que o próprio tribunal superior decidisse se era o caso ou não de ser acionado. Com a negativa do STJ, a defesa ingressou com um agravo regimental junto ao mesmo STJ, seguido de pedido de liminar para suspender o julgamento enquanto o recurso não fosse julgado. Assim ele obteve liminar favorável em março.


Balas especiais reforçam tese de crime premeditado


No último dia 17, porém, o ministro Barbosa rejeitou o agravo de instrumento e, no dia 20, cancelou a liminar que havia suspendido o julgamento.


De acordo com testemunhas, o segundo disparo feito por Pimenta Neves ocorreu com Sandra já caída. O jornalista usou balas especiais, reforçando a tese de crime premeditado. Ele já havia ameaçado Sandra e invadido seu apartamento.


Após o crime, Pimenta Neves fugiu, escapando do flagrante. Dois dias depois, foi internado num hospital e, dali, transferido para uma clínica, onde ficou 15 dias, até ser preso. Após seis meses na cadeia, foi libertado por uma decisão do Supremo Tribunal Federal.’


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 25 de abril de 2006


CRISE POLÍTICA
Carlos Heitor Cony


O mingau e as beiras


‘Tanto a oposição como a mídia, interessadas em deletar Lula, seja pela força de um impeachment, seja pela deteriorização de sua imagem como candidato à reeleição, estão comendo o mingau pelas beiras.


É bem verdade que as beiras são suculentas: Dirceu, Palocci, Delúbio et caterva. Querem agora incluir a Polícia Federal, que é tão furada como um queijo suíço no que diz respeito ao contrabando de armas e drogas, mas tem dado conta do recado no que diz respeito ao mensalão, bingos e caixas dois. Ao lado do Ministério Público, tem sido uma referência, maior do que as CPIs e maior do que o próprio STF.


O problema, vamos e venhamos, o núcleo de toda a corrupção, é o presidente da República. Tudo gravitou em torno dele. Contrariando a máxima de que nada vai para o intelecto sem antes passar pelos sentidos, Lula insiste em dizer que sua cabeça somente está agora tomando conhecimento da lama que o rodeou.


Seus sentidos (olhos, ouvidos, nariz, boca e tato) não sabiam de nada, nada viram, nada ouviram, não cheiraram a bandalheira promovida no próprio Alvorada. Sua boca nunca perguntou nada sobre os fundos de sua campanha pela reeleição, e seu tato nada percebeu. A corrupção apenas chegou à sua cabeça pelo que ele leu nos jornais.


Acontece que a oposição e a mídia, por falta de coragem ou por complicadíssima tática que não está dando resultado (os índices eleitorais de Lula continuam altos), preferem se refestelar nos contornos, na periferia, nas beiras de um mingau que não pode ser novamente servido para matar a fome da nação, que espera de um presidente mais do que cestas básicas e discursos em que elogia a si mesmo.


Agora mesmo, com a relativa auto-suficiência em petróleo, ele encampou 50 anos de lutas de todo um povo e de vários governos e já arrolou os barris da nova plataforma como criação sua. A nova bravata não merece impeachment, mas a corrupção merece.’


ALCKMIN SOB SUSPEITA
Frederico Vasconcelos


Contratos da Nossa Caixa terão auditoria externa


‘O governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), anunciou ontem a realização de uma auditoria externa nos contratos de publicidade da Nossa Caixa durante o governo Geraldo Alckmin.


Apesar de tentar minimizar o problema, ‘menor do que o colocado’, Lembo afirmou que a Price Waterhouse fará um levantamento ‘específico’ sobre os contratos com a Full Jazz e Colucci. ‘A Price irá fazer, solicitei ontem [anteontem, a auditoria]. E quando estiver pronto teremos mais um documento para mostrar o que aconteceu. E eu também quero saber. Mas não vejo nada grave.’


O anúncio do governador ocorre um dia depois de a Folha revelar que a diretoria no banco abrigou executivos e assessores acusados de supostas irregularidades e fraudes em licitações em outros bancos oficiais na gestão FHC.


A reportagem também revelou que um desses assessores, o chefe-de-gabinete Waldin Rosa de Lima, ex-presidente do Banco do Estado de Goiás, estava inabilitado pelo Banco Central para dirigir instituições financeiras, por conceder empréstimos sem cumprir as normas bancárias. Ele trabalhou no banco paulista em 2003 e só conseguiu se livrar dessa penalidade em janeiro de 2004.


Lima trabalhava sem contrato formal, mas tinha senha de acesso ao sistema de dados do banco e interferiu nos contratos de publicidade, segundo sindicância interna da Nossa Caixa.


A assessoria do Palácio dos Bandeirantes informou que a Price Waterhouse já realiza auditoria independente no banco e vai estender seu trabalho ao produzir um relatório sobre os contratos de publicidade. O governo não soube informar, porém, desde quando a auditoria é feita. A Price Waterhouse disse não poder informar, por força contratual, se presta ou não serviços. A Nossa Caixa não confirmou nem negou se realiza auditoria. O presidente do banco, Carlos Eduardo Monteiro, também não comentou o anúncio feito por Lembo.


O Ministério Público Estadual investiga os contratos de publicidade do banco com a Full Jazz e a Colucci e o suposto direcionamento de verbas a empresas ligadas a deputados estaduais. As empresas atuaram por um ano e oito meses, sem amparo legal, e movimentaram R$ 43 milhões.


Lembo voltou a afirmar ontem que houve um ‘problema formal’ na revisão dos contratos e que o Ministério Público e o TCE (Tribunal de Contas do Estado) foram comunicados dessa situação. O promotor Sérgio Turra Sobrane afirmou que a Promotoria só teve conhecimento do assunto por meio de uma denúncia anônima.’


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Ex-presidente do banco nega irregularidades


‘Valdery Frota de Albuquerque, ex-presidente da Nossa Caixa, confirma que Waldin Rosa de Lima, ex-presidente do Banco do Estado de Goiás, trabalhou como chefe-de-gabinete da presidência, sem ser contratado, durante a sua gestão. Diz que Lima não recebia pelo banco e que não foi ‘efetivado porque o Conselho de Administração definiu que apenas funcionários de carreira poderiam assumir tal função’.


A Folharevelou anteontem que a diretoria da Nossa Caixa nomeada pelo ex-governador Geraldo Alckmin, pré-candidato à Presidência pelo PSDB, abrigou executivos e assessores acusados de irregularidades na administração de outros bancos oficiais durante o governo FHC. Em carta enviada ao jornal ontem, Albuquerque afirma que Lima é ‘servidor público federal de carreira’ e que ‘nunca esteve impedido de operar no sistema financeiro pelo Banco Central’. O BC inabilitou Lima para dirigir instituição financeira por um ano. Ele foi chefe-de-gabinete de Albuquerque em 2003 e só conseguiu se livrar da penalidade em 2004.


Antes da definição do Conselho de Administração, segundo Albuquerque, Lima ‘chegou a ser formal e transparentemente apresentado, interna e externamente, como chefe-de-gabinete -cargo não-estatutário- com acesso tão somente a informações afetas à sua função, e sem nenhuma remuneração do banco’.


Albuquerque diz que Elmar Gueiros, ‘consultor externo, também teve sua contratação solicitada, dentro do rigor legal, para cuidar essencialmente do desenvolvimento de programas habitacionais’. E Luiz Francisco Monteiro de Barros Neto ‘foi convidado pelo excepcional trabalho que executou na CEF e em outros órgãos públicos do governo’.


Albuquerque não cita os relatórios das CPIs dos Bingos e Narcotráfico que sugerem o indiciamento de Rosa de Lima e Barros Neto por supostas irregularidades.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Antiglobalização


‘Pascal Lamy , diretor-geral da Organização Mundial do Comércio, surgiu na CNN e depois na BBC, ao vivo, e anunciou o que se esperava.


As negociações para ampliar a globalização, o comércio global, perderam ‘prazo-chave’.


O anúncio vem depois da saída de cena do representante dos EUA, elevado a cargo mais produtivo, e do bate-boca de europeus e americanos, que se culpam reciprocamente, como destacou o site do ‘Wall Street Journal’ ao dar a notícia.


ONGs como Oxfam já atacavam ontem, mas Lamy garantia, nos canais de notícias:


– Àqueles de vocês que pensam que caminhamos para um acordo barato: não tem como fechar um acordo barato, pela simples razão de que os países em desenvolvimento, hoje três quartos dos membros da OMC, não vão aceitar.


Mas por todo lado se anuncia o fim da globalização. Do ‘Washington Post’, dizendo ‘Por que a globalização parou’:


– Anos atrás, manifestantes antiglobalização estavam nas ruas, cercando as organizações multilaterais. Hoje, desapareceram, mas as instituições internacionais estão uma bagunça. A antiglobalização perdeu sua voz, a globalização, também.


Citou a OMC e a ‘morte virtual da rodada Doha’, também o Banco Mundial, mas sobretudo o vexame do FMI.


Agora que Brasil e outros quitaram dívidas, ‘a perda dos pagadores de juros levou o Fundo à crise orçamentária’.


No final da semana, na capa, o ‘WSJ’ foi ainda mais impiedoso ao dizer que, com ‘menos entrada de juros e portanto menos dólares nos cofres’, o FMI não tem mais de quem tomar conta, a não ser de si:


– Em ironia que causou risos entre muitos ministros de países emergentes, o fundo que tanto cobrou apertar cintos agora precisa fazer o mesmo.


Não faltou nem menção ao ‘português coloquial’ de Lula, que declarou, quando fechou a conta no FMI, que o Brasil era outra vez ‘owner of its nose’, dono do seu nariz.


Mas o Fundo já tem novo alvo, destacou o ‘Financial Times’, sob a manchete ‘FMI consegue papel-chave contra desequilíbrios comerciais’.


Segundo o ‘WP’, é o que os EUA queriam tanto do Fundo: um instrumento de pressão contra a China.


‘BIG PHIL’


Na BBC, Scolari para inglês ouvir


Sobre o Brasil, pelo mundo, fora economia, só futebol. A Copa faz os outros temas recuarem. Ontem, do ‘Times’ ao ‘Daily Mirror’, Londres acordou com a notícia de que o técnico Luiz Felipe Scolari, ‘Big Phil’ segundo o ‘Daily Mail’, é o favorito para treinar a seleção, pós-Copa. Em inglês atravessado, Felipão falou à rádio BBC, com reprodução nos canais BBC e no site carregado de ‘sic’:


– I don’t think about England. If I think about England, I forget Portugal. That is my job, now.


Nas imagens, o treinador com a seleção portuguesa.


Um Chávez


Dias atrás, o assessor de economia do presidenciável mexicano Andrés López Obrador deu entrevista ao ‘Financial Times’ e disse, já no título, que seu candidato é prudente como Lula -e não um Hugo Chávez.


Ontem foi a vez do assessor do adversário, o conservador Felipe Calderón, que falou ao ‘FT’, já no título, que se trata, sim, de ‘um Chávez’:


– Há muitas evidências para sugerir que Obrador não é um Lula, mas um Chávez.


Provocações


Mas Chávez é até moderado, diante de um Evo Morales. O presidente da Bolívia ameaçou a Petrobras e a empresa EBX de Eike Baptista, ontem no ‘Roda Viva’, e fez mais, no boliviano ‘La Razón’, no site Hoy Bolivia e outros sul-americanos.


‘Não posso crer’, disse, que Lula ‘defenda empresas que não cumprem as leis’, em referência à EBX. Questionou também o peruano Alejandro Toledo e o colombiano Álvaro Uribe. E, é claro, denunciou ‘provocações’ dos EUA à Bolívia.


Quadrilha


Das manchetes de ontem no ‘Jornal da Band’:


– Homens encapuzados atiram em invasores do MST e uma criança é ferida.


Já no ‘Jornal Nacional’:


– O Ministério Público do RS denunciou 37 pela invasão da Aracruz, pelos crimes de furto, cárcere privado, dano qualificado, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.


Compromisso


Da escalada do ‘JN’:


– Três meses depois da promessa do INSS, nossos repórteres foram conferir. Será que terminaram as filas?


Abrindo o primeiro bloco:


– No início do ano os brasileiros ouviram por duas vezes a promessa: as filas iriam acabar. O primeiro a anunciar a boa nova foi o presidente Lula. Depois, ao vivo aqui no ‘Jornal Nacional’, o presidente do INSS assumiu compromisso: o problema seria resolvido em abril.


Lula faz ‘promessas demais’, chegou a dizer o ‘JN’.’


TV DIGITAL
Humberto Medina e Elvira Lobato


Lula ouvirá empresários sobre TV digital


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer ouvir empresários brasileiros antes de tomar decisão sobre a escolha do padrão de TV digital. De acordo com o ministro Hélio Costa (Comunicações), os radiodifusores (donos de emissoras de rádio e TV) também serão ouvidos novamente.


Na quinta-feira da semana passada, Costa dissera à Folha que ‘o tempo de discutir terminou’ e que só falta agora o presidente Lula anunciar a decisão.


‘Ele [Lula], estrategicamente, está abrindo todas as possibilidades de conversar sobre transferência de tecnologia para o Brasil. Eu acho até muito inteligente nesse sentido. Ao mesmo tempo, nós completamos uma etapa no Japão. Estamos satisfeitos com o que aconteceu no Japão, com as propostas que fizemos e os acordos que firmamos. Se estrategicamente ele [Lula] quer abrir ou continuar conversações, acho que é perfeitamente natural’, disse.


As declarações do ministro na semana passada eram mais incisivas: ‘O Ministério das Comunicações cumpriu seu papel e, a menos que o presidente Lula determine a reabertura das negociações, não temos mais o que discutir com os europeus. O tempo de discutir terminou’.


No último dia 13, ministros brasileiros estiveram no Japão e assinaram um memorando de entendimento com o governo japonês. De acordo com o texto do memorando, o Brasil tem ‘forte desejo’ de adotar o padrão japonês (ISDB) de TV digital. Os japoneses, por sua vez, comprometeram-se a apoiar empresas que desejem estudar a possibilidade de instalar uma fábrica de semicondutores no país.


Na edição de 8 de março, a Folha publicou que o governo brasileiro já se decidiu pelo padrão japonês. O padrão é o preferido pelas emissoras de televisão, e o governo considera importante ter o apoio político das redes em ano eleitoral. Além disso, os japoneses se propõem a estudar a possibilidade da instalação de uma fábrica de semicondutores no Brasil.


Quatro dia depois da visita ao Japão, em 17 de abril, a União Européia enviou carta à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff convidando a comitiva de ministros que esteve no país asiático a visitar também a Europa. O convite foi feito pelo embaixador da União Européia, João Pacheco. Ainda não houve resposta.


Segundo Costa, uma lista de empresas nacionais ‘que estão mais à frente no processo de transferência de tecnologia’ está sendo elaborada por ele e pelo ministro Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia). Ele citou como exemplo as empresas Gradiente e Linear (com sede em Santa Rita do Sapucaí, Minas Gerais).


‘O que o presidente está querendo é ver o pulso das empresas brasileiras. Qual a disposição delas’, afirmou Costa. De acordo com o ministro, a viagem do presidente Lula à Europa em maio não está relacionada à escolha do padrão de TV digital.


‘Se vai esperar ou se não vai [a viagem à Europa], é o presidente que vai decidir. Ele desautorizou, pelo menos na minha frente, qualquer insinuação de que ele estaria indo à Europa para fazer negociações de TV digital’, disse o ministro. Lula vai à Europa em maio para participar da Cúpula Europa-América do Sul.


Padrão japonês


Hélio Costa sempre se declarou favorável à escolha da tecnologia japonesa, chamada ISDB, que é defendida pelos radiodifusores. Depois da visita ao Japão, há uma semana, ele afirma estar ainda mais convencido da escolha.


‘Continuo insistindo em que o sistema europeu não atende às necessidades definidas pelo Brasil. A televisão digital terá de ser aberta e gratuita, além de oferecer portabilidade e mobilidade’, disse Hélio Costa. Portabilidade é a transmissão para aparelhos portáteis, como televisores instalados em trens e ônibus, e mobilidade é a recepção da programação de TV por celulares. As televisões querem que ambas sejam gratuitas.


Os radiodifusores defendem o padrão japonês porque ele permite a transmissão de TV para telefones celulares sem passar pela rede das companhias telefônicas. O ISDB permite que a programação aberta seja recebida pelos celulares com a instalação de um chip.


O sistema europeu é defendido pelas companhias telefônicas, que querem transmitir sinais de vídeo como um serviço adicional a ser cobrado do usuário.


Por trás da discussão sobre a escolha do padrão de televisão digital está uma disputa de mercado entre os radiodifusores e as empresas de telefonia. A Rede Globo tem dito que a tecnologia a ser escolhida tem de propiciar a alta definição e transmissão aberta e gratuita para que a radiodifusão sobreviva no cenário de concorrência com a companhias telefônicas, empresas de internet e TVs pagas.


Já as indústrias européias sustentam que a escolha do padrão japonês deixaria o Brasil fora da tendência de convergência tecnológica das mídias para preservar o monopólio da radiodifusão.


Hélio Costa disse estar cansado de discutir com os fabricantes europeus e afirmou, em tom de ironia, que eles insistem em vender ao Brasil uma tecnologia que nem os europeus estão comprando.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Globo inaugura Disneylândia de R$ 2 mi


‘Com uma festa para cerca de 560 convidados (mais 80 jornalistas, de 40 veículos), a Globo fez anteontem uma inauguração de mentirinha do maior cenário com interior já erguido no Projac, a ‘loja-conceito’ Luxus, a versão fictícia carioca da Daslu, principal ambiente da nova novela das sete, ‘Cobras & Lagartos’, que estreou ontem com a meta de recuperar o ibope perdido por ‘Bang Bang’.


A inauguração, com queima de fogos e fitinha cortada por Francisco Cuoco, foi ‘fake’ porque a Luxus já vem sendo usada para gravações. Mas muita gente levou a sério _e até tentou se enquadrar no traje ‘chique criativo’ que pedia o convite.


Numa cena inusitada, Vera Loyola, ícone dos novos-ricos, foi flagrada sentada na calçada, esperando a abertura da megaloja, que tem um ‘lava-pés’ na recepção.


Lá dentro, o autor de ‘Cobras & Lagartos’, João Emanuel Carneiro, que pisava pela primeira vez na Luxus (cujo piso parece mármore, mas é lajota), estava fascinado pela obra que originalmente imaginou como um lugar com tigres e coalas no meio de grifes caras. ‘É incrível como é grande, parece a Disneylândia’, dizia.


Orgulhoso de abrir ‘o maior cenário que já viu’, o diretor-geral Wolf Maya exaltava. ‘Foram gastos R$ 2 milhões só aqui. Deveriam preservar para visitas de estudantes’, contou, lamentando que, ao final de ‘Cobras & Lagartos’, tudo será destruído.


Em estilo neoclássico, a over Luxus tem no total 4.000 m2. Tem estrutura em alvenaria e revestimento cenográfico. As paredes são enormes painéis (plots), com pinturas de florestas e animais e afrescos que remetem a quase toda a história da arte, com referências a Michelângelo e Rafael e até ao surrealismo. Portais com desenhos de Chanel e Yves Saint Laurent abrem para cenários (em outro estúdio) com peças de luxo.


O cenógrafo Raul Travassos conta que a inspiração vem de Roma: ‘Antes, a referência era a Daslu, mas isso não tinha nada a ver com o Rio, cuja arquitetura é afrancesada com inspiração em Roma’. Surgiu então a fachada com colunas romanas e, na frente dela, um chafariz que imita o do Louvre. ‘A Luxus é o delírio total do consumismo, uma Las Vegas por nós inventada. Se existisse de fato, ficaria na Barra da Tijuca.’


A Globo distribuiu aos convidados chocolate cenográfico. ‘Tem cheiro de Baygon’, reclamou Totia Meireles. Depois da inauguração, atores como Mariana Ximenez interpretaram DJs. Escolheram algumas músicas, mas nem encostaram nas pick-ups.


Enquanto repórteres disputavam declarações de Cléo Pires (monossilábica) e Carolina Dieckmann (excepcionalmente simpática), o tímido João Emanuel fazia uma revelação, que ele mesmo classificou de ‘de final de novela’: é irmão, por parte de pai, da atriz Cláudia Ohana.’


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 25 de abril de 2006


TV DIGITAL
Gerusa Marques


Lula conversa sobre TV digital com a indústria


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva receberá nesta semana, provavelmente amanhã ou na quinta-feira, empresários da indústria brasileira de televisores e eletroeletrônicos para discutir a implantação da TV digital no Brasil. A informação foi dada ontem pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa, para quem o presidente está ‘estrategicamente’ abrindo todas as possibilidades de negociação para a transferência de tecnologia digital para o Brasil.


O governo quer saber qual é a disposição dessas empresas em participar do desenvolvimento do parque de semicondutores e da produção de televisores digitais no Brasil. Entre elas, segundo Costa, está a Gradiente, a Semp e a Linear, esta última fabricante de transmissores digitais. Uma das idéias, segundo o ministro, é que essas indústrias ampliem sua produção para outros países da América Latina.


Uma nova rodada de reuniões com representantes das emissoras de TV deve ocorrer na próxima semana. Está prevista também a visita de empresários da Toshiba, uma das empresas japonesas interessadas em instalar uma fábrica de semicondutores no País. O interesse da Toshiba foi manifestado há duas semanas, quando um grupo de ministros esteve em Tóquio para negociar com o governo japonês contrapartidas a uma eventual escolha do padrão japonês.


Na semana passada, ao voltar da viagem, Hélio Costa deu a entender que as negociações já estavam encerradas e o Brasil havia feito a escolha do sistema japonês. Mas ontem o ministro não foi tão enfático. ‘O que eu disse, ao voltar do Japão, é que temos dado ao presidente todos os instrumentos e cabe a ele a decisão.’


Costa se declarou satisfeito com as negociações com os japoneses. ‘Estamos satisfeitos com os acordos que firmamos. E o presidente manifestou essa mesma impressão que nós tivemos.’ No Japão, foi assinado um memorando de entendimento, mas os japoneses não assumiram um compromisso formal de instalar no Brasil uma fábrica de semicondutores.


‘Se, estrategicamente, ele (Lula) quer abrir ou continuar conversações, acho perfeitamente natural que ele faça isso’, disse Costa.


Além do padrão japonês, o Brasil estuda ainda as tecnologias européia e americana. A União Européia já convidou o governo brasileiro a enviar representantes à Europa para a assinatura de um compromisso de instalação de uma fábrica de semicondutores no Brasil.’


TELEVISÃO
Cristina Padiglione


Record planeja Hoje


‘Dando seguimento ao programa de governo Quero-ser-a-Globo, a Record planeja para o segundo semestre um noticiário de 40 minutos nos mesmos moldes – e horário – do Jornal Hoje, produto que acaba de completar 35 anos de vida na TV Globo. O projeto foi pensado inicialmente para vingar antes de julho, mas os investimentos na teledramaturgia e na reforma do telejornal carro-chefe acabaram por roubar da direção da casa todos os olhares – não a verba, isso não, que capital parece termo inesgotável para os cofres da Record.


A julgar pela rapidez dispensada pela TV de Edir Macedo no planejamento e na execução de seus projetos, é bem possível que o Hoje da Record chegue à tela antes do Hoje do SBT, que já há algum tempo alardeia as intenções de produzir um telejornal de rede na hora do almoço.


Silvio Santos pode ser mais impusilvo que os bispos da Record na tomada de decisões – vide o Jornal do SBT às 22 horas, que foi confirmado na sexta-feira para estrear hoje. O caso é que decidir por decidir, sem planejamento e aviso prévio ao mercado publicitário, quase sempre resulta em desperdício. É jogar pérolas aos porcos.’


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