Leia abaixo os textos de quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas. ************ O Estado de S. Paulo
Quarta-feira, 30 de agosto de 2006
CONGRESSO DOS JORNAIS
Liberdade de imprensa não pode ser um ‘valor relativo’, diz Lula
‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acompanhado por alguns dos seus principais ministros, abriu ontem o 6º Congresso Brasileiro de Jornais, em São Paulo, com um discurso em que enfatizou a liberdade de imprensa e enalteceu o papel dos jornais na redemocratização do País. ‘O estado democrático só existe, se consolida e se fortalece com uma imprensa livre.’
E lembrou: ‘Minha história política deve muito à imprensa livre e independente. A publicidade que ela deu à luta pela renovação do movimento sindical e pela organização dos trabalhadores nos anos 70, a despeito da censura que ainda vigorava naquele tempo, foi fundamental para o início de um novo ciclo da história brasileira, do qual tive o privilégio de participar.’
O presidente leu o discurso, sem improvisar. Segundo Lula, a liberdade de imprensa não pode ser ‘um valor relativo’. ‘A liberdade de expressão foi uma das maiores conquistas históricas da sociedade humana. E é um dos bens mais preciosos da vida social’, afirmou.
O presidente chamou atenção para o fato de que o Brasil conta hoje com ‘todos os dispositivos institucionais’ necessários para que a imprensa atue com liberdade. ‘Nossa legislação impede qualquer forma de censura. O Estado tem se pautado por não causar qualquer tipo de interferência nos meios de comunicação social.’
Para o presidente, todos devem estar de acordo que ‘o único juiz da atuação da imprensa é a própria população’. ‘Ela, sim, consegue ver se os problemas do seu cotidiano estão ou não representados nas notícias e nos debates que são veiculados pelos meios de comunicação. E sabe reconhecer quando o jornalismo é, de fato, a grande praça pública onde sua voz pode ser ouvida.’
O presidente encerrou seu discurso com um cenário positivo na economia e disse que pode ser um bom momento para os jornais. ‘Mesmo se levarmos em conta a crescente competição com os meios digitais, a circulação diária dos jornais impressos, que em 2005 foi, em média, de 6 milhões e 780 mil exemplares, mostra que ainda há muito espaço para o crescimento deste meio.’
‘Com os índices crescentes de escolaridade, do emprego formal e da massa salarial, aliados à ascensão de um enorme segmento de nossa sociedade ao mercado de consumo, o público potencial dos jornais aumenta ainda mais.’’
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Restrições na América Latina
‘A defesa da liberdade de imprensa foi um dos pontos mais destacados pelos empresários reunidos na Primeira Cúpula Latino-Americana de Líderes de Jornais, encerrada ontem em São Paulo. ‘A liberdade dos jornais é o sustentáculo de nossa atividade’, disse Nelson Sirotsky, presidente da Associação Nacional dos Jornais (ANJ) e presidente do grupo RBS.
Na avaliação dos empresários, Cuba, Bolívia, Venezuela e Paraguai enfrentam, em diferentes graus, restrições à livre circulação de informações, o que penaliza os veículos de comunicação e limita o direito dos cidadãos ao acesso às informações.
Ao final do encontro, os empresários decidiram criar canais para compartilhar informações sobre liberdade de expressão. ‘Vamos discutir também caminhos institucionais para darmos maior visibilidade a quem ameaça a liberdade de expressão no continente latino-americano’, disse Sirotsky. Há ainda a possibilidade de montar, por meio da internet, uma rede de defesa da liberdade de imprensa, aberta a toda a comunidade latino-americana.’
Marili Ribeiro, Patrícia Cançado
O desafio das novas tecnologias
‘Há uma boa e uma má notícia para os jornais brasileiros. A boa é que houve uma retomada do mercado, com aumento de 4,1% da circulação e de 12,7% da receita publicitária em 2005. A má notícia está por vir. Os jornais têm um grande desafio pela frente: reagir aos avanços da internet, do celular e aparelhos eletrônicos portáteis, como iPod e computadores de mão, na difusão de informações.
O futuro do jornal é o tema principal do Congresso Brasileiro de Jornais, da Associação Nacional de Jornais (ANJ), que começou ontem à noite em São Paulo e vai até amanhã.
Especialista que acompanha há anos o tema e abre a série de palestras de hoje, Timothy Balding, presidente da Associação Mundial de Jornais (WAN), não se abate ante os argumentos dos que profetizam o fim do jornal – há alguns anos, Bill Gates foi um deles. Para Balding, os jornais estão disputando atenção e tempo com os novos meios. ‘Isso não significa briga pelo conteúdo. O jornal, como conceito, não vai acabar nunca’, diz.
Na visão de Balding, a análise crítica é uma função exclusiva dos jornais. A internet, assim como o rádio e a TV, não têm a pretensão de exercer esse papel social. ‘Os jornais têm de se fixar na seleção criteriosa das matérias e no aprofundamento dos temas’, diz.
Para sobreviver, o jornal impresso deve saber como invadir a fronteira da internet. Não basta replicar o conteúdo do papel na rede. É preciso absorver a interatividade do meio.
Balding estuda os casos bem-sucedidos de grupos de comunicação no mundo que já descobriram seu lugar nessa nova era da informação. Alguns deles serão apresentados em sua palestra no congresso.
Um exemplo citado por Balding é o de um jornal finlandês, que desenvolveu dez sites sobre diferentes assuntos a partir da troca de idéias e informações com blogueiros. Os endereços são hoje os mais visitados do país. ‘Nos últimos dez anos, os jornais enfrentaram mais desafios que nos últimos quatro séculos’, afirma Balding.
Segundo ele, o lado bom dessa revolução é que os jornalistas são profissionais mais dispostos a compartilhar mudanças e a lidar com o novo.
Nem mesmo os argumentos que os jovens não lêem, outra suposta ameaça ao futuro dos jornais, preocupam Balding. Para ele, os jovens lêem, sim. Mas o consumo depende do conteúdo, do formato e do preço. ‘Em Paris, os jovens se aglomeram na porta do metrô para pegar os jornais distribuídos de graça na cidade’, conta.
No Brasil, a realidade é um pouco diferente. Segundo dados da ANJ, a participação do público de 15 a 24 anos no total de leitores caiu de 2001 para 2005 – saiu de 26% para 23%. ‘É uma queda considerável, que mostra uma tendência. Os jornais brasileiros não estão sabendo falar com esse público’, afirma o consultor de mídia Carlos Alberto di Franco, que vai tratar do assunto na palestra de quinta-feira, 31. ‘Esse público gosta de ler. Ele lê páginas e páginas de Harry Potter e Senhor dos Anéis’, diz Di Franco.
Di Franco concorda com a opinião de Balding sobre a relevância do papel social do jornal. O desafio, segundo ele, é publicar cada vez mais uma informação aprofundada e organizada. ‘Vai haver, sim, uma diminuição da expressão do jornal como meio no mundo inteiro, mas ele não vai deixar de existir’, acredita. ‘O jornal precisa se reinventar. Ele ainda é uma máquina pesada e burocrática, que caminha numa velocidade que não é a do mundo digital.’
A abertura do congresso também marcou a posse da nova diretoria da ANJ para o biênio 2006/2008.’
ELEIÇÕES 2006
Serra diz que acertou ao não ir a debate de ‘baixo nível’
‘O candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, disse ontem que acertou ao não participar do debate anteontem na TV Bandeirantes com seus adversários. ‘Acho que estive certo. Muita gente, muito baixo nível’, avaliou Serra, que, mesmo ausente, foi o alvo preferido dos participantes.
Bem-humorado, o candidato ironizou o desempenho de seus adversários. ‘Você assistiu ao debate inteiro prestando atenção?’, perguntou, rindo, a um repórter. ‘Eu não assisti’, disse.
Embora não tenha ido, Serra se preparou para o enfrentamento. No domingo à noite, ele reuniu parte da sua equipe por cerca de duas horas para repassar as principais propostas do programa de governo e checar números. Até três horas antes do debate, a equipe do candidato estava mobilizada sem saber se ele iria ou não.
O ex-prefeito tem dito que vai a pelo menos um debate nesta eleição. ‘Sempre estou disponível a discutir quando a discussão possa ser produtiva’, disse, após evento promovido pela Associação Paulista de Jornais. Pela manhã, Serra havia visitado São Bernardo do Campo, no ABC.’
INTERNET
MPF afirma que alerta no Orkut é insuficiente
‘A briga entre o Ministério Público Federal e a Google Inc., responsável pelo Orkut, continua. A empresa minimizou o conteúdo do lembrete posto no ar desde sábado. O procurador Sérgio Suiama disse que nenhuma justificativa invalida a cláusula de irresponsabilidade que existe no termo. A mensagem diz que ‘conteúdo ilegal não será tolerado e será devidamente removido’. E completa: ‘Veja nossos Termos de Serviço.’ ‘Se a Google é notificada a remover página ilegal e não faz isso, se torna responsável’, disse Suiama, que investiga crimes praticados ou incitados via Orkut. ‘Além disso, insistem em aplicar leis americanas a um serviço para brasileiros.’ A Google não comentou as declarações. O MPF entrou com ação para obrigar a Google Brasil, ligada à Google Inc., a pagar multa e indenização por descumprir decisões da Justiça.’
TELEVISÃO
Senhora vai à justiça
‘O nome dela é Nelly Conceição: falamos aqui daquela senhorinha que genuinamente falou sobre seu primeiro orgasmo em rede nacional, no mais polêmico depoimento exibido após a novela Páginas da Vida. Anteontem e ontem ela foi ao programa de Sônia Abrão, na RedeTV! para dizer que perdeu seu emprego como babá e que foi alvo de chacota. Falou que a Globo editou aquele trecho de um depoimento que durou coisa de uma hora, tendo portanto agido de má fé.
A Globo, evidentemente, anuncia que a declaração foi autorizada por Nelly. Qualquer anônimo que grave alguma coisa, nem que seja pegadinha, costuma assinar um termo de autorização para uso de sua imagem.
A pergunta é: o que leva uma senhora cujo nome ninguém sabia até então a ir a outro canal de TV, de novo em rede nacional, para dizer tudo isso? Não que Sônia Abrão esteja errada em lhe dar espaço, isso não. Qualquer outro veículo que fosse procurado pela babá teria feito o mesmo. Segundo a produção, Sônia ofereceu espaço a Nelly no ar e ela então resolveu procurar pelo programa. A audiência de anteontem rendeu 3 pontos de média, pelo menos 50% mais do que costuma alcançar.
entre- linhas
A 02 Filmes descartou o nome Brasilândia para sua nova série em parceria com a Globo. A atração, que estréia em novembro, vai chamar-se Antônia, como o filme de Tata Amaral no qual a trama é baseada.
Andam complicadas as negociações da renovação do contrato de Silvia Poppovic com a TV Cultura.
Lauro César Muniz, autor de Cidadão Brasileiro, garante que está entregando os capítulos com antecedência ao elenco. ‘Estou mantendo uma média de 14 capítulos de frente.’ Portanto, os atrasos nas gravações, noticiados por esta coluna, tem outra procedência.
O Brazilian Day, festa brasileira que será realizada em Nova York no próximo dia 3, contará com as participações de Murilo Benício, Fernanda Vasconcellos e Ingrid Guimarães. A Globo exibe um compacto da festa no dia 10.
Bruno Campos, apesar de estar fora do Brasil há mais de 20 anos, ainda está afiado no português. Durante visita ao País para divulgar a terceira temporada de Nip/Tuck, que estreará dia 12, na Fox, o ator pediu ajuda poucas vezes para falar palavras até complexas. Campos, que ficou conhecido no Brasil e no exterior com o filme O Quatrilho, de Fábio Barreto, já participou de diversas séries americanas, como E.R., Will&Grace e Boston Legal.
Por falar em Fox, o grupo lançará uma faixa de atrações para bebês em seu canal Fox Life.’
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Folha de S. Paulo
Quarta-feira, 30 de agosto de 2006
CONGRESSO DE JORNAIS
Lula diz que mídia deve ser fiel à verdade
‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou ontem da cerimônia de abertura do ‘6º Congresso Brasileiro de Jornais’, promovido pela ANJ -Associação Nacional de Jornais. No evento, o presidente reafirmou seu compromisso pessoal e de governo com a liberdade de imprensa e ressalvou que essa liberdade está ligada ao compromisso com a verdade.
A declaração de Lula foi feita um dia depois de a Folha divulgar o polêmico projeto do PT de ‘democratizar’ a comunicação, com o incentivo à criação de meios independentes de grandes grupos econômicos. A iniciativa seria subordinada a uma secretaria ligada à Presidência da República.
‘Um dos princípios da Carta de Chapultepec afirma que a liberdade de imprensa está ligada ao compromisso com a verdade, a busca de precisão e a imparcialidade’ , disse Lula.
O presidente ainda completou: ‘A influência da palavra escrita dependerá sempre da sua veracidade e a nação pode confiar com segurança na sábia discriminação de um público leitor que, com a melhora da educação em geral, seja capaz de discernir entre a verdade e a ficção’.
Sob a coordenação da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa), a Declaração de Chapultepec foi aprovada em março de 1994, no Castelo de Chapultepec, na Cidade do México, e afirma o compromisso e o apoio à liberdade de expressão e de imprensa. Trata-se de uma carta de princípios assinada por chefes de Estado, juristas, entidades ou mesmo cidadãos comuns.
Em recentes discursos e atos públicos de campanha, Lula tem criticado a atuação da imprensa e diz ser discriminado. Além do presidente, membros do PT e do governo acusam setores da mídia de fomentar atitude golpista.
Minutos antes de Lula iniciar sua fala, o presidente da ANJ, Nelson Sirotsky, que foi reconduzido ontem ao cargo, afirmou que a adesão do presidente aos princípios da Carta, em maio deste ano, ‘é um compromisso definitivo do cidadão Luiz Inácio Lula da Silva com os princípios da liberdade de expressão e de imprensa em nosso país’.
Lula afirmou ainda durante o discurso que a história política da vida dele deve-se muito à imprensa livre e independente. ‘A publicidade que ela deu à luta pela renovação dos movimentos dos sindicatos e da organização dos trabalhadores nos anos 70, a despeito da censura que ainda vigorava naquele tempo, foi fundamental para o início de um novo ciclo da história brasileira. O meu compromisso com a liberdade e a democracia é sagrado.’
Combate à corrupção
O homenageado da noite, Jaime Sirotsky, que já presidiu a associação e recebeu o título de sócio honorário da ANJ, disse que uma mídia independente permite o combate à corrupção. ‘Nos regimes autocráticos, as mazelas não aparecem porque ficam mais escondidas.’
O evento contou com a participação dos ministros Celso Amorim (Relações Exteriores), Márcio Thomaz Bastos (Justiça), Dilma Rousseff (Casa Civil), Tarso Genro (Relações Institucionais) e Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência); do presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), do governador de São Paulo, Cláudio Lembo, e do prefeito da capital, Gilberto Kassab (PFL).
O congresso continua hoje e amanhã no WTC Hotel, em São Paulo, e deverá contar nesta edição com um número recorde de 582 participantes.
Os trabalhos serão divididos em cinco palestras gerais e debates e painéis simultâneos. Serão discutidas tendências e inovações no campo do conteúdo, circulação, publicidade, tecnologia, gestão e responsabilidade social das empresas.
A abertura do congresso coincidiu com o encerramento da Primeira Cúpula Latino-Americana de Líderes de Jornais, que reuniu especialistas de 15 países diferentes em debates sobre os principais desafios estratégicos dos jornais da América Latina.’
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Há deformadores de opinião, aponta assessor de Lula
‘Assessor especial da Presidência e coordenador do programa de governo para um eventual segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marco Aurélio Garcia afirmou ontem que existem ‘deformadores de opinião’, e não ‘formadores de opinião’.
Sem mencionar diretamente os meios de comunicação, Garcia acusou setores da sociedade de atuarem como golpistas, por estarem inconformados com a perspectiva de um segundo mandato de Lula.
E disse não ter dúvidas da vitória da reeleição do candidato petista: ‘Vamos vencer porque a democracia venceu’.
‘Estamos vendo o ressurgimento de algo que parecia arquivado na história do Brasil, que é o golpismo. Alguém já disse que determinados fenômenos que, no passado, foram tragédia se repetem como farsa. O golpismo, hoje, é a farsa daquele golpismo que teve conseqüências trágicas para a sociedade brasileira’, afirmou o auxiliar do presidente.’
ELEIÇÕES 2006
A consagração da merda
‘SÃO PAULO – Pegou e fez escola a sociologia política da merda, exposta inicialmente pelo ator Paulo Betti para justificar a crise ética do governo Lula. Betti disse, curto e bem grosso: ‘Não dá para fazer [política] sem botar a mão na merda’.
Uma semana depois, Lula repete, menos grosso, mas rigorosamente com o mesmo sentido: ‘Política a gente faz com o que a gente tem. Não com o que a gente quer’. E, em seguida: ‘Maioria a gente constrói pelo que a gente tem ao nosso lado.
Não pelo que a gente pensa que tem. Esse é o jogo real da política que precisou ser feito em quatro anos para que chegássemos a uma situação altamente confortável’.
Não é que seja novidade ou surpresa. Novidade é o fato de que quem se dizia monopolista da ética agora assume gostosamente a mais cínica versão do que é política.
De quebra, desconstrói as versões anteriores, a da ‘conspiração das elites’ e a do ‘fui traído’, que todo mundo sabia que eram ficções, mas que foram sustentadas ao longo de toda a crise. Não houve traição, confessa agora Lula. Houve ‘o jogo real da política que precisou ser feito’. Leia-se: o mensalão (para não falar em outras atividades, tipo sanguessugas, que também envolvem figuras graúdas do lulo-petismo).
Compare-se o Lula de hoje com o Lula do seguinte trecho de seu discurso de posse: ‘O combate à corrupção e a defesa da ética no trato da coisa pública serão objetivos centrais e permanentes do meu governo. É preciso enfrentar com determinação e derrotar a verdadeira cultura da impunidade que prevalece em certos setores da vida brasileira’.
Pronto, está demonstrado o estelionato eleitoral praticado em 2002. Vai-se repetir agora, ao que tudo indica, mas já não como estelionato. O eleitor está informado que o presidente botou a mão na merda. Mas não se importa.’
VIAGENS COM O PRESIDENTE
Livro mostra presidente xingando Kirchner, após beber três doses de uísque
‘O ‘Lulinha paz e amor’, essa hábil construção do marketing político, desaparece entre a terceira e a quarta dose de uísque e se transforma em uma catarata de palavrões e ofensas a presidentes e países supostamente aliados.
É o que contam Eduardo Scolese e Leonencio Nossa, que cobrem o Palácio do Planalto para, respectivamente, a Folha e ‘O Estado de S. Paulo’, no livro ‘Viagens com o Presidente – Dois Repórteres no Encalço de Lula do Planalto ao Exterior’.
Scolese e Nossa relatam jantar na embaixada do Brasil em Tóquio, no final de maio de 2005, presentes cerca de 20 pessoas, todos brasileiros, no qual, após beber três doses de uísque e com a quarta ao meio, o presidente diz coisas como:
‘Tem horas, meus caros, que eu tenho vontade de mandar o Kirchner para a puta que o pariu’.
‘Aquele lá [referindo-se a Jorge Battle, então presidente do Uruguai] não é uruguaio porra nenhuma. Aquele lá foi criado nos Estados Unidos. É filhote dos americanos.’
‘O Chile é uma merda. O Chile é uma piada. Eles fazem os acordos lá deles com os americanos. Querem mais é que a gente se foda por aqui. Eles estão cagando para nós.’
Sobrou também para os fazendeiros: ‘Tem que acabar com essa porra de fazendeiros que toda hora vem pedir dinheiro ao governo’.
O discurso, se é que pode se dizer assim, de Lula em Tóquio se deu no exato momento em que fracassavam os esforços do governo para impedir a CPI dos Correios, aquela que acabou expondo o mensalão e levou o presidente a dizer-se traído, sem no entanto apontar os traidores.
O livro de Scolese e Nossa, que acompanham o dia-a-dia palaciano há dois e três anos, respectivamente, relata uma brincadeira dos repórteres: perguntar, nas poucas vezes em que podiam se aproximar do presidente, quem era o traidor.
‘Viagens com o Presidente’ tem o grande mérito de tratar Lula -e, de quebra, uma porção de ministros e assessores- como pessoa física, ao contrário do que ocorre, habitualmente, no noticiário a respeito das atividades presidenciais.
O presidente (qualquer que seja) é apresentado apenas como a pessoa que faz discursos, assina atos, inaugura obras, reúne-se com seus pares e assim por diante. Dá a impressão de que não come, não bebe, não faz pipi, sexo ou qualquer outra atividade inerente ao ser humano.
Já na sua segunda página (fora os agradecimentos, o sumário e a apresentação), os dois repórteres contam, por exemplo, o primeiro diálogo entre Lula e Fernando Henrique Cardoso, no dia seguinte à vitória do petista em 2002.
Lula: ‘Fernando, como você faz para dar uma escapadinha?’
FHC: ‘É impossível, Lula…impossível…Aqui tem ajudante-de-ordens para todos os lados’.
O Lula-pessoa-física que emerge do livro tem pouco ou nada a ver com o ‘paz e amor’ do marketing. Ironiza auxiliares, pode ser bastante ríspido com eles e usa palavrões com uma freqüência fora do comum. Os auxiliares parecem não se incomodar. Ao contrário: ‘Ouvir um palavrão [do presidente] pode significar status’ perante Lula, contam os dois repórteres.
O livro não é nem pretende ser um retrato acabado de Lula. Até porque as conhecidas dificuldades de acesso ao presidente permeiam boa parte das páginas. Mas mostra, sim, bastidores do funcionamento da Presidência que, no cotidiano do jornalismo, acabam sendo, na melhor das hipóteses, pé de página nos jornais.’
TODA MÍDIA
Esculacho
‘A pesquisa Sensus fez manchete nos portais, à tarde, e levou tucanos e pefelistas ao limite. Álvaro Dias, no blog de Ricardo Noblat, bradou que ‘é hora de mudar a estratégia, o discurso e a postura’.
Ato contínuo, no de Josias de Souza, ‘Tasso Jereissati e ACM sobem à tribuna para esculachar Lula’.
Entre outros adjetivos, ‘mentiroso’ e ‘ladrão’; entre outras frases, ‘sempre utiliza o álcool’. Por fim, FHC surgiu no ‘JN’ dizendo ‘eu não sou igual a ele, eu não sou igual a ele’.
O mesmo ‘JN’, então, apareceu com o Datafolha_e, apesar dos redondos 50% de Lula, pouco ou nada mudou. Alckmin até subiu dois pontos, contra um.
DÓLAR NA CUECA
Antes mesmo do ‘esculacho’ na cobertura, Geraldo Alckmin entrava de manhã, no horário eleitoral de rádio, falando em ‘não ser malandro’, ‘brasileiros roubados’, até em ‘dólar na cueca’.
À noite, ele próprio foi contido como sempre, citando corrupção de passagem. O ataque, com ‘cueca’ e menções a Waldomiro Diniz e Delúbio Soares, ficou para a extensão do programa _com locutor e fundo vermelho.
POR OUTRO LADO
Entra Délis Ortiz e, na Globo, diz que ‘o senador Antero Paes de Barros, do PSDB de Mato Grosso’, entrou na lista dos investigados pela CPI dos Sanguessugas, ‘acusado de negociar com a máfia’.
INIMIGO
Na série sobre o Brasil, o ‘El País’ escreveu ontem sobre a ‘locomotiva’ São Paulo, ‘o grande bastião do PSDB’. No título, referência ao Estado, ‘O maior inimigo de Lula’.
TRADIÇÃO Enquanto Lula prometia empregos, nas palavras de Fátima Bernardes, ‘os metalúrgicos da Volks de São Bernardo do Campo decidiram em assembléia entrar em greve’, contra as 1.800 demissões. Entra o repórter, saudoso, ‘a greve foi decidida na velha tradição do sindicalismo do ABC: os trabalhadores fazem a paralisação dentro da empresa’.
O DIABO NOS DETALHES
A atenção foi pouca nos telejornais, mas foi a manchete na Folha Online, ‘Programa de governo de Lula critica FHC’, e no site de ‘O Estado de S. Paulo’, ‘Programa de Lula foca desenvolvimento’. E foi a obsessão do http://Valor On Line’>Valor On Line o dia todo, com reportagens sobre reportagens.
Abriu com registros genéricos, tipo ‘defende reforma política com financiamento público’ e ‘promete emprego e crescimento’. Depois foi ao detalhe, ‘Lula vê problemas na Previdência, mas o programa não traz reforma’, ou ainda, ‘não traz meta de superávit primário’. De todo modo, ‘mantém tendência da atual política econômica’.
PROMESSAS
A agência Reuters e o site do ‘Financial Times’ foram na mesma linha. Para a primeira, Lula ‘prometeu mais gastos do governo e programas sociais para ajudar os pobres’ e ‘também assegurou investidores de que vai manter um caminho fiscal cauteloso’. Mas ‘a plataforma não previu a reforma do sistema previdenciário endividado’.
O FT.com avaliou que o programa, que ‘promete estimular o crescimento com maiores investimentos na economia’, não traz ‘objetivos e propostas concretas’. Em suma, ‘evita detalhes’.
FALCÃO
Na Bloomberg, misto de agência, site e TV, elogios de sobra, desde o título ‘Lula, surpreendente falcão da inflação, se volta aos empregos’.
Ele ‘surpreendeu investidores ao cortar inflação e déficit orçamentário’ e agora ‘promete gastar quatro anos construindo sobre o sucesso para estimular crescimento’.
Além de investidores, foi entrevistado o brazilianista Thomas Skidmore, para quem ‘Lula começou como um populista e ninguém imaginava que terminaria arrumando e organizando um capitalismo brasileiro melhor’.’
NYT
CONTESTADOVinícius Queiroz Galvão
‘NYT’ retira do ar reportagem sobre plano terrorista
‘O portal do jornal americano ‘The New York Times’ retirou do ar para leitores britânicos reportagem em que revela detalhes da investigação da Scotland Yard sobre um suposto plano terrorista para explodir aviões de carreira na rota Reino Unido-EUA.
Exemplares da versão impressa foram tirados de circulação no Reino Unido, e o texto também foi omitido do ‘International Herald Tribune’, que publica reportagens do ‘NYT’ na Europa. Para suspender o acesso à versão online da reportagem no Reino Unido, o jornal usou a tecnologia que classifica propagandas veiculadas no portal segundo a origem do computador que o acessa.
A decisão ocorre num momento em que o ‘NYT’, um dos jornais de maior prestígio e circulação do mundo, passa por uma crise de credibilidade e esquenta a discussão sobre liberdade de conteúdo na internet.
No Brasil, o Ministério Público Federal de São Paulo entrou na semana passada com uma ação civil pública contra a Google Brasil Internet Ltda. para que a empresa abra os dados de internautas suspeitos de veicular páginas e comunidades de pedofilia e de racismo no site de relacionamento Orkut.
Dias depois, o Orkut passou a exibir um alerta aos usuários em que ameaça tirar do ar perfis com conteúdo ilegal.
Orientação legal
O título ‘Surgem detalhes do terror britânico’ no site do ‘NYT’ levava à seguinte explicação: ‘Por orientação legal, este texto está indisponível aos leitores do nytimes.com no Reino Unido. A lei britânica proíbe a publicação de informações que prejudiquem acusados antes de julgamento’.
O mesmo motivo foi citado pelas autoridades britânicas para não divulgar detalhes sobre a investigação que levou à prisão de 21 suspeitos de planejar explodir bombas em aviões, há três semanas.
A reportagem descreve, por exemplo, um vídeo gravado por dois dos suspeitos em que justificam o plano como uma vingança contra os EUA e seus ‘cúmplices’, o Reino Unido e os judeus. ‘Enquanto você bombardear, será bombardeado; enquanto você matar, será morto’, disse um dos homens na gravação.
Relata ainda que, além de dezenas de fitas de vídeo, a Scotland Yard obteve recibos de transferências bancárias do exterior e um diário que parece detalhar o esquema.
Procurados, representantes do ‘NYT’ não responderam aos pedidos de entrevista da Folha. O jornal disse que sua posição estava relatada em nota divulgada no site.
Nela, o vice-presidente e secretário-geral do conselho editorial, George Freeman, afirma que ‘cada caso é um caso’. ‘Apesar de estarmos lidando com um país com liberdade de imprensa, devemos respeitar as leis locais.’
Seria a primeira vez que o ‘NYT’ voluntariamente restringe informação aos assinantes britânicos. O texto pode ser lido em português no portal UOL (http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2006/ 08/29/ult574u6947.jhtm) e no original em inglês no nytimes.com.
Andrew Collier, analista da New York Global Securities, diz que não houve censura, mas cumprimento da lei. ‘O jornal agiu da maneira correta.’
Recentemente, o jornal recebeu críticas de leitores e da concorrência por ter segurado por mais de um ano a informação de que o presidente George W. Bush mantinha um programa secreto de escutas telefônicas à revelia da Justiça.’
INTERNET
Após um ano, Google acerta primeira parceria no Brasil
‘Pouco mais de um ano após a abertura de um escritório comercial no Brasil, a operação do Google no país acertou a primeira parceria com um portal nacional, o Vírgula, voltado ao público jovem. O acordo é anterior à ação do Ministério Público que envolve o Orkut, subordinado à matriz nos EUA.
‘É a primeira parceria completa fechada pelo Google no Brasil, igual ao que existe, por exemplo, nos EUA com a AOL’, diz Alexandre Hohagen, diretor-geral do grupo no país.
O acordo estabelece o Google como mecanismo exclusivo de busca no Vírgula e inclui duas de suas principais ferramentas, o Adwords (que vincula palavras-chave de buscas a links patrocinados) e o Adsense (por meio do qual são mostrados links patrocinados relacionados a conteúdo editorial).
Embora não abra dados do ‘faturamento crescente’, Hohagen diz que o primeiro ano do Google no país foi ‘bem-sucedido’, bem como o que chama de ‘evangelização’ do mercado corporativo (ele não comenta a polêmica do Orkut).
O trabalho de recrutar empresas como consumidores de suas ferramentas incluiu de palestras com executivos de marketing em todo o país ao desenvolvimento de interface mais ‘compreensível’ do Adwords.’
Folha de S. Paulo
Universal irá lançar site para baixar músicas
‘Duas novidades na área de download de músicas foram anunciadas ontem. A Universal Music anunciou o lançamento de um site em que será possível baixar músicas gratuitamente. Já a AOL colocou ontem em funcionamento seu site pago, com mais de 2,5 milhões de canções. O serviço, por enquanto, só vale para os EUA.
No caso da Universal, a aposta é que a publicidade poderá sustentar o serviço, conhecido como SpiralFrog, que passará a funcionar a partir de dezembro. O consumidor poderá baixar um número ilimitado de canções, mas não poderá gravá-las em CD.’
TELEVISÃO
Globo bane ‘repórter-carrapato’ na eleição
‘Com o objetivo declarado de fazer uma ‘cobertura das eleições pautada pela isenção e pelo equilíbrio editorial’, a Globo baniu de todas as suas emissoras a ‘figura do repórter setorista de candidato ou partido’.
Repórter setorista é aquele que só cobre determinado órgão ou, no caso das eleições, candidato. O ‘repórter-carrapato’, como também é chamado, é adotado por todas as demais redes de TV. Sua missão é acompanhar o dia-a-dia dos candidatos e detectar informações novas. A Globo optou pelo rodízio de repórteres.
O veto faz parte do documento ‘Política para Eleições 2006’, distribuído a jornalistas, atores, autores e diretores. O documento traz normas editoriais (como a restrição ao repórter setorista) e reproduz limitações legais, como a que levou o autor de ‘Páginas da Vida’, Manoel Carlos, a mudar a personagem de Renata Sorrah, que não será mais uma juíza inspirada na carreira da deputada federal Denise Frossard.
A ‘política para eleições’ da Globo lembra aos profissionais de programas de entretenimento (novelas, séries, humorísticos) que é proibido ‘tratar de temas políticos’ até 29 de outubro. Também é proibido exibir imagem de arquivo de artistas que estejam engajados em campanhas eleitorais. Atores que estão no ar não podem participar de campanhas, restrição também imposta a todos os executivos da rede.
ATRAÇÃO FATAL 1 A Record está fazendo uma nova ofensiva contra o elenco da Globo. Desta vez, está assediando estrelas jovens e com contrato em vigor. É o caso de Priscila Fantin. O vínculo da atriz com a Globo só vence em 2007, mas a Record propôs a ela o pagamento de multa contratual e papel de protagonista ‘em qualquer novela’.
ATRAÇÃO FATAL 2 Na semana passada, a Record tentou tirar Taís Araújo da Globo, mesmo ela estando no ar.
BARRIGA CHEIA A assessoria de Ana Paula Arósio passou o dia de ontem negando que a atriz passou mal durante gravações de ‘Páginas da Vida’ porque não se alimenta. ‘Ela come três vezes por dia e leva marmita com frutinhas’, disse o assessor Paulo Marra.
SEM ESTÁTUA A Globo acabou ficando fora da disputa dos prêmios jornalísticos do Emmy International deste ano, ao contrário do que ocorreu no ano passado. A emissora, que inscreveu sua cobertura da morte do papa João Paulo 2º, perdeu vaga para a argentina Artear-Canal 13.
JUSTIÇA CEGA 1 Advogada de Rogério Gallo, Gilda Figueiredo Ferraz vai recorrer da decisão do Tribunal Superior do Trabalho (TST) que manteve sentença que não reconhecia o direito de seu cliente a indenização por parte da Rede TV!, que o demitiu em 2000 sob a acusação de traição.
JUSTIÇA CEGA 2 Gilda diz também que a indenização por direitos trabalhistas que Gallo tem a receber ultrapassa R$ 2,5 milhões.’
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Agência Carta Maior
(www.agenciacartamaior.com.br)
ELEIÇÕES 2006
Sobre a suposta irrelevância da mídia
‘Em artigo ‘postado’ em seu blog no dia 19/08, o jornalista da Folha de S.Paulo, Josias de Souza, especula sobre uma suposta ‘irrelevância’ da mídia. Josias é um bom jornalista e seria precipitado, e até mesmo injusto, rotulá-lo, de modo simplista, de ‘tucano’, de ‘leviano’ ou coisa do gênero. Além do que, vale o registro, apesar de todos seus possíveis defeitos e ‘suspeições’, seu blog é um dos mais prestigiados da ‘blogosfera’ (explica-se: tem chamadas ostensivas na Folha Online e na UOL). Em face disso e da importância do tema, e com o propósito de repercutir a polêmica por ele sugerida, seu texto receberá aqui a devida ponderação bem como a sugestão de um outro possível caminho de leitura.
Decerto que a mídia grande, com a crescente popularização da internet e a conseqüente e louvável diversificação das fontes de informação, já não detém o monopólio da opinião, e tampouco da verdade, e já vem, inclusive, certamente por isso, estendendo seus tentáculos para a ‘blogosfera’ (o blog do próprio Josias, do Noblat e outros, são exemplos disso). Esse tema, da multiplicidade de fontes, merece, aliás, de fato e de direito, e em caráter de máxima urgência, um estudo e análise mais acurados. Porém não o farei nesse momento, o farei oportunamente, pois não é essa vertente que pretendo trilhar aqui. O que me interessa abordar, aqui e agora, é uma outra nuance, pouco percebida a partir do que sugere, e ao mesmo tempo oculta, o artigo de Josias. Ou seja, uma outra leitura das idéias que dormitam nas suas entrelinhas e que estão por trás daquele aparentemente bem-intencionado e ‘honesto’ artigo.
Ora! Por que a mídia seria agora considerada ‘irrelevante’ por um de seus expoentes!? Na opinião do jornalista – e isso só se percebe se prestarmos bastante atenção no ‘sub-texto’ que denuncia a ideologia e a ‘tendência’ do autor -, a mídia agora é irrelevante tão-somente porque, a despeito dela, grande imprensa, fazer campanha ostensiva contra o atual governo e declaradamente a favor do candidato Alckmin, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva é ainda apontado como favorito nas pesquisas de intenção de voto – e, mais que isso, a aprovação ao seu governo é recorde. Tal panorama, ainda segundo o texto, ‘humilha a mídia’. Donde se percebe que, para esse senhor e seus colegas de Redação (na Folha), o conceito de ‘irrelevância’, assim como os conceitos de ‘Justiça’, ‘verdade’ ou mesmo o de ‘boa governança’ são bastante relativos e sujeitos a aplicações e avaliações seletivas. O que deixa mais ou menos evidente que Josias e outros seus colegas da grande imprensa apontam suas ‘isentas’ opiniões para onde sinaliza a biruta, não de seus interesses, claro, mas dos interesses de seus patrões.
A mídia grande há muito bombardeia a opinião pública com suas ‘verdades’ absolutas. Alardeia em suas manchetes, quase que exclusivamente, notícias negativas sobre o PT e/ou sobre o governo Lula. Numa linha editorial que inverte e consegue ser ainda mais cruel e infame que a máxima de Ricupero: ‘O que é ruim a gente mostra. O que é bom, a gente esconde’. Nas suas manchetes ou reportagens, não merecem destaque os bons resultados na economia ou as boas medidas e as políticas públicas implementadas pela gestão petista. Os seus principais colunistas e articulistas martelam diuturnamente, com calculada estridência, que o governo Lula é ‘o mais corrupto da história’ – isso a despeito das inúmeras prisões de corruptos e outros meliantes decorrentes das ações da PF iniciadas e/ou incrementadas nesse governo. E tome superlativos, hipérboles e qualificativos ‘nada depreciativos’ direcionados ao presidente, ao seu governo, aos parlamentares do PT: ‘ladrões’, ‘quadrilha’, ‘camarilha’, ‘mensaleiros’ etc.
Difundiram, à exaustão, até marcar a ferro e fogo na opinião pública, o epíteto de ‘mensalão’ – na verdade, originalmente um ‘apelido’ jocoso/sarcástico dado pelo ‘insuspeito’ Roberto Jefferson ao atabalhoado esquema de caixa 2 do PT e dos partidos da base aliada. Disseram que o governo comprava consciências e votos de parlamentares – isso sem explicar o porquê da necessidade de se ‘comprar’ deputados do próprio partido do governo ou de sua base aliada (‘aliada’, o próprio nome já diz tudo). E sem informar aos seus leitores, de maneira honesta e isenta (pedagógica até), que essa prática, a dos chamados recursos ‘não-contabilizados’, apesar de espúria e condenável, é antiga e que não começou com o petista Delúbio, tampouco com o tucano Azeredo, ou até mesmo com Fernando Henrique quando este comprou sua reeleição. Não foram jornalistas o suficiente para informar que isso, na verdade, é uma excrescência do nosso modelo político, que necessita urgentemente ser reformado. Preferiram a retórica grandiloqüente e moralista, o cinismo, a mais pura hipocrisia. Preferiram jogar para a galera. É desonesto não informar corretamente os (e)leitores, e assim contribuir com uma melhor formação política do (e)leitorado, com o aperfeiçoamento das instituições e com o aprimoramento desse nosso modo nada original e ético de fazer política.
A mídia não era irrelevante quando elegeu Collor e ajudou a dar a FHC um segundo mandato. Aí, não! Aí a tal ‘irrelevância’ da mídia não existia ou, de modo conveniente, ainda não se aplicava. A mídia deixou de ser relevante, parece ser essa a opinião do jornalista da Folha, porque não conseguiu, por exemplo, forjar a ambiência necessária e, de modo golpista, pautar o impeachment do presidente Lula – à revelia da vontade da população, como o golpe em Hugo Chávez na Venezuela.
Ora! Lula tem (e mantém) bons índices de votação nas pesquisas, e sua gestão vem obtendo aprovação (recorde, é bom repetir) do eleitorado, porque está, de fato e sem favor algum, fazendo um bom governo – e não só para os pobres ou na opinião destes, como quer fazer crer essa grande imprensa agora tão ‘irrelevante’. Sim, pois os pobres só são bons, para a tal ‘elite branca’, quando estes votam nos candidatos dos seus patrões. O ‘pobre’ Josias, também ele, embora não se dê conta disso, só é útil (mas não inocente decerto) enquanto defende com sua ética seletiva os interesses dos Frias – e dos candidatos destes. Quem não se recorda do episódio na campanha de 2002 em que o candidato Lula foi destratado num almoço nas dependências da empresa Folha da Manhã e teve que se retirar abruptamente antes mesmo dos comensais colocarem os garfos lado a lado, nos pratos vazios, como manda a etiqueta? Mas as boas maneiras e os ditames da etiqueta parecem não freqüentar a casa do arrogante ‘Mr. OFF’ – aquele personagem ‘oculto’ que despoticamente opera nas sombras da Redação da Folha. Na casa de um torneiro mecânico, ou de um outro operário qualquer, certamente o jovem senhor Otávio Frias Filho, bem como o seu pai, não seriam tratados de forma tão grosseira e deselegante.
A mídia tornar-se-á de fato irrelevante se insistir em prosseguir mentindo e manipulando em nome da ‘verdade’ – da sua verdade, evidente. A grande imprensa não será capaz de convencer o povo que água é óleo. Pois o povo sabe, só de olhar, que a água é cristalina e serve para matar sua sede, como serve também para irrigar a terra e assim alimentar a cadeia da vida. Já o óleo serve para azeitar as máquinas das engrenagens dos patrões. Com o perdão da singela alegoria. Até a Globo – quem diria? – já mudou um pouco sua linha editorial para assim, quem sabe, sobreviver aos novos tempos. Não custa lembrar aquela palavra de ordem entoada nas manifestações dos anos de chumbo: ‘O povo não é bobo. Abaixo a rede Globo!’.
Assim, a prosseguirem no descaminho da mentira, da manipulação e do mais torpe parcialismo, veículos como ‘Folha’, ‘Estadão’ e Veja prosseguirão, cada vez mais, perdendo credibilidade – e, claro, leitores! Assim, a prosseguirem nessa toada, cada vez mais pessoas irão preferir beber em outras fontes não tão turvas: blogs, coletivos de jornalistas independentes e outros veículos da chamada imprensa alternativa – e é providencial que assim se dê. Assim, a prosseguir essa lambança, já nem sujaremos as nossas mãos (e consciências) com esses jornais e revistas feitos com papel, tintas e idéias tão ordinários. Como jornal velho, irão direto para a barraca do feirante, embalar peixe ou verdura. Afinal, no final das contas, ou no fim de feira, é para isso mesmo que vem servindo ultimamente esses jornais (e revistas) tão ordinários. Aí a mídia será, de fato, irrelevante. O povo, ao que parece, não é mesmo bobo.’
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