Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Lula nega ter escolhido o
padrão japonês de TV Digital


Leia abaixo os textos de quinta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


************


Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 9 de março de 2006


TV DIGITAL


Elvira Lobato


Europeus cobram neutralidade na TV digital


‘A informação de que o governo escolheu o padrão japonês para a implantação da TV digital, antecipada, ontem, pela Folha, provocou violenta reação das indústrias européias reunidas em torno da Coalizão DVB, fórum criado no final do ano passado, por fabricantes de equipamentos, para contrapor o lobby dos radiodifusores em favor do sistema japonês.


O presidente da Philips (uma das gigantes européias que integram a coalizão), Marcos Magalhães, cobrou isenção do governo na escolha do padrão e insinuou que a notícia havia sido ‘plantada’ pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa . Segundo ele, o governo deve se portar como um juiz, neutro. ‘O país tem de escolher se quer a democracia ou o monopólio do espectro magnético; se quer beneficiar um grupo econômico ou os cidadãos’, disse Magalhães, durante entrevista coletiva, no campus da USP (Universidade de São Paulo), onde foi feita uma demonstração do funcionamento do sistema europeu.


Executivos das seis empresas que formam a Coalizão DVB -Nokia, Siemens, Rohde & Schwarz, Thomson , ST Microeletronics e Philips- participaram da demonstração que, segundo afirmaram, tinha sido pedida pelo próprio ministro Hélio Costa.


Diante do receio dos radiodifusores de que as companhias telefônicas tomem parte de seus mercados com a adoção do padrão europeu, o presidente da Philips sugeriu que o governo dê reserva de mercado por dez anos aos radiodifusores para que façam a transição para os novos modelos de negócios criados pela convergência tecnológica.


O vice-presidente de Celulares da Nokia, Cláudio Raupp, disse que esteve anteontem com a ministra Dilma Roussef, da Casa Civil, em companhia do vice-presidente de Multimídia da empresa, Mark Selby, e que ela teria lhes garantido que não havia decisão quando ao modelo.


O presidente da Philips disse que a discussão de escolha do padrão de TV digital só ganhou transparência quando Dilma assumiu a coordenação, ‘há um par de meses’, e pediu que o processo seja levado à consulta pública. Na USP, as empresas procuraram mostrar que o sistema europeu atende aos requisitos determinados pelo governo.


Fábrica


Como a Folha divulgou ontem, pesou, em favor dos japoneses a expectativa de construção de uma fábrica de semicondutores, que envolveria investimentos da ordem de US$ 2 bilhões, e a promessa de transferência de tecnologia a fabricantes nacionais. Os dois argumentos foram também contestados pelas indústrias européias.


O presidente da Rohde & Schwarz, Heitor Vita, disse que o Japão é um mercado fechado e não iria transferir tecnologia para o Brasil porque isso o transformaria em um potencial competidor do Japão no futuro.


Já o presidente da Philips disse não ver perspectiva para construção de uma fábrica de semicondutores no país pelos japoneses.


‘O Brasil perdeu o trem da história dos semicondutores quando decretou a reserva de mercado quando a Secretaria Nacional de Informática convidou as empresas estrangeiras a fechar suas fábricas no Brasil, no passado. Não tem mais volta’, afirmou. Ele disse que a Philips fechou uma fábrica de componentes em Recife, naquela ocasião.


Ele duvidou ainda que os japoneses se disponham a investir US$ 2 bilhões nesse projeto no Brasil, alegando que a construção de uma indústria de semicondutores faz parte de uma plataforma global, na qual a competitividade depende de aspectos tributários, logísticos e trabalhistas.


Nokia


O vice-presidente de Celulares da Nokia, Cláudio Raupp, disse que se a escolha for pelo padrão japonês, a empresa não produzirá aparelhos de telefone celular GSM no Brasil com o sistema japonês, porque o desenvolvimento de um produto voltado apenas para um país elevaria muito seu custo. A Coalizão DVB diz que 74 países já optaram pelo padrão europeu, ao passo que o japonês só foi adotado pelo Japão até agora.’


***


Lula afirma que ainda não tomou decisão


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desconversou ontem e deu a entender que ainda não definiu que padrão de TV digital o país vai adotar.


Indagado sobre o assunto, em meio a um tumulto na saída de uma exposição sobre a Tropicália num centro cultural em Londres, Lula disse apenas: ‘Como que eu já decidi se estou aqui?’.


O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, afirmou que as negociações estão em fase final e que o país trabalha para tirar o máximo de vantagens possível.


Palocci disse que a decisão deve ser anunciada por Lula amanhã, mas que existe chance de que seja adiada.


Ontem, a Casa Civil e os Ministério das Comunicações também informaram, por meio de suas assessorias de imprensa, que a decisão do governo brasileiro ainda não foi tomada.


Também presente à exposição sobre a Tropicália, evento do qual é patrono, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, declarou não ter sido ainda informado sobre nenhuma decisão. E minimizou a importância da escolha do padrão.


‘O que importa é modelo cultural que teremos para a TV digital.’ Colaborou a Sucursal de Brasília’


***


Japoneses não garantem fábrica de semicondutores, diz consultor


‘Não há, até o momento, compromisso do Japão em construir uma fábrica de semicondutores no Brasil. A afirmação é do consultor do sistema japonês de TV digital no Brasil, Murilo Pederneiras Filho.


De acordo com o que a Folha noticiou ontem, o governo se decidiu pelo padrão japonês, e um dos fatores que teriam pesado na decisão foi a expectativa de construção da fábrica, que envolveria investimentos de cerca de US$ 2 bilhões.


De acordo com Pederneiras, os japoneses enviaram ao governo brasileiro, anteontem, documento com a formalização de suas propostas, em que afirmam estarem dispostos a estudar a construção da fábrica em conjunto com as autoridades. Mas não houve compromisso, além disso, até o momento.


O consultor destaca que a construção de uma fábrica de semicondutores é decisão muito complexa, que envolve questões tributárias e, sobretudo, de escala de produção. Ninguém pode tomar esta decisão de um momento para outro’, afirmou.


Assinatura


O documento foi assinado pela Arib, uma entidade que representa os fabricantes de equipamentos de transmissão, os fabricantes de televisores e os radiodifusores japoneses.


A Arib, segundo o consultor, além da diretoria executiva, possui uma diretoria simbólica presidida pela Nec Corporation, e que tem a Panasonic na vice-presidência.


Além da entidade, quatro fabricantes japoneses estão especialmente empenhados nas negociações com o Brasil: a Nec Corporation -que já teve as Organizações Globo como sócia na sua subsidiária Nec do Brasil-, Sony, Panasonic e Toshiba.


Compromisso


A Nec, ainda segundo o consultor brasileiro, tem interesse na discussão como fornecedor de transmissores digitais, e firmou compromisso com o governo de transferir tecnologia a fabricantes no Brasil. Ela não possui fábricas no Brasil, porque terceirizou a atividade, a exemplos de outras indústrias.


Os japoneses confirmam a oferta de uma linha de financiamento de US$ 500 milhões aos radiodifusores no Banco Japonês de Cooperação Internacional, para a implantação do sistema digital.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Por coincidência


‘Ecoou pelo mundo a opção de Lula pelo padrão japonês para a TV digital, como tanto queriam o ministro Hélio Costa e a Globo. No site do ‘Wall Street Jornal’:


– O sistema japonês traria ‘mais vantagens’ ao Brasil do que as alternativas.


Entre as ‘vantagens’, estrear a TV digital até setembro.


E ontem, em Londres e nos jornais nacionais, Lula só queria falar de futebol. A descrição é do correspondente da Globo, sobre cenas da visita à exposição londrina da Tropicália:


– Na saída, por coincidência, o técnico da seleção telefonou. O presidente Lula quis falar com Parreira e contou da preocupação com Ronaldo. Pediu que Parreira, em Londres para o jogo Arsenal e Real Madri, falasse a Ronaldo do apoio dele.


E Lula, ao telefone:


– Dê um abração nele, querido. Tudo de bom.


O ‘JN’ ainda ouviu e relatou os agradecimentos de Parreira e do próprio Ronaldo.


Lula apelou mais à bola.


No Parlamento britânico, o presidente da casa ‘mencionou em tom informal que o futebol foi levado ao Brasil por Charles Miller e, desde então, o país já venceu cinco Copas’. O brasileiro, segundo BBC Brasil e telejornais, brincou então no discurso aos parlamentares:


– Charles Miller fez uma avaliação incorreta. Se tivesse assistido ao jogo de Barcelona e Chelsea e visto o gol do Ronaldinho, certamente não teria levado mais a bola ao Brasil.


Lula só queria falar de futebol, mas o foco da cobertura britânica era outro: um relatório oficial divulgado ontem apoiou a política antiterror do Reino Unido, de atirar-para-matar.


Na prática, defendeu a polícia no assassinato do brasileiro Jean Charles de Menezes.


E havia mais, ontem, sobre o caso. A rede BBC, em especial do programa ‘Panorama’, levou ao ar ‘o que realmente ocorreu naquele dia’ -em detalhes que foram adiantados num texto do jornalista Peter Taylor, da BBC, ontem no ‘Guardian’.


Para além da discussão sobre a política e da identificação dos responsáveis, o programa ouviu e retratou a tragédia da família. Aquela, que Lula tanto reluta em receber em audiência.


Se Lula se fixou no futebol, Tony Blair apelou ao comércio. Ontem na agência Reuters, o primeiro-ministro britânico só tratou da ‘ambiciosa reforma do comércio no mundo’ que ele apresenta hoje a Lula.


Demanda


Não bastasse tudo o que se viu de deslumbramento da mídia britânica com Lula, vem ontem o ‘Financial Times’:


– A indústria do açúcar do Brasil se prepara para novo combustível mundial.


O correspondente foi até o porto de Santos e mostrou ‘um símbolo do poder: terminais de etanol, que indicam mudança com implicações para o futuro dos combustíveis no mundo’. Por aí foi, com todas as vantagens sobre o petróleo.


Tem mais. A ‘Nature’, que cobre ciência e pesquisa, dedicou longa reportagem ao acordo de Brasil e Japão para venda de etanol, com o enunciado:


– Preços do petróleo em alta e temor pelo aquecimento global levam governos a repensar suprimento de energia.


O aumento na demanda ‘vai testar a indústria no Brasil’.


Encomenda


Depois de uma semana sem trégua contra a Vila Isabel, escola de samba que ousou vencer o Carnaval com apoio de Hugo Chávez, as Globos destacavam ontem, por exemplo, na home page do Globo Online:


– Venezuela encomenda 36 navios ao Brasil.


E na chamada logo abaixo:


– Após patrocinar Carnaval vitorioso da Vila, PDVSA anunca maior investimento em petroleiros já feito no país.


É a estatal venezuelana de petróleo. O volume é tamanho que o site abriu enquete:


– Os estaleiros darão conta das encomendas?


Do ‘El Universal’, oposição na Venezuela, às agências americanas AP e Dow Jones, o negócio ecoou pelo hemisfério.


MAIS DOIS


Os canais Band News e Globo News e os portais UOL e iG transmitiam ao vivo, os blogs de Fernando Rodrigues e de Ricardo Noblat faziam ‘live-blogging’, mas nem assim os parlamentares pareciam se animar.


A certa altura, a manchete no site da Agência Nordeste, por exemplo, observava que a ‘Sessão não atrai atenção de deputados’. Estavam lá uns 20, se tanto, somou um blog. Os dois canais de notícias e os dois portais acabaram por desistir, aos poucos. E no fim escaparam ambos, pefelista e petista. Eles nunca foram tão iguais.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Antenista antecipa fusão de Sky e DirecTV


‘Instaladores de antenas da Grande São Paulo estão propondo a assinantes da DirecTV a troca de seus equipamentos (antena e caixa decodificadora) por outros da Sky gratuitamente, o que fere as leis da concorrência.


As duas operadoras de TV paga por satélite, que somam cerca de 1,4 milhão de assinantes, vão se fundir. A marca DirecTV irá desaparecer, sobrevivendo a da Sky, mas a troca de equipamentos só poderá ocorrer após o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) aprovar a operação, o que deve ocorrer até julho.


A Folha ligou em diferentes ocasiões para a central de atendimento da Sky. Numa delas, o atendente disse que não poderia confirmar oficialmente a validade da proposta do antenista de troca gratuita, mas adiantou que não se tratava de ‘picaretagem’. Outro atendente informou que o assinante da DirecTV teria que comprar o equipamento da Sky (R$ 399), mas teria esse valor reembolsado nas mensalidades.


DirecTV e Sky negam que estejam fazendo troca grátis. Dizem que antenistas que oferecem equipamentos gratuitamente não têm respaldo delas. A Sky afirma que a promoção em que reembolsava os equipamentos já acabou. E essa promoção não era interessante para o assinante da DirecTV. Um executivo da empresa confirma que, aprovada a fusão pelo Cade, seus assinantes receberão de graça os equipamentos da Sky.


OUTRO CANAL


Falha Representantes da TV digital européia fizeram ontem demonstrações em São Paulo de que seu sistema consegue transmitir simultaneamente em alta definição para televisores fixos e em baixa definição para celulares. Mas um dos aparelhos de celulares usados não funcionou. Teve de ser trocado por outro.


Trovão 1 É incerto o futuro de Adriane Galisteu no SBT. Ela pediu a seu advogado para negociar uma rescisão amigável que a livre de pagar multa. Seu programa, agora diário, até que não está mal no Ibope (seis pontos), mas ela detesta ter que acordar antes… das 13h.


Trovão 2 Por sua vez, Nilton Travesso, diretor do ‘Charme’ de Galisteu, não gostou nada da idéia de Silvio Santos de dividir o comando do programa com outro diretor, Carlos Amorim. E pediu demissão, que não havia sido aceita até o início da tarde de ontem.


Vem aí Ontem à tarde, Silvio Santos se reuniu com Jorge Kajuru. Ofereceu ao jornalista um contrato com o SBT. Quer que ele apresente um programa de esportes.


Azedo Hebe Camargo, que vem sendo surrada no Ibope, estava muito irritada na gravação do programa do próximo sábado, feita na última segunda. Houve muito erro de gravação. Alguns musicais tiveram que ser reiniciados até quatro vezes. E a loira reclamava de não poder mais fazer o programa ao vivo, nas segundas-feiras.’


************


O Globo


Quinta-feira, 9 de março de 2006


INTERNET / CHINA
Folha de S. Paulo


China censura blog premiado no ano passado


‘PEQUIM. O blog Massage Milk, do jornalista chinês Wang Xiaofeng e premiado em 2005 como o melhor de conteúdo jornalístico em mandarim, está censurado desde ontem. A denúncia foi feita por ativistas pró-liberdade de expressão e comprovada pela agência de notícias EFE. Ao entrar no endereço do blog (http://lydon.yculblog.com/), uma mensagem em chinês diz que ele está fechado por tempo indeterminado ‘devido a razões inevitáveis que todo o mundo conhece’.


Massage Milk foi agraciado com um dos mais prestigiados prêmios do segmento – o Melhor dos Blogs (BOB, da sigla em inglês) – concedido pelo gigante alemão do setor de mídia ‘Deutsche Welle’ em 2005.


Wang é ainda jornalista do semanário ‘Sanlian Life Weekly’, uma das publicações culturais mais conhecidas da China, e seu blog inclui críticas agudas à política e à cultura nacionais. Já o blog jornalístico ‘Danwei’ denunciou que ontem também não conseguia acessar a conhecida página em chinês Milk Pig, de uma jornalista do Sul da China. Um terceiro blog também foi censurado ontem.’


************


O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 9 de março de 2006


TV DIGITAL
Renato Cruz e Ana Paula Lacerda


TV digital: Japão tem US$ 500 mi para emissoras


‘Para convencer o governo a aceitar o seu padrão de TV digital, os japoneses fizeram uma oferta para agradar principalmente aos radiodifusores. Os detentores do padrão ISDB, defendido pelas grandes emissoras, ofereceram US$ 500 milhões em financiamento para que as empresas de TV façam a transição do analógico para o digital. Os recursos são do Japan Bank for International Cooperation (JBIC). ‘Se a demanda for maior, haverá mais recursos’, garantiu Murilo Pederneiras, consultor do padrão japonês ISDB no Brasil.


Segundo ele, a proposta já foi entregue ao governo. Os japoneses não ofereceram outros itens com valores definidos, além do financiamento às emissoras. ‘O investimento dos fabricantes de televisores virá naturalmente’, disse o consultor. Não só os japoneses, mas também os fabricantes originários de outros países terão de investir em novas linhas de produção para aparelhos digitais. O ISDB não se comprometeu a instalar uma indústria de semicondutores no Brasil, segundo ele. ‘O que nos comprometemos é a fazer um estudo de viabilidade em conjunto.’


O Japão aceitou incorporar parte do trabalho desenvolvido pelos grupos de pesquisa do Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD), que reuniu universidades e institutos de pesquisa do País. Eles vão aceitar o MPEG-4, tecnologia internacional de compressão de vídeo, como parte de seu padrão, como foi sugerido pelos brasileiros. Os japoneses também concordaram em integrar o middleware (software que funciona como sistema operacional) e os aplicativos desenvolvidos no Brasil ao seu padrão. Também ofereceram zerar os royalties.


‘A opção por um padrão não significa adotar um padrão fechado’, afirmou Augusto Gadelha, secretário de Política de Informática do Ministério da Ciência e Tecnologia. ‘Queremos fazer inovações, inclusive as sugeridas pelos consórcios de pesquisa.’ Mas é verdade que o governo já decidiu pelo padrão japonês? ‘Não é verdade ainda’, respondeu Gadelha. Pederneiras, do ISDB, afirmou não ter ouvido de nenhum interlocutor do governo que a decisão já estivesse tomada. Apesar disso, disse estar ‘bastante confiante’ e esperar que a decisão saia amanhã ou, no máximo, segunda-feira.


Enquanto os japoneses acenam com US$ 500 milhões para financiar as emissoras brasileiras, os europeus oferecem 400 milhões do Banco Europeu de Investimentos. Além disso, 100% dos royalties seriam reinvestidos em pesquisa e desenvolvimento e a União Européia baixaria a zero a taxa de importação de TVs produzidas no Brasil.


O principal argumento a favor da Europa foi que o Brasil não ficaria dependente de poucos fornecedores de equipamentos. ‘O padrão europeu é o mais usado no mundo e existirá uma gama de fornecedores, o que propicia a competição. Se o Brasil escolher o padrão japonês, ficará dependente de poucos fornecedores, sediados em um país cujo mercado nada tem a ver com o Brasil’, disse o diretor de Tecnologia da Siemens, Mario Baumgarten.


Claudio Raupp, vice-presidente de Celulares da Nokia e integrante da DVB,afirmou que a empresa não terá interesse de produzir celulares que transmitam o padrão japonês no Brasil. ‘No Japão, não se usa GSM. Teria de ser feito um modelo só para o Brasil, diferente do usado no resto do mundo.’


O padrão europeu foi mostrado em diversas aplicações. ‘Havia boatos de que o DVB não seria capaz de se adaptar a middleware nacional ou não conseguiria transmitir em alta definição, em definição padrão e para portáteis no mesmo canal. Hoje demonstramos que não é verdade’, disse Baumgarten. Ele e Magalhães afirmaram que têm informações do governo de que nada foi decidido.’


Ana Paula Lacerda e Renato Cruz


Para europeus, notícia parece ‘plantada’


‘Representantes da Coalizão DVB Brasil, que defendem o padrão europeu, disseram ontem que a notícia publicada pela Folha de S. Paulo de que o governo já teria se decidido pelo padrão japonês parecia ‘plantada’. Para o presidente da Philips e diretor da coalizão, Marcos Magalhães, ‘é muito estranho que tenha se dito isso na véspera de o padrão europeu ser demonstrado.’


A Coalizão DVB fez em São Paulo uma demonstração das possibilidades do sistema e afirmou que sua proposta está feita e não será alterada. O grupo inclui as empresas Philips, Nokia, Siemens, STMicroelectronics, Rohde&Schwarz e Thales.


Ao contrário dos europeus, a Rede Globo, defensora do padrão japonês ISDB, não acredita que a notícia foi ‘plantada’, segundo o site da ComputerWorld. O diretor geral de engenharia da Globo, Carlos de Brito Nogueira, não espera adiamento da decisão. ‘Não ouvi ninguém dizer que houve mudança de posição do governo sobre o cronograma’, afirmou o executivo à repórter Ceila Santos. No entanto, ele preferiu não opinar se o padrão europeu ainda está no páreo.’


Tânia Monteiro


‘Como já decidi, se estou aqui?’


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva evitou ontem comentar de forma clara se já teria ou não optado pelo modelo de TV Digital que será adotado pelo Brasil. ‘Como é que eu já decidi se eu estou aqui?’,indagou o presidente aos jornalistas que o abordaram, durante a visita à mostra Tropicália, no Centro Cultural Barbican, em Londres. O presidente encerrou ontem uma visita oficial de dois dias ao Reino Unido.


O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que integrou a comitiva do presidente, afirmou que a decisão ainda não foi tomada. ‘Estamos em fase final de avaliação e o presidente Lula tem uma previsão de decidir até a sexta-feira (amanhã)’, disse Palocci, em entrevista coletiva.


‘Ele pode decidir ou adiar, é uma decisão muito pessoal dele. Nosso papel, dos ministros, é levar ao presidente todas as considerações técnicas sobre o tema, além dos detalhes das negociações com países e empresas’, afirmou o ministro da Fazenda. Palocci ressaltou que ‘o assunto é muito complexo, envolve muita negociação e o objetivo do governo é obter o máximo de vantagens para o Brasil’.


Em Brasília, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, que defende a escolha do padrão japonês, mostrou-se cauteloso ao tratar do tema e afirmou que prefere aguardar a decisão de Lula. ‘O presidente estará munido de todos os dados a respeito dos três sistemas de TV digital. Do nosso ponto de vista, a adoção do novo padrão deveria ter como prioridade ser um novo passo de avanço tecnológico para a produção do setor eletroeletrônico nacional.’


Ainda em Londres, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, reforçou a negativa, dizendo que, até onde sabia, o assunto não estava decidido.’


Isabel Sobral e Beatriz Abreu


Fábrica é ‘pedra de toque’ de escolha


‘A instalação de uma fábrica de semicondutores no Brasil passou a ser condição básica para a escolha do padrão de TV digital. ‘A pedra de toque da discussão é a fábrica de semicondutores’, disse ontem a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, durante reunião com entidades da sociedade civil para tratar do assunto. Ela explicou que o governo vai aproveitar as discussões para criar as bases de uma nova indústria no País. ‘É a nossa Volta Redonda’, comparou, conforme relato de um dos participantes.


A produção de aço em Volta Redonda foi o ponto de partida para a industrialização do País a partir dos anos 50 e 60, principalmente a instalação das montadoras no Brasil. Da mesma forma, a fábrica de semicondutores é vista no governo como condição para promover um salto tecnológico na indústria brasileira. Por isso, essa é uma prioridade da política industrial.


Foi a partir da fabricação de semicondutores que Taiwan se transformou de produtora de arroz e abacaxi em ‘tigre’ asiático, exportador de produtos de alta tecnologia. O governo tem afirmado nas reuniões que não pretende apenas que o País seja uma base de montagem desses produtos, mas quer a efetiva transferência de tecnologia.


Os japoneses já apresentaram um estudo garantindo a viabilidade técnica de instalar uma indústria de semicondutores no Brasil. Também europeus e americanos ficaram de estudar propostas nesse sentido, mas os japoneses se adiantaram mais. Os americanos se mostraram os mais reticentes. O governo aguarda respostas para decidir, segundo se informava ontem no Palácio do Planalto e em vários ministérios.


A escolha deverá ocorrer logo. Dilma descartou a possibilidade de adiá-la para 2007, como pediram as entidades da sociedade civil. Amanhã, os ministérios envolvidos devem entregar ao Planalto seus pareceres sobre qual o padrão mais vantajoso para o Brasil. Do ponto de vista técnico, leva vantagem o japonês. Pelo lado comercial, o europeu oferece maior potencial de exportação. Pelo lado político, há a pressão das emissoras de TV – apoiadas pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa – pelo padrão japonês. Tudo isso e mais as chances de instalação da fábrica de semicondutores serão analisados amanhã, mas não necessariamente haverá uma decisão.


‘A ministra desmente que haja definição em relação ao padrão e diz que em 10 de março não haverá definição nesse sentido, mas no máximo uma sinalização da política industrial de que o País precisa’, relatou a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que esteve ontem com os representantes das entidades civis na reunião com Dilma. A ministra também recebeu Hélio Costa e técnicos do Ministério das Comunicações para nova rodada de avaliações.


INVESTIMENTOS


Na sexta-feira, uma delegação de 20 japoneses esteve no Palácio do Planalto para discutir oficialmente a questão. Os japoneses sinalizaram com o propósito de construir a fábrica, mas o chefe do Departamento de Tecnologia e Radiodifusão do Ministério dos Negócios Interiores e Comunicações do Japão, Okubo Akira, disse que a instalação dependeria da demanda, tanto do mercado brasileiro quanto do internacional. Há uma tentativa de que pelo menos os países do Mercosul acompanhem a escolha brasileira, o que daria ganho de escala na venda dos componentes. Na terça-feira, o assunto foi tratado com o secretário de Comunicação do Ministério do Planejamento da Argentina, Guilherme Moreno.


O Brasil importa hoje a maioria das peças necessárias à montagem de televisores. No caso dos televisores com telas de cristal líquido, as importações alcançam cerca de 85% de componentes. O peso da política industrial na decisão é uma vitória do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan.


As discussões sobre a escolha da TV digital no governo vinham sendo conduzidas pelo Ministério das Comunicações e caminhavam para a escolha do padrão japonês. Furlan argumentou com Dilma que o Brasil precisava buscar outras vantagens ao tomar sua decisão. A partir daí, as discussões passaram a ser centralizadas na Casa Civil e outros ministérios passaram a participar.


COLABORARAM: GERUSA MARQUES E LU AIKO OTTA’


MERCADO EDITORIAL
Chris Serres


Disputa pela rede Knight Ridder


‘MINNEAPOLIS STAR TRIBUNE – MINNEAPOLIS, EUA – Quatro meses depois que a cadeia de jornais Knight Ridder Inc. colocou-se à venda, a lista de compradores interessados se estreitou para apenas três, pelas propostas feitas até a semana passada, segundo banqueiros de investimento familiarizados com as negociações.


Os competidores são a McClatchy Co., empresa que controla o Minneapolis Star Tribune, o The Sacramento Bee e outros 10 jornais diários; uma parceria entre o MediaNews Group Inc., cadeia de jornais privada com sede em Denver, e a Gannett Co., proprietária do jornal USA Today; e um consórcio de empresas de buy-out (compra de ações para o controle acionário de empresas) liderado pela Thomas H. Lee Partners, segundo as fontes.


Analistas disseram que a aliança MediaNews e Gannett é a mais provável vencedora, porque tem os bolsos mais forrados e mais experiência em aquisições. No entanto, ninguém familiarizado com as discussões descarta uma compra pela McClatchy, em parte porque a empresa tem sido uma compradora agressiva. Os analistas advertem que a formação final de disputantes pode mudar.


A transação poderá movimentar U$ 6 bilhões a U$ 8 bilhões, o que faria dela o negócio mais caro na área jornalística de que se tem notícia. Poucas empresas jornalísticas têm recursos para financiar uma transação desse porte. A McClatchy, décima maior empresa jornalística dos EUA, teria de se endividar pesadamente para financiar o negócio – medida que poderá exercer pressão sobre o preço de suas ações e forçá-la a cortar despesas na Knight Ridder, a segunda maior empresa de jornais do país.


A Knight Ridder colocou-se à venda em novembro, pressionada por três grandes acionistas frustrados com uma queda de 20% no preço das ações de janeiro a outubro do ano passado.’


TELEVISÃO
Luiz Carlos Merten e Taíssa Stivanin


MTV quer fazer internet na TV


‘Logo no começo de Coisas Belas e Sujas, de Stephen Frears, hoje às 20h15 no canal HBP e às 2315 no HBPe, o protagonista, um médico de Lagos que está ilegalmente na Inglaterra, descobre um coração humano lançado numa privada. Além de ser decisiva para impulsionar a narrativa, a descoberta carrega uma metáfora poderosa.


Frears, o diretor de Sra. Henderson Apresenta, foi um crítico ácido de Margaret Thatcher, quando a Dama de Ferro e o presidente Ronald Reagan, dos EUA, forjavam o mundo globalizado, com base na economia neoliberal. Contra ela, e o que representava, Frears fez filmes como Minha Adorável Lavanderia e Sammy e Rose, com seus imigrantes asiáticos numa Inglaterra hostil. O imigrante agora é um médico africano que se vira como motorista de táxi e recepcionista de um hotel decadente em Londres.


O médico resiste contra a desumanização expressa no tráfico de órgãos e no coração lançado ao lixo. Há uma muçulmana que se prostitui. Ela manda o gerente do hotel para o inferno. Ele retruca que o inferno é aqui. Também diz para o médico que tem de parar de se comportar como se tivesse escolha. É um filme sobre as escolhas de gente que não tem escolha e quer transformar as coisas sujas em belas, sabendo que há um preço a pagar, por isso.É um canal que experimenta e por isso se dá ao direito de reciclar estrelas e lançar na mídia tantas outras novas caras. Também se dá ao direito de corromper a linearidade dos conteúdos e ousar. Isso inclui os grafismos que identificam a marca e o canal, improvisos dos apresentadores e a música como elemento principal da fórmula. Por ser uma emissora dirigida ao público jovem, que muda de gosto como quem muda de roupa, a MTV pode e deve quebrar padrões. E também se dar ao luxo de lançar uma nova grade extinguindo sete atrações – entre elas o Gordo a Go Go, de João Gordo, e Presepada, de Daniella Cicarelli.


‘Nosso telespectador é jovem e mutante, tentamos acompanhar esse ritmo’, diz o diretor de programação da MTV, Zico Góes. O que de cara se percebe nos novos programas é que a internet é referência para moldar os formatos. Um exemplo é o MTV de Bolso, que estréia na segunda-feira, às 13 h, e permite a participação do telespectador por meio de mensagens de texto via celular.


Vidalog, o reality show que mostra a vida de quatro jovens, é inspirado nos blogs pessoais que povoam a web. O telespectador terá a impressão de estar dentro de uma página da web descobrindo os gostos e interesses de alguém conforme vai ‘clicando’ nos links.


No Ya! Dog, com a estreante Luisa Micheletti, a audiência poderá interferir via site (www.mtv.com.br). As mulheres, outro foco do canal, ganham Neura TV, game entre meninas e meninos, com Marina Person e Cazé. Na nova grade também figuram o Chapa Coco, com os novos VJs André Vasco e Felipe Solari, e Tribunal de Pequenas Causas Musicais, game com André, Penélope e Rafa Losso. O Disk MTV vem repaginado com as gêmeas Keila e Quênia, sem dúvida, as novas revelações da casa.’


************


O Globo


Quinta-feira, 9 de março de 2006


TV DIGITAL
Deborah Berlinck, Fernando Duarte, Cristiane Jungblut e Mônica Tavares


Palocci diz que decisão sobre padrão de TV digital é exclusiva de Lula


‘LONDRES e BRASÍLIA. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, disse ontem que caberá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidir qual padrão de televisão digital será adotado pelo Brasil, negando informações de que o governo já teria escolhido o modelo japonês.


– Estamos em fase da avaliação. Não há decisão – afirmou Palocci, durante um seminário para investidores internacionais, em Londres.


Segundo ele, Lula anunciará algo amanhã: ou uma decisão final ou um adiamento, a julgar pelo fato de que o presidente, ontem, foi categórico ao comentar o assunto com repórteres, durante a visita oficial ao Reino Unido:


– Como é que posso ter decidido alguma coisa se estou em Londres ?


Outro sinal de que uma decisão ainda não teria sido tomada veio do ministro da Cultura, Gilberto Gil:


– Não fui informado, por isso acredito que isso ainda não tenha sido decidido.


Gil, porém, disse que a questão é muito mais profunda do que a escolha de um padrão. Segundo ele, o cerne das discussões deve ser o modelo cultural de TV digital a ser adotado pelo governo:


– O padrão digital oferece mais oportunidades democráticas de participação. É uma discussão que também envolve oportunidades para a indústria brasileira, em aspectos que incluem transferência de tecnologia.


Em Brasília, as informações eram contraditórias. Integrantes do governo evitaram garantir que já foi tomada a decisão sobre o padrão. Já a assessoria da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, fez questão de informar que ainda não havia qualquer escolha. Houve ainda argumentos de que as negociações comerciais não terminaram. Mas, antes de viajar, segundo esses mesmos técnicos, Lula praticamente bateu o martelo pelo modelo japonês, deixando apenas as discussões sobre o pacote de contrapartidas comerciais para serem concluídas.


O governo está estudando os aspectos técnicos e as propostas comerciais dos três padrões existentes: americano (ATSC), japonês (ISDB) e europeu (DVB). O jornal ‘Folha de S.Paulo’ noticiou na sua edição de ontem que Lula havia decidido adotar o padrão japonês e que o anúncio seria feito amanhã.


Quanto a essa data, embora alguns técnicos e ministros admitam que o presidente Lula possa anunciar o padrão amanhã, outros argumentam que ele desembarcará de Londres amanhã em Recife, onde tem evento às 10h, e só estaria em Brasília à tarde, às vésperas de nova viagem, desta vez para o Chile. Ou seja, não haveria brecha para o anúncio. Porém, não está descartada a possibilidade de o anúncio ser feito nesta sexta por Dilma, que comandou as negociações, e pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa.


A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que esteve com Dilma, disse que a ministra desmentiu a informação de que o padrão japonês foi escolhido.’


PUBLICIDADE
O Globo


Outdoors com beijo gay são retirados em SP


‘SÃO PAULO. Os polêmicos outdoors que mostram dois homens se beijando – parte da campanha de lubrificantes e preservativos Affair para o público gay – foram retirados da cidade de São Paulo ontem. Eram 20 peças na capital. O Conselho Nacional de Auto-Regulmentação Publicitária (Conar) notificou a agência Emigê e a fabricante DKT, dizendo que os outdoors eram inadequados por conter ‘excesso de erotismo’. O Conar não tem poder para retirar as peças. Quem poderia fazê-lo é a prefeitura, mas a Secretaria das Subprefeituras nega ter ordenado a remoção.


Para o secretário das Subprefeituras, Walter Feldman, os outdoors estavam irregulares e a polêmica estaria atraindo muita atenção para eles. Mesmo antes da notificação do Conar, as peças já estavam sendo retiradas.


A agência, que considera a medida autoritária, diz que não teve problemas com a campanha no Rio. Segundo Marcelo Barbosa, diretor da Emigê, o Sindicato das Empresas de Publicidade Exterior teria recebido um telefonema da prefeitura, de madrugada, exigindo a retirada dos anúncios. (Globo Online e Diário de S.Paulo)’


CHARGES DE MAOMÉ
O Globo


Jornalistas temem processo por charges


‘SANA, Iêmen. Um grupo de dez advogados islâmicos entrou com um recurso contra três jornalistas iemenitas por danos psicológicos por eles terem publicado algumas das charges de Maomé impressas pela primeira vez por um jornal dinamarquês. Como em Arábia Saudita, Jordânia e Malásia, repórteres que publicaram as caricaturas em países de maioria muçulmana foram demitidos e, em alguns casos, jornais e revistas foram fechados pelo governo, como no Iêmen.


Os três jornalistas – Mohammad Al-Assadi, editor-chefe do jornal em inglês ‘Yemen Observer’, e os repórteres Akram Sabra e Yehiya al-Abdel, ambos da revista ‘Al-Hurriya’ – já estão sendo acusados por promotores públicos e podem ser condenados a um ano de prisão. Porém, a punição que mais os assusta pode vir do grupo de advogados que se baseia na lei islâmica. Segundo Assadi, o processo poderia conceder a radicais o direito de assassiná-los.


– Exigimos que os jornalistas paguem uma grande compensação pelos danos psicológicos que eles nos infligiram quando publicaram essas imagens que insultaram nosso amado profeta – disse um dos advogados.


Grupos internacionais de direitos humanos condenam as ações contra os jornalistas por considerem que isto fere o princípio da liberdade de expressão. Os jornais iemenitas publicaram as caricaturas como uma forma de ilustrar reportagens sobre a crise internacional envolvendo os desenhos de Maomé.


Debate reúne especialistas às 19h no auditório do jornal


Para discutir a polêmica em torno da publicação das charges e a reação de radicais islâmicos, que realizaram manifestações violentas, a série Encontros O GLOBO realizará hoje, às 19h, o debate ‘As charges de Maomé. Respeito à religião ou liberdade de expressão?’ Para discutir o tema confirmaram presença o cartunista Chico Caruso, o antropólogo Roberto DaMatta, o xeque muçulmano Ahmad Mazloum, o rabino Nilton Bonder e a teóloga cristã Maria Clara Bingemer. A mediação será do jornalista e editor de opinião do GLOBO, Aluizio Maranhão.


O debate será realizado no auditório do jornal, na Rua Irineu Marinho 35, 4 andar, Cidade Nova. A entrada é gratuita e o auditório tem capacidade para 400 pessoas. A preferência de entrada é por ordem de chegada.’


LIBERDADE DE EXPRESSÃO
William J. Bennett e Alan M. Dershowitz


Imprensa americana fracassa


‘Houve um tempo em que a imprensa era a guardiã mais forte da liberdade de expressão e da democracia americana. São muitas as histórias e celebrações de repórteres corajosos. A imprensa entendia que não somente tinha o direito de reportar sobre assuntos críticos mas também que os cidadãos tinham o direito de saber sobre eles e sobre as pessoas envolvidas. Mais do que isso: tinham mais do que o direito, tinham a obrigação de fazê-lo.


Nas últimas semanas, a imprensa americana traiu não só suas obrigações, mas suas responsabilidades. Que saibamos, só três jornais seguiram sua verdadeira vocação: ‘Austin American-Statesman’, ‘Philadelphia Inquirer’ e ‘New York Sun’. O que fizeram? Publicaram charges no centro da controvérsia envolvendo muçulmanos sobre a representação da efígie de Maomé. Esses jornais cumpriram sua obrigação.


Desde que a guerra ao terror começou, a imprensa nunca teve problemas em publicar reportagens e fotos que desafiavam o governo e, na opinião de alguns, comprometiam nossa guerra e os esforços de paz. As imagens de Abu Ghraib vêm à mente – imagens que golpearam nosso esforço por apoio de governos e povos árabes e atingiram o coração do mundo islâmico.


A imprensa não teve problemas em publicar reportagem usando informação sigilosa sobre centros de detenção para terroristas e suspeitos de terrorismo – reportagens que poderiam prejudicar nossos aliados.


Mas no último mês, as ruas islâmicas explodiram numa intifada devido a charges que foram primeiro publicadas num jornal dinamarquês. Protestos em Londres – esqueçam Jordânia, Faixa de Gaza, Cisjordânia, Irã e outros países não conhecidos pelo compromisso com princípios democráticos – incluíram cartazes nos quais se lia ‘decapitem os que insultam o Islã’.


A imprensa dos EUA cobriu este levante mundial; ele é, afinal, um vislumbre dos sentimentos de nossos inimigos e nossos aliados. E se recusou a mostrar as charges culpadas pela indignação.


O que aconteceu? Para colocar a coisa de forma simples, os muçulmanos radicais ganharam uma guerra de intimidação. Nosso entendimento da Primeira Emenda e de uma imprensa livre é informado pelo fato – fato, não opinião – de que sem liberdade ampla, sem responsabilidade pelo direito de saber levado a cabo por repórteres, editores, chargistas e escritores corajosos, nossa democracia seria mais fraca, se não inexistente.


Quando fomos atacados no 11 de Setembro, sabíamos que a principal razão para o ataque era que os islamistas detestavam nosso modo de vida, nossas virtudes, nossas liberdades. O que nunca imaginamos foi que a imprensa livre – uma instituição no centro de nossas virtudes e liberdades – estaria entre as primeiras a se renderem.


WILLIAM J. BENNETT é ex-secretário de Educação. ALAN M. DERSHOWITZ é professor em Harvard’


TELEVISÃO
Amelia Gonzalez


‘Bang bang’ foi um risco pensado’


‘A partir do dia 13 de março a Rede Globo vai pôr no ar o remake de um clássico das telenovelas. ‘Sinhá Moça’, escrita por Benedito Ruy Barbosa em 1986 e que já teve uma reprise no ‘Vale a pena ver de novo’, salvo acidentes de percurso, tem tudo para repetir o sucesso da antecessora, ‘Alma gêmea’, novela também de época e cheia de emoção. Na direção de ‘Sinhá Moça’ está Ricardo Waddington, um dos nomes fortes da emissora, que já foi o ‘diretor do Maneco’ (Manoel Carlos, autor) e atualmente dirige, além do megassucesso ‘Malhação’, a novela ‘Bang bang’, projeto que desandou. Waddington, defensor implacável da teledramaturgia, acha que a Globo chegou a seu nível máximo de produção no setor e agora precisa investir em conteúdo. E não reconhece a Rede Record como concorrente: ‘O que ela apresenta é uma tentativa desesperada de copiar a grade da TV Globo.’


Por que repetir ‘Sinhá Moça’?


RICARDO WADDINGTON: Acho muito cruel ter um texto que é um clássico e não poder apresentar de novo. O cinema faz isso, o teatro faz isso. A gente sempre está vendo peças revisitadas de Nelson Rodrigues, Shakespeare. Por que a televisão não pode fazer?


‘Bang bang’ é uma novela que tem uma proposta diferente. Por que deu errado?


WADDINGTON: Eu não acho que deu errado, eu acho que segmentou. A novela fala muito aos homens, às crianças, mas fala pouco para as mulheres, que formam um público forte e fundamental para o gênero. Mas era um risco já pensado, ninguém se surpreendeu com isso. Não foi assim como se uma novela de um autor como Manoel Carlos tivesse dado errado. O Mário Prata tinha uma proposta de fazer uma novela em que não existisse uma história central. Se isso faz parte ou não da linguagem da novela, é o barato de ver, de tirar conclusões. E a Rede Globo bancou, mantém no ar e festeja seus profissionais. É um case .


Mas e o Ibope baixo não incomoda?


WADDINGTON: Este parâmetro de ibope só diz respeito à TV Globo, a ninguém mais. Nem à mídia, nem a outras empresas. São metas que nós queremos alcançar e alcançamos com ‘Bang bang’.


Mesmo as metas relativas a anunciantes foram alcançadas?


WADDINGTON: Sim. O PNT ( audiência em todo o Brasil) de ‘Bang bang’ é de 30 pontos, com 53% de share. Em São Paulo são 27 pontos com 44% de share. No Rio, são 27 pontos com 51% de share. Bota isso em números. A novela anterior foi a novela anterior, já acabou. Para o produto ‘Bang bang’, que segmentou, esses números são sensacionais.


E como você vê a concorrência com a Record, que entrou maciçamente no mercado de novelas?


WADDINGTON: Eu não acredito na Record como um projeto de televisão. Acho que as pessoas lá estão envolvidas num projeto político. Aquela equipe não pensa televisão, mesmo porque o que ela apresenta neste momento é uma tentativa desesperada de copiar a grade da TV Globo, uma grade que a Globo começa até a repensar. É quase copiar o que nós temos de pior e o que nós não queremos mais fazer. Além disso, deve ser muito ruim trabalhar numa empresa que vive de um dinheiro que não vem do resultado do seu trabalho.


Então você não considera que tem concorrente?


WADDINGTON: O nosso maior concorrente somos nós mesmos, isso é sensacional. A mesma equipe técnica que trabalhou numa novela de sucesso pode estar em outro produto que não deu tão certo.


Salvo um ou outro programa, como ‘Gente inocente’, a maior parte dos produtos que você dirige é de telenovelas. Por que você aposta no gênero?


WADDINGTON: Eu gosto de novela. Ela fala sobre o humano, e isso interessa às pessoas. Acho que as pessoas gostam de saber da vida das outras pessoas.


Você está na Rede Globo há mais de 20 anos. De lá para cá, o público de novelas mudou?


WADDINGTON: Sim. O público já foi mais atento, menos conservador, mais liberal. Foi justamente no fim da ditadura, porque as pessoas passaram a ter uma demanda por algo novo, foi o tempo do ‘é proibido proibir’, do ‘deixa a gente ver tudo o que quiser’. Isso foi mudando um pouco, mesmo porque as pessoas que fazem televisão passaram a redobrar a atenção com o que oferecíamos ao público.


Uma espécie de freio depois da liberdade total?


WADDINGTON: Essa reflexão foi feita nos anos 90, depois do boomde liberdade dos anos 80. Acho que hoje temos muito mais conhecimento sobre o que podemos ou não podemos falar. Isso, depois de muitos escorregões.


Pode citar um escorregão?


WADDINGTON: Lembro de um, sim. Foi em ‘História de amor’ ( 1996), novela do Manoel Carlos. Na cena, duas mães falavam sobre drogas numa mesa, e o ator Ângelo Paes Leme estava sentado próximo, num sofá. Em um determinado momento eu tirei um pouco o foco das duas e dei um close nele. No grupo de discussão descobrimos que, por causa disso, as pessoas passaram a achar que o ator era um drogado. Isso mostra como nós, que fazemos televisão, temos que ter cuidado. A mensagem vai quase sem filtro para as pessoas. Sobretudo no horário nobre. As pessoas vivem aquilo como uma coisa real, é a vida delas que está ali.


Qual a diferença do público das sete, das oito e das dez?


WADDINGTON: O público é o mesmo, o que muda é o comportamento dentro de casa. O das 19h é um horário de rush,as pessoas estão chegando ou saindo, por isso a linguagem tem que ser mais ágil; a edição também. Pegar a atenção neste horário é diferente de pegar a atenção do pessoal das 18h, que são pessoas que já estão em casa. E é diferente das 20h, quando as pessoas estão acabando de jantar, prontas para uma coisa mais contemplativa. O das 22h é o horário da mais-valia do dia.


Em ‘Sinhá Moça’ você está escondendo do público a atriz que vai interpretar Ana do Véu. Qual é a estratégia?


WADDINGTON: A idéia é repetir o que fiz com a Mel Lisboa em ‘Presença de Anita’ (2001). Lá eu queria que o público conhecesse a Anita da mesma maneira que o personagem de José Mayer conheceu: do nada. Quem é esta menina que surge na vida da gente e nos seduz? Ana do Véu é a mesma coisa. Ela tem o rosto coberto por um véu e só vai ser desvendada por volta do capítulo 30, quando o homem que a ama vai tirar o véu. A atriz é ótima para o papel, tem 19 anos e chama-se Ísis Valverde.’


************


Agência Estado


Quinta-feira, 9 de março de 2006


KFOURI ABSOLVIDO
Agência Estado


Jornalista não terá de indenizar ex-dirigente de futebol


‘CONSULTOR JURÍDICO: O Tribunal de Justiça de São Paulo negou pedido de Eduardo José Farah, ex-presidente da Federação Paulista de Futebol, que pretendia receber reparação de danos imateriais por supostas ofensas dirigidas a ele pelo jornalista Juca Kfouri.


O motivo foi um texto assinado por Kfouri, acompanhado de uma charge com a caricatura de Farah, com o nariz alongado, numa referência a um personagem da literatura infantil dado a mentiras.


Farah alegou que teria sido ofendido pela charge e pelo texto publicados no jornal Lance. Em primeira instância, a Justiça entendeu que o texto não passou de crítica a um encarte publicitário publicado sobre a gestão de Farah à frente da Federação Paulista de Futebol.


‘Efetivamente, o texto apontado como lesivo dos atributos da personalidade do autor (Farah) é contundente contra os depoimentos de favor e, segundo o jornalista, com o único e exclusivo intuito de enaltecer a vaidade do presidente da Federação Paulista, sem preocupação alguma com as investigações de que fora alvo em comissões parlamentares, com recomendações para investigações mais detalhadas da Receita Federal’, anotou o relator do recurso, João Carlos Garcia.’


************