Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Marcelo Bartolomei

‘No capítulo de anteontem, a novela das oito da Globo, ‘América’, contabilizava mais uma investida em tema polêmico: na cena, Rique, um garoto de 8 anos, se encontraria com seu amigo virtual, Bill, 12, que, na verdade, é um adulto de 58 anos. Por meio dos personagens, a novelista Glória Perez quer promover o que chama de ‘alerta’ às famílias sobre o perigo da pedofilia na internet.

‘É um tipo de crime que está acontecendo muito, e os pais precisam ser alertados. Vamos tratar o assunto de forma delicada. O que queremos é fazer um alerta’, informou por meio da Central Globo de Comunicação, já que passou a semana em Petrópolis, no Rio, se dedicando à novela.

Cleptomania, rodeios, sexualidade, relacionamento com grande diferença de idade, paternidade, consumo desenfreado, traição, deficiência visual, espiritualismo e o sonho de cruzar a fronteira dos EUA são os temas que compõem a novela.

‘Acho interessante colocar esse tema na novela, mas depende da abordagem. Se for algo para esclarecer e alertar, vale. Quando ela criou a personagem Mel (‘O Clone’), ligada às drogas, houve uma gritaria inicial, mas ela conseguiu alertar e indicar como as pessoas poderiam buscar ajuda’, diz o promotor Marcos Fagundes, 38, da Terceira Promotoria da Infância e da Juventude do Rio, que fiscaliza a programação das TVs em relação ao abuso de menores. O promotor disse que entraria em contato com o departamento jurídico da emissora para se informar sobre o teor das cenas.

Na trama, Rique (Matheus Costa) vive na pensão de Consuelo (Claudia Jimenez), em Miami (EUA), com os pais, que passam por uma crise conjugal e não prestam tanta atenção no filho. No ambiente virtual, onde passa a maior parte do tempo, faz amizade com Bill, um adulto vivido pelo ator Jaime Leibovitch, mas que se passa por criança pelo bate-papo na tentativa de seduzi-lo.

Nas próximas cenas, que vão ao ar entre segunda e terça-feira, Rique aceita ir à casa do novo amigo, mas um alarme de incêndio impede que o encontro prossiga. Assim, a novela garante que não vai avançar o sinal, mas insinuar o que poderia acontecer.

Para compor os personagens, a novelista recorreu a duas fontes: o promotor Romero Lyra, que defende ações contra práticas criminosas na internet, e a pesquisadora Ilana Casoy, 45, do Núcleo de Estudos Forenses do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Segundo Casoy, o ‘molestador’ da novela é sedutor, um indivíduo ‘dos mais perigosos’, que faz de tudo para conquistar a criança, se insinua e, aos poucos, fala de sexo com a vítima. Ele não tem atividades com pessoas da mesma idade e se sente desconfortável com adultos; é solteiro, tem estilo de vida infantilizado, mas não quer machucar a criança; é maior de 30 e tem necessidade de dominação.

‘É preciso falar do assunto com os filhos, quebrar o tabu, especialmente porque a internet é um território sem lei’, afirma.

Na semana passada, a maior média da novela foi de 50 pontos no Ibope (cada ponto equivale a 52,3 mil domicílios na Grande SP). Sua média é de 45 pontos com 111 capítulos exibidos até a última quarta-feira.

A abordagem do tema se encontra com a história da própria novelista, que, antes mesmo de a novela começar, no início deste ano, foi atacada por internautas que criticaram a abordagem de rodeios. Como conseqüência -a autora chegou a receber ameaças de morte-, Glória solicitou investigação da polícia, que ainda não encontrou os responsáveis.’



PRESEPADA
Lilian Fernandes

‘Calmaria e ‘Presepada’’, copyright O Globo, 24/7/05

‘Certo dia, numa gravação do ‘Presepada’, programa que estréia hoje na MTV, Daniella Cicarelli percebeu que estava todo mundo um tanto calado, olhando fixamente para baixo. Achou melhor quebrar o clima de uma vez:

— O que é, gente? Vocês estão contando quantos dedos eu tenho? São cinco, ó! — disse, mostrando os pés e abrindo um largo sorriso.

Desde que a equipe do ‘Pânico’, da RedeTV!, fez com que Daniella calçasse as sandálias da humildade e, graças a uma montagem, levou a crer que ela tivesse seis dedos nos pés, a cena se repete. Até amigos íntimos da apresentadora ligaram incrédulos, para descobrir se era possível que jamais tivessem percebido a anomalia. Ela nem se importou. Esse foi o menor dos males.

Durante um difícil período, tudo o que aconteceu com Daniella, e também o que inventaram, atraiu a imprensa e caiu na boca do povo. Do namoro com Ronaldo, o Fenômeno, ao casamento. Da expulsão da modelo Caroline Bittencourt da cerimônia à rescisão do contrato com a Reebok (que está em negociação). Da gravidez descoberta logo após o enlace ao aborto espontâneo semanas depois. O suposto affair com o músico Davi Moraes. E até o sabão que sua ex-assessora de imprensa decidiu lhe passar em público. Dez, 15 paparazzi estavam sempre à espreita, na porta da MTV, na porta da sua casa, perseguindo-a de carro. Felizmente, este período passou.

— Antes não era assim, mas por causa do Ronaldo, um ídolo mundial, tudo o que eu fazia passou a ser algo mega. De repente me atribuíam egotrips que eu não tinha. Eu ligava a TV e assistia à minha intimidade em debate. Meu pai mal podia sair de casa. Fizeram um monte de sacanagens com a minha mãe. Nunca pensei em processo, para não pagar baixaria com baixaria. A verdade prevalece, e não vão conseguir dizer que eu sou a malvada o resto da vida. Agora a coisa acalmou, porque estou namorando ( o advogado Flávio Zveiter ) uma pessoa low profile . Se estivesse sozinha, até hoje estariam arranjando um homem por dia para mim.

Ela diz que a virada ocorreu justamente quando se deixou fotografar numa praia de Búzios beijando o novo namorado:

— No outro dia pensei: ‘Ai, por que não beijei em casa?’. Mas depois vi que ali fechei uma página. Errei muito, muitas vezes me perguntei: ‘E se eu não tivesse casado naquele dia? E se tivesse casado no Brasil? Mas não tem jeito, já fiz, passou. Tenho 26 anos, sou de escorpião, às vezes ajo impulsivamente. Não me arrependo de nada; errando é que se aprende.

Como tudo tem um lado bom, Daniella amadureceu e descobriu que é popular. Enquanto durou o turbilhão, e ainda hoje, ela é parada por fãs que lhe dão conselhos (‘Não usa o cabelo preso, você tem orelha de abano!’ ou ‘Calma, estão pegando no seu pé mas vai passar!’) e presentes, alguns dos quais carrega sempre consigo.

— Olha só — diz Daniella, abrindo a bolsa. — Aqui dentro tem medalhinha de santo, o livro ‘Oração e poder’, guia de candomblé… Às vezes eu choro conversando com as pessoas.

A mala do carro também vive abarrotada de mimos como cartas de três metros, para desespero do frentista encarregado de lavá-lo. E um urso enorme passou semanas sentado no banco traseiro. É carinho pelos fãs, sim. E total falta de organização também, admite:

— Meu carro tem de tudo: como todo dia nado, corro ou pedalo (ela é praticante de triatlo) , lá tem touca de natação, tênis, comida. Outro dia estava atrasada para encontrar uns amigos e levei uma salada de frutas para ir comendo no caminho. Na volta dei uma carona e a pessoa disse: ‘Pô, Daniella, prato de sopa?!’. E eu respondi: ‘Calma, está novo, é de hoje. Vou levar para casa!’.

O que Daniella mais quer, agora, é isso: viver em sossego, fazendo coisas normais (tipo comprar em lojas de conveniência de madrugada ou bater um prato de arroz, feijão, frango, maionese, batata frita e banana num posto de gasolina próximo da MTV). E dedicar-se ao namorado, à família e à carreira na TV. Seu programa de namoro, o ‘Beija sapo’, é a maior audiência da emissora.

— Aos 20 anos, larguei a faculdade de administração em Belo Horizonte e fui para São Paulo tentar ser modelo. Sabia que era tarde para isso, mas vendi meu Fiat Tipo e decidi investir metade do dinheiro. Deu certo, mas não vai durar muito. Há três anos vim para a MTV e agora estou disposta a trabalhar em TV.

Ela também pensa em voltar à faculdade, mas para cursar direito: diz que adora ler leis e mantém uma Constituição na mesa de cabeceira. Os planos são muitos; as certezas, poucas: a primeira é que jamais vai posar nua. A outra é que casar-se de novo e ter filhos é um projeto para um futuro distante:

— Imagina o que é para a minha família mineira, religiosa, eu já ter sido casada duas vezes, uma por dois anos ( com o empresário Guto Milano ) e outra por três meses. Claro que posso mudar de idéia. Mas agora só pretendo me casar se achar que é para sempre, e daqui a um bom tempo.’



FANTÁSTICO
Bia Abramo

‘Filosofia entrou de gaiata no ‘Fantástico’’, copyright Folha de S. Paulo, 24/7/05

‘A filosofia , quem diria, acabou no ‘Fantástico’. Semana passada, entre outras várias estréias, o programa dominical passou a exibir ‘Ser ou Não Ser’, quadro que pretende mostrar como ‘o pensamento pode ser uma viagem fantástica’.

Entre uma reportagem que resgatava o significado do grupo Mamonas Assassinas na história da música pop brasileira e outra sobre os dez anos da novela infanto-juvenil ‘Malhação’, receitas de sopas para o inverno, humor e futebol, a Rede Globo achou por bem oferecer também uma pitada de pensamento filosófico. Apresentado pela filósofa Viviane Mosé, o quadro tentou fazer uma introdução do tipo ‘a filosofia ao alcance de todos’ ou ‘a filosofia, vejam só, pode fazer parte da sua vida’.

OK, como intenção. Facilitar, introduzir, explicar e, até mesmo, simplificar não constituem um problema em si nem mesmo quando se está diante de uma disciplina tão complexa como a filosofia. Mas, para além de trazer para um patamar acessível, ‘Ser ou Não Ser’ precisa transformar as questões filosóficas em conteúdo televisivo, e é aí que a vaca vai para o brejo.

Não há dúvida de que o roteiro de um quadro como esse representa um enorme desafio técnico. Como traduzir em imagens concretas, em movimento, com algum tipo de narrativa lógica, a abstração que é a base do pensamento filosófico? ‘Ser ou Não Ser’ opta por duas soluções. No primeiro caso, as imagens ilustram ponto a ponto o texto, ou seja, enquanto o texto fala em catástrofes naturais, a imagem na tela é de um furacão; mais adiante, ao serem mencionadas tragédias humanas, aparece o avião afundando no World Trade Center no 11 de Setembro. A outra solução poderia se chamar de metafórica, ou seja, para falar de perplexidade, indagações diante do desconhecido etc., acompanharam a chegada de um migrante a São Paulo, com suas primeiras impressões. Medo da morte? Fácil: entrevista-se um pára-quedista.

A concretude dos exemplos e a relação quase simplória que estabelecem entre idéia e imagem não permitiram que o texto saísse do chão. Não que tivesse lá muito potencial para fazê-lo -com frases coordenadas e assertivas, tratava-se de dar conta da origem da filosofia, da linguagem e, de quebra, convencer os espectadores de que tudo isso pode ser tão divertido quanto ver os gols da rodada.

‘Ser ou Não Ser’ pode até se acertar tecnicamente, mas o projeto está, de início, sob suspeita por uma razão de fundo: a televisão é, de certa forma, avessa ao pensamento. O fluxo de imagens sem hierarquia, a linguagem que estabelece sua sintaxe pela alternância de sensações, a ausência de silêncios; tudo isso conspira contra o pensar. O que, aliás, é justamente um dos grandes atrativos da televisão, ou seja, sua capacidade de amortecer o pensamento, fazer esquecer, alienar, é um dos principais motivos de sua enorme popularidade.’



PÂNICO
Laura Mattos

‘‘Pânico’ admite que precisa surpreender mais’, copyright Folha de S. Paulo, 24/7/05

‘A cúpula do ‘Pânico na TV!’, programa reconhecido por sua ousadia e criatividade, admitiu em reunião interna que precisa surpreender mais o telespectador.

O humorístico, na avaliação de seus mentores, corre o risco ser ‘vítima’ do sucesso de audiência. Assim, o que tem ido bem no Ibope poderia se transformar numa fórmula e barrar a renovação.

‘Esse é o mal da TV aberta. A gente engessa quando as coisas estão funcionando. Por isso os programas acabam ficando todos iguais’, diz Emílio Surita, criador e apresentador do ‘Pânico’.

Ele reconhece que um dos problemas do programa, pelo menos do ponto de vista do telespectador, é a grande quantidade de merchandising. Surita diz que hoje será feita no ar uma brincadeira com o fato de ‘a Rede TV! adorar tanto o merchandising’.

Segundo ele, a equipe busca novidades, mas não deve abrir mão tão cedo dos personagens mais famosos (Vesgo, Silvio, Merchand Neves e Casagrande). ‘Estivemos em Campos e ficamos impressionados com o sucesso deles.’

Hoje, além do programa ao vivo, será gravado o da próxima semana, o que garantirá curtas férias para o grupo.’