Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Marcelo Camacho

‘Parecia que o aniversário dos 40 anos da Rede Globo ia ficar por isso mesmo: minisséries chatíssimas no mês de janeiro, nenhum programa novo na estréia da ‘nova programação’ em abril, uma novela das oito sem pé nem cabeça e, para completar, aquela constrangedora comemoração-show com cara de festa de firma levada ao ar como se fosse um biscoito fino. Então era assim que a maior emissora do país ia celebrar data tão importante? Que vergonha!

A decepção corria solta e o jogo já era dado como quase perdido até que, na noite de sexta-feira passada, aos 45 minutos do segundo tempo, a galera gritou gol! Pois foi mesmo um golaço a estréia da série ‘Carandiru – Outras Histórias’, um subproduto do filme ‘Carandiru’, que Hector Babenco dirigiu em 2003. Nas próximas nove semanas, na faixa das onze da noite, o programa ocupará o espaço do já cansado seriado ‘Carga Pesada’. Que Pedro e Bino descansem em paz…

Dizer que ‘Carandiru – Outras Histórias’ é um subproduto de ‘Carandiru’ não é demérito algum. Pelo contrário, trata-se de um lance de grande inteligência. É que o filme de Hector Babenco, visto nos cinemas por mais de 4,5 milhões de pessoas, já apresentava uma narrativa episódica, em que, a cada momento, a vida de um prisioneiro da Casa de Detenção de São Paulo entrava em foco. O que se fez, ao se criar a série, foi apenas destacar novas histórias independentes e apresentá-las como pequenas obras fechadas. Pelo que se viu na sexta-feira, a idéia funciona muito bem. É como se, desde o início, o filme e o seriado tivessem sido elaborados um em função do outro, com o propósito estudado de ocupar primeiro as telas do cinema e, depois, as da TV.

Naturalmente, não foi dessa maneira que as coisas aconteceram. ‘Carandiru’, o filme, é uma obra que foi feita exclusivamente para o cinema. Ponto. A partir de seu sucesso de público e crítica é que a Rede Globo resolveu encomendar a Hector Babenco e sua equipe um programa de TV nos mesmos moldes. Isso significa dizer que ‘Carandiru – Outras Histórias’ é uma produção independente, realizada fora dos domínios da Globo, o que, é claro, tira parte do mérito da emissora na empreitada, mas não todo o mérito. Vale lembrar que o bom seriado ‘Cidade dos Homens’, protagonizado pelos simpáticos personagens Laranjinha e Acerola, também era uma produção independente, subproduto de outro filme bem-sucedido, ‘Cidade de Deus’. Porém, se não tivesse sido exibido pela Globo, ‘Cidade dos Homens’ provavelmente nunca teria existido.

O que mais impressionou em ‘O Julgamento’, o episódio de estréia de ‘Carandiru – Outras Histórias’, foi a recriação perfeita de alguns cenários do filme, em especial a fétida cozinha em que boa parte da ação se deu. A fotografia – a série é filmada em cinema – também é a mesma, assim como a direção de arte e os figurinos. Tudo faz parte de um trabalho esmerado, realista e convincente que a televisão – mesmo a Globo, como todo o seu know how – parece não saber fazer. De trunfo extra, aquilo que ‘Carandiru’ já tinha: as poderosas histórias de vida marginal coletadas pelo médico Dráuzio Varella em seus vários anos de trabalho no extinto presídio paulista. Não tinha mesmo como dar errado.

Nos próximos episódios da série, diversos personagens de ‘Carandiru’ voltarão à cena. O surfista Ezequiel, vivido por Lázaro Ramos e assassinado com toques de crueldade na seqüência final do filme, voltará ao ar já nesta sexta-feira, com uma trama que mostra como ele se envolveu com o crime. O elenco ainda repete os desempenhos firmes de Ailton Graça e Ivan de Almeida e, como contrapeso, a fraca interpretação de Luiz Carlos Vasconcelos no papel do ‘Doutor’. Só não vai dar para ver novamente Rodrigo Santoro no melhor personagem de sua carreira, o travesti Lady Di. Com a agenda comprometida com outros trabalhos, Rodrigo não topou participar de ‘Carandiru – Outras Histórias’. Provavelmente, surgirá, esse ano ainda, em alguma novela das oito da Globo. Mas, aí, isso já será uma outra história.’



Esther Hamburger

‘Médico da série ‘Carandiru’ é herói iluminista’, copyright Folha de S. Paulo, 13/06/2005

‘Dificilmente a série ‘Carandiru – Outras Histórias’, inspirada no filme ‘Carandiru’, com direção de Hector Babenco, baterá os altos índices de audiência obtidos pela exibição televisiva do filme há uma semana. Mas o interesse da série, que estreou na última sexta-feira, é inegável. Especialmente no que dialoga com as críticas feitas ao filme.

O seriado se beneficia da estrutura fragmentada do filme, que abre a possibilidade de inúmeras histórias paralelas. Há personagens que permanecem. Há novas figuras, como Sonia, protagonista do primeiro episódio, vivida por Xuxa Lopes.

‘Julgamento’ foi dirigido por Walter Carvalho, que deixa sua marca na fotografia enevoada do ambiente principal. A estrutura narrativa é pontuada por flashbacks, como no filme. Mas, no primeiro episódio, a ação se concentra nessas incursões ao passado ‘extra cadeia’. A narrativa principal fica presa a uma estrutura convencional de tribunal, que beira o didatismo.

É na figura do médico que se concentram as mudanças. O primeiro episódio apresenta um médico que intervém criticamente no universo dos detentos.

No filme o médico não apita. Na TV ele arbitra. Na série o personagem do médico, representado, com energia, pelo mesmo Luiz Carlos Vasconcelos supera a postura de observador privilegiado que o caracteriza no filme.

A chave do ‘aqui dentro ninguém é culpado’ que caracteriza o filme, está ausente da TV. O médico mobiliza a confiança dos presos para desenvolver uma espécie de poder moderador. Defende valores humanistas, se contrapõe a práticas bárbaras. Usa o poder da argumentação e propõe negociações.

Estamos próximos do outro extremo. O médico da série é quase um herói iluminista. O ‘happy end’, com direito a cadeia-parque de diversões, animada por um palhaço, destoa. Vejamos os próximos episódios.

Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP’



TV PAGA

Érica Polo

‘Quando a TV a cabo tira canais do ar’, copyright O Estado de S. Paulo, 13/06/2005

‘Surpresa na TV a cabo: o canal de que você mais gosta sai repentinamente do ar, sem aviso prévio. Esta tem sido uma reclamação comum dos usuários desses serviços registrada em órgãos de defesa do consumidor, segundo advogados dessas entidades.

Idec e Pro Teste estão entre as instituições que recebem queixas freqüentes sobre o problema. Maria Inês Dolci, coordenadora-jurídica da Pro Teste, comenta que os pedidos de orientação mais comuns nessa área nas últimas semanas estão ligados a dois problemas: o que fazer quando há mudança da programação sem aviso prévio e, também, como lidar com a cobrança do boleto bancário, que passou a ser feita por algumas empresas (ver matéria abaixo).

Em mudanças da grade de programação sem aviso e/ou se os canais substitutos não forem similares, o consumidor terá, no mínimo, o direito de rescindir o contrato sem pagar multa, afirmam especialistas. ‘Alteração unilateral de contrato é prática abusiva prevista pelo Código de Defesa do Consumidor’, lembra Dolci.

Marcos Diegues, advogado do Idec, diz que os contratos devem se manter equilibrados. ‘Se algum canal for retirado da grade, a empresa deverá substitui-lo por outro similar ou, então, dar um desconto para o consumidor. São alternativas para manter o contrato equilibrado’, explica. Todos os contatos com a empresa, assim como as respostas dadas por ela, devem ser por escrito e guardados.

A advogada especializada em defesa do consumidor Daniela Ricci, do escritório Leite, Tosto e Barros Advogados Associados, lembra, no entanto, que as empresas de TV a cabo se reservam o direito de fazer mudanças na grade já nos contratos: ‘As empresas de TV a cabo também têm contratos com os fornecedores; se determinado canal não quiser renovar, não haverá como obrigá-lo. Por isso, é uma possibilidade prevista contratualmente. O que geralmente acontece é substituir o canal retirado por um similar’, diz ela. ‘Voltamos ao velho problema de sempre: os consumidores não lêem o documento direito.’

Paolo Stirnimann passou por aborrecimentos com a NET. Dois dos canais a que mais assistia (Deutsche Welle e MGM) foram retirados do ar sem nenhum aviso. ‘O sistema de atendimento é precário, tentei contato telefônico sem sucesso; então enviei um e-mail reclamando da alteração sem aviso e pedi desconto na mensalidade.’

André Guerreiro, diretor de Produtos da NET, diz que os usuários foram informados com um mês de antecedência, por meio do canal 37. ‘Os contratos de alguns canais entre a NET e as operadoras foram renovados somente na plataforma digital e não estão mais disponíveis na plataforma analógica’, explica. Qualquer dúvida deve ser esclarecida por meio da Central de Relacionamentos da empresa, tel. (0–11) 4004-7007.’



TV CULTURA

Marina Faleiros

‘TV Cultura parte para novas mídias’, copyright O Estado de S. Paulo, 13/06/2005

‘Com a intenção de fortalecer sua produção televisiva e gerar mais receita, a TV Cultura lança, amanhã, 300 títulos em DVD de sua programação e um projeto que deve reunir, até o segundo semestre, mais de 50 produtos licenciados com personagens da emissora. Foram oito meses de preparativos e cerca de R$ 3 milhões investidos nesta nova estratégia comercial. ‘O grande patrimônio da emissora é seu conteúdo. Percebemos o potencial que tínhamos e o alinhamos à nossa missão de produzir conteúdo’, explica Cícero Feltrin, diretor comercial da Rádio e TV Cultura.

De acordo com ele, a emissora está com suas contas equilibradas e não possui mais déficit, porém ainda não fatura tanto com anúncios como uma rede comercial. ‘Todo programa de TV é caro e precisamos de receita. Agora estamos lançando cinco novos programas infantis com a verba que temos do governo, licenciamentos e novos negócios, como o canal a cabo TV Rá-Tim-Bum’, diz. Em julho, a empresa reforça seus ganhos com brinquedos, que serão produzidos pela Estrela, itens de perfumaria, roupas e itens para festas com os personagens de Cocoricó e Rá-Tim-Bum. A Cultura também já negocia com algumas operadoras de TV a cabo a venda em primeira mão de parte de sua programação na forma de pay per view.

Agora, diz Feltrin, a meta é mostrar ao grande público e às empresas que a Cultura tem diversos produtos que podem ser comercializados. ‘As pessoas ainda não estão acostumadas as pensar na Cultura para o negócio de licenciamento, mas já temos casos de sucesso, como o de licenciamento de produtos com a marca Castelo Rá-Tim-Bum, que no auge do programa renderam US$ 1, 5 milhão’. Recentemente, outro produto que vendeu bastante foi o DVD do Júlio, do Cocoricó, com 70 mil cópias comercializadas. Feltrin ainda revelou que será inaugurado, ainda este ano, um parque de diversões com o tema Cocoricó, em São Paulo.

A rede de televisão também vai apostar na programação adulta, como o famoso programa de entrevistas Roda Viva Eco, Café Filosófico e Caminhos e Parcerias. Estão sendo lançados 100 volumes somente do Roda Viva. A estrutura de vendas passa pela internet, com um site estruturado pelo Submarino, e redes como Saraiva, Livraria Cultura e Fnac.

Outro ponto que Feltrin destaca é o acesso aos produtos. ‘Seria ingrato se lançássemos produtos apenas para as classes mais altas, então, vamos oferecer produtos de diversas faixas de preços, como os DVDs do Cocoricó, que deverão custar em torno de R$ 20’, diz.

A TV Globo é outra emissora que já colheu bons frutos ao utilizar sua programação. A rede começou a comercializar sua programação no final de 2001, com o programa Os Normais, e hoje soma 72 títulos no mercado. ‘Queremos estar mais junto ao espectador, em outros momentos de sua vida, seja no momento que revê um programa que gostou, na hora em que fazemos a boneca da Emília, um livro sobre a novela ou coleção de roupas da Malhação’, explica José Luiz Bartolo, diretor de Licenciamento da TV Globo. Fora os DVDs, a Globo tem mais de 500 itens licenciados.

Segundo Bartolo, esta estratégia ainda aumenta o ciclo de vida dos produtos da emissora, algo difícil para canais abertos. De acordo com ele, a área ainda é nova, mas eles ainda estão aprendendo como o público consumidor reage. ‘O mercado está crescendo, principalmente com o maior acesso aos aparelhos de DVD ‘, diz . Não é à toa que a emissora, este ano, pretende lançar mais 35 títulos em DVD.’