‘Participo , nesta semana, de um ciclo de conferências intitulado ‘O Silêncio dos Intelectuais’. O evento anda provocando alguma excitação: cada vez que o menciono, noto um brilho nos olhos do interlocutor. Já apareceram artigos a respeito do assunto nas revistas semanais e tive até de dar entrevista numa emissora de rádio, coisa que nunca me acontece.
Esse interesse se deve a questões bem diferentes, creio, das que Adauto Novaes tinha em mente quando começou a organizar o ciclo, já faz algum tempo. Tratava-se de discutir -no ano do centenário de Jean-Paul Sartre- o relativo declínio na importância das famosas figuras de ‘intelectual público’ que marcaram o século 20.
Claro que o problema tem raízes na crise do pensamento de esquerda, que se prolonga há vários anos -ou décadas, se quisermos. Outros fatores, não diretamente políticos, como o predomínio da linguagem televisiva sobre o texto escrito, poderiam também ser discutidos nesse contexto.
Na conjuntura brasileira, entretanto, a idéia do ‘silêncio dos intelectuais’ mobiliza perguntas mais fortes e urgentes. Um espírito de cobrança, quase de CPI, está no ar. Eis o questionário implícito, esperando resposta dos depoentes e acusados de praxe.
‘Vossa Senhoria se considera de esquerda?’ ‘Sendo de esquerda, apoiou ou apóia o Partido dos Trabalhadores?’ ‘Era de seu conhecimento o que ocorria nas entranhas do partido?’ ‘Em caso afirmativo, Vossa Senhoria justifica, aprova ou explica o presente escândalo?’ ‘Tem alguma responsabilidade sobre ele?’ ‘Vossa Senhoria condena o que aconteceu?’
‘Se condena, por que então se manteve em silêncio por tanto tempo?’ ‘Se disse alguma coisa, por que o fez tão timidamente?’ ‘Não se considera instado a fazer uma autocrítica mais clara?’
Uma pausa. Em seguida, vêm as perguntas pessoais: ‘Vossa Senhoria se considera arrogante?’ ‘Acha que traiu suas convicções?’ ‘Como pôde apoiar um candidato que se jacta da própria ignorância?’ ‘Tirou ou tira alguma vantagem pessoal de suas ligações com o PT?’ ‘Que pretende fazer de agora em diante?’.
A fraseologia é inquisitorial e caricata, mas não creio que se possa negar pertinência ao questionamento. Cada intelectual de esquerda vai tratando de respondê-lo a seu modo, e todas as diferenças imagináveis aparecem ao longo do processo.
Mesmo os silêncios são de variada natureza. Houve quem nada tenha dito a respeito de Delúbio e José Dirceu, porque já não tinha mais nada a dizer nem a ver com o PT e com o governo. Alguns petistas históricos já tinham se desvinculado -ruidosamente até- de qualquer fidelidade a Lula.
Sem dúvida, adotar um silêncio ‘estratégico’, orientado pelo cálculo ou pela submissão política, equivale a abandonar o papel de intelectual, substituindo-o pelo de soldado, de funcionário, de sacerdote ou de militante. Quem se cala por ‘prudência científica’, por repugnância ao corre-corre desesperado que se dá na superfície do formigueiro ou por embaraço pessoal pode agir de forma respeitável, mas não deixa de suspender provisoriamente seu papel público de intelectual -e termina arcando com certo custo por isso.
As distinções entre um caso e outro podem ser sutis, mas quem é que gosta de sutileza em qualquer momento de conflito? A tendência é substituir o pensamento pela atividade mais fácil da rotulação moral. Poucos se recusaram a esse prazer nos tempos em que pichávamos o governo FHC.
Agora, nenhuma resposta, nenhum artigo de intelectual (petista ou ex-petista) é capaz de satisfazer a parcela da opinião pública que deseja um mea-culpa completo. Entenda-se por mea-culpa completo a seguinte frase: ‘Eu era de esquerda, errei, agora sou de direita’.
É como o pronunciamento de Lula pela televisão: sempre há motivos para considerá-lo insatisfatório. ‘Ele não citou nomes.’ Mas deveria? ‘Ele foi vago.’ Acho também que foi. Mas a única declaração capaz de silenciar todos os críticos seria esta, acho que impensável a esta altura: ‘Roubei, deixei roubar, renuncio hoje mesmo à Presidência’.
Se for para esperar uma declaração nesses termos, o silêncio dos intelectuais naturalmente vai continuar por muito tempo. Mas isso não quer dizer que ninguém deva dar satisfações pela complacência com o PT nestes anos todos.
De minha parte, faço um mea-culpa aos leitores, ainda que muitos possam julgá-lo insatisfatório. Fui mais simpático ao PT do que a qualquer outro partido brasileiro. Sempre achei que havia preconceito e perseguição exagerada contra Lula; por isso muitas vezes tratei suas tolices com exagerada simpatia. Escrevi mais artigos contra o governo FHC do que contra o governo Lula, embora desde o começo tenha discordado de ambos. Arrependo-me de meu ‘bom-mocismo’ com relação ao PT.
Mas todas essas coisas, bem ou mal, estão na esfera das minhas opiniões pessoais, e creio tê-las apresentado desse modo -como pontos de vista subjetivos- nos artigos que escrevi.
O erro mais sério consiste em outra coisa. Minha simpatia pelo PT e pela esquerda levou-me muitas vezes ao comodismo mental. ‘Essa turma é legal, foi perseguida, não lucra com o sistema, logo deve estar correta. Os outros apenas defendem seus interesses.’
Pior do que o silêncio dos intelectuais é a preguiça dos intelectuais. Ser de esquerda ajuda nessa preguiça: fala-se muito (até demais) para um público que não precisa de muito para se convencer. Até onde sei, entretanto, na direita as coisas não são muito melhores nesse aspecto.’
Arnaldo Bloch
‘Marilena: Lula rendeu-se à ‘armadilha tucana’’, copyright O Globo, 23/08/05
‘O governo Lula falhou ao se render à ‘armadilha tucana’ de promover uma transição com base em imperativos econômicos e financeiros em vez de fazer logo a reforma tributária, fundamental para melhorar a distribuição de renda e viabilizar o Fome Zero, e a reforma política, essencial para assegurar a governabilidade. Esta foi a análise da filósofa Marilena Chauí, expoente da intelectualidade petista, sobre a crise política ao abrir, ontem à noite, no Consulado da França, o ciclo de debates ‘O silêncio dos intelectuais’. Antes dela falaram o ministro Gilberto Gil e Adauto Novaes, organizador do seminário.
Na longa fala, não há a palavra corrupção
No texto de uma hora e meia lido pela filósofa, a palavra corrupção não foi pronunciada uma só vez, e Marilena só fez referência à crise política durante o curto tempo para debates. Foi quando lhe perguntaram se o fato de o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), e o senador José Sarney (PMDB-AP) apoiarem o projeto petista não aproximava a figura de Lula da de um coronel nordestino:
– Não é verdade que Severino e Sarney apóiem o projeto do PT. O projeto do PT era outro. E isso me leva a apontar dois grandes problemas do atual governo. Um deles foi tornar a tal da transição o ponto central da política governamental em vez de pôr as políticas sociais na dianteira. Somos o segundo país do mundo em desigualdades, depois de Serra Leoa, que está em guerra civil. A primeira ação, que daria um sentido mais que simbólico ao Fome Zero, seria a reforma tributária. Em vez disso, se fez a reforma da Previdência, que os tucanos não tiveram coragem de fazer. Conheci muitos tucanos no ambiente acadêmico, e é preciso ficar com dois pés, duas mãos e a cabeça atrás com o que eles propõem – disse.
O segundo problema, de acordo com a filósofa, foi o de ter negligenciado a reforma política como outro pilar importante para sustentar a governabilidade.
– Na época eu dizia que o nosso presidencialismo é uma aberração, com partidos fragmentados, sem distribuição clara, sem representatividade, e que nenhum presidente tem maioria no Congresso. Sempre soubemos como se obtém apoio e votos. Então, sem reforma política, a aliança se impôs. O PT não era criticado por ser um partido arcaico, por não fazer alianças? Pois bem, aí está a aliança – ironizou, para enfim fazer a defesa do PT, salientando que seu verdadeiro projeto foi ofuscado por uma posição equivocada de estratégia governamental.
Antecipando-se a críticas, ela justificou o fato de não ir muito adiante nas análises do quadro atual dizendo que a indignação nem sempre deve levar o intelectual a lançar mão da revolta e sair dizendo a primeira coisa que vem à cabeça.
– Os intelectuais estão em silêncio, mas está cheio de ideólogo tagarela… Muita gente prefere que o intelectual vocifere sua revolta e todos vão para casa tranqüilos. Mais importante que a revolta, entretanto, é a virtude, no sentido de se compreender a adversidade para transformá-la em algo produtivo. Podíamos ficar horas aqui abrindo um leque enorme de motivos de indignação os mais diversos e até opostos, mas o intelectual às vezes tem que preferir o silêncio se o quadro ainda não está claro. Sim, estou indignada, mas confesso que ainda não compreendo bem a natureza da minha indignação e os fatos em si. Por isso não tenho escrito sobre o assunto nem dado entrevistas.
Durante o seu discurso, Marilena Chauí resvalou indiretamente na crise, mas como sintoma de fenômenos que envolvem a política contemporânea:
– Pautada pelas teses da pós-modernidade, a sociedade contemporânea transformou a política numa operação de marketing e o político num produto a ser consumido pelo eleitor. Neste mundo que hoje entendemos como sociedade do conhecimento os intelectuais se transformaram em especialistas com receitas de bem-estar a serviço da lógica das empresas. Nesse sistema, quem detém algum conhecimento comanda os demais, e no Brasil isso é acentuado porque o nosso intelectual é herdeiro da autoritária tradição ibérica dos bacharéis e dos poetas de prestígio.
Filósofa associa esquerda pós-moderna a teses nazistas
Num ataque direto às esquerdas contemporâneas, Marilena evocou o pensador político alemão Carl Schmidt, integrante do staff nazista:
– Num mundo fragmentado em que a democracia só garante as liberdades entre aqueles que compartilham uma mesma identidade, vejo esquerdas defendendo a lógica de que o inimigo é o diferente, o estrangeiro, o oposto, e que deve ser exterminado.
De acordo com a análise de Marilena, esse quadro de fragmentação envolve todas as esferas, da arte – absorvida pela indústria cultural – à política, passando pela ciência, cujas conquistas associam-se à competição econômica e na qual o conhecimento científico vira segredo empresarial. Por isso o cidadão, ao refletir sobre a atualidade, identifica o mal no caráter deste ou daquele político ou indivíduo, e jamais nas instituições ou em seu funcionamento:
– Isso acontece porque, de acordo com os preceitos da pós-modernidade que hoje se festeja tanto, só o presente, só o imediato, o impulso, interessam. Esta maneira de enxergar a realidade é contrária à própria noção de cidadania.’
Ubiratan Brasil
‘Crise não inspira Chico Buarque ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 24/08/05
‘A crise política ainda não é fonte de inspiração para o músico e escritor Chico Buarque de Holanda. ‘Voltei a compor letras de música, mas não pretendo criar um samba para o mensalão’, brincou ele, que ontem à tarde chegou a Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, para receber o prêmio Zaffari & Bourbon de literatura, no valor de R$ 100 mil, por seu romance Budapeste. O prêmio foi entregue durante a 11.ª Jornada Nacional de Literatura. ‘O Brasil está com a alma ferida com o que está acontecendo, mas é bom que isso esteja ocorrendo.’ Chico disse que acompanha diariamente o noticiário das diversas CPIs e, por conta da série de revelações, ainda não conseguiu formular uma opinião sobre a crise. ‘Concordo com a Marilena Chauí que disse preferir o silêncio por não ter ainda o que dizer.’ Para ele, é importante que tudo seja revelado, pois muita coisa suja que estava escondida agora aflora. ‘Claro que estou triste com a realidade: gosto do Lula, votei nele e sua eleição foi o momento mais importante para a afirmação da democracia’, comentou. ‘Só espero que tudo isso tenha algum proveito e não provoque apenas a alegria raivosa de quem não votou nele.’ Chico contou que já compôs a letra de cinco músicas antes do surgimento dos escândalos e pretende continuar no processo de criação sem se envolver com a realidade. ‘Se fosse algo para divulgação imediata, talvez eu criasse alguma coisa. Não planejo isso, mas também não posso estar certo de que a situação não vá interferir na minha criação.’ Com o dedo mindinho da mão esquerda imobilizado devido a uma operação por conta de uma contusão no futebol, disse que, por ora, não pode tocar violão.
O retorno à música confirma a alternância que Chico Buarque mantém com a literatura. O revezamento surgiu depois que ele percebeu ter atingido a maturidade que julga necessária para a escrita. ‘Só escrevi Estorvo quando me senti preparado, caso contrário, seria desastroso.’ Chico observou que boa parte de sua obra musical foi composta na juventude, ao contrário da literatura, na qual só se arriscou mais tarde. ‘A literatura exige mais reflexão e menos arroubos’, afirmou, lembrando os dois anos obsessivos pelos quais passou ao escrever Budapeste. ‘Aprendi que jogar fora escritas mal resolvidas também é escrever; na verdade, eliminar material ruim é sinal de boa escrita’, brincou.’
Luiz Fernando Vianna
‘Às vezes o silêncio é um dever, diz Chaui’, copyright Folha de S. Paulo, 23/08/05
‘Na abertura do seminário ‘O Silêncio dos Intelectuais’, ontem, no Rio de Janeiro, a filósofa Marilena Chaui, uma das principais pensadoras ligadas ao PT, voltou a se recusar a fazer uma análise da crise do partido e do governo Lula. Evitando as perguntas dos jornalistas, Chaui disse que não escreveu nem deu entrevistas sobre a crise porque ainda não conseguiu compreendê-la.
‘Há momentos em que o silêncio é o dever de um intelectual. Pois não se trata de dar opiniões, mas de oferecer uma análise.’
Na opinião de Chaui, ‘é preciso ‘serenidade’ neste momento.
A filósofa não deixou de apontar, porém, o que considerou um ‘erro de timing’ do governo Lula.
‘A primeira ação [do governo] deveria ter sido a reforma tributária, para que houvesse distribuição de renda e o Fome Zero fosse possível. Mas a primeira reforma feita foi a previdenciária, a que Fernando Henrique não teve coragem de fazer.’ Para ela, ao se ‘assumir como transição, e não transformação, o governo caiu em uma armadilha tucana de que os petistas não se deram conta’.
A segunda reforma, segundo Chaui, deveria ter sido a política, já que ‘o sistema político brasileiro é uma aberração’.
‘Enquanto não houver reforma política, continuaremos gritando contra a corrupção e o mau-caratismo dos políticos, mas não resolverá nada’, disse a professora de filosofia política e história da filosofia moderna na USP.
Alianças
As afirmações mais diretas sobre a crise vieram depois da pergunta de um espectador sobre a aliança do PT com políticos de forças tradicionalmente opostas às do partido.
‘Durante anos, o PT foi violentamente criticado por não fazer alianças, já que partido moderno tinha de fazer alianças. Aí ele fez…’, afirmou ela, fazendo uma expressão de ‘deu no que deu’.
A filósofa não fez comentários sobre o futuro do PT e seus dirigentes. Sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apenas disse que ele não é um caudilho.
‘A marca do caudilho é a solidão, porque ele acredita na força de seu carisma e tem uma relação direta com as massas. Lula vem do movimento sindical, de um partido político, relaciona-se com a sociedade por meio de mediações institucionais, inclusive do Congresso Nacional’, disse.’
***
‘Crise é institucional, diz ex-petista’, copyright Folha de S. Paulo, 23/08/05
‘O debate trazia a pergunta no tema: ‘O Golpe Permanente? Crise Institucional ou Simples Crise Política?’. E foi respondida de primeira pelo sociólogo Francisco de Oliveira, um dos fundadores do PT. ‘Diria que sim. Mas [o golpe permanente] está na economia, não na política’. E a crítica ao modelo econômico vigente no governo petista foi a tônica do encontro promovido ontem, em São Paulo, pela livraria Fnac e pelo Consulado da França na cidade
‘A economia colonizou inteiramente a política. (…) Os mecanismos institucionais -criados com a democratização, a republicanização- estão inteiramente superados pela economia’, afirmou.
Ao lado do economista Luiz Gonzaga Belluzzo, que participou do debate com mais dois jornalistas franceses, Oliveira disse acreditar que ‘a superação das instituições republicanas e democráticas pela economia’ traz ‘conseqüências graves’. Uma delas seria o questionamento do voto: ‘Do ponto de vista do cidadão, a política, como meio de corrigir assimetrias, torna-se inútil, deixando apenas a pergunta: ‘Para quê serve o meu voto?’.
Dizendo ser a adoção do neoliberalismo um projeto da classe dominante brasileira e não de partidos, Belluzzo concordou com a tese de Oliveira: ‘O Brasil foi especialmente atingido por essa colonização da política pela economia. Temos uma crise institucional que tem como manifestação aparente esta crise política’.’
Guilherme Evelin
‘Mídia bombardeia PT, diz Marilena Chaui ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 24/08/05
‘A filósofa Marilena Chaui, uma das principais intelectuais petistas, falou e muito e fez uma defesa apaixonada do governo Lula ao participar ontem do ciclo de conferências ‘O silêncio dos intelectuais’, que o Ministério da Cultura promove em quatro capitais do País (ver ao lado). Ao responder a perguntas, além de defender o governo, Chaui fez críticas também aos tucanos e à mídia – os primeiros por estarem pautando a discussão sobre a crise política, e a segunda por estar promovendo um ‘bombardeio ideológico’, que, na opinião da professora da Universidade de São Paulo (USP), desinforma e leva à população versões e não fatos.
Como ações dignas de elogios no governo Lula, Chaui citou a atitude de dialogar com o Movimento dos Sem-Terra (MST), em vez de qualificá-lo como ‘terrorista’ – que seria o comportamento adotado pelo governo Fernando Henrique Cardoso. Mencionou também a decisão de submeter a um debate amplo com a comunidade universitária a proposta de reforma do ensino superior. Referindo-se a estudos conduzidos pelo cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, outro intelectual simpático ao governo Lula, Chaui disse ainda que, nos últimos dois anos e oito meses, houve mais avanços sociais no Brasil do que nos oito anos de governo FHC.
Segundo Chaui, está havendo no País uma despolitização do debate, resultado da falta de uma definição do que seria uma ética pública. Para a filósofa, isso representa um ‘desastre completo’. ‘Não se faz mais análise política. Você lamenta e chora ou você comemora. Isso é o que acontece no Brasil neste momento’, disse. Ela acusou os ‘ideólogos tucanos’ de conduzirem a discussão por esses caminhos. ‘A auto-imagem dos tucanos é que eles são modernos, sérios, responsáveis e competentes. E a discussão no Brasil, desde 1.º de janeiro de 2003, se dá sobre a incompetência, o amadorismo e a irresponsabilidade do governo’, afirmou.
Chaui negou que tenha se omitido do debate público. Justificou seu silêncio nos últimos meses por a mãe só se ter se recuperado, há um mês, de uma grave enfermidade. Contou que chegou a rascunhar, em fevereiro, um texto com críticas ao governo Lula. Uma delas seria que o governo, até agora, não teria tomado posse do Banco Central.’
Folha de S. Paulo
‘Chaui silencia sobre crise e ironiza tucanos’, copyright Folha de S. Paulo, 24/08/05
‘Em sua fala de 90 minutos ontem, durante o ciclo de palestras ‘O Silêncio dos Intelectuais’ em São Paulo, a filósofa Marilena Chaui evitar criticar diretamente as acusações de corrupção que cercam o governo Lula, justificou o silêncio dos intelectuais e ironizou a atitude dos pensadores tucanos, aos quais chamou de ‘ideólogos’, diante da crise.
Ela diferencia ‘intelectual’ de ‘ideólogo’, dizendo que o primeiro fala contra a ordem vigente e o segundo, em favor dela. Este, segundo a filósofa, ‘está cada vez mais tagarela’.
A discussão política, diz a professora, está sendo pautada pelos tucanos, que têm criticado o governo Luiz Inácio Lula da Silva por supostamente incorporar uma imagem oposta àquela que partidários do PSDB teriam de si próprios: de que são sérios, modernos, responsáveis e competentes. ‘A crítica que se faz atualmente ao governo é a de falta de seriedade, incompetência e irresponsabilidade’, afirmou.
Apesar de discorrer sobre as razões do atual silêncio dos intelectuais no mundo, disse que, no Brasil, atualmente, eles têm falado bastante. Ela justifica seu argumento apontando uma série de artigos, entrevistas e aparições deles nos meios de comunicação.
‘Não acho que os intelectuais estejam em silêncio. Estão falando sem parar. Não sei de onde vem essa idéia de que, neste momento no Brasil, os intelectuais estão em silêncio. Essa questão é incompreensível para mim.’
Ela observa que o silêncio da intelectualidade no mundo não se trata de uma recusa, mas de uma impossibilidade de interpretar a realidade presente. E, o que resta neste caso, segundo diz, é o silêncio. Uma das razões disso é o retraimento da figura do intelectual engajado em razão, dentre outros fatores, do ‘ceticismo desencantado’, do fracasso da ‘Glasnot’ (reforma política) na antiga União Soviética, do recuo da social-democracia e da aparente legitimação da ordem vigente, o que impossibilitaria uma perspectiva de transformação futura.
Ela aponta também para a substituição da figura do intelectual pela do ‘especialista competente’, na lógica da restrição da esfera pública -imprescindível para o intelectual exercer o seu papel social-, da privatização dos direitos e do recuo da cidadania.
‘Silêncio responsável’
Porém, mais do que uma questão de impossibilidade, ela justifica o silêncio pelo senso de responsabilidade do intelectual. Tanto em sua palestra em São Paulo como no Rio, Chaui relembrou a polêmica nos anos 50 entre os filósofos franceses Jean-Paul Sartre e Maurice Merleau-Ponty.
Partidária do segundo, ela ataca a idéia de que o intelectual deva ceder à pressão social e opinar sobre todos as questões que lhe são propostas, sobre fatos isolados.
‘Manifestar-se sobre tudo, mudar de atitude conforme mudem os ventos, abandonar a obra já feita, desdizendo-a e desdizendo-se, é irresponsabilidade, não é liberdade. Muitas vezes o verdadeiro engajamento exige que fiquemos em silêncio, que não cedamos às exigências cegas da sociedade.’
Apesar de não criticar o governo Lula diretamente, Chaui diz que o PT errou ao não eleger como prioridade de governo a reforma política e a reforma tributária, privilegiando a aprovação da reforma da Previdência.
A deficiência do sistema partidário e eleitoral, segundo diz, é uma das causas da atual crise política, o que justificaria a reforma política. Quanto a tributária, seria uma maneira viável de promover a distribuição de renda no país, financiando programas sociais como o Fome Zero.
Outra crítica que faz ao governo é quanto ao caráter aparentemente não transitório da política econômica. O que era para ser uma transição para outro modelo, segundo ela, parece ter se transformado em política definitiva.
Ela entende que esse seria o motivo principal de o governo ter perdido apoio de boa parte dos intelectuais ligados ao PT desde a posse do presidente Lula.’
***
‘Marcelo Coelho critica petistas por ‘busca do poder pela via televisiva’’, copyright Folha de S. Paulo, 24/08/05
‘Para o sociólogo Marcelo Coelho, colunista da Folha, a tensão na relação entre os intelectuais e o PT começa na maneira com que foi concebida a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, e não na crise atual. Foi o que Coelho afirmou ontem, em sua palestra no seminário ‘O Silêncio dos Intelectuais’, na Maison de France, na cidade do Rio de Janeiro.
O sociólogo argumentou que ‘o problema começa quando se passa a apostar em uma conquista de poder fundamentada não no esclarecimento da população e na lucidez, mas no marketing, na profissionalização da mistificação, da falta de transparência’, disse ele, criticando a ‘busca do poder pela via televisiva’ determinada, na sua visão, pela cúpula do PT em 2002.
‘Não se pode estar de acordo com isso. Nem falo nas alianças políticas extravagantes, com PTB e PL, que nem a lógica da razão de Estado torna aceitáveis. Quando se investe na mentira, nenhum intelectual deveria estar apoiando’, afirmou ele, acrescentando que não tem mais expectativas em relação ao PT.
Coelho estendeu sua crítica a políticos e jornalistas, mas disse que a imprensa está desempenhando um papel melhor do que o dos intelectuais.
‘Observando o comportamento de uma camada intelectual voltada à defesa de partidos, tanto do PSDB quanto do PT, parece ter restado aos jornalistas a apuração da verdade. Com todos os erros e precipitações, procurou-se investigar ao máximo o poder, algo que os intelectuais não foram capazes de fazer’, disse.
Verdade e justiça
Na palestra ‘Verdade e Contra-Verdade’, Coelho procurou fazer uma revisão do papel dos intelectuais a partir do fim do século 19, quando o escritor francês Émile Zola produziu o libelo ‘J’Accuse’ (‘Eu Acuso’) e se recusou a aceitar calado a condenação do capitão Dreyfus, acusado injustamente -e de forma anti-semita, pois era judeu- de passar informações militares para os alemães.
‘Escritores de prestígio, da Academia Francesa, diziam que não podiam intervir, pois era um assunto de segurança nacional, que a honra do Exército devia ser preservada. Mas em torno do lema ‘Verdade e Justiça’, Zola e outros artistas, como Proust, Monet e Anatole France, conseguem a revisão do processo’, disse Coelho, ironizando que essa é uma das poucas histórias com ‘final feliz’ para a esquerda.
Para ele, verdade e justiça não podem ser vistas como idéias metafísicas, mas como alvos concretos a serem perseguidos pelos intelectuais em contraposição ao pragmatismo adotado pelos ideólogos. ‘Há [hoje] um certo culto da realidade, como se ela fosse assim mesmo e não houvesse muito o que fazer. Acho que os intelectuais têm de continuar seguindo os ideais de cem anos atrás’, afirmou.
Assim como Marilena Chaui em sua palestra, Coelho abordou criticamente a atuação nos anos 50 de Jean-Paul Sartre, o mais notório dos ‘intelectuais engajados’. Para ele, Sartre traiu o papel do intelectual ao faltar com a verdade durante os três anos (1953 a 56) em que esteve ligado ao Partido Comunista Francês.
A atuação de Sartre como comunista o teria levado a defender mentiras: ‘Ao voltar de uma viagem à União Soviética, em 1954, Sartre declarou: ‘A liberdade de crítica é total na União Soviética’. Todos sabiam que não era. Só em 56, com a invasão de Budapeste [pelos soviéticos], é que a ficha caiu para ele e muitos outros’, disse Coelho, para quem a posição de Sartre está entre os muitos ‘erros’ e ‘vexames’ da história dos intelectuais.
O sociólogo também comentou a defesa de princípios universais por outro escritor francês, André Gide, e as idéias do livro ‘A Traição dos Intelectuais’ (ou ‘A Traição dos Clérigos’), escrito por Julien Benda em 1927 e hoje visto como maniqueísta e ingênuo.
‘Acho que Benda merece ser revisto. Para ele, o intelectual tem o dever de ser inoportuno sempre que a verdade e a justiça forem inoportunas’, disse Coelho, evocando os dois conceitos-chave que, segundo ele, precisam ser defendidos pelos intelectuais quando incomodam interesses particulares.
Programação do evento
O sociólogo faz sua palestra hoje, em São Paulo, no Sesc Paulista. No Rio fala o ministro da Educação, Fernando Haddad, e em Belo Horizonte, o sociólogo Francisco de Oliveira, que rompeu com o PT em 2003.’
TODA MÍDIA
Nelson de Sá
‘Sorrisos’, copyright Folha de S. Paulo, 23/08/05
‘No dizer de Ana Paula Padrão, abrindo ontem o ‘SBT Brasil’, ‘a entrevista do ministro Antonio Palocci acalmou os ânimos’.
Na descrição do ‘Jornal Nacional’, com imagens de operadores financeiros:
– Sorrisos em plena segunda. Sinais de otimismo. Vozes animadas. Tudo depois da entrevista do ministro.
E prosseguiam os adjetivos, a começar de Lula no ‘Café com o Presidente’ e daí para os sites e telejornais, decretando ‘inocente’ o ministro.
E tome Franklin Martins, à tarde na Globo:
– Antonio Palocci acertou na forma, no tom e no conteúdo.
Outro comentarista global saiu dizendo que o ministro ‘mereceu aplausos’, com ‘o tom certo, grave e sereno’.
E tome o economista e ex-ministro Delfim Netto em comentários separados na Band News, Jovem Pan, rádio Bandeirantes, sempre na mesma linha:
– Um homem humilde, decente, com vontade de esclarecer as coisas.
Até nos blogs, como o Sítio do Sergio Leo, para quem a entrevista ‘não foi uma garantia de que é inocente, mas uma prova de que é craque’. Ironia do jornalista blogueiro:
– É a primeira vez em que um sujeito acusado de corrupção lança, displicentemente, elegantemente, uma candidatura à Presidência da República. E faz o maior sucesso.
De volta aos sorrisos do mercado, a manchete do UOL no fim da tarde já era ‘Bolsa sobe 2,3% e dólar cai 2,6%, a maior queda desde 2003’. Abrindo a escalada de Boris Casoy, ontem no ‘Jornal da Record’:
– O mercado recebe bem a fala de Palocci. Bolsa sobe e dólar tem a maior queda em mais de dois anos e meio.
No exterior, o ‘Financial Times’ entrou no início da noite com o título ‘Negativa do ministro da Fazenda alavanca os mercados do Brasil’.
O texto do correspondente em São Paulo sublinhava que Lula ‘manteve o ministro no cargo’ e ‘diversos líderes empresariais aplaudiram o pronunciamento de Palocci’.
Na mesma direção, o site do ‘Wall Street Journal’ entrou com texto dizendo que ‘ações brasileiros subiram com a dose de coragem dada por Palocci aos aplicadores’.
A edição impressa do ‘WSJ’, ontem, havia abordado as denúncias de sexta, sublinhando que ‘a estabilidade econômica tão dificilmente alcançada tem um teste crucial’ com o escândalo chegando ao ‘maior defensor da política simpática ao mercado’. Aliás:
– Mr. Palocci é o principal responsável pelos explosivos superávits fiscal e comercial do Brasil, que são a maravilha de Wall Street.
Mas prossegue o enfrentamento do ministro com Geraldo Alckmin, procuradores e a polícia de São Paulo.
Do governador aos canais de notícias e telejornais, com um sorriso, sobre os questionamentos de Palocci:
– Alguns fazem confusão, achando que o Ministério Público é subordinado ao Executivo. Não é. O MP é órgão totalmente independente. Sua função é essa. É questionadora, na busca da verdade.
Não demorou para surgir o contra-ataque paulista, no final da escalada do ‘JN’:
– Polícia reabre investigações sobre a morte do prefeito petista de Santo André.
É o eterno retorno.
Mas o ‘abuso de poder’ também continuou sob crítica ontem, entre outros, de Delfim Netto e dos mesmos comenta ristas globais:
– A lambança do Ministério Público de São Paulo… O MP tem muito poder. Quem tem muito poder precisa saber usar, porque senão coloca em risco a democracia.
DELÍRIOS
Do ‘JN’, sobre a defesa de José Dirceu:
– No documento de 45 páginas, o deputado repele com toda a veemência e de modo categórico acusações classificadas como frutos exclusivos de uma mente doentia ou de mirabolante estratégia.
E, na escalada do telejornal, Dirceu ‘diz que acusações contra ele são delírios’.
De homem forte da República, ele passou à ridicularização retórica. Sem falar do passa-moleque do apresentador William Bonner, em defesa do comentarista Arnaldo Jabor, acusado por e-mail de Dirceu de ‘leviandades sem fundamento’.
Enquanto isso, Roberto Jefferson, que denunciou a bravata de Dirceu sobre sua influência na mesma Globo, vai escorregando. Da Folha Online:
– A votação da cassação de Jefferson (PTB) no Conselho de Ética pode ser adiada. A informação é do presidente, Ricardo Izar (PTB).
É o mesmo Conselho que livrou vários deputados do PTB na semana passada.’
***
‘Estresse’, copyright Folha de S. Paulo, 24/08/05
‘Foram dois dias de Tarso Genro em campanha, do teatro Oficina ao ‘Roda Viva’ e aos vários telejornais da Globo – com ultimato a José Dirceu, confronto na comissão de ética do partido etc.
Culminou com a sabatina na Folha, em que o presidente do PT -e candidato a se manter no cargo- declarou que não votaria em Antonio Palocci para a Presidência da República no ano que vem.
Disse mais, que Lula ‘neste momento’ tem pouca chance de reeleição. E que os petistas Aloizio Mercadante e Marcelo Déda seriam alternativas para presidenciáveis.
Genro falou, por fim, ecoando a filósofa Marilena Chaui, em transição da política econômica atual para outra.
Enquanto isso, da Record à Band News, da rádio Jovem Pan ao Globo Online, a cobertura eletrônica destacava que Lula, no Mato Grosso, saiu em defesa de Palocci e política econômica. Do presidente:
– Pela primeira vez, existe a perspectiva de crescer de forma sustentada com inflação baixa. Não jogarei fora a oportunidade por nada neste mundo. Mudar a economia agora seria prejudicar os mais pobres.
Segundo o ‘JN’, ‘já de volta ao palácio, repetiu: a economia é política de governo e não vai mudar, independentemente das pessoas’.
Lula pode não querer ‘mudar a economia’, mas até ‘rádio corredor’, na expressão de um presidente de CPI, abala agora ‘o mercado’.
Ontem, a ‘rádio corredor’ do Congresso espalhou o ‘sumiço’ do ex-assessor que denunciou Palocci.
Foi destaque por todo lado, em enunciados tipo ‘Presidente da CPI diz que Buratti sumiu’ ou, nos blogs, ‘Quem souber, informe o paradeiro de Buratti’. Até o ‘JN’:
– Chegaram a suspeitar na CPI que tivesse fugido.
No fim, o boato se dissolveu, o ex-assessor foi intimado, mas o dia estava perdido.
Na Folha Online, ‘sumiço de Buratti gera estresse, e o dólar fecha em alta’. De um analista de corretora:
– O mercado interpretou que poderia ter acontecido algo mais grave.
OUTRA REFORMA
Agora no Recife, balas de borracha, bombas de gás, paus e pedras
Agosto, diz o site Carta Maior, é mês de mobilização dos sem-teto no país todo para a ‘reforma urbana’. Na propaganda do PSB, Luiza Erundina defende a bandeira como tão importante quanto a reforma agrária. E foram de sem-teto, por vezes com violência, as maiores ações recentes em São Paulo etc.
Ontem de novo, nas manchetes da Band, ‘Famílias de sem-teto enfrentam a polícia no Recife’. A Globo chegou a narrar em tempo real:
– Pedras, garrafas com gasolina, jogadas da sacada. O batalhão de choque reagiu. Os sem-teto atearam fogo no edifício, precipitando a invasão…
Em São Paulo, enquanto isso, o padre Júlio Lancelotti liderava passeata de sem-teto.
O cerco
Na escalada do ‘JN’, a Globo surpreendeu e apertou mais o cerco ao palácio:
– Presidente do PL reafirma que usou dinheiro do caixa dois para pagar a campanha eleitoral do presidente Lula. Ex-assessor da Casa Civil admite à CPI que negociou campanhas do PT dentro do Planalto. A oposição ataca Palocci.
De Cesar
No noticiário sobre o ministro, o ‘JN’ reproduziu documentos postados desde domingo no Blog do Cesar Maia e usados -agora pelo PSDB- para dizer que Palocci ‘mentiu’ em sua tão elogiada coletiva.
O blogueiro pefelista mal se continha de alegria por pautar, como ele escreveu, ‘todos os jornais nacionais’.
OS MICOS ÓRFÃOS
Em nova amostra de esgotamento com o escândalo sem fim, a Globo dizia ontem à tarde que ‘a natureza roubou a cena’. Era a história de ‘três filhotes de micos’ que ‘nasceram no meio da rua, depois que a mãe deles foi atropelada’:
– Os bombeiros acham um milagre os três terem sobrevivido.
Até nos blogs políticos o relato tocante dos ‘micos órfãos’ ecoou.’
PESQUISA TOP BRANDS
Carlos Franco
‘Para leitores, ‘Estado’ tem maior influência e credibilidade ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 24/08/05
‘O jornal O Estado de S. Paulo foi apontado, pelo segundo ano consecutivo, como o veículo impresso de maior influência e credibilidade entre os paulistanos em relação a seu concorrente direto, a Folha de S. Paulo.
O índice de fidelidade, de consumidores que defendem a marca, chegou a 79% entre os que lêem o Estado, enquanto seu concorrente direto registrou índice de 66% e o jornal O Globo, do Rio de Janeiro, o índice de 68%. Esse índice mede o prestígio de uma marca. O índice mais alto de defensores de marca é ostentado pelo refrigerante Antarctica (86%), seguido de Brahma (84%), Omo (83%) e Coca-Cola (80%). É o que revela pesquisa da Top Brands Consultoria e Gestão de Marcas, que será divulgado hoje em seminário da Associação Brasileira de Anunciantes (ABA), em São Paulo.
Realizada na primeira quinzena do mês, em quatro capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Recife), a pesquisa também levantou a atitude do consumidor em relação a outras categorias de produtos e serviços, num total de 17 segmentos – o dos jornais foi o único a ter características regionais. O Estado também foi o mais lembrado entre os leitores, em pergunta de resposta espontânea de lembrança, com porcentual de 34% em relação a 33% do concorrente, que melhorou o seu resultado em relação ao ano anterior, quando a diferença era de 35% a 27%. O mercado publicitário classifica esse item como ‘top of mind’, no qual a veiculação de propaganda no período da pesquisa tem influência.
Nas categorias de consumo, destacaram-se as marcas líderes, mesmo por consumidores que teriam dificuldade de continuar comprando-as em função do preço em comparação a marcas secundárias. O sabão em pó Omo, da Unilever, por exemplo, é apontado espontaneamente por 82% dos consumidores, seguido de outro produto da mesma multinacional, o Ala, com 4%, sendo que este é mais voltado à população de baixa renda e tem forte presença na Região Nordeste.
Outras marcas com força em seus respectivos segmentos foram: Visa, com 43% das menções em cartão de crédito; Veja, com 41% em revista; Nokia, com 39% em aparelho celular; Embratel, com 36% em operadora de telefonia fixa; Varig, com 35% em companhia aérea e Volkswagen, com 34%, em fabricante de automóvel.
‘Além de avaliar a lembrança de marca como outras pesquisas, o estudo aborda confiança, satisfação e intenção de compra, o que permite uma análise mais profunda da real força das marcas nestas categorias’, explica Marcos Machado, sócio-diretor da Top Brands e presidente do Comitê de Branding da ABA.
A análise regional, por exemplo, aponta a liderança da General Motors em Porto Alegre, com 30% das menções dos consumidores, diferente da análise geral onde a Volkswagen é líder – foram ouvidas 980 pessoas. A análise por faixa etária mostra que o Guaraná Antarctica é mais lembrado pelas pessoas mais velhas (apesar de mesmo neste segmento não superar a Coca-Cola), o que pode indicar um processo de envelhecimento da marca. Mas o Guaraná Antarctica tem, em termos porcentuais, mais defensores que Coca-Cola. E a análise por sexo mostra que a TAM é mais lembrada pelos homens e a Varig pelas mulheres.
A AmBev tem tudo para comemorar a escolha do brasileiro por marca de cerveja: a sua Skol ficou com 28% das opções, seguida de Brahma com 25%, mas regionalmente há diferenças: em São Paulo, a marca Brahma lidera com 40%, seguida de Kaiser, com 14%, enquanto no Rio de Janeiro Skol é apontada por 60% dos consumidores e Brahma por 14%. O líder entre os bancos é o Bradesco, seguido de Banco do Brasil e Itaú, enquanto Visa lidera quando o assunto é cartão de crédito.’