‘O assassinato de cinco trabalhadores rurais sem-terra por um bando de 15 pistoleiros encapuzados, em um acampamento do MST no interior de Minas Gerais, está sendo explorado por vários veículos de comunicação, para criticar o processo de Reforma Agrária e a atuação do próprio MST no país. A chacina ocorrida no dia 20 de novembro ganhou espaço na mídia, mas não ganhou as manchetes principais. A partir do dia 23, porém, o assunto foi parar nas manchetes e mereceu editoriais, em função das declarações do presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Rolf Hackbart, responsabilizando setores do agronegócio pelo aumento da violência no campo. Já na noite de terça-feira (23), os telejornais davam destaque à fala de Hackbart.
Também mereceram destaque as reações iradas dos representantes do agronegócio, denunciando o caráter ‘irresponsável’ e ‘ideológico’ das declarações. O presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia, acusou o presidente do Incra de ‘plantar e colher o ódio de classes’. Outro líder ruralista, o presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Antônio Ernesto de Salvo, pediu a cabeça de Hackbart. ‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva’, disse Salvo, ‘tem consciência do que deve fazer com o cargo de presidente do Incra’. Seguindo na mesma direção, o presidente do Movimento Nacional de Produtores (MNP), João Bosco Leal, exigiu a demissão imediata de Hackbart. As reações do setor ruralista ganharam um destaque muito maior do que a chacina.
MST e governo federal são os culpados?
Uma informação sobre o caso ganhou tratamento descritivo, quase protocolar: o envolvimento do fazendeiro Adriano Chafik Luedy, proprietário da fazenda Nova Alegria, situada no município de Felisburgo (MG), na execução dos sem-terra, conforme denúncia feita pelo ministro Nilmário Miranda, dos Direitos Humanos. Nenhum editorial foi publicado denunciando o longo histórico de crimes cometidos por grandes proprietários de terras no Brasil. Tampouco alguma opinião falando sobre o caráter ideológico e de classe que alimenta as reações setores desses setores contra os movimentos sociais. Em geral, são apontados dois culpados pela chacina: os próprios sem-terra, que com sua atuação provocariam essas reações, e a política de Reforma Agrária do governo federal.
O argumento exposto pelo editorial do jornal Folha de S. Paulo nesta quarta (24) é exemplar a este respeito. ‘Vários são os elementos que compõem o ambiente no qual acontecimentos como esse são gerados. A começar pela própria atuação do MST. Em que pesem suas legítimas reivindicações, o movimento não hesita em apostar na radicalização e patrocinar ondas de invasões de propriedades, em desafio à ordem legal’. E acrescenta: ‘também o governo federal tem sua parcela de responsabilidade ao não zelar como deveria pelo cumprimento das leis e ao não conduzir a reforma agrária de maneira satisfatória’. O editorial defende a investigação do caso, mas não dedica uma linha ao histórico de violência envolvendo grandes fazendeiros no Brasil.
‘A colheita’
No dia 23 de novembro, o jornal O Globo, em um texto intitulado ‘Colheita’, fala sobre a chacina dizendo que ‘o governo federal colhe o que semeia’. Segundo o jornal, o governo Lula é ‘leniente’ com as ações do MST no campo, o que estaria empurrando os fazendeiros para a violência contra os sem-terra. ‘Brasília engana-se ao achar que pode contemporizar com os ataques do MST à propriedade privada. A leniência de um lado anima o outro a também praticar crimes. Até de morte’, afirma o texto. Essas palavras vêm acompanhadas de uma foto do ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, conversando com o dirigente nacional do MST, João Paulo Rodrigues. Nenhuma palavra sobre o fato de que as terras em disputa, em Felisburgo, são devolutas e griladas.
A mesma linha de argumentação é utilizada pelo jornal O Estado de S. Paulo, que tem o mérito, ao menos, de expor suas posições com mais clareza e menos hipocrisia. Em um memorável editorial publicado no dia 4 de agosto, o jornal advertia que os fazendeiros ‘não resistirão à tentação de defender-se por conta própria’ dos ‘crimes praticados pelo MST’. O texto acusava o MST de patrocinar um cenário de violência sangrenta no campo, disseminando a guerra, cometendo crimes de toda a ordem e desrespeitando os direitos elementares das pessoas. E atacava o ministro Miguel Rossetto, denunciando a conivência do MDA com a atuação do MST e a ‘ideologização do processo de Reforma Agrária’. Detalhe: o texto foi publicado por ocasião do assassinato de dois sem-terra no Piauí.
O sagrado agronegócio e os malditos sem-terra
Não é nenhuma novidade que criticar o agronegócio virou crime de lesa-pátria no Brasil. Alçado à categoria do sagrado, o setor é apontado como a locomotiva do país, não importando os crimes ambientais e sociais que possa vir a cometer. O modo como as sementes de soja transgênica foram introduzidas no país, via contrabando e sem fiscalização sanitária, virou sinônimo de empreendedorismo. O assassinato de fiscais do trabalho que investigavam a prática de trabalho escravo virou um mero caso de polícia, onde qualquer consideração sobre a participação de representantes do agronegócio foi acompanhada de críticas sobre a inoportuna ‘ideologização’ do tema. Grilagem de terras, trabalho escravo, crimes ambientais? Pequenos detalhes, segundo esse raciocínio.
Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), até hoje não contestados, em 2003, as mortes de agricultores cresceram 77,5%, passando de 40 para 71. No mesmo ano ainda, outras formas de violência no campo também aumentaram, entre elas, tentativas de assassinatos, ameaças, agricultores feridos em conflito. Conforme a CPT, em 2003, 2.346 famílias foram expulsas de suas terras, mais de 20 mil sofreram ameaça de expulsão e outras 7 mil foram vítimas de pistolagem. Mais de 30 mil famílias foram despejadas de suas terras. Destas, 6 mil tiveram suas casas, roças e pertences destruídos pelos agressores. Que eram quem mesmo? E, a título de resgate da memória, quem foi mesmo que matou Chico Mendes?’
ECOS DE FURTADO
‘Fragmentos para a história de Celso’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 22/11/04
‘No dia 31 de março de 1964, eu era chefe da Divulgação da SUDENE. Não cuidava dos contatos com imprensa nem trabalhava diretamente com Celso Furtado, presidente da instituição. Meu trabalho era editar as publicações técnicas.
As notícias sobre um levante militar começaram a chegar durante a tarde e, por isso, saí diretamente da sede da SUDENE para o Palácio das Princesas. A idéia era ver se podia ajudar em alguma coisa. E, como o assessor de comunicação do governo estadual havia sumido, virei a noite telefonando e ouvindo o rádio, buscando saber o que estava acontecendo e informando o governador Miguel Arraes.
Pouco depois das sete da manhã, instalou-se na Sudene uma assembléia permanente dos funcionários que iam chegando. Fui até lá para participar de algumas decisões sobre possível resistência e, ao retornar ao palácio, Celso Furtado já estava lá, dando total solidariedade a Arraes e ao presidente João Goulart.
Tivemos uma rápida conversa em que lhe disse que havia assumido ‘de fato’ a assessoria e ele, sisudo como sempre, respondeu que eu ‘estava cumprindo minha obrigação como cidadão e servidor público’.
Celso participou, ao lado de Arraes, de todas as negociações com os chefes militares da região, que haviam ordenado o cerco ao palácio. Em momento nenhum, aceitou a oferta de sair livremente ‘por não ter nada a ver com o governo esquerdista de Pernambuco’, conforme lhe disse um dos oficiais.
Por volta das quatro horas da tarde, informei ao governador que, pelas notícias captadas, Brasília e Rio de Janeiro estavam sob controle militar e o presidente João Goulart estava a caminho do exílio. Arraes decidiu que era inútil resistir e conversou com Celso, que voltou a lhe afirmar total solidariedade em qualquer decisão que tomasse.
Pelo acordo firmado entre Arraes e os comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica, somente ele, a família e um mínimo de auxiliares diretos do Governo estadual poderiam continuar no Palácio das Princesas. Todos os outros deveriam retirar-se.
Acho que foi um dos momentos de maior emoção na vida desse paraibano cidadão do mundo o abraço comovido com que se despediu de Arraes.
Virou-se para mim e ordenou: ‘Venha comigo no carro, é a única maneira de você sair daqui sem ser preso.’ Irresponsavelmente, levei duas armas escondidas, mas vendo que todo o centro de Recife estava ocupado e Celso poderia ser envolvido se nós e o carro fôssemos revistados, pedi para descer logo depois de atravessarmos uma das pontes sobre o Capiberibe.
Apertamos as mãos e ele se despediu de mim com um ensinamento: ‘Tenha cuidado. Sei o que você está levando. Só podemos superar esta derrota com idéias, não com isso.’
O carro se foi, havia soldados por todos os lados. Joguei as armas no rio.’
TODA MÍDIA
‘Mais uma madrugada’, copyright Folha de S. Paulo, 29/11/04
‘Do apresentador Zeca Camargo, no Fantástico:
– Quadrilha de traficantes transforma um baile funk do Rio numa noite de terror.
Dia após dia, é o destaque da TV para o Rio. Na Globo News, a locução foi aterrorizante:
– Em represália à morte de um chefe do tráfico, bandidos decretaram o fim do baile. Mandaram interromper a música. Como o baile continuou, abriram fogo. Atiraram a esmo e lançaram granadas. Dezenas acabaram atingidos.
Um dos atingidos, com a voz embargada, no Fantástico:
– Eu pensei que não ia sair vivo. Mais de 20 em cima de mim, eu tentando levantar, rolando nos cacos de vidro. As pessoas correndo, uma atropelando a outra, caindo no chão.
Foi manchete no UOL e em outros. E veio um dia depois de outras manchetes do Rio. Do Jornal da Record, sábado:
– Três mortos em conflitos no morro da Mangueira.
Do Jornal da Band:
– Mais uma madrugada violenta no Rio de Janeiro.
E seguem os ataques a turistas, até de excursão. Jovem Pan:
– No Rio, assalto terminou com dois mortos. Quinze homens pararam ônibus de excursão. Entre os feridos, crianças.
No RJTV de anteontem, ‘mais ataques a turistas’ -dois alemães e um mexicano.
Não é só na cobertura daqui que o cotidiano violento vai tendo destaque. No caso do baile, já corriam ontem pela web os despachos das agências.
E o ‘Los Angeles Times’ publicou reportagem no final da semana com o título ‘Rio luta para conter a violência às vésperas da temporada’. O texto foi reproduzido por vários jornais americanos, sob títulos como ‘Rio em alerta para a escalada do crime’, no ‘Boston Globe’.
OUTROS LADOS DO RIO
Era inevitável que o Rio terminasse nos tablóides. Mas desta vez o ‘New York Post’ e o ‘Daily News’ deram uma boa notícia, destacando que foi ‘capturado’ no Rio um ‘mafioso ‘top’ da família Gambino’. Nova-iorquino, teria ligações com o filho do ‘don’ John Gotti.
Mais boa notícia. Jornais diversos trouxeram texto da agência AP sobre um centro de artes que ‘luta pela excelência numa favela violenta do Rio’. E a revista ‘Newsweek’ mostra em reportagem, na sua nova edição, que o ‘quase revolucionário’ Retiro dos Artistas, no Rio, ‘se tornou um símbolo para os direitos dos idosos’.
E tem mais. O ‘Times’ de Londres deu reportagem convidando leitores a ‘mais um dia no paraíso’, chamando para o Natal no Rio, ‘com sol, areia e samba’. Nada de violência.
Corcovado
Em meio ao anunciado ‘terror’ na cidade, o presidente do Paquistão, nas palavras da Globo News, Pervez Musharraf, ‘fez um tour pelo Rio’. Foi ao Corcovado, ‘também viu o Pão de Açúcar’, mas suspendeu um ‘passeio de helicóptero’.
Urânio argentino
O editor-geral do argentino ‘Clarín’, Ricardo Kirschbaum, publicou um artigo ontem afirmando que ‘a notícia [de que o Brasil vai enriquecer urânio] não surpreende’.
Mas ele lamentou que o ex-presidente Carlos Menem tenha decidido cortar um projeto semelhante em seu país, ‘para potencializar relações com os EUA’, com ‘conseqüências muito sérias para o desenvolvimento nuclear argentino’.
Bolshoi
Elogiada desde a criação, em 2000, a filial do balé Bolshoi no Brasil virou reportagem de polícia ontem no Fantástico:
– O responsável pela vinda foi o filho do líder comunista Luiz Carlos Prestes. Hoje, João Prestes é alvo de investigação. Ele e a mulher são acusados de enriquecimento ilícito.
Espanha x China
A exemplo do ‘NYT’, o espanhol ‘El País’ publicou ontem editorial saudando o ‘ambicioso plano de investimentos’ da China na América Latina.
E assinalando, como fez o ‘NYT’, que ‘os objetivos chineses constituem uma solução lógica [para a economia chinesa] e pouco ameaçadora ao resto dos países investidores na região’. Caso da Espanha.
A NOVELA DO CONSELHO
Quatro jornais, ‘The New York Times’, ‘Boston Globe’, ‘Financial Times’ e ‘El País’, adiantaram ontem as conclusões da comissão criada pela ONU para rever a composição do Conselho de Segurança -alvo de campanha de Brasil, Índia, Japão e Alemanha. Uma primeira proposta torna membros permanentes os quatro, mais um país árabe e outro africano. Nenhum teria direito a veto, como têm hoje os EUA. A segunda proposta só elevaria o número de membros não-permanentes.
Os jornais apontaram que o debate deverá ser longo, com os quatro postulantes sendo questionados regionalmente. No caso do Brasil, por Argentina e México.’
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‘Alca ou Mercosul’, copyright Folha de S. Paulo, 26/11/04
‘No Brasil, parte da Fiesp tratava o Mercosul como ‘entrave’, ontem. Do diretor Roberto Giannetti da Fonseca, no Bom Dia Brasil:
– Nós queremos tornar o Mercosul área de livre comércio e aprofundar, mas com o Brasil liberado para negociar acordos individualmente.
Na Globo News, ele foi mais agressivo, contra o Mercosul e em favor da Alca e de um acordo bilateral com os EUA.
De acordo com a Globo, ‘em resposta às críticas da Fiesp, o chanceler Celso Amorim disse que as negociações levam em conta os interesses do Brasil e não de setores’.
Mas logo veio FHC em apoio à Fiesp, dizendo à Folha Online que no comércio internacional o Brasil ‘tem medo de assumir compromissos’ e devia ‘tomar uma posição ofensiva, ter visão econômica mais clara’.
Econômica, vale dizer, e não ‘ideológica’, na expressão do diretor da Fiesp.
Na Argentina, nos jornais, a história era um pouco diferente. ‘La Nación’ e ‘Clarín’ diziam que ‘os empresários brasileiros e argentinos apresentaram um sinal de unidade inédito nos 13 anos do Mercosul’.
Quem está lá é o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, que deixou claro onde nasceu o problema dos empresários dos dois países com seus governos:
– O perigo não vem mais do vizinho, mas da Ásia.
Segundo o ‘Clarín’, ‘o que acelerou a aproximação foi Lula e Néstor Kirchner declararem que a China é uma economia de mercado’.
O objetivo da ‘unidade’ é pressionar os governos a criar mecanismos de defesa contra os produtos chineses.
Também em Buenos Aires, o chanceler brasileiro saudou a ‘unidade’, diplomaticamente -e vislumbrou que Lula e Kirchner vão ‘desenvolver um esquema comum de proteção antidumping’.
Como pano de fundo desse debate, um editorial do ‘New York Times’ tratou ontem da aproximação entre a América Latina e a China:
– O envolvimento da China é muito positivo para a América Latina… [Mas] haverá ajustes dolorosos, conforme a entrada de manufaturados chineses substituir competidores locais menos eficientes.
O ‘NYT’ avaliou, por outro lado, que ‘a crescente presença chinesa não coloca nenhuma ameaça econômica e estratégica aos EUA’ -em contraste com reportagem do correspondente Larry Rohter, dias atrás.
Também como pano de fundo do debate, o ‘Miami Herald’ destacou ontem a criação da União Sul-Americana, que é uma extensão do Mercosul. O colunista Andres Oppenheimer pôs questões como:
– Não faria mais sentido para os países buscar acordos de livre comércio com os EUA?
Ele levantou dúvidas, mas concluiu que é ‘uma boa idéia’, dizendo que a União Européia também ‘soou grandiosa’ a princípio:
– Porém ela funcionou.
CONTRA TUDO
Em sua sexta manchete, o Jornal Nacional falou em ‘manifestações e tumulto’:
– Estudantes, punks e sem-terra mobilizam polícia.
Numa das frentes estavam os estudantes e ‘punks’ ‘contra as reformas universitária, trabalhista e sindical’. Noutra, os sem-terra ‘contra a política econômica’. Mas foram ainda mais difusos os protestos. Em sua quarta manchete, Boris Casoy resumiu, no Jornal da Record:
– O MST e mais 40 movimentos sociais protestam.
O apresentador do popularesco Cidade Alerta foi além e disse que estavam lá representados todos os cidadãos, ele inclusive. Em seu caso especial, contra ‘os impostos’.
Acordo, afinal
A Globo até reclamou:
– Primeiro, fábrica liberada. Depois, não é bem assim.
Foi preciso que Mohamed El Baradei, diretor da agência da ONU, aparecesse ontem para confirmar, para alívio do JN de William Bonner:
– Alcançamos um acordo em princípio, com o governo do Brasil, para inspecionar a fábrica de enriquecimento.
‘Em princípio’, vale repetir.
Aécio 2006
Com certo atraso em relação ao paulista Geraldo Alckmin, surgiu nas redes um comercial do governador e presidenciável mineiro Aécio Neves, também do PSDB.
Da locução, com imagens e música ao fundo:
– O governo de Minas fez um choque de gestão. Equilibrou as contas do Estado… Reduziu os salários do governador e vice… Coragem e criatividade.
POR TUDO
A Globo News deu como ‘protesto contra a reforma universitária’, mas ele serviu como símbolo contra tudo -até ‘os impostos’, no Cidade Alerta
A VERDADE
A ‘Economist’ apoiou, ela também, a abertura dos arquivos da ditadura brasileira. ‘Não há reconciliação sem a verdade’, diz o texto.’
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‘Lula ou Palocci’, copyright Folha de S. Paulo, 25/11/04
‘Antônio Palocci ‘garantiu que não haverá intervenção no câmbio’, anunciou o Bom Dia Brasil, reproduzindo frases do ministro:
– Não há motivo para preocupação. As mudanças cambiais ocorrem em vários continentes, mudanças entre as moedas. Precisamos ter tranqüilidade com esses indicadores.
Mas não foi bem assim. Horas depois Lula deu entrevista à Bloomberg e disse que ‘seria melhor’ se o real se desvalorizasse. Aí veio o Banco Central e divulgou uma compra de dólares. E a Bloomberg:
– Real cai após declaração de Lula e anúncio do BC.
E quem não ficou bem na tela foi Antônio Palocci.
O ministro Luiz Furlan surgiu então no noticiário da queda, na Globo News, para elogiar o BC e dizer que não era uma ‘intervenção’ no câmbio:
– É natural que se aproveite este momento de excesso de oferta de dólares.
No Jornal Nacional, acrescentou um diretor do BC:
– Estamos fazendo recomposição de reservas. Não tem absolutamente nenhuma preocupação com nenhum nível específico de taxa de câmbio.
Mas o contraste com Lula foi flagrante, resumido em duas frases pelo JN:
– Ontem, Palocci disse que não vai intervir para elevar a cotação do dólar. Hoje, Lula disse que, para as exportações, seria melhor que o dólar ficasse entre R$ 2,90 e R$ 3,10.
Na dúvida, o JN deu os prós e contras do dólar valorizado.
A entrevista de Lula foi base para uma longa reportagem da Bloomberg em seu site, em que incluiu um perfil do presidente. Pelo jeito, segue forte a mística lulista. Uma passagem:
– Seu passado contrasta com o dos advogados, empresários, generais e acadêmicos que lideraram o Brasil desde Deodoro da Fonseca em 1889.
E por aí foi. Mas não faltaram registros de que ‘os sucessos de Lula tiveram custo’.
Foram mencionadas a derrota em São Paulo e declarações mais ou menos críticas do petista Ivan Valente e até de Caetano Veloso. Do cantor, sobre as promessas eleitorais:
– Todo mundo sabia que era tarefa impossível.
O texto fechou com o ex-presidente José Sarney:
– Por sua história de vida e seu carisma, Lula não tem adversário nas próximas eleições. Seu apelo vai direto ao povo e está acima de partidos.
A Bloomberg, como Sarney, se enamorou de Lula.
Calma
Lula reuniu os deputados do PMDB, posou para a televisão e, no destaque do Jornal Nacional, ‘pediu calma ao partido e que a decisão na convenção do dia 12 seja consciente’.
Como sublinhou a Globo News, Lula ‘evitou falar sobre mais espaço no governo’ -em outras palavras, o presidente ‘foi mais nebuloso’ do que com os senadores do partido.
A cobertura do JN observou que, ‘no plenário, o PMDB faz corpo mole para votar, diz que ainda está em negociação, mas mesmo assim a Câmara está conseguindo votar’.
Senhor
Com o PMDB e na Bloomberg, avaliou a Globo News, ‘Lula está mais senhor do governo’.
Para o bem ou para o mal.
Oásis
Mais uma mostra de que a mística lulista continua firme, no exterior. O ‘Financial Times’ deu reportagem sobre o ‘oásis’ que ele planeja, contra o êxodo do Nordeste. É a transposição do São Francisco. O texto fecha com uma frase de Lula:
– Eu sonho com nordestinos vindo para São Paulo não para trabalhar, mas como turistas.
SEM FIM
A notícia surgiu antes no site do ‘Washington Post’, em despacho da agência Reuters, e depois -aos poucos- na Globo News, nos sites noticiosos e, por fim, na manchete do JN. Explica-se: a Globo e outros anunciaram mais de uma vez, nos últimos meses, um acordo inexistente. Agora parece que saiu. O âncora William Bonner, em tom ‘oficial’, anunciou ‘o fim de uma crise delicada’:
– Com autorização, a fábrica de combustível nuclear de Resende entra em produção de urânio enriquecido.
Mas não, a agência Associated Press foi ouvir a ONU mais tarde e, de novo, não havia ‘autorização’.’
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‘Alto preço’, copyright Folha de S. Paulo, 24/11/04
‘Na descrição da Globo, ontem pela manhã, ‘em qualquer lugar, a toda hora, até de madrugada, só se fala de um assunto em Brasília, a reforma ministerial’.
Vale também para telejornais, rádios e sites, que trouxeram ontem como protagonistas, uma vez mais, os peemedebistas em lados opostos.
O senador José Sarney, após reunião com Lula e outros, foi ao ataque contra o presidente peemedebista. Não demorou e Geddel Vieira Lima saiu em defesa de Michel Temer, dizendo à Folha Online que ‘está na hora de rasgar a fantasia, quem quiser prestar serviço ao governo que o diga’.
O líder do PMDB na Câmara, José Borba, voltou-se à essência, no Jornal Nacional:
– Um ministério que conte com estrutura orçamentária e financeira, caneta e tinta. É o perfil que desejamos.
Daí porque, segundo a Globo, ‘o Planejamento não atrai os peemedebistas: é um ministério que controla gastos, não distribui verbas’.
Para a emissora, PMDB, PTB e PP ‘não escondem a ambição pelo poder’. Mas são tantos os ‘pedidos de cargos’ que ‘o PT, que ocupa metade dos ministérios, terá que ceder’.
Manchete do JN:
– Lula avisa que o PT vai ter que abrir caminho para aliados no ministério.
O senador Aloizio Mercadante já anunciava, ontem à CBN, que o PT ‘facilitará para Lula escalar a seleção do Brasil para jogar este segundo tempo’.
Falar em ‘seleção’, diante da cobertura, soa como ironia.
Do âncora Boris Casoy, no Jornal da Record:
– Olhando o currículo, seria surpresa se o PMDB abandonasse o governo. A crença é de acordo, com o governo pagando alto preço político. O que acontece depois, com oposicionistas do PMDB, ninguém sabe.
Nem o que acontece com os insatisfeitos das outras legendas, inclusive o PT:
– Não há jeito de contentar a todos. Haverá baixas e muitos ressentidos.
RINHA O flagrante de Duda Mendonça, em uma briga de galo, ecoa até agora no Cidade Alerta. O programa mostrou ontem outra rinha, sem relação com o marqueteiro, com a imagem se fixando num animal que teria morrido pouco antes da chegada da polícia. O apresentador sublinhou que o publicitário que ‘faz a imagem do presidente’ cometeu ‘crime’
Jatos 1
Se no Brasil as manchetes foram para manutenção do embargo à carne, na Rússia o ‘Pravda’ destacou que ‘o Brasil se recusou a assinar um contrato de US$ 750 milhões pelos jatos Su-35’. A venda era ‘de importância estratégica’ para o presidente Vladimir Putin.
Jatos 2
Já o primeiro-ministro do Canadá, Paul Martin, também de passagem por Brasília, quer suplantar o ‘conflito entre os produtores de jatos’ Bombardier e Embraer. Segundo o ‘Globe and Mail’, ele ‘se comprometeu a chegar a acordo’.
Desaparecido
O JN já deu até manchete para o atraso na contenção do ‘vazamento de óleo’ em Paranaguá. Mas o chileno ‘La Tercera’ sublinhou ontem que é preciso, antes de mais nada, encontrar o corpo de um tripulante desaparecido do navio chileno que explodiu no porto. Sua mãe estaria a caminho do Brasil para acompanhar as buscas.
Espancado
Da Jovem Pan, ontem:
– Um morador de rua espancado foi encontrado por volta das 4h, na Barra Funda. Ele foi levado para a Santa Casa e está em estado gravíssimo.
CAIU O ÂNCORA
O site da CBS anuncia em manchete a saída de Rather
O âncora Dan Rather, no relato do ‘New York Times’, ‘adiantou-se ao resultado do inquérito’ na CBS, sobre documentos falsos que usou dois meses atrás para uma reportagem sobre George Bush, e deixou a função após 24 anos. Blogs diversos comemoravam a vitória, ontem.’