Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Marqueteiro “sepulta”
candidatura de Alckmin


Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 11 de setembro de 2006


ELEIÇÕES 2006
Chico Santa Rita


Crônica de um naufrágio anunciado


‘PARA QUEM conhece e convive com os meandros do marketing político, a estagnação da candidatura Alckmin não trouxe grandes surpresas. Pelo contrário, era até previsível que o barco começasse a fazer água na reta final.


Dois ou três meses atrás, pude antecipar essa ocorrência e a apontei claramente a vários interlocutores com quem mantinha relações de trabalho ou contatos pessoais. Posso citar, entre eles, dirigentes do PMDB de Brasília e de Mato Grosso do Sul; políticos do PFL de São Paulo e do Rio Grande do Sul; líderes do próprio PSDB, como José Aníbal e os deputados federais Aloysio Nunes Ferreira (SP) e Yeda Crusius (RS).


Não só previ como expliquei o porquê. Na minha visão, a ausência de uma estratégia inicial clara, capaz de empolgar o eleitor e evoluir com o andamento da campanha, com certeza levaria a uma perda definitiva dos rumos mal traçados.


Os fatos que se seguiram só vieram confirmar esse diagnóstico. Surpreendido pelos ataques do PCC, faltou ao ex-governador de São Paulo atitude e discurso firmes, denunciando o grande responsável pela (in)segurança nacional: o governo federal, que jamais teve uma política séria e competente nessa área estratégica para o país como um todo.


Essa explosão tem causas e efeitos espalhados pelo Brasil inteiro, pelo tráfico de armas e de drogas. Há um ano, na campanha do ‘Não’ no referendo, mostramos o caos que se prenunciava pelo drástico corte de verbas federais destinadas aos Estados.


Em seguida, quando o ‘companheiro’ Evo Morales invadiu propriedades brasileiras na Bolívia, também não houve um repúdio firme com a atitude em si nem, especificamente, com a complacência vergonhosa do governo brasileiro.


Em ambos os casos, faltou a visão estratégica que desse ao candidato a verdadeira dimensão dos acontecimentos, de forma a encaixá-los como elementos de campanha. Já dava para vislumbrar o que viria a seguir. A nau tucana começava a navegar sem mão firme no leme e sem um especialista no cesto da gávea, vislumbrando as oportunidades de terra à vista.


Faltava, principalmente, um mapa de navegação. Um projeto global, algo como um grande ‘Pacto de Reconstrução Nacional’, que começasse na pregação de moralizar o comportamento político, atacasse o uso exacerbado da Lei de Gérson, apontasse soluções profiláticas de curto prazo, mas previsse também políticas estruturais de médio e longo alcance e, finalmente, aportasse numa plataforma de obras e realizações. Algo como um grande debate nacional que nos fizesse resgatar a auto-estima, com a recuperação dos preceitos de moral e bons costumes tão desprezados nestes tempos obscuros em que a mais valia da ignorância tenta prevalecer.


Nesse contexto, seria possível discutir, com propriedade, como o PT e seus líderes maiores conspurcaram a austeridade no comando da nação.


Atacar o adversário agora, subir o tom, como querem alguns, apimentar o discurso, como pregam outros, vai parecer, perante os olhos simplistas da população, uma agressão oportunista no desespero da derrota.


O que se vê hoje, na televisão, é muito semelhante à programação que foi ao ar na campanha de reeleição do governador, quatro anos atrás -um obrismo provinciano, que nos remete aos famigerados tempos do ‘Maluf fez, Maluf faz, Maluf vai fazer muito mais’, só trocando o nome do candidato por Alckmin (ou Geraldo, como querem os marqueteiros que só enxergam desimportâncias periféricas).


São Paulo é grande. Mas o Brasil é maior. Obra por obra, Lula sempre poderá mostrar mais. A discussão perdeu o momento de ser encaminhada para outros mares mais encapelados, menos favoráveis à tranqüila navegação da nau petista, que pôde esconder no porão os Waldomiros, os mensaleiros, os Valérios e caterva e todo o comando de um partido que prevaricou nas barbas do comandante enquanto ele fumava, impávido, seu charuto cubano, sentado num tonel de carvalho, olhando distraído para o horizonte.


Na falta de estrategistas, os alquimistas do marketing político tucano basearam tudo na campanha eletrônica, que -diziam insistentemente- tudo mudaria. Mais uma vez se comprova que não basta ter um programa de TV de qualidade técnica exemplar quando falta a ele o fio condutor de uma estratégia básica que comande e oriente as ações.


Como profissional da área, me surpreendo que esses desvãos do marketing político ainda possam acontecer numa campanha presidencial de tamanha envergadura. Como cidadão, lamento com tristeza.


CHICO SANTA RITA , 66, jornalista, é especialista em marketing político. Dirigiu mais de 100 campanhas, entre elas, a de Fernando Collor de Mello à Presidência da República. É autor do livro ‘Batalhas Eleitorais’.’


Mauro Paulino


Cabeça-feita


‘O APARENTE MARASMO dessa eleição oculta uma importante mudança no tráfego de opiniões do eleitorado brasileiro revelada pelos números das pesquisas. Menos influenciável, o eleitor de baixa renda e com poucos anos de estudo mostra-se convicto de seu voto e decide-se de forma mais objetiva, avaliando ganhos e necessidades imediatas. Já o eleitor com renda mais alta e acesso à universidade aparenta menos apego pelo exercício do voto e não exerce tanta influência sobre os ‘desinformados’.


Como destacou Elio Gaspari ontem, pesquisas mais recentes mostram que Lula cresceu nos segmentos onde o adversário mantinha-se à frente. Pelo último Datafolha, a vantagem de Alckmin entre os que têm nível superior de escolaridade caiu de nove para dois pontos. E, entre os que pertencem a famílias com renda acima de dez salários, a vantagem do tucano encolheu de 13 para três pontos.


Na outra ponta, entre os menos abastados e com baixa escolaridade, nada mudou. Lula permanece com larga vantagem desde o início da disputa. A se confirmar esses resultados como tendências em próximas pesquisas, será a primeira vez, desde a volta das eleições diretas, que essa via terá mudado de mão de forma tão clara em uma disputa pela Presidência. Usualmente, as camadas mais privilegiadas do eleitorado dão o tom das alternâncias difundindo-as para o restante da população. Nessa eleição isso ainda não se deu.


O envolvimento com as candidaturas e com o noticiário político já não depende tanto da formação escolar do eleitor. Um indicativo disso pode ser medido comparando-se as menções espontâneas captadas pelo Datafolha em setembro de 1998, durante a campanha pela reeleição de Fernando Henrique, com as atuais.


Naquele ano, 71% dos que tinham nível superior de escolaridade indicavam um candidato sem que fossem estimulados com um cartão com os nomes.


Após oito anos, esse número permanece inalterado. Já os menos escolarizados mostram uma significativa evolução. Se, há um mês da eleição, em 98, apenas 46% conseguiam mencionar espontaneamente seu candidato, hoje já há 61% que o fazem.


O eleitor com nível universitário confere, é óbvio, uma importância maior ao voto do que o que estudou até o nível fundamental. Se o voto fosse facultativo, 52% dos menos escolarizados não iriam às urnas contra 37% entre os mais estudados. Só que, em relação à 98, estes apresentam um aumento de cinco pontos percentuais nessa taxa enquanto os de nível fundamental mostram-se estáveis.


Também o interesse pela eleição caiu mais entre os que cursaram uma faculdade do que entre os menos escolarizados.


Cabe então perguntar se a propalada apatia do eleitor por essa eleição é mesmo disseminada ou está localizada apenas na ponta da pirâmide.


MAURO PAULINO é diretor-geral do instituto Datafolha’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Rendez-vous em Cuba


‘Jornais da Índia noticiavam ontem que, ‘após 38 anos’, seu primeiro-ministro viajou ao Brasil. Com o presidente sul-africano, vem festejar um certo bloco IBSA, ‘exemplo brilhante de cooperação sul-sul’. Já o ‘Miami Herald’ destacou que a ‘Índia volta os olhos à América Latina’, do Brasil à Argentina e à Bolívia.


Mas para a semana os olhos da cobertura externa estão voltados mesmo é para os ‘não-alinhados’, em Cuba. Por nada em especial. É o destaque, da agenda do ‘Financial Times’ à home do Globo Online, sem esquecer os tais indianos e muitos mais, o ‘suspense’ sobre a aparição de Fidel Castro em seu rendez-vous anacrônico com os mesmos Brasil, Índia etc. etc.


BURACO Mais que a guerra contra o terror, o ‘New York Times’ lembra o aniversário do 11 de setembro hoje com um caderno sobre o ‘buraco’ no coração da cidade, a obra que não sai do lugar, as manobras políticas, seu alto custo…


VONTADE POLÍTICA


No encontro dos países em desenvolvimento liderados pelos mesmos Brasil e Índia, no Rio, a estrela é a enviada dos EUA, Susan Schwab.


Do site do ‘New York Times’ à BBC Brasil e agências, era dela a frase do dia, de que ‘sempre há tempo para ressuscitar as conversas [da rodada Doha de comércio] se a vontade política estiver lá’.


Analistas ouvidos pela AP dizem que nada anda até o pleito de novembro nos EUA.


O PRIMEIRO PASSO


Gordon Brown, ministro britânico das finanças que quase derrubou o primeiro-ministro Tony Blair há dias, estréia em política externa pressionando a União Européia a dar ‘o primeiro passo’.


Era destaque ontem no ‘Observer’ a visão de Brown, de que os países europeus não devem mais esperar os EUA e agir logo ‘para a retomada das negociações comerciais globais’ -cortando seus próprios subsídios agrícolas.


GENTE ANTIGA


Em destaque nos portais e na Folha Online de ontem, liderando os ‘+ lidos’ quase o dia inteiro, ‘Cláudio Lembo ironiza FHC e diz que escrever cartas é ‘coisa de velho’. Depois, ‘de gente antiga’.


Se declarando ‘velho’ também, Lembo prometeu carta para 1º de janeiro, quando deixa o governo paulista.


SOBREACTUACIÓN


FHC, no dia em que postou a carta no site do PSDB, ficou preso no aeroporto em Bariloche, segundo jornais locais, por causa de uma greve.


E ontem no ‘La Nación’ a carta repercutiu na página 2, sob o título ‘Brasil: a oposição já fala em derrota’. Para o correspondente, o ator FHC exagerou, em ‘sobreactuación’.


A GLOBO NA ESTRADA


Pedro Bial, suando a camisa para mostrar ‘a vergonha do Brasil’, no ‘JN’ de sexta-feira


Em seu dia mais editorializado até agora na campanha, também o dia em que Lula fez festa para evangélicos no Rio, o ‘JN’ mostrou a ‘pior estrada do Brasil, um país que tem as ‘piores estradas do planeta’, isso apesar dos ‘impostos’.Foi parar no programa de Geraldo Alckmin -e pela primeira vez com resposta no programa de Lula.’


TELEVISÃO
Inácio Araújo


A exuberância dos canais pagos secretos


‘Entre os leitores, houve quem ficasse perplexo. Houve também quem ficasse revoltado: que canal é esse TCM, que ninguém tem em casa, mas que começou a aparecer constantemente na coluna de filmes da TV paga? Não é que ninguém tenha, mas a verdade é que esse canal é visto por poucos, já que exibido na TVA, uma distribuidora sem a mesma penetração da Net, por exemplo, e ainda assim em sua versão digital.


Mas é um canal ilustre e esperado há muito tempo. O nome completo é Turner Classic Movie. Funciona há um bom tempo na Argentina e era esperado por aqui com ansiedade pelos cinéfilos por causa de seu acervo. A Turner tem material de primeira: a começar por uma parte considerável da produção dos grandes estúdios hollywoodianos dos anos 1930 a 1950, que não passava no Brasil até que ela entrasse em cena.


É verdade que esse canal conseguiu certo destaque na coluna, em vista de seu acervo. Mas também, convém não esquecer, pela decadência da programação dos canais Telecine.


Não é o único desses canais que poucos sabem exatamente onde estão. Por exemplo: o Hallmark Channel. E há os desaparecidos, como o TV5 Monde e a MGM, despachados pela Net para o digital. O MGM, por sinal, apresenta esta semana a série ‘Rocky, um Lutador’. Começou ontem; hoje é o segundo exemplar, às 22h. Ou seja: tem que ligar para as operadoras e pedir o decodificador digital. É uma maneira de manter a esperança.’


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 11 de setembro de 2006


PUBLICIDADE
Marili Ribeiro


Propaganda em novo ritmo


‘Brastemp, Sadia e Unibanco foram durante anos um exemplo de casamento estável de uma marca com suas agências de publicidade – relação que criou ícones da propaganda, como a assinatura ‘não é assim uma Brastemp’, o peru da Sadia e o Casal Unibanco. Mas, na publicidade, não há casamento que dure para sempre.


A Whirlpool, dona da Brastemp, vem sondando novas agências, numa mostra de que pode tirar a conta da Talent, com a qual tem contrato há 20 anos. A Sadia também está em processo de seleção de uma outra agência – atualmente, é atendida por DPZ (há 30 anos), W/Brasil e Publicis -, e o Unibanco já deixou a W/Brasil e passou a ser atendido pela F/Nazca Saatchi & Saatchi (o resultado dessa troca foi a aposentadoria do Casal Unibanco).


A troca de contas sempre foi uma realidade no meio publicitário. Mas agora, a velocidade dessas trocas parece estar aumentando. Há no mercado o reconhecimento de que um novo ritmo se impõe ao negócio da comunicação. As mudanças introduzidas na rotina do consumidor moderno, com as novas tecnologias, são absorvidas cada vez mais rapidamente.


‘A verba para a publicidade permanece a mesma, mas temos de dividi-la, sempre com imensa eficiência, em múltiplos canais para atingir o mesmo consumidor’, diz o gerente-geral de marketing da Brastemp, Jerome Cadier. ‘Preciso fazer minha mensagem chegar através do celular, do iPod, do universo dos blogs. Não dá mais para falar com ele somente através de filmete feito para a televisão no horário nobre.’


Cadier admite que a Whirlpool está no mercado em busca de inovação para sua propaganda, o que não significa que a Talent perderá a conta. Mas a agência deverá apresentar soluções que dêem novo gás à marca para reconquistá-la.


Foi esse mesmo processo que tirou o Unibanco da W/Brasil. ‘O banco pedia um reposicionamento de imagem com a finalidade de torná-lo mais próximo do público, mais jovem e mais desafiador’, diz Gal Barradas, diretora de atendimento da F/Nazca, que ganhou a concorrência. A aposta da Nazca foi na animação. ‘Os diretores do Unibanco consideraram a idéia surpreendente.’


PARCERIAS


‘Chega de soluções em 30 segundos’, resume o presidente da Fischer América, Antonio Fadiga, ao se referir aos filmes publicitários para televisão que dominaram os negócios na relação entre anunciantes e agências. ‘As companhias querem parceiros estratégicos. Não há escapatória: a comunicação é um processo que deve ser trabalhado em sua totalidade, do anúncio ao evento no ponto-de-venda. Tudo feito de forma integrada.’


No contraponto dessa visão, por acreditar que as agências sempre se mobilizaram para oferecer soluções completas a seus clientes, está o presidente da Leo Burnett, Renato Loes. ‘ Há uma gama enorme de ferramentas para atingir o consumidor aonde ele esteja’, diz. ‘O problema é que muitos anunciantes não querem pagar por determinados serviços quando eles são feitos através das agências, embora não se importem de pagar pelos mesmos quando fazem contratações diretas. O relacionamento comercial das agências com as empresas é frágil e muito subjetivo.’


A concordância de que as agências fornecem soluções integradas de comunicação é partilhada pelo diretor comercial da Sadia, Gilberto Xandó. Mesmo assim especula-se, no meio, que a companhia pretende trocar uma das atuais três agência que a atende: DPZ, há mais de 30 anos com a conta, W/Brasil e Publicis. Xandó desconversa e fala em expansão dos negócios, com cerca de 150 lançamentos por ano, o que requer uma quarta agência.


Entre-linhas


Pancadaria à vista em Páginas da Vida. As personagens de Natália do Valle e Danielle Winnitz vão sair no tapa nos próximos capítulos. Motivo: o garanhão Greg (José Mayer), é claro.


Poucas afiliadas da Globo têm tamanha identidade regional como a RBS, do Sul do País. Recentemente, a rede estreou campanha com o slogan ‘Sou Fã do Rio Grande’, em comemoração à semana da Farroupilha.


Novo hit entre os ringtones: ao toque do celular, vem a voz de Lombardi proferindo seu inconfundível ‘Oooi, Silvio!’’


TELEVISÃO
Cristina Padiglione


Globo perde espaço


‘Ex-sócia da Globo em Portugal, a SIC ainda é o principal canal de entrada para as novelas do plim-plim no país, mas depende cada vez menos da teledramaturgia feita sob os domínios do Projac. Há poucos meses, a SIC – Sociedade Independente de Comunicação – iniciou a produção própria de três novelas e duas séries semanais. Esse é o mote que aguarda seu diretor de programação, Francisco Penim, no 4º encontro mundial sobre telenovela e indústria da ficção promovido pela publicação americana TV Mas em Madri, entre 5 e 6 de outubro.


Por mais de duas décadas, as telenovelas da Globo garantiam liderança incontestável ao canal que as exibia em Portugal. Eis um painel que vem se transformando.


A indústria da TV portuguesa tem preferido importar não mais o produto final brasileiro, mas apenas sua mão-de-obra. Outra alternativa à embalagem pronta é a co-produção com o Brasil, como ocorre agora entre a Bandeirantes e a RTP.


As novelas da Globo já não despertam alarde na concorrência local, ao contrário: os portugueses têm se rendido ao prazer de apreciar enredos que lhe tragam maior identificação.


Beijo gay


Cena censurada em outros canais, beijo gay é cardápio preferencial na MTV. Nesta sexta-feira, às 19 horas, um festival do gênero toma conta do Beija Sapo. O programa da Daniella Cicarelli acabou com beijos na platéia, no palco e até entre os personagens.’


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Globo é multada pelo TRE


‘Acabou em multa a participação do estilista e candidato a deputado federal Clodovil no Domingão do Faustão em julho. O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) multou a Globo em cerca de R$ 20 mil por propaganda eleitoral antecipada. Segundo decisão do TRE, publicada na semana passada, a emissora cedeu espaço para o candidato se promover e falar sobre sua campanha no quadro Dança dos Famosos, do Domingão do Faustão. Clodovil foi um dos jurados do quadro em julho. Ele também foi multado pelo TRE. À decisão, cabe recurso.’


INTERNET
Ricardo Anderaos


Professor aloprado


‘Lawrence Scott Ward é professor emérito na Faculdade de Administração de Wharton, na Pensilvânia, EUA. Com 63 anos, está aposentado, mas continua dando aulas em diversas instituições de ensino.


Mês passado, o professor veio passear no Brasil. No último dia 27, terminadas suas férias, pegou o avião de volta para casa. Desembarcou no Aeroporto Dulles, em Washington, e se dirigiu para a fila da fiscalização de entrada destinada aos cidadãos norte-americanos.


Depois da onda de atentados terroristas dos últimos anos, os serviços de imigração dos EUA passaram a ser muito mais meticulosos. Não são apenas os cidadãos de países árabes e terceiro-mundistas com barba mal feita que recebem maiores atenções das autoridades. O pente-fino não deixa ninguém de fora. Todos os dados dos viajantes são cruzados e analisados à exaustão. E foi exatamente aí que o respeitável professor Ward entrou pelo cano.


Quando o fiscal da imigração passou o passaporte do homem no leitor óptico, um software que identifica potenciais criminosos sexuais chegou à conclusão de que o professor tinha feito um número excessivo de viagens à Tailândia e ao Brasil nos últimos anos, países classificados como paraísos do turismo sexual pelo US Immigration and Customs Enforcement.


O resultado foi que o sistema recomendou uma bela geral no professor. No seu laptop os policiais encontraram vídeos de Ward mantendo relações sexuais com rapazes aparentando cerca de 14 anos de idade. Outro vídeo mostrava duas crianças, com cerca de 8 anos de idade, mantendo atividades sexuais.


Ward foi imediatamente preso, sob a acusação de importar material de pornografia infantil para o país. Dois dias depois, revistando seu escritório na Universidade da Pennsilvânia, a polícia encontrou mais dois computadores e dezenas de CDs e DVDs recheados de imagens de pornografia infantil.


Quando a ficha do homem foi levantada pelos agentes federais, ficou claro que se tratava de um profissional do ramo. Em 1995, um júri popular o inocentou da acusação de pagar para manter relações com um adolescente. Pouco tempo depois ele foi novamente processado, dessa vez por solicitar, via internet, os serviços sexuais de um jovem de 15 anos de idade – que, na verdade, era um agente federal disfarçado, servindo de isca numa operação de caça a pedófilos. No final pagou uma multa de US$ 2,5 mil e foi condenado a prestar 5 anos de serviços comunitários.


Desta vez as coisas provavelmente serão bem mais complicadas. Se condenado, Ward pode pegar até 20 anos de prisão. Um juiz fixou sua fiança em US$ 2 milhões. Como não tinha condições de pagar esse valor, o professor aguarda o julgamento atrás das grades.


Nos últimos anos, graças à colaboração entre grandes empresas como a Microsoft e alguns departamentos de polícia, como o do Canadá, foram desenvolvidos sistemas de rastreamento e identificação que têm desbaratado quadrilhas de pedófilos em vários países do mundo. A grande novidade nesse caso foi o fato de o professor Ward ter sido pego pelo seu histórico de viagens aéreas – um procedimento que normalmente identifica suspeitos de tráfico de drogas, mas não de pedofilia.


Nas entrelinhas dessa história fiquei com uma dúvida: como os agentes de imigração analisaram o disco rígido do laptop do professor? Acho pouco provável que eles tenham aberto arquivo por arquivo para identificar seu conteúdo. Algum software esperto eles devem ter para fazer isso. O que me leva a pensar novamente que a idéia de privacidade, no mundo digital, não passa de uma enorme ilusão.’


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