‘O The Wall Street Journal anunciou no domingo planos de converter suas edições européias e asiáticas para o formato tablóide, a partir de 17 de outubro. Com a conversão, espera-se uma economia anual de US$ 17 milhões, a começar em 2006. As atuais 24 páginas em tamanho padrão serão convertidas em 36 a 40 páginas tamanho tablóide, disse o porta-voz do jornal, Robert H. Christie. A mudança economizará papel mas também reduzirá o espaço disponível para conteúdo noticioso em um terço.
Analistas dizem que a conversão do formato padrão para o tablóide, que vem sendo adotada na Europa, pretende cativar os leitores jovens, cuja maioria lê as manchetes primeiramente no telefone celular, blackberrys (palm top integrado ao celular) e na internet.
‘Os leitores do The Wall Street Journal são inteligentes, bem informados e impacientes, com cada vez menos tempo para a leitura’, disse Mario Garcia, um consultor de mídia baseado em Tampa, Flórida, que trabalhou nos projetos iniciais das edições estrangeiras do jornal.
‘Eles querem uma leitura rápida e ao mesmo tempo querem profundidade’, disse. ‘Os editores estão tentando atrair os gerentes de nível médio na faixa dos 30 e 40 anos’, acrescentou Garcia.
O jornal tem uma circulação de 86.156 exemplares na Europa e 80.883 na Ásia. O espaço publicitário caiu em ambas as edições no primeiro trimestre, 20,6% na edição européia e 7,9% na asiática. O número de linhas total do jornal teve uma queda de 8% na trimestre, seguindo a tendência de declínio da circulação da maioria dos grandes jornais americanos.
John Morton, analista de jornais, disse que, quando os jornais passam para o formato tablóide, os anunciantes muitas vezes insistem em descontos iniciais em conformidade com o menor tamanho da página. ‘Uma conversão não é um transição indolor’, disse Morton. Os jornais europeus que fizeram essa troca tiveram reduções salariais ‘da ordem de 20%, mas eventualmente a maioria conseguiu compensar com aumento da circulação e elevaram os salários gradualmente’.
O Wall Street Journal disse que transferirá alguns funcionários do exterior para os Estados Unidos, onde está planejando acrescentar uma edição de sábado ao seu cronograma de segunda-feira a sexta-feira a partir de setembro. Frederick Kempe, editor e diretor-adjunto do The Wall Street Journal Europe, se mudará para Nova York para assumir o cargo de editor-assistente para edições estrangeiras impressas e edições online.
A maioria dos jornais de circulação nacional britânicos, com a exceção do The Daily Telegraph, já se converteram para tablóide.’
Folha de S. Paulo
‘‘Journal’ passará a ser tablóide na Ásia e na Europa ‘, copyright Folha de S. Paulo / Associated Press , 10/05/05
‘As edições asiática e européia do ‘Wall Street Journal’ passarão a circular como tablóide em 17 de outubro, disse a administradora do jornal, Dow Jones & Co., em memorando interno obtido pela Associated Press. Repórteres e editores deverão ser remanejados para os EUA, onde, em setembro, o jornal financeiro passará a circular nos fins de semana.
A empresa diz querer integrar melhor o novo formato do jornal com seu website: ‘Daremos a nossos leitores internacionais um resumo matutino combinado ao acesso eletrônico contínuo às últimas notícias’.’
TODA MÍDIA
Nelson de Sá
‘‘Sangue árabe’’, copyright Folha de S. Paulo, 11/05/05
‘A Europa achou por bem dar destaque à cúpula.
A BBC traz novas reportagens sem parar, de Brasília, e entrevistas de estúdio. Falam empresários brasileiros e árabes, mas também outros personagens.
A idéia da TV britânica é que o Brasil tem ‘dez milhões de pessoas que traçam as suas origens até o Oriente Médio’ e que, com a cúpula, ‘tentam construir em cima dessas ligações’.
E tome personagens como Milton Hatoum, contando em inglês a história da família desde Beirute, para concluir:
– Os imigrantes estão por todo lado. Você pode achá-los da Amazônia ao extremo sul.
No site da BBC Brasil, na mesma direção, o correspondente brasileiro no Cairo conta suas dificuldades para ‘vencer a barreira’ com os egípcios.
No rastro, também a britânica agência Reuters distribuiu longo despacho ontem, intitulado ‘Muito sangue árabe corre nas veias da América Latina’.
A lista vai do argentino Carlos Menem à colombiana Shakira -e por fim o ‘magnata dos negócios Paulo Maluf’, em São Paulo, cidade de ‘população árabe maior que Beirute’.
Distante do ‘sangue’, o londrino ‘Financial Times’ manteve ontem a atenção em economia e política. O correspondente abriu dizendo que a cúpula deve ‘criticar as sanções econômicas dos EUA contra a Síria’.
Daí para os negócios, o ‘FT’ ouviu o chanceler brasileiro sobre o ‘enorme potencial’ dos países árabes para a economia da América do Sull. ‘Não é só a China’, disse Celso Amorim.
Na Europa continental, o espanhol ‘El País’ e outros seguem caminho semelhante, com certa prioridade para o comércio, mas ontem os franceses abraçaram o discurso lulista.
O site do ‘Le Monde’ chegou a dar manchete para o esforço por um novo eixo sul-sul, na expressão tão querida do governo brasileiro. Da home page:
– O objetivo é cooperação nos planos econômico e político, além de uma contraposição à hegemonia americana.
Nos EUA hegemônicos, ‘New York Times’ e ‘Washington Post’ se limitam à reprodução, nos sites, dos despachos da agência Associated Press.
O tom é pesado, com as reportagens abrindo com variações como ‘bandeando uns com os outros para cortar a influência dos EUA’ ou ‘em uma nova onda que visa minar a influência internacional dos EUA’.
Nas versões impressas, seguem na cobertura o ‘Wall Street Journal’, ‘Miami Herald’ e ‘Washington Times’, mas a estridência não é menor.
Também demonstram alarme as coberturas on-line, em inglês, dos israelenses ‘Haaretz’ e ‘Jerusalem Post’, sublinhando ontem que o governo Ariel Sharon ‘trabalha para manter a resolução anti-Israel fora da cúpula’.
Em contraste, a cobertura árabe esparrama exaltação.
Nos Emirados Árabes Unidos, o site Gulf News noticiava ontem o acordo com o Mercosul e avaliava que o Brasil, como país BRIC, é parceiro de futuro.
No Líbano, o ‘Daily Star’, em extensa cobertura, noticiava desde o acordo de ontem até as conversas entre o presidente palestino e o primeiro-ministro libanês, sobre desarmamento nos campos de refugiados.
Na Autoridade Palestina, a agência IPC trazia o apoio de Lula ao Estado palestino, no diálogo com Mahmoud Abbas.
O jornal londrino ‘Al-Sharq Al-Awsat’, referência para toda a região, segundo relato da BBC, deu que Israel sabia da aproximação, mas não imaginava que havia ‘chegado tão longe’.
Por fim, a Al Jazira, de fama global, transmitiu ontem ao vivo os dois discursos de abertura da cúpula, feitos pelo presidente da Argélia -e por Lula.
DIVERGÊNCIA
A americana CNN não quer saber da cúpula árabe-sul-americana em Brasília, mas a britânica BBC (à esq., no alto) e a árabe Al Jazira, do Qatar, destacam sem parar; os sites do ‘New York Times’ e outros americanos mal acompanham, mas o francês ‘Le Monde’ dedicou manchete ao ‘esforço sul-sul’
‘Por quê?’
Como já previa na semana passada o correspondente da Globo News em Buenos Aires, Néstor Kirchner cansou e foi embora. Enquanto na Globo Fátima Bernardes perguntava ‘por quê?’, os sites argentinos ‘Clarín’ e ‘La Nacíon’, mais acostumados, diziam que ele ‘assegurou que a relação é ‘muito boa’ e que se haviam cumprido as expectativas’.
Juntos
Do JN, em manchete:
– Nova rebelião. E diretores da Febem acabam demitidos.
Mas desta vez a Globo, na contraposição ao governador tucano, deu manchete atrasada sobre a ex-prefeita petista:
– Ministério Público de SP acusa Marta Suplicy de ferir Lei de Responsabilidade Fiscal.’
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‘A grande polêmica ‘, copyright Folha de S. Paulo, 10/05/05
‘A Globo chegou a avaliar que ‘a grande polêmica é como o terrorismo será tratado’ no encontro que começa hoje. Mas também ela deu prioridade aos ‘negócios’.
Na manchete tortuosa do Jornal Nacional:
– Chefes de Estado chegam a Brasília para um encontro de negócios. Mas o terrorismo e as ilhas Malvinas também estão em pauta.
Antes, o jornal Hoje já havia noticiado ‘1.250 empresários nas rodadas de negociação’. Antes, o Bom Dia Brasil já havia anunciado, em longa reportagem, que ‘o encontro pode render bilhões’. Afinal:
– Eles têm petróleo, nós temos minério e carnes. Eles têm muito dinheiro, nós precisamos de investimento.
E tome, durante o dia, o ministro Luiz Furlan em destaque na Globo News, CBN, Globo Online, dizendo que ‘o comércio com o mundo árabe pode chegar a US$ 15 bi’.
Em contraste com as Globos, o Jornal da Record saiu avisando, nas manchetes:
– O resultado comercial pode desapontar.
Qualquer que seja o resultado do ‘encontro de negócios’, não é fácil fugir à ‘grande polêmica’, que ecoa nos EUA.
Os sites do ‘New York Times’, do ‘Washington Post’ e outros não escondiam o alarme, nos despachos que entraram no ar ontem à noite.
O primeiro sublinhou que o rascunho do documento a ser assinado na cúpula, ‘embora condene o terror, também pede uma conferência para definir o sentido [da palavra]’.
O segundo já trazia a reação de um representante do Centro Simon Wiesenthal, para o qual o rascunho ‘deixa a porta aberta para grupos terroristas interpretarem como apoio’.
O site do israelense ‘Haaretz’ foi além, acrescentando que os árabes pressionam por ‘solidariedade no terror’.
Antes, a versão impressa do ‘Washington Times’ já alertava que ‘o encontro árabe-latino preocupa EUA e Israel’, temerosos de ‘apoio tácito a grupos como Hezbollah’.
O ‘WT’ destacou a declaração de ‘um funcionário do governo americano, que pediu para não dar o nome’:
– Nós deixamos claras as nossas preocupações ao governo brasileiro, quanto à importância de não fazer nada que possa minar o objetivo global de paz no Oriente Médio.
E não faltou Al Jazira na ‘grande polêmica’, mas sob outro ponto de vista.
Em análise, a emissora do Qatar apontou a cúpula como o possível ‘nascimento de um novo eixo mundial de energia, um eixo geopolítico de interesses não-alinhados’. Afinal:
– Alguns dos países no encontro são jogadores centrais no mundo do petróleo.
Para um acadêmico londrino especializado em energia, ouvido pela Al Jazira:
– Sim, o Brasil em particular pode jogar papel importante, especialmente no Iraque.
O PRATO PRINCIPAL
A Globo News esperou longamente, na pista do aeroporto, até mostrar o desembarque de Néstor Kirchner
Segundo a Globo, ‘antes de conversar com os árabes, Lula tenta acertar ponteiros com os vizinhos’.
Na pauta da Granja do Torto, ontem, estariam Malvinas e integração sul-americana, mas ‘o prato principal’, também com Kirchner e Hugo Chávez, seriam negócios. ‘E o petróleo é um deles’, referência à Petrosul, possível ‘empresa petrolífera dos três países’.
Segundo o ‘Clarín’, antes do jantar, ao desembarcar, o chefe de gabinete de Kirchner garantiu não ter ‘nenhuma expectativa de conflito com o Brasil’.
A cobertura argentina não teve outra prioridade, o dia todo. Os preparativos, depois o embarque, depois o desembarque do presidente foram manchete no ‘Clarín’, ‘La Nación’, ‘Ámbito Financiero’ etc. Ao fundo, novas ‘ameaças’ dos industriais argentinos.
Paralelamente, o ‘Le Figaro’ e outros franceses noticiavam que Lula, na entrevista aos correspondentes, declarou voto no candidato uruguaio à OMC, apoiado pela Argentina. E não no francês Pascal Lamy.
Ironicamente, outro destaque nos sites argentinos ontem, além do ‘cara a cara’ entre Kirchner e Lula, eram comentários de Diego Maradona sobre Pelé, ao chegar à Espanha para visitar seus ‘amigos’ Ronaldo, Roberto Carlos e Wanderley Luxemburgo. Uma declaração foi o título, na home page do ‘La Nación’:
– Admiro muito Pelé.’
FSP
CONTESTADAPainel do Leitor, FSP
‘Infraero ‘, copyright Folha de S. Paulo
’11/05/05
‘A nota ‘Plano de vôo 1’ (‘Painel’, Brasil, pág. A4, 1º/5) erra ao afirmar que ‘está na Casa Civil’ anteprojeto que transforma a Infraero em empresa de economia mista. A consulta ao Sidof (Sistema de Geração e Tramitação de Documentos Oficiais) informa que não há na Casa Civil nenhuma proposta relacionada à Infraero.’ Ralph Machado, assessor da Casa Civil da Presidência da República (Brasília, DF)
Resposta da jornalista Vera Magalhães, repórter do ‘Painel’ em Brasília – As notas sobre o anteprojeto que visa transformar a Infraero de empresa pública em empresa de economia mista baseiam-se em documentos chancelados pelos ministérios da Fazenda e da Defesa e endereçados ao presidente da República, além de carta enviada pelo presidente do Sindicato dos Aeroportuários à Secom na qual é mencionada a presença dos referidos documentos na Casa Civil desde março. A Folha tem cópias de todos os documentos.
10/05/05
México
‘Um comentário breve sobre a nota do enviado especial ao México, Fabiano Maisonnave, em que afirma que o presidente Fox não tem chance de reeleição. Não tem mesmo, porque no México a reeleição é proibida desde 1917.’ Cecilia Soto, embaixadora do México no Brasil (Brasília,DF)
Nota da Redação – Leia abaixo a seção ‘Erramos’.
Militares
‘Muito interessante comparar as últimas notícias sobre os salários dos militares com o que vemos hoje em Brasília. Apesar do desprezo conferido a essa categoria pelo governo federal, ela está de plantão nas ruas para garantir que o encontro que esse mesmo governo promove (a Cúpula América do Sul-Países Árabes) possa ser um sucesso ao menos no quesito segurança. Imagine só se os militares acordassem de braços cruzados na manhã desta terça? Mais uma vez, apesar do desprezo federal, os militares cumprem com o seu dever. Resta saber até quando essa paciência vai durar.’ Cislaine Greicius Lorenzo (Brasília, DF)
Espanha
‘Como representantes da coletividade catalã no Brasil, estamos indignados diante do preconceito e da discriminação contra a Catalunha e a nossa cultura na reportagem ‘Doces rivalidades – Madri vs. Barcelona’ (Turismo, 28/4). Com o pretexto de explorar a ‘rivalidade’ entre as duas cidades, o editor Silvio Cioffi cometeu um deslize imperdoável, que, sendo inconseqüente, queremos crer que foi também inconsciente. Na pág. F2 lemos que ‘Madri está mais fulgurante, falando castelhano, entronizada como uma metrópole européia que fatura em euro. Embora Barcelona mantenha a sua aura de cidade de vanguarda, ela parece perdida ao insistir em falar catalão, em olhar para si mais do que para um mundo que se globalizou’. Ora, senhor editor, os catalães insistimos em falar o nosso idioma, sim, senhor! Fazemos isso há mais de mil anos, bem antes de existir a Espanha. Essa é uma língua rica, falada por mais de 9 milhões de pessoas e que possui suas raízes no latim, assim como o português, o castelhano, o italiano e o francês. A língua é a maior manifestação de uma cultura, e a nossa sobrevive até hoje graças à tenacidade e à vigilância de um povo que quer preservá-la apesar das inúmeras tentativas de reis e de ditadores de eliminá-la pela força das armas. Essas nefastas tentativas de genocídio cultural, que pretenderam impor o castelhano como única língua oficial, provocaram, felizmente, efeito contrário, pois a Espanha de hoje é um exemplo de democracia e de pluralidade cultural, onde as diversas culturas convivem de forma pacífica. É profundamente lamentável que um editor de um caderno de turismo seja contrário à preservação das culturas. Ao que tudo indica, parece que ainda não aprendeu que o turismo só existe pelo fato de querermos conhecer culturas diferentes da nossa para que possamos nos enriquecer intelectualmente.’ Mario Vendrell Royo, presidente do Catalonia Centro de Cultura Catalã (São Paulo, SP)
Auditores
‘O Sindicato dos Auditores Fiscais da Previdência Social do Estado do Rio de Janeiro (Sindifisp-RJ), fundado em 21 de dezembro de 1988, filiado à Federação Nacional dos Auditores Fiscais da Previdência Social (Fenafisp) e legítimo representante legal da categoria dos auditores fiscais da Previdência Social no Estado do Rio de Janeiro, vem a público esclarecer que não possui ligação de nenhuma espécie com a entidade denominada Sinsera, cuja presidente, senhora Maria Auxiliadora de Vasconcellos, foi presa no dia 6/5 pela Polícia Federal por meio da Operação Sinceridade. O Sinsera, fundado em data muito posterior ao Sindifisp-RJ, embora de fato possua em seus quadros alguns auditores fiscais (como a sua presidente, acima nominada), congrega também servidores administrativos e mesmo outros já demitidos da Previdência Social em virtude de inquéritos administrativos. Carece esse órgão, portanto, de legitimidade para representar nossa categoria funcional perante a sociedade. Em relação a fraudes e a outras irregularidades praticadas contra a Previdência Social, a posição do Sindifisp-RJ, expressa através de palavras minhas como presidente recém-eleita, é clara: todas as suspeitas e todos os indícios devem ser apurados com o máximo rigor pelos órgãos competentes desde que assegurado aos envolvidos o direito constitucional ao contraditório e à ampla defesa, pilares do Estado de Direito.’ Magalita Guasti Miguel Pereira, presidente do Sindifisp-RJ (Rio de Janeiro, RJ) Nota da Redação – Leia abaixo a seção ‘Erramos’.
ERRAMOS
Por falha da Redação, estava errado o título da reportagem ‘Desgastado, Fox termina governo em 2006 sem chance de reeleição’ (Mundo, pág. A28, 8/5). Não há possibilidade legal de reeleição do presidente da República no México.
Diferentemente do publicado na reportagem ‘Auditora é presa acusada de fraudar INSS’ (Dinheiro, pág. B7, 7/5), a sigla Sinsera corresponde a Sindicato dos Servidores da Linha de Arrecadação do INSS-RJ, e não a Sindicato dos Auditores Fiscais do Rio, como foi publicado. O Sinsera nada tem a ver com o Sindicato dos Auditores Fiscais da Previdência Social do Estado do Rio de Janeiro, cuja sigla é Sindifisp-RJ. A presidente do Sinsera, a auditora Maria Auxiliadora Vasconcelos, foi presa sob a acusação de fraudar o INSS em R$ 9 milhões, e não em R$ 9 bilhões, como informava incorretamente a reportagem.’
60 ANOS DA 2ª GUERRA
Marcelo Coelho
‘Um pesadelo visto de perto ‘, copyright Folha de S. Paulo, 11/05/05
‘Adolf Hitler sorri de vez em quando, é simpático com a secretária, elogia a cozinheira quando gosta do jantar, faz carinho na cadela de estimação. Cenas desse tipo aparecem em ‘A Queda! – As Últimas Horas de Hitler’, filme de Olivier Hirschbiegel que estreou na sexta-feira passada em São Paulo.
Não consigo achar que Hitler saia ‘humanizado’ desse filme. Ao contrário, os poucos momentos de bonomia do ‘führer’ enfatizam ainda mais o que nele havia de voluntariamente perverso ou de puro surto delirante durante o resto do tempo.
Talvez seja tarefa impossível entender completamente a monstruosidade de Hitler e do nazismo. Diante do mal incomensurável, explicações psicológicas, econômicas ou sociológicas são tímidas. Tendem a reduzir o fenômeno a parâmetros mais ou menos ‘compreensíveis’, quase ‘aceitáveis’: dados tais e tais fatores, era até ‘natural’ que um Hitler surgisse na Alemanha…
Para não cair nessa armadilha, excessivamente racionalizante, explicativa e científica, há quem defenda uma atitude de recusa radical, quase teológica: a malignidade absoluta de Hitler não admite nenhuma análise, nenhuma aproximação, nenhum conhecimento, nenhuma curiosidade. Como se, chegando perto do ‘führer’, qualquer pessoa corresse o risco de, ainda hoje, ceder a seu fascínio.
Baseando-se em extensa documentação histórica, ‘A Queda!’ apresenta Hitler bem de perto, numa impressionante atuação de Bruno Ganz. Torna-o mais inteligível? Mais aceitável? De jeito nenhum.
Apresenta-o, então, como um monstro repulsivo?
A resposta exige mais espaço. Sabemos que Hitler era cruel, louco, fanático. O problema é que, quando imaginamos sua loucura, sua crueldade, seu fanatismo, tendemos a considerar que tais características sejam simples, claras, elementares. Esquecemos que o mal pode assumir diversas formas ao mesmo tempo. Da frieza cínica ao impulso cego de violência, do prazer de enganar conscientemente os outros aos arroubos de irracionalismo mais desconexos, do fanatismo solene à farsa oportunista, o nazismo correspondeu às mais variadas necessidades dos seus praticantes.
Entre parênteses, não concordo quando alguém diz, por exemplo, que ‘não existem mal nem bem absolutos, tudo tem seus lados negativos e positivos, não podemos ser maniqueístas… etc’. A questão é outra. Mesmo uma coisa absolutamente má, como o nazismo, tem muitos lados -só que nenhum deles é positivo.
No filme de Hirschbiegel, há momentos em que Hitler parece simplesmente louco, acreditando ainda numa vitória final da Alemanha enquanto Berlim está completamente cercada pelos russos. Em outras ocasiões, tudo leva a crer que ele já se conformou com a derrota, mas pensa que ainda pode enganar seus subordinados. Algumas de suas falas comemoram ‘o bem que ele fez aos alemães’ exterminando os judeus. Em outras ocasiões, Hitler dirige seu ódio aos próprios alemães: se não querem resistir à invasão, melhor que morram.
Mentiroso e delirante, calmo e feroz, Hitler não deixa de ser um monstro o tempo todo -mas um monstro complexo e capaz, por isso mesmo, de atrair diferentes tipos de assecla e de subordinado. No filme, há desde o fanatismo religioso da sra. Goebbels -uma das personagens mais impressionantes de todo o filme- até a fidelidade estúpida de sua secretária Traudl Junge -figura que alguns críticos, com razão, consideraram excessivamente poupada pelo diretor.
De fato, as cenas finais de ‘A Queda!’, com a bela secretária tendo o sol de novo a brilhar sobre seu inocente rostinho uma vez terminada a guerra, vão um bocado além da conta… Diga-se em favor de Hirschbiegel, entretanto, que seu filme também mostra duas lindas alemãzinhas, à primeira vista graciosas e inocentes, tomadas pelos mais repugnantes surtos de demência totalitária.
Não há nada que não seja horrível no retrato do nazismo feito por Hirschbiegel. Covardes ou corajosos, diplomáticos ou doidos, os personagens que acompanham os últimos dias de Hitler no cotidiano do ‘bunker’ são todos, cada qual a seu modo, cúmplices de um pesadelo inominável.
Um pesadelo não deixa de ser pesadelo se for compreendido. ‘A Queda!’ sugere, ao menos, uma interpretação entre as muitas possíveis para o horror nazista. Isolados no ‘bunker’, já derrotados, os seguidores de Hitler parecem ainda sedentos de novos assassinatos. Um impulso destrutivo sem limites começa então a voltar-se sobre eles mesmos: pais e mães matam seus próprios filhos, generais pedem para ser fuzilados, traidores supostos ou reais são perseguidos e executados mesmo quando não há mais nenhum sentido em manter a disciplina de guerra.
Todos, praticamente, obedecem até a morte, e nisso o nazismo pode ser entendido (não desculpado) como a intensificação de uma coisa nada incomum. Creio que a ligação entre a morte e a obediência, entre o desejo assassino e o prazer com a submissão, entre a vontade de ordem e o impulso de destruir esteja presente nos mais variados lugares, em especial nas organizações políticas e religiosas.
‘Perinde ac cadaver’: obedeça como um cadáver. O antigo lema dos jesuítas não é estranho a esse complexo de sentimentos.
A imobilidade facial de alguns personagens do filme tem muito de cadavérico também; daí, talvez, que o histrionismo, a imprevisibilidade, a incompreensibilidade de Hitler sejam parte de seu… ia dizer fascínio; não é verdade. De seu monstruoso poder.’