Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Milton Coelho da Graça

‘O presidente Lula mais uma vez demonstrou a arte de falar mais o que os outros querem ouvir do que aquilo que realmente pensa, ao falar no V Congresso Nacional de Jornais. Após os discursos de dois dirigentes da Associação Nacional de Jornais – Nelson Sirotsky e Francisco de Mesquita Neto – de condenação ao Conselho Federal de Jornalismo, respondeu como se nada tivesse a ver com o envio do projeto ao Congresso e fez também uma entusiasmada defesa da liberdade de imprensa. E sua habilidade política ficou duplamente demonstrada.

Houve muitos cochichos de que ele estava perdendo uma ótima oportunidade para anunciar a retirada do projeto. Mas as ‘cobras’ políticas sempre cochichavam de volta: se ele fizesse isso, daria idéia de que estava cedendo à pressão da mídia. O projeto vai sumir em alguma gaveta da Câmara Federal. A menos que surja um motivo para reaparecer.

E quem acabou fazendo o mais simples e mais eficiente protesto contra o CFJ foi a ótima Zileide Silva, ao agradecer o prêmio Comunique-se e repetir para todo o Brasil pelo ‘Jornal Nacional’: os jornalistas da sua equipe sabem fazer o seu trabalho, não precisam que ‘alguém’ os oriente e fiscalize.

Gil disse, mas não quando Vera diz que ele disse

Eu gostaria, e certamente vocês também, que Vera Rotta – seguindo o excelente exemplo que Ricardo Kotscho já nos ofereceu explicando o que é notícia para o governo Lula -, escrevesse para o Comunique-se a história completa de seu erro e conseqüente demissão da Secom.

Ela não falseou o pensamento do ministro da Cultura, que, no dia 10 de agosto (40 dias antes), havia declarado, em palestra na Universidade de São Paulo: ‘A sociedade precisa de instrumentos tanto legais quanto legítimos para se defender de todo e qualquer fascismo. Falo, por exemplo, do fascismo da exclusão social, do fascismo do obscurantismo, do fascismo da hegemonia de uma cultura, e de seus bens, serviços e valores culturais, sobre as demais culturas que compõem o grande patrimônio cultural da Humanidade. Falo também do fascismo do Estado, do fascismo das grandes corporações e do fascismo da mídia, fascismos igualmente perigosos, igualmente autoritários.’

Todos os responsáveis pela edição da matéria (cujos nomes não foram revelados) para o boletim ‘Em Questão’, do Planalto, aprovaram ou liberaram a matéria, mesmo com o pensamento que Vera incluiu como tendo sido dita numa entrevista do Ministro, seis semanas depois: ‘Com a criação da Agência Nacional de Cinema e Audiovisual, a sociedade será beneficiada, pois (…) seus setores estratégicos estarão mais livres do fascismo das grandes corporações da mídia’.

Vera humildemente reconheceu o erro, mas nenhum assessor do Ministério da Cultura nem qualquer responsável pelo ‘Em Questão’ aceitou a responsabilidade por ter deixado passar o erro. Nem mesmo Gilberto Gil – que louvavelmente se proclama leitor de Gramsci – penitenciou-se de fazer tanta confusão com o significado de ‘fascismo’, o que parece ter sido a razão mais provável para o resvalo de Vera.

E imaginem o que poderia acontecer se já tivéssemos o tal Conselho Federal de Jornalismo. Onde Vera iria parar? E nós que estamos querendo saber a história toda?

TV Cultura segue o bom exemplo da Folha

Osvaldo Martins será o ombudsman da TV-Cultura, uma iniciativa concreta para melhorar ainda mais a qualidade da programação da emissora – que não é nem estatal nem privada, é de uma instituição representativa da sociedade. Alô. alô, deputados e senadores, é assim que se pode melhorar a qualidade dos meios de comunicação. Não com a intromissão de pelegos e censores, mas com a abertura de canais para opinião, análise e até pressão dos telespectadores e da sociedade em favor de uma melhor qualidade dos meios de comunicação – principalmente os eletrônicos.’



Rafael Cariello

‘Radialistas admitem que ‘faltou pressão’’, copyright Folha de S. Paulo, 24/09/04

‘Participantes da coletiva disseram concordar com o presidente. ‘Faltou pressão’, declarou Felipe Bueno, chefe de reportagem da rádio Eldorado.

‘Ficou claro para mim que teve gente que foi lá levar presentes. Acho que não é assim que funciona. Teve gente que elogiou, abriu a entrevista elogiando, dizendo que era uma oportunidade incrível’, disse Bueno, para quem os jornalistas que entrevistam o presidente não devem ficar ‘deslumbrados’, mas sim ‘representar o interesse do ouvinte’.

‘Minha impressão é que o Lula queria uma coisa meio camaradagem. Fora do ar ele quis passar essa imagem, ‘vamos tomar um café’, uma coisa de compadres, de colegas, de companheiros’, afirmou. ‘Acho que ele quis passar essa imagem de puxão de orelhas, mas foi mais um alívio para ele.’

José Paulo de Andrade, comentarista da rádio Bandeirantes, disse que a ausência de ‘dureza’ é fruto da amizade e do respeito. ‘Numa entrevista dessas, reina um clima de cordialidade.’

‘Há um respeito muito grande. Há uma simpatia em relação ao pessoal da Secretaria de Comunicação. O próprio André Singer estava lá. Eles receberam muito bem, a equipe deles é muito boa. E o próprio Lula, que nós conhecemos desde as lutas sindicais do ABC. Nós da Bandeirantes temos um relacionamento com ele daqueles tempos duros.’

A crítica de que o presidente sentiu falta, ele diz acreditar, foi sobre tema ligado à imprensa. ‘Tenho a impressão que ele ficou esperando uma pergunta sobre o Conselho Federal de Jornalismo’, disse Andrade. A proposta de criação do CFJ, para ‘orientar, disciplinar e fiscalizar’ a atividade foi encampada pelo governo, que fez críticas ao ‘denuncismo’ da imprensa. O projeto, por sua vez, foi criticado por várias entidades por supostamente representar ameaça à liberdade de expressão.

As perguntas sobre assuntos regionais também contribuíram para amenizar a entrevista, disseram Andrade e Heródoto Barbeiro, apresentador da CBN, para quem o comentário do presidente Lula sobre a falta de ‘dureza’ na entrevista foi feito num ‘tom de brincadeira’.

O radialista Mário Kertész, ex-prefeito de Salvador por duas vezes, disse que a ‘cobrança’ pode ser explicada por dois motivos: ‘Ele estava muito bem-humorado e, realmente, ele não foi muito apertado pelos jornalistas.’ Colaborou a Agência Folha em Salvador’



José Genoino

‘Acusações e a política de emboscada’, copyright O Estado de S. Paulo, 25/09/04

‘Ganhou destaque na imprensa nacional uma reportagem da revista Veja, publicada no último fim de semana, dando conta de um suposto negócio que teria ocorrido entre o PT e o PTB e implicaria a transferência de R$ 10 milhões do primeiro para o segundo. Em troca, o PTB apoiaria candidaturas do PT em algumas cidades. Antes de qualquer outra consideração, é preciso dizer que as informações acerca da suposta transação financeira são absolutamente falsas. O PT, fiel à sua história e aos seus compromissos éticos, nunca comprou e nunca comprará apoio político em troca de dinheiro. Da mesma forma, o governo Lula nunca comprou e não comprará votos na Câmara dos Deputados ou no Senado em troca de dinheiro.

Em segundo lugar, é preciso notar que, das informações colhidas pela revisa Veja acerca da suposta transação financeira, não consta o nome dos informantes. Existe uma prática, respaldada em lei, que legitima a divulgação pela imprensa de informações a partir de fontes ou informantes anônimos. É aquilo que se conhece como informação em off. A legislação e a Justiça brasileiras garantem o anonimato das fontes em casos de processos judiciais. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Justiça, em muitos casos, vem quebrando o anonimato das fontes.

Assim, a revista Veja exerceu o direito da liberdade de imprensa, que é um princípio inquestionável da democracia. Mas, na medida em que divulgou informações não verdadeiras, causou prejuízo à imagem tanto do PT quanto do PTB. A Veja, sem dúvida, colheu as informações de fontes reais. Essas fontes, no entanto, agiram de má-fé e de forma covarde ao criarem uma falsidade com o fim exclusivo de prejudicar, principalmente, o PT. Agiram como age um pistoleiro que arma uma tocaia, se embosca para abater uma vítima inocente. Da mesma forma que o tocaiado não se pode defender, depois da informação falsa divulgada o estrago à imagem e à honra dos atingidos é difícil de ser reparado.

Esse tipo de prática pode ser definido como a política da emboscada. Ela degrada o ambiente político do País. Em nada contribui para a democracia e para a formação de uma cultura cívica adequada, de debate público franco e transparente sobre propostas e projetos relevantes para a sociedade.

Transforma a política numa guerra de acusações, em que a falsidade e o ardil se elevam à categoria de método e a falta de escrúpulos, protegida pelo anonimato, dissolve o ambiente moral e os bons costumes da própria Nação. A política de emboscada nada tem de democrática, porque a democracia, antes de tudo, pressupõe transparência.

PT e PTB fizeram um acordo político e eleitoral do qual nada têm a esconder nem do que se envergonhar. Esse acordo consta dos seguintes pontos:

Aliança majoritária para as prefeituras de Belo Horizonte e Goiânia; aliança proporcional, para vereadores, em São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro, com o apoio do PTB aos candidatos a prefeito do PT; participação nos governos, sem definição prévia de cargos, em caso de vitória, onde os partidos participam de alianças nas chapas majoritárias; responsabilidade conjunta, assumida pelas seções municipais dos partidos, por recursos, estrutura logística e material de campanha nos locais onde PT e PTB celebraram alianças; pacto de não-agressão onde PT e PTB são concorrentes ou onde participam de alianças diferentes.

Este modelo de acordo foi adotado pelo PT, como regra geral, também para alianças com outros partidos.

Outra informação falsa veiculada na matéria é a de que o acordo entre PT e PTB teria sido celebrado no Palácio do Planalto. Os contatos e as negociações políticas que o PT manteve com o PTB ou com outros partidos, que tratassem exclusivamente de relações ou interesses interpartidários, nunca ocorreram em dependências governamentais. Em dependências governamentais o PT só trata de assuntos de sua relação política com o governo.

Os adversários do PT deveriam ter mais escrúpulos ao fazer um cavalo-de-batalha contra o partido a partir de uma matéria que não tem nenhuma fonte identificável, nenhum nome que assuma a autoria das informações. Aliás, os ataques dos adversários não se justificam, porque eles sabem como se fazem acordos partidários. Esses partidos, inclusive, fizeram vários acordos com o PTB quando estavam no poder.

Nem mesmo quando estava na oposição o PT fez esse tipo de política de emboscada contra seus adversários. Nunca postulou uma política deletéria que visasse a desconstituir a legitimidade dos outros partidos. Quando fez denúncias, sempre procurou assumi-las às claras, apontando evidências de sua procedência. A ação política exige um mínimo de responsabilidade, um padrão comportamental baseado em valores morais e condutas definidas a partir de regras.

Nesta campanha, seguindo sua prática histórica, o PT procura privilegiar a discussão em torno de propostas para as cidades e de idéias e soluções para os problemas do povo. Os candidatos e a militância do partido não devem rebaixar as campanhas ao vale-tudo da política de emboscada. O aprendizado democrático do povo – construído por sucessivas eleições, pelo seu amadurecimento político e pela busca de espaços crescentes de participação – bloqueia cada vez mais os espaços da política do anonimato e da falta de responsabilidade e respeito para com a opinião pública e a sociedade em geral. José Genoino é presidente do PT’



Folha de S. Paulo

‘Jornalistas foram pouco críticos, diz Lula’, copyright Folha de S. Paulo, 24/09/04

‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que esperava perguntas mais ‘duras’ e ‘polêmicas’ dos jornalistas que participaram de entrevista coletiva.

Destacou, porém, o fato de nenhum deles ter sido impedido pelo governo de fazer questionamentos sobre determinado assunto. ‘Vocês vieram de alma aberta e não foram constrangidos por ninguém dizendo que deveria fazer essa ou aquela pergunta. Vocês perguntaram o que quiseram e como quiseram’, afirmou.

No final, pediu mais dureza numa próxima entrevista. ‘Espero que tirem lições dessa nossa conversa e que na outra vocês possam ser um pouco mais duros com o presidente’, disse, ao final.

Ontem, Lula disse aos jornalistas que está pronto para debater qualquer tema, pois, com isso, o governo ganha a ‘confiança’ da imprensa e a ‘credibilidade’ da sociedade. ‘Agora estejam certos de uma coisa: de minha parte não haverá em nenhum momento qualquer informação e qualquer tema que não possa ser debatido. Eu pensei que vocês iriam entrar em temas polêmicos, não entraram, nas coisas mais polêmicas que deram briga nesses dias, mas eu estou disposto a debater qualquer tema. Para mim não tem tema proibido. Não tem tema que não possa ser discutido.’

A entrevista coletiva, marcada para as 8h, começou cinco minutos depois. Participaram 13 jornalistas de diferentes emissoras de rádio do país. Antes da entrevista, transmitida ao vivo, Lula ganhou presentes dos representantes das emissoras, como bebidas e CDs de músicas típicas de cada região.

Desde sua posse, essa foi a segunda entrevista coletiva concedida por Lula a emissoras de rádio. Para a imprensa escrita, o presidente já deu entrevistas sobre temas específicos, mas não uma coletiva formal no Brasil.

Ao final da coletiva, Lula sugeriu ao secretário de Imprensa da Presidência, Ricardo Kotscho, que organize semanalmente uma entrevista com jornalistas.’



O Estado de S. Paulo

‘João Paulo vai processar revista por denúncia’, copyright O Estado de S. Paulo, 26/09/04

‘O presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha, disse ontem que vai processar a revista Veja por danos morais. Em reportagem publicada neste fim de semana, a Veja revela que o PT é suspeito de oferecer R$ 500 mil para o PSDC apoiar a candidatura do deputado estadual Emídio de Souza (PT-SP) na disputa em Osasco. Na reportagem, a revista cita uma suposta fita gravada em reunião de dirigentes do PSDC, em 10 de junho. Na ocasião, o presidente da legenda, José Maria Eymael, teria afirmado que a negociação com o PT começou com um telefonema de João Paulo Cunha, cuja base eleitoral é Osasco.

Serão três ações contra a revista e os jornalistas. Uma será a de queixa-crime contra os autores da matéria. A outra será uma ação de reparação por danos morais e a última de direito de resposta contra a revista que, junto com os jornalistas, também será processada pelo deputado estadual Emídio de Souza, pela Câmara dos Deputados e pelo PT. ‘Estou indignado com esta calúnia e pelo fato da revista ter dado espaço para uma matéria sem pé nem cabeça. O prejuízo é irreparável, até porque estamos a uma semana da eleição e a próxima edição só estará nas bancas no dia da votação. A matéria tem um propósito claramente eleitoral. Osasco é a maior cidade administrada pelo PSDB em todo o Brasil’, reagiu o presidente da Câmara dos Deputados.’