‘A platéia aplaude com entusiasmo no meio do filme, quando o professor de jornalismo José Ribamar Bessa recorda sonhos juvenis no filme sobre o jornal carioca O SOL (1965-1968), onde trabalhou como repórter: ‘Eu tinha o sonho de mudar o mundo. Depois, vi que o mundo era muito grande e passei a querer mudar só o Brasil. Mas descobri que isso também era impossível e reduzi o sonho para a Amazônia. Ainda era muito e passei a me dedicar somente a mudar a Universidade e, depois, só ao meu departamento. E não consegui mudar o departamento.’
Até agora estou em dúvida: os aplausos se identificavam com o desencanto ou com a descoberta de que o sonho acabou, como anunciou John Lennon, e a luta nunca pode desprezar a realidade?
O SOL CAMINHANDO CONTRA O VENTO é um filme imperdível. Produzido e dirigido por Tetê de Moraes, com roteiro de Marta Alencar, mostra a equipe que se reuniu em torno do projeto de Reinaldo Jardim – poeta, como ele mesmo se define, antes de ser jornalista – Otto Maria Carpeaux, velho combatente das liberdades na Áustria e no Brasil, e de Ana Arruda, jovem editora-chefe. O SOL em quase toda a sua vida foi um suplemento político-cultural do Jornal dos Sports, com design inovador e temas rebeldes.
O fundo musical é supercoerente – Alegria, alegria – e o próprio Caetano Veloso explica que ‘caminhando contra o vento, sem lenço e sem documento’ expressava a sua dúvida entre a participação num grupo organizado contra a ditadura e o protesto individualista. A redação de O SOL seguia, quase toda, o dilema de Caetano e, diante da tragédia do AI-5, ocorrida pouco depois do fim do jornal, desintegrou-se e os fragmentos tomaram rumos diversos: luta armada, exílio, drogas, crescimento pessoal ou até simples caretice.
Não percam. Os mais velhos reencontrarão sua juventude, os mais jovens terão uma ótima oportunidade para rever seus projetos de velhice.
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Passaralho espanhol sobrevoa Rio e SP
Todos os editores de O GLOBO e EXTRA receberam da direção geral detalhado resumo dos planos do ‘Estadão’ para fundir sua redação com as da edição online, do Jornal da Tarde, da Agência Estado e da Rádio Eldorado. Esse resumo, publicado pelo jornal ‘Meio & Mensagem’, deixa clara a intenção do projeto elaborado pela consultoria catalã Cases i Associats, cujo trabalho no Diário de São Paulo tem resultados bem conhecidos.
O objetivo central, como a consultoria explicou e a direção de O GLOBO/EXTRA divulga, é ‘rentabilizar a produção de conteúdo’. Em linguagem chula: mais matéria e menos jornalistas.
Não é preciso ser profeta nem analista de mercado para entender o recado. Ouve-se o ruflar das asas do passaralho.
Leia aqui a matéria do Meio & Mensagem:
Depois de investir R$ 12,5 milhões na reformulação dos jornais da casa, oGrupo Estado decidiu unir as equipes dos jornais impresso e online em uma única estrutura, que ficará responsável pela adequação e distribuição de conteúdo às empresas do grupo. O portal Estadão era da Agência Estado e já trouxemos o pessoal da sua edição para dentro da redação do jornal, comoprimeiro passo da integração, diz Sandro Vaia, diretor de O Estado de S. Paulo e responsável pelo conteúdo jornalístico produzido pelas empresas da organização: Jornal da Tarde, Estadão, Agência Estado e Rádio Eldorado. Ogrupo conta ainda com a TV Eldorado, concessão obtida há três anos no Maranhão que atualmente retransmite o sinal da TV Cultura no local, e com a OESP Mídia, que publica listas e guias da cidade de São Paulo.
O modus operandi da nova gestão e distribuição de conteúdo ainda está sendo formulado. As mudanças têm apoio da espanhola Cases i Associats, consultoria gráfica e editorial com sede em Barcelona, especializada no desenho de informações. Está em estudo a instalação de um ‘mesão de edição’, que, conforme descrição da Cases, consiste em uma mesa central de redação cuja prioridade é rentabilizar a produção de conteúdo. Na mesa estariam todos os profissionais que respondem pela decisão editorial e gráfica; a missão dessa equipe é planejar o produto, desde a definição do espaço e da apresentação de reportagens até o controle da chegada de anúncios.
Com o objetivo de reverter a trajetória de queda na circulação do Jornal da Tarde e do Estadão, o grupo apostou no investimento em produto; reformulou os cadernos do Jornal da Tarde e trabalhou a mudança gráfica do Estadão, que passou a englobar novos cadernos, tornando-se mais atraente para outros membros da família. Outro foco da nova fase do Estadão é concentrar-se na Grande São Paulo. Uma reformulação gráfica do Jornal da Tarde também está prevista para o início do ano que vem.
Quanto a negociações com outros grupos, o diretor de marketing e mercado leitor, Antônio Hércules Jr., garante que as freqüentes visitas de grupos estrangeiros ao jornal se referem à troca de expertise e que ‘não há nenhuma negociação em vista’. Por outro lado, segundo Dorailson Andrade, da consultoria Hay Group, a tendência do setor para os próximos dois anos, passa pela aquisição, por parte dos grandes players, de jornais médios e regionais e também pela produção e distribuição de conteúdo de forma mais sistemática.’
JORNALISTAS&CIA.
, 10 ANOSEduardo Ribeiro
‘Desculpem-me, mas hoje é dia de festa’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 28/09/05
Hoje não vou escrever nada que possa ser considerado sério ou útil para a vida das pessoas. Vou é falar de festa. Da festa de aniversário dos dez anos do Jornalistas&Cia. Do show que estaremos promovendo logo mais, à noite, com mais de seiscentos jornalistas, entre os que vão assistir e os que vão se apresentar.
Isso mesmo. Teremos jornalistas na platéia, na fila do gargarejo, aplaudindo ou vaiando outros jornalistas que vão cantar, assobiar, dançar, tricotar, imitar, tocar, contar piadas, num evento que os menos avisados poderiam chamar de show de calouros, mas que, longe disso, vai mostrar jornalistas bambas também fora das redações.
Há tempos trazia comigo a idéia de um dia fazer um show com jornalistas no palco, valendo-me do conhecimento que tinha de talentos como Luís Nassif, precioso no bandolim, Róbson Moreira, um furor no palco, Assis Ângelo, grande folclorista, poeta e pesquisador, entre tantos outros que longe das redações curtem a vida ‘com arte’.
Lá no começo do ano pensei: acho que agora vai dar. O mote era exatamente os dez suados anos da versão impressa deste Jornalistas&Cia, completados nesta semana. Avancei, recuei, investi, desisti, até que um dia, num almoço com Fátima Turci, amiga e irmã de todos os momentos, recebi a certeira intimação: a idéia é genial e você não tem o direito de não fazer. Vai fazer sim e eu vou te ajudar. E de cara já te aviso que você terá ao seu lado uma das melhores roteiristas desse País, a Sandra Mello, do Grupo Fedra.
Tremi nas bases. Ela foi tão incisiva e persuasiva que, ali, na hora, eu não tinha como dizer não. Disse um sim titubeante, até para ganhar tempo já pensando em, mais tarde, ligar dizendo que… pensando bem, não vai dar, fica para uma outra oportunidade etc e tal.
Imediatamente me pus a pensar como iria, além de tudo, convencer essas figuras a ir a um show como esse, que nunca ninguém tinha feito, correndo o risco de pagar um mico! Vai ser uma roubada, pensava lá no íntimo com meus botões.
Pelo sim, pelo não, como além de tudo havia a questão econômica, resolvi arriscar para ver se alguma das empresas que tradicionalmente nos apóiam topariam patrocinar a festa. Era o jeito certeiro de cair fora ao primeiro ‘não’. Afinal, de nada adiantaria termos um cast a custo zero se não houvesse recursos para as outras coisas.
Para mal dos meus pecados, quatro organizações adoraram a idéia e de imediato toparam patrocinar a festa: a Odebrecht, a Alcoa, o Santander Banespa e a Nova Schin, que, aliás, é a fornecedora oficial do próprio Avenida Club.
Meu Deus, pensei, agora a encrenca está definitivamente criada. Com o apoio da Fátima e da Sandra, nossa brava equipe, Fernando Soares, repórter deste J&Cia, à frente, arregaçou às mangas e saiu atrás das preciosas atrações. Foi, para nossa surpresa, um sim atrás do outro, exceção aos colegas que efetivamente estavam fora de forma. Uma curtição.
Vimos duplas marcando ensaios nos finais de semana, colegas indo atrás de parceiros para incrementar as apresentações, convidados preocupados em atualizar repertório. Outros desentocando instrumentos empoeirados. Parceiros querendo trazer profissionais para dar mais tempero à canja. Enfim, um frenesi que contagiou a equipe inteira, e que realmente nos deu a certeza de que essa será efetivamente uma festa diferente, animada, com surpresa e bom humor, uma festa quem sabe para entrar no calendário anual dos jornalistas brasileiros.
Nosso roteiro, para vocês terem uma idéia, começa com o conto O Ovo e a Galinha, de Clarice Lispector, que ganhou uma nova roupagem, transformando-se em O Ovo – A Metáfora do Sacrifício Feminino, uma adaptação para o teatro, representada por Róbson Moreira, que, nos dias úteis, dá expediente como diretor de Conteúdo da Rede STV (Rede Sesc Senac de TV). Róbson apresentará um trecho da peça que está há mais de um ano em cartaz, em São Paulo, com ele próprio como protagonista.
Depois vamos ter um momento especial, a editora Roseli Loturco, do DCI, cantando Nara Leão, debutando no showbizz. Terá o apoio do designer e músico Paulo Sant’Ana, que é da equipe do J&Cia, junto com o irmão Luiz Carlos Sant’Ana, mais Marcos Soledade, que vão acompanhar (e socorrer) nossa musa nessa experiência inédita.
A terceira atração será nada menos do que Luís Nassif, chorão de talento reconhecido, que certamente fará com que todos esqueçam-se momentaneamente de crise e economia, das falcatruas, dos severinos, para um embalo ao som de um dos mais aprazíveis ritmos do Brasil, o chorinho.
Sai Nassif e entra o repórter da revista Contigo Mauro Soares, e a Companhia dos Texugos, para apresentar um trecho do show Caetano canta tudo, que ele já apresentou profissionalmente por algumas temporadas em São Paulo e adjacências. Mauro interpreta não só Caetano mas também Nei Matogrosso, inclusive em duetos memoráveis. Detalhe: ele interpreta canções que nunca foram cantadas pelos dois, instigando ainda mais a imaginação do público. Um show nota 10, dentro do espírito dos dez anos do J&Cia.
E isso ainda é só o começo. Querem ver o que mais garimpamos? Depois de Mauro e Texugos, entra no palco a Banda Happy Hour, um quarteto vocal pra lá de animado e descontraído, formado por Cecília do Val, assessora de imprensa da editora Cosac Naify, Renata Celani, carioca que apresenta o programa Educação na TV, na Rede TV!, mas que também é solista e professora de canto, Isac Martins, criador do Coral das Letras USP; todos acompanhados pelo contrabaixo de Maurício Guedes, da Art Press, que começou a estudar música aos sete anos e nunca mais parou. Para se ter uma idéia, esse grupo já teve uma indicação ao Prêmio Sharp de Música pelo CD ‘Sentimental Journey’.
Da música para a poesia, do canto para a declamação, a festa – É 10! Um show de jornalista pra jornalista! – vai receber o jornalista, poeta, folclorista, apresentador e contador de causos Assis Ângelo, que numa incrível coincidência apaga as velinhas de 53 anos exatamente nesta noite. Assis virá direto do programa que apresenta na allTV, sobre cultura e música popular brasileira, para o Avenida Club e ali recitará Patativa do Assaré, o maior poeta popular que o Brasil já teve. É dele, Patativa do Assaré, a prosaica receita para explicar o seu sucesso. Ele dizia que para ser poeta não era preciso ser professor. ‘Basta, no mês de maio, recolher um poema em cada flor brotada nas árvores do sertão’.
Do sertão para a cidade, do Brasil para os Estados Unidos, do canto popular para o jazz. A canja, depois de Assis, será do editor-chefe da Folha Online, Ricardo Feltrin, músico desde a tenra idade, que reservou algumas boas surpresas para a festa.
Depois, ainda em clima intimista, a viagem vai para o sul dos Estados Unidos, numa jam session exclusiva com a banda de blues Bad News, formada pelos guitarristas jornalistas Luís Fernando Ramos, do The Jeffrey Group, e Edson Franco, da revista Ele&Ela.
A festa prosseguirá com a editora do Caderno Internacional da Folha Online, a compositora e vocalista, Ligia Braslauskas, ou simplesmente Ligia Kas, como é conhecida no mundo do Pop Rock. Ligia, para quem não conhece, já integrou as bandas Alibebel e os Cotonetes, Feind des Ritmus, ZAT e Bomba-i, e agora está se iniciando em carreira solo, inclusive com a produção de um novo CD.
A descontração e o bom humor chegarão com Maurício Menezes, jornalista que de tanto contar piadas e causos dos colegas nos plantões da vida, virou humorista de verdade, hoje se apresentando em todo o Brasil com o show Mancadas da Imprensa que tem lotado os teatros onde é apresentado. Maurício, que já esteve algumas vezes no Jô, vem do Rio acompanhado de Hélio Júnior, especialmente para participar da festa, numa deferência toda especial ao J&Cia.
O fecho ficará por conta do cover de Frank Sinatra, Renato Luti, gerente de Imprensa da GM do Brasil, que cantará My Way.
E depois, vamos todos cair na dança, com o DJ Luiz Pattoli. Eu, inclusive. Ou o que sobrar de mim.
Claro: 40 felizes usuários do Comunique-se, que saíram na frente (ver nota de ontem), ganharam convites e vão poder testemunhar, ao vivo, tudo isso que relatei. Quanto aos demais, bem… só para o ano.’
DIRETÓRIO ACADÊMICO
‘Jornalista – intelectual ou técnico?’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 23/09/05
‘O XIS DA QUESTÃO – O jornalista que as complexidades do mundo atual exige terá de ser um intelectual capaz de observar, apreender, atribuir significados e dar exposição social confiável aos conflitos discursivos da atualidade. Mas será intelectualmente inepto se, ao mesmo tempo, não dominar as técnicas, as artes e as implicações da linguagem jornalística – ferramentas do seu ofício.
1. Falso dilema
Volto ao tema da semana passada para colocar o meu próprio ponto de vista no debate sobre a questão do ensino de jornalismo. E começo por advertir para um equívoco que tolda, em boa parte, a discussão há tantos anos persistente, sobre o modelo ideal do ensino de jornalismo. Fala-se em teoria versus prática como se aí estivesse um dilema, a nos obrigar a escolher uma, entre duas alternativas penosas, porque insuficientes.
Me lembro, por exemplo, das precariedades do curso de graduação que fiz, 25 anos atrás. Eram precariedades em boa parte decorrentes da cretinice que dividia radicalmente o corpo docente entre ‘professores da teoria’ e ‘professores da prática’. Jocosamente, os chamados ‘teóricos’ apelidavam as disciplinas técnicas de ‘área Senai do curso’. Por seu lado, os professores da prática achavam um jeito de retribuir a xingação, chamando os teóricos de ‘ignorantes em jornalismo’, que sequer eram capazes de imaginar como funciona uma redação. Como resultado, tínhamos um curso fragmentado, claramente insuficiente, empobrecido pela falta de discussões lúcidas.
Ora, a teoria não se opõe à prática. Nem vice-versa. A ciência arrogante pode até achar que sim. A verdade, porém, é que não há como fazer ciência sem prática. Por outro lado, tampouco existe a prática dissociada do funcionamento da inteligência, ou seja, da capacidade humana de fazer escolhas, se entendermos a prática como o exercício da ação voluntária.
2. Saberes complementares
Na dualidade aparentemente contraditória, o que temos são dois níveis de saber igualmente importantes. Saberes diferentes, porém interativos, complementares. E nenhum deles auto-suficiente.
O saber teórico estuda os fatos, os conexiona (me desculpem o neologismo…) a conseqüências e princípios, inserindo-os, em lógicas metodologicamente coerentes, no ‘todo’ a que pertencem (um ‘todo’ de causas e efeitos), para a compreensão e a explicação de fenômenos ou situações que interessam ao conhecimento. É um saber especulativo, com ou sem aplicações práticas.
É preciso, entretanto, levar em conta que, como já sentenciou William James, o homem é um ser prático, de vontade e ação, que se orienta pelo intelecto – quer faça ciência ou motores de caminhão. Portanto, o saber prático, embora preponderantemente acumulativo, não está dissociado da inteligência. Nem da aptidão de elaborar significados, conceitos, idéias e ajuizamentos – que não é exclusividade do saber teórico.
Posto isto, resta acrescentar que, pelas complexidades que o mundo de hoje impõe à atividade jornalística, o jornalista que a Universidade deverá formar terá de ser um profissional com educadas aptidões de intelectual, capaz de apreender, atribuir significados e dar exposição social confiável (isto é, independente, crítica e honesta) aos conflitos discursivos da atualidade. Mas será intelectualmente inepto se, ao mesmo tempo, não dominar, plena e criativamente, os conceitos, os recursos, as técnicas, as artes e as implicações da linguagem jornalística – ferramentas do seu ofício.
Quanto aos modelos curriculares que possam dar boa conta desse desafio, será assunto para outra conversa. O texto de hoje termina aqui, curto, para que pelo debate se expanda.’