Saturday, 02 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Ministro critica concentração de veículos de comunicação


Leia abaixo a seleção de quinta-feira para a seção Entre Aspas.


 


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 13 de janeiro de 2011


 


CONCENTRAÇÃO


Elvira Lobato


Ministro se diz contra posse de jornal, rádio e TV na mesma região


O ministro Paulo Bernardo (Comunicações) defendeu ontem a proibição de que um mesmo grupo tenha simultaneamente rádio, jornal e TV numa mesma região do país.


Em entrevista ao programa ‘3A1’, no canal estatal TV Brasil, o ministro disse que o anteprojeto para uma nova lei de comunicação eletrônica de massa, deixado pelo ex-ministro Franklin Martins, sugere o veto à chamada ‘propriedade cruzada dos meios de comunicação’.


O texto, segundo ele, propõe que não sejam autorizadas concessões de rádio ou TV a grupos que já tenham empresas de mídia na mesma região do Brasil. Ele se declarou a favor da restrição. Bernardo defendeu que seja dado um prazo para a adaptação dos grupos empresariais que já possuem mídia impressa e radiodifusão na mesma localidade.


No entendimento do ministro, há concentração excessiva, sobretudo no mercado de TV: ‘Há centenas de empresas no mercado, mas quatro ou cinco concentram mais de 90% da audiência’.


Foi a segunda mudança polêmica proposta publicamente por Paulo Bernardo desde que assumiu a pasta.


Na semana passada, ele sugeriu que políticos sejam impedidos de possuir emissoras de rádio e TV. Ontem, na TV estatal, ele insistiu na proposta, que também faz parte do anteprojeto elaborado por Franklin Martins.


PROJETO


Até agora, o governo de Dilma Rousseff manteve o projeto de Franklin Martins guardado a sete chaves. Segundo Paulo Bernardo, é ‘um projeto de fôlego’, que ainda não está concluído.


Ele reafirmou que o anteprojeto será examinado por vários ministérios e passará pelo aval de Dilma antes de ser levado à discussão pública, e negou que haja uma tentativa de cercear a mídia.


‘Essa coisa de que queremos controlar, censurar, é bobagem. O Brasil é uma grande democracia e somos guardiões de tudo o que a Constituição estabelece em termos de de liberdade de expressão’, afirmou.


O ministro deixou claro que o novo governo vai ampliar o número de emissoras educativas. As concessões de educativas são distribuídas gratuitamente a instituições escolhidas pelo Executivo, ao contrário das concessões de emissoras comerciais que são vendidas em licitações. ‘Na medida em que houver frequências disponíveis, queremos dar vazão à demanda por emissoras educativas’, disse o ministro.


Paulo Bernardo criticou a privatização da Telebrás em 1998, no governo de Fernando Henrique Cardoso. Segundo ele, as teles foram vendidas ‘a preço de banana’ e o país ‘não se beneficiou patrimonialmente’ da venda, porque o dinheiro arrecadado foi gasto no pagamento de ‘juros altíssimos’ da dívida pública interna, e não em investimentos.


A jornalista ELVIRA LOBATO viajou a Brasília a convite da EBC para participar, como entrevistadora, no programa ‘3A1’


 


 


WIKILEAKS


Assange mantém dossiê secreto sobre magnata da comunicação


Julian Assange, fundador do site WikiLeaks, afirmou possuir arquivos secretos sobre Rupert Murdoch e sua companhia global de mídia, a News Corporation.


O WikiLeaks também guarda mais de 500 documentos confidenciais sobre um organismo de radiodifusão não especificado, segundo Assange.


Em entrevista à revista britânica ‘New Statesman’, ele se refere a esses despachos como um ‘seguro’, que será lançado ‘caso algo aconteça a mim ou ao WikiLeaks’.


Assange não explicou por que recorreu a documentos sobre Murdoch como trunfo para se proteger.


Ele luta contra um pedido de extradição da Suécia, onde é acusado de ter cometido crimes sexuais.


Ainda na entrevista, Assange, cujo site tem irritado e constrangido Washington após liberar documentos confidenciais da diplomacia americana, disse que a China foi o principal inimigo tecnológico do WikiLeaks, e não os EUA, apesar da pressão que o país exerceu contra o site.


Segundo Assange, a China tem implementado uma ‘agressiva e sofisticada’ tecnologia de interceptação para impedir que detalhes dos documentos diplomáticos cheguem aos seus cidadãos.


Até agora, o site publicou apenas uma pequena parte dos mais de 250 mil documentos que obteve.


Assange negou problemas no site e repetiu que, independente do que acontecer, os arquivos continuarão a ser divulgados ao público.


Para ele, tentativas do governo dos EUA de tomar medidas legais deveriam preocupar a grande mídia.


‘Acho que está surgindo na mídia a consciência de que, se eu posso ser indiciado, outros jornalistas também podem.’


Os documentos começaram a ser vazados pelo WikiLeaks por meio de parceiros da mídia internacional.


 


 


INTERNET


Google lança concurso de ciência para adolescentes


O Google está promovendo um concurso mundial de ciência -todo pela internet- para descobrir jovens pesquisadores entre 13 e 18 anos. O vencedor fatura uma viagem a Galápagos, para participar de uma expedição do canal National Geographic, além de uma bolsa de estudos de estudos de U$ 50 mil e outros prêmios.


Sozinhos ou em grupos de dois ou três, os estudantes deverão desenvolver um projeto original de ciência. Além de uma parte teórica, eles deverão fazer um vídeo ou uma apresentação de slides.


Os 60 melhores serão publicados na internet e avaliados por voto popular. Em maio, com um time de especialistas, o Google vai escolher 15 finalistas, que irão à Califórnia visitar a sede da empresa.


 


 


TELEVISÃO


Keila Jimenez


‘BBB 11’ terá minimercado real na hora das compras


Já repleto de merchandisings e patrocinadores, o ‘Big Brother Brasil 11’ terá uma novidade na hora da compra de mantimentos da casa: um minimercado dentro do confinamento.


Ação criada pela F/Nazca para o Carrefour, a hora da compra de comida e itens de higiene pelos participantes será diferente de todas as outras edições do reality.


Um minimercado, com gôndolas, bancas de frutas, freezer e até demonstradores de produtos será montado dentro do ‘BBB 11’ e funcionará durante as 11 segundas-feiras do programa.


Assim como nos supermercados fora da casa, a réplica do confinamento terá promoções semanais e até degustação de produtos.


Detalhe: todos os produtos à venda serão da marca Carrefour e poderão ser comprados com a moeda do programa, a estaleca.


A ação será anunciada na segunda-feira pela garota-propaganda da marca, Ana Maria Braga, que fará sua tradicional visita aos BBBs.


IBOPE


Na estreia, anteontem, o ‘BBB 11’ registrou média de 34 pontos de audiência, com 53% de share (participação entre TVs ligadas), quatro pontos a mais que a estreia da edição anterior. (Cada ponto equivale a 60 mil domicílios na Grande SP).


MAMÃE


Grávida de um menino, Luciana Gimenez grava reportagens em Nova York que vão ao ar durante sua licença-maternidade no ‘Superpop’ (Rede TV!)


A PERGUNTA É…


Leitor quer saber: onde arranjar emprego de investigador como o de Diogo (Daniel Boaventura) em ‘Passione’ (Globo)? O policial investigou um só caso por três meses, e ainda teve um romance com Clara (Mariana Ximenes).


O NÚMERO É…


‘Amor em 4 Atos’ estreou bem anteontem na Globo na faixa das 23h, marcou 21 pontos de audiência.


Férias O ‘Pânico’ (Rede TV!) volta ao ar, ao vivo, no dia 6 de fevereiro. A atração busca novos personagens.


Assédio Apesar de ter contrato com a Record até 2014, Bianca Rinaldi já está no alvo de dois autores da Globo para voltar ao canal.


Polícia A próxima temporada de ‘Força-Tarefa’ começa a ser gravada em maio e estreia em setembro na Globo. A distância entre o tenente Wilson (Murilo Benício) e seu filho, por conta do trabalho, será um dos focos da trama.


Comédia Dercy Gonçalves será homenageada pela Cultura na faixa ‘Mestres do Riso’, que exibirá, a partir de domingo, oito filmes dela.


Troca Renata Netto, ex-editora de esportes radicais, é a nova editora-chefe do jornalismo da ESPN Brasil. Kitty Balieiro, que ocupava a vaga, agora é gerente de projetos.


Importado A partir do dia 17, a SKY HD vai transmitir 40 horas de séries inéditas da BBC em alta definição.


com SAMIA MAZZUCCO


 


 


Gustavo Villas Boas


Tara multiplica ainda mais suas personalidades no segundo ano


Diablo Cody, que ganhou o Oscar de roteiro por ‘Juno’ (2007), criou ‘United States of Tara’, série dramática com verniz de humor.


Casada e mãe de dois jovens, Tara tem um distúrbio psiquiátrico: ela assume outras personalidades. A família conhece seu problemas e seus alter egos, como Buck, um veterano do Vietnã falastrão, ou T., uma adolescente maluquinha.


E, depois de parecer curada por um bom tempo, no começo da segunda temporada Tara não só tem uma recaída como ganha novas personalidades, idiossincráticas como as outras. Enquanto isso, Buck se apaixona e o romance agita a família.


Em paralelo ao drama de Tara, o segundo ano ressalta as dúvidas do filho caçula sobre a própria sexualidade. Já a filha problemática se fantasia de heroína -e ganha dinheiro de forma inusitada.


NA TV


United States of Tara


estreia da segunda temporada


QUANDO dia 17, às 22h, na Fox


CLASSIFICAÇÃO não informada


 


 


Laura Mattos


Vou contrariar o público de ‘Passione’


‘Passione’ acaba amanhã e seu autor, Silvio de Abreu, disse à Folha que o final vai contrariar o público. Para ele, a catarse -’mocinho recompensado, vilão castigado’- não faz pensar. Quer que o espectador ‘discuta o desfecho para a novela não terminar em 14 de janeiro’.


Em seu apartamento, em São Paulo, na segunda, Abreu, 68, falou sobre a novela das oito, a 14ª da sua carreira, audiência, novas mídias, e, o melhor para quem é noveleiro: comentou as tramas e as possíveis soluções.


A partir da conversa, a Folha aposta que Fred ou Clara, vilões interpretados por Reynaldo Gianecchini e Mariana Ximenes, seja responsável pelos assassinatos.


Abreu diz que sua estratégia é confundir o público ao longo da trama, mas que sua história é simples. A solução foi óbvia em ‘Belíssima’, sua novela anterior. Vilã desde o início, Bia Falcão (Fernanda Montenegro) foi revelada no último capítulo como a responsável por todos os crimes. Leia abaixo trechos da entrevista.


Pistas


Não gosto de novela morosa. Gosto de novela que traga a cada dia um entretenimento diferente. Por isso misturo dois gêneros lúdicos, o thriller e a comédia, e tempero com melodrama. Dou pistas sempre, nunca pistas falsas.


Os mistérios são algo que o público poderia ter deduzido. Quando a novela acabar, veja o primeiro capítulo, havia ali indícios. Minhas histórias são simples, o modo de contar é que é complicado.


Confundo o público, mas sei desde o início onde vou chegar. A morte de Saulo [Werner Schünemann] é o centro, porque o assassino matou Eugênio [Mauro Mendonça] no primeiro capítulo.


Vilões


‘Má o meno’ [os vilões vão se dar mal]. Parte se dá mal, parte, bem. Não gosto de maniqueísmo. Gosto que seja um pouco espelho da sociedade, e não é verdade que vilões são castigados. Gostaríamos que fosse, mas não é.


Ao fazer a catarse -mocinho é recompensado e bandido, castigado-, não deixamos o espectador pensar. Quando o contrariamos, ele fica discutindo: Por que o vilão foi solto? Para a novela não acabar em 14/1, tem de deixar ruído.


Manchetes mentirosas


Revistas de TV fazem manchetes alucinantes e mentirosas. Quando a TV se democratizou, no Plano Real, a classe DE ficou importante.


As revistas que custavam R$ 10 se dividiram em dez de R$ 1. Não há dez novidades por semana, então inventam com a maior desfaçatez. Mas isso me diverte. Deus me livre fazer uma novela que não sai na capa das revistas!


Comércio de informação


Não gosto é do comércio, de quem suborna funcionários da TV para ter os capítulos.


Provamos que isso existia na ‘Próxima Vítima’ [1995]. Falei com o [então diretor da Globo] Boni e ele descobriu que pessoas do departamento de fotocópia vendiam capítulos e as mandou embora.


Agora, com ‘Passione’, voltei a ter problemas e tive que picar capítulos e mandar para atores só a sua parte. Só a [diretora da novela] Denise [Saraceni] sabia a ligação das cenas. Quase sempre percebemos quem passou. A coluna dá a informação e publica nota de um ator mixo, que obviamente está pagando aquele favor. Isso sem falar do roubo, que é inaceitável.


Audiência


Me decepcionei com o fato de o público não ter embarcado em ‘Passione’ no início. Isso me trouxe uma lição: cada novela tem que buscar seu público. Não tem mais a história de que a Globo já faz da novela um sucesso.


Está sendo muito discutido se as pessoas estão vendo a novela em outras mídias ou se não querem mais novela. A Globo ainda não sabe. Não entende por que a repercussão é maior do que o ibope.


Elenco de estrelas


Tínhamos um elenco de estrelas: Fernanda Montenegro, Aracy Balabanian, Vera Holtz, Cleyde Yáconis, Irene Ravache… É difícil fazer com que cada uma tenha seu mundo na história e não se sinta coadjuvante. Quando se juntavam em cena, uma não ficava embaixo da outra.


Para mim, foi uma questão de respeito a essas atrizes.


‘Guerra dos Sexos’


Em 2012 devo fazer o remake de ‘Guerra dos Sexos’. Acho que é a primeira vez que alguém faz seu próprio remake, mas ninguém fará melhor do que eu [risos]. Penso no Tony Ramos no lugar do Paulo Autran, mas não sei quem fará o papel da Fernanda Montenegro.


 


 


DILMA


Mônica Bergamo


Best-seller a caminho


A trajetória política de Dilma Rousseff vai virar livro. O jornalista Ricardo Amaral, que assessorou a presidente na Casa Civil, na campanha e na equipe de transição, começa a se dedicar ao projeto. A obra vai retratar desde a articulação da candidatura até a vitória de Dilma, além dos bastidores da campanha e da relação dela com o ex-presidente Lula. Amaral pediu exoneração do governo para escrever o livro, já disputado por duas editoras. O lançamento está previsto para meados do ano. Não se trata de uma biografia, embora o texto pretenda abordar também a trajetória pessoal da presidente.


AUTORIZADA


O assunto foi tratado no Palácio do Planalto. Não houve objeções.


 


 


TRIBUNAL


Justiça condena editora por chamar Xuxa de ‘satanista’


A apresentadora Xuxa Meneghel, da Rede Globo, vai receber indenização de R$ 150 mil da editora Gráfica Universal por ter sido chamada de ‘satanista’ em reportagem publicada na ‘Folha Universal’.


O texto dizia ainda que Xuxa teria vendido a alma para o demônio por US$ 100 milhões.


Na ação por danos morais movida pela apresentadora, a juíza Flávia de Almeida Viveiros de Castro, da 6ª Vara Cível da Barra da Tijuca, considerou que a reportagem não tinha informação, mas especulação.


O jornal terá ainda que publicar mensagem dizendo que Xuxa ‘tem profunda fé em Deus’. Cabe recurso à decisão.


A editora diz que apenas usou seu direito de informar.


 


 


PAULO COELHO


Itamaraty chama embaixador do Irã por suposta censura


O embaixador iraniano no Brasil, Mohsen Shaterzadeh, foi convocado pelo secretário-geral do Itamaraty, Ruy Nogueira, para se explicar sobre a suposta decisão de Teerã de proibir os livros do brasileiro Paulo Coelho. No encontro, ocorrido anteontem e relatado à Folha por um diplomata, Shaterzadeh disse não poder confirmar a informação e afirmou estar apurando a alegação feita por Coelho na segunda-feira. O escritor diz ter recebido a notícia de seu amigo e editor na língua persa, Arash Hejaiz, que fugiu do Irã em 2009.


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 13 de janeiro de 2011


 


TELEVISÃO


Maria Eugênia de Menezes


Os galãs vão à luta


O que Harold Pinter, August Strindberg e Sam Shepard têm em comum? Para além de figurarem no panteão dos grandes da dramaturgia universal, esses autores se tornaram o alvo preferencial de alguns intérpretes. Mas não de quaisquer intérpretes. Carimbados com a pecha de galãs e mocinhas, muitos agora tentam se livrar do estigma seguindo o mesmo caminho ditado pelos norte-americanos.


Se, por lá, vingou a moda de trocar os estúdios de Hollywood pelos palcos na Broadway, aqui se torna cada vez mais frequente o movimento de recorrer a consagrados textos do teatro.


Em papéis notoriamente ‘difíceis’, atores e atrizes da TV tentam comprovar seus dotes. Ou, simplesmente, buscam meios de se experimentar nas artes dramáticas. São esses, ao menos, os planos de Reynaldo Gianecchini, para quem ‘um ator tem que se arriscar, tem que estar disposto sempre a colocar o dedo na ferida’.


Amanhã, assim que Silvio de Abreu colocar um ponto final na sua novela Passione, o ator planeja tirar férias. Descansar um pouco. Mas não por muito tempo. Em um restaurante dos Jardins, enquanto lida com o assédio das fãs, ele conta que tem pressa em entrar na sala de ensaio. Pretende passar alguns meses se dedicando à construção do que talvez seja o mais difícil personagem de sua trajetória: Gustavo, protagonista de Cruel – uma adaptação do clássico de August Strindberg, Os Credores.


Mas Gianecchini não é o único a lançar-se no arriscado território da ‘alta dramaturgia’. Os projetos do ator para 2011 ecoam, em grande medida, uma trilha aberta recentemente por outros colegas de profissão. Primeiro, Thiago Lacerda mergulhou na loucura descrita por Albert Camus em Calígula. Depois, foi a vez de Malvino Salvador, conhecido quase exclusivamente por suas aparições em telenovelas, mudar de lado e surgir como o soturno protagonista de Mente Mentira, de Sam Shepard.


Cansada de bancar a boa moça, Maria Fernanda Cândido travestiu-se de malvada em Ligações Perigosas, de Christopher Hampton. E Paula Burlamaqui resolveu buscar em O Amante, de Harold Pinter, uma personagem sob medida. ‘Já tinha feito muitas peças, mas nunca exatamente aquilo que eu queria fazer’, comenta a atriz, que abre temporada do espetáculo no Rio, dia 16 de março.


 


 


Maria Eugênia de Menezes


Para ser mais que um rostinho bonito…


A estreia do espetáculo Cruel deve entregar a Reynaldo Gianecchini a chance de viver o segundo vilão de sua carreira. Ele sabe, contudo, que agora precisa dar conta de uma vilania de natureza diversa: menos óbvia e direta do que a dos folhetins televisivos. Na versão da obra de Strindberg, ele encarnará novamente um homem pérfido. Vai deparar-se, porém, com uma maldade cheia de matizes.


Quem deve guiá-lo na arriscada empreitada é Elias Andreatto. Experiente ator e diretor de teatro, Andreatto promete a estreia para junho e já tem seu casting completo: para o papel feminino escolheu Maria Manoella, um dos destaques da cena teatral paulistana. Já para a ala masculina, resolveu apostar em dois ‘globais’: além de Gianecchini, convidou Erik Marmo para viver o seu antagonista.


Em outros tempos, tal escalação de elenco poderia sugerir a intenção de atrair o público cativo da mídia televisiva. O expediente é corriqueiro e costuma assegurar inclusive patrocínios e facilidades. Andreatto assegura, contudo, que é outra a sua ambição no caso de Cruel. ‘A peça surgiu da necessidade de eles se dedicarem a um grande texto, mas sem o peso de uma superprodução. É bom fazer sucesso, ter público, reconhecimento da crítica. Mas não é esse o objetivo’, diz o diretor, ressaltando que escolheu para a montagem uma opção alternativa na grade do Teatro Faap: trocou as prestigiadas sessões do fim de semana por um horário de menos visibilidade às quartas e quintas-feiras.


Portas fechadas. Se a fama conquistada na televisão abre muitas portas, é unânime entre esses artistas a percepção de que ela também fecha outras tantas. ‘Existe uma cobrança sobre eles que, às vezes, é muito maior do que aquela que recai sobre ‘gente do teatro’, constata Andreatto, ‘É imenso o preconceito que existe contra o sucesso, contra a beleza. Parece que o sujeito tem que provar mil vezes que é ator.’


Do outro lado do front, a atriz Maria Fernanda Cândido, protagonista da atual montagem de Ligações Perigosas, confirma a existência do preconceito, mas minimiza seus efeitos. ‘Já escutei muitas ve zes: ‘Você me surpreendeu.’ Talvez digam isso porque não acreditavam em mim. Mas não me incomoda.’


Nos primórdios da televisão, era comum a importação de talentos da cena dramática para as telas. O trânsito, de fato, nunca cessou: ainda hoje é comum que muitos olheiros da tevê garimpem novos rostos em produções fora do mainstream. Mas é o caminho oposto que parece ganhar fôlego nos últimos anos.


Formados quase integralmente nos estúdios de televisão, muitos agora vão buscar tardiamente a tarimba dos palcos. ‘O teatro te prepara para a pressa da televisão’, confirma Gianecchini, que foi ‘descoberto’ pela Globo enquanto participava de uma encenação do Teatro Oficina. ‘É um momento de formar repertório, de exercitar certas coisas que você poderá acessar depois. Toda vez que vou para o teatro, volto com mais recursos.’


A incursão por tablados e coxias não serve apenas como escola. Cada vez mais tem-se a impressão de que está distante das câmeras o lugar de realização profissional desses intérpretes. Malvino Salvador, em cartaz com a peça Mente Mentira, no Rio de Janeiro, revela que passou quase seis anos em busca de um texto até encontrar algo que lhe instigasse. ‘Sou contratado de uma emissora e isso é confortável. Mas queria fazer algo que falasse à minha essência. Gosto de sentir que tenho algum grau de domínio sobre o rumo da minha carreira’, comenta o ator, que montou uma das mais complicadas e festejadas criações do norte-americano Sam Shepard.


Além de ter à disposição um texto de sua predileção, o ator fez questão de estar à frente da produção e escolher o diretor que o conduziria no palco – Paulo de Moraes, da Armazém Companhia de Teatro.


Paula Burlamaqui já tinha mais experiência em trabalhos teatrais, mas seguiu por caminho semelhante. Comédias ligeiras à parte, chegou a participar de uma montagem de Gerald Thomas e deu conta da espinhosa missão de encarnar Mariana Alcoforado, a freira do clássico Cartas Portuguesas. Foi só recentemente, porém, com a estreia de O Amante, de Harold Pinter, que a atriz diz ter se ‘encontrado’. Resolveu se produzir e convocou Francisco Medeiros para assinar a encenação. ‘Nunca tinha feito algo que eu realmente tivesse escolhido’, admite.


 


 


Jotabê Medeiros


Globettes e ‘Udigrudi’ têm boa química


Dirigido por Tadeu Jungle, estreou anteontem na Rede Globo o primeiro filme da série Amor em 4 Atos, que parte de uma aproximação cênica com o universo lírico das letras de Chico Buarque de Hollanda. O episódio Ela Faz Cinema passou logo após o BBB11 (o já famoso ‘Big Bíceps Brasil’). O BBB foi algum tipo de aquecimento para a série, cujos maiores trunfos foram os vários peitorais explícitos de Malvino Salvador e um nu dorsal estupefaciente de Marjorie Estiano.


Gente do teatro emparelhou forças com gente do Projac no especial. Globettes e o udigrudi da Praça Roosevelt. Deu numa boa combustão. Cacá Rosset interpretou Rafic, um melancólico vendedor de falsas esfihas da Síria e do Líbano nas imediações da Estação da Luz. Martha Nowill fez a mulher da voz pela qual Rafic sonha, a voz anônima que anuncia os trens que chegam na estação. André Frateschi brilhou como o noivo enrolão da protagonista. A narração, como de praxe, foi do ator Paulo Cesar Pereio (que aparece no final como homem-sanduíche).


Farsante. O episódio (21 pontos de média de audiência) foi divertido, rodriguianamente engraçado, destacando uma evolução marcante de Marjorie Estiano como atriz. Ela é Letícia, uma sonhadora diretora de videoclipes que vê no aparecimento acidental do pedreiro Antonio (Salvador) a materialização do sonho do príncipe encantado – já que o ‘príncipe’ de verdade, seu noivo (Frateschi), não passa de um farsante.


O único descompasso diz respeito à utilização da música-tema. Ela Faz Cinema, a canção, é uma bossa nova intimista, e o filme da estreia rumou para um ritmo mais de pagode.


E a única aproximação com Construção, o clássico maior de Chico, é a presença dos pedreiros (Gero Camilo entre eles). Parece tudo um grande Chico Remix. Entretanto, o episódio ressaltou a grande ternura que o cantor e compositor demonstra pelos personagens de suas canções. Ponto pro filme.


Móbile. O diretor Tadeu Jungle, ex-TVDO, é egresso da cultura visual dos anos 1980, e essa experiência trouxe um ritmo pop ao trabalho. Arnaldo Antunes, também ídolo oitentista, faz uma ponta cantando sua versão de Construção (na verdade, uma espécie de Desconstrução). Como nos filmes de Tim Burton, a cidade de São Paulo surge ‘retalhada’, como uma metrópole-móbile.


 


 


LIVROS – MERCADO


Raquel Cozer


Projeto incomoda livrarias


Um projeto de lei em trâmite na Câmara dos Deputados propõe que livrarias sejam obrigadas a disponibilizar para venda todo livro apresentado por autores ou editores, partindo do princípio de que tais pontos de venda ‘não são meras casas comerciais’. Pela proposta, caso não queira comercializar alguma obra, o livreiro terá de expor por escrito as razões ao editor e ao autor, que poderão pedir a interferência da Câmara Brasileira do Livro (CBL).


O projeto n.º 7913/10 foi apresentado em 17 de novembro pelo ex-deputado federal Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) como adendo à legislação de 2003 que instituiu a Política Nacional do Livro. Na justificativa, Andrada afirma que a lei n.º 10.753/03, embora tenha a finalidade de ‘assegurar ao cidadão brasileiro o direito de produção, edição, difusão e comercialização do livro’, ‘não criou mecanismos práticos’ para que os autores consigam a circulação das obras.


A CBL e a Associação Nacional de Livrarias (ANL), que não foram consultadas pelo deputado, só tomaram conhecimento do projeto em dezembro, após ser encaminhado para apreciação da Comissão de Educação e Cultura e da Comissão de Constituição e Justiça de Cidadania. O assunto ganhou repercussão na rede esta semana, quando Jaime Mendes, gerente comercial da Zahar, abordou-o em seu blog Livros, Livrarias e Livreiros, em post intitulado ‘Projeto de Lei proíbe livrarias de selecionar os livros que vendem’.


O presidente da ANL, Vitor Tavares, destaca que ‘não existe livraria no Brasil, nem megastore, que tenha espaço físico para disponibilizar para venda todos os livros produzidos no Brasil’ – só em 2009, segundo o balanço anual Produção e Vendas do Setor Editorial, realizado pela Fipe, foram mais de 22 mil lançamentos e 30 mil reedições. ‘Além disso, cada livraria tem sua peculiaridade. Você não pode impor a uma livraria especializada em livros em francês que comercialize um título que não seja desse nicho’, diz Tavares.


O editor e livreiro Alexandre Martins Fontes, que administra duas lojas do grupo Martins Fontes, destaca que, caso sua equipe de compras (formada por dez pessoas) seja obrigada a justificar por escrito cada recusa de livro, ‘não terá tempo para fazer absolutamente mais nada’.


‘É deprimente que um deputado resolva fazer alguma coisa pensando no mundo dos livros, dos autores, das livrarias, e simplesmente não converse com alguém do mercado. Basta conversar cinco minutos para saber que essa proposta é totalmente inviável’, diz Martins Fontes.


‘Na iniciativa privada, cada um compra o que quer. Escolhemos nossos títulos assim como um mercado compra o arroz que quer, o feijão que quer’, argumenta Pedro Herz, proprietário da Livraria Cultura. ‘Se não posso selecionar o que quero pôr dentro da livraria, então vou cobrar do deputado a construção desse espaço para colocar tudo o que existe, o que deve equivaler a um prédio maior que o da Fundação Biblioteca Nacional.’


Descendente de José Bonifácio, o patriarca da Independência, Bonifácio Andrada foi deputado federal nas últimas oito legislaturas e é membro da Academia Mineira de Letras, com vários livros publicados. Ao Estado, disse que o projeto é uma tentativa de ajudar autores ‘que não estão protegidos pelos livreiros e pelos distribuidores’. ‘Fico feliz de colocar o assunto em discussão. O que quero é dar condições ao autor de ter pelo menos o seu livro analisado.’ A ANL pretende agora, com o fim do recesso, conversar com o relator do projeto de lei, o deputado Mauro Benevides (PMDB-CE).


 


 


 


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