Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Moacir Japiassu

‘Olhem, doeu até no redator do UOL, e tanto, que, ao perpetrar o título, ele esqueceu o ponto de exclamação (!) no seu gritinho solidário:

13/07/2004 – 15h59

Britânico é preso após atirar em seus testículos (ui)

Da Redação

E embora pareça teatro de Nélson Rodrigues, ‘seus testículos’ foram mesmo para o brejo, como se confere abaixo:

‘(…) David Walker, um britânico de 28 anos, estava em um bar, em South Yorkshire, onde bebeu 18 canecas de cerveja e começou a discutir com um amigo. Walker deve ter ficado meio enfezado com a discussão, pois saiu do bar e foi para casa pegar sua arma, que guardou dentro da calça.

Quando voltava para o bar, a arma disparou, acertando seus testículos. Mais tarde, ele foi submetido a uma cirurgia de emergência que removeu o que sobrou dos testículos. Não bastasse isso, o azarado ainda admitiu que a arma era ilegal, o que o levou a ser condenado a cinco anos de prisão por posse ilegal de arma.’

Fonte: Reuters

Janistraquis, que nunca defendeu o PORTE indiscriminado, mas sim a POSSE de armas legais (direito do cidadão em qualquer democracia), lamentou o azar de David Walker, porém garantiu que desastre igual dificilmente ocorreria no Brasil: ‘Aqui, considerado, podem até sobrar armas ilegais, mas faltam testículos…’.

Realmente é o que se infere, pelos recentes acontecimentos que têm envergonhado a pátria. E rogo aos patrulheiros de plantão: não exijam que meu secretário saia por aí a apalpar as pessoas, à cata de ‘provas’ de sua ousada asserção.

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Denuncismo

Saiu aqui, no Primeiro Caderno deste portal:

Lula acusa mídia de denuncismo

Da Redação

Fonte:O Estado de S. Paulo

Durante a solenidade da posse do diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Mauro Marcelo de Lima e Silva, o presidente Lula afirmou que a imprensa brasileira difama figuras públicas ao publicar informações precipitadas. ‘Têm o nome achincalhado pelos quatro cantos do país e, depois, não se prova nada e ninguém pede desculpa pelo estrago feito à imagem da pessoa, da família e do Estado brasileiro’, disse Lula, um mês depois da notícia sobre a existência de um espião infiltrado no Palácio do Planalto(…)

Janistraquis leu, releu e quedou-se deveras impressionado: ‘É extraordinário, considerado, extraordinário! Antes da ascensão de Lula, 99,9% das tais ‘informações precipitadas’ a respeito de qualquer pessoa tinham como fonte justamente os políticos e militantes do PT. Os jornalistas sabem disso.’

Sabemos, sim.

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Excesso de burrice

O texto abaixo saiu na indispensável coluna de Augusto Nunes no Jornal do Brasil, e esta outra e mais humilde transcreve-a com a firme intenção de espalhar por outros ventos uma obra-prima da burrice nacional:

Lei tarda e ainda falha

O jornalista Fábio Campos, do diário cearense O Povo, reafirmou que a Justiça tarda (às vezes algumas décadas), mas não falha. Olhem só a história que ele acaba de contar. Para candidatar-se a vice-prefeito de Fortaleza pelo PMDB, Galeno Taumaturgo deixou há pouco a Secretaria da Saúde do município. Foi prontamente alcançado por um ofício de Isabel Arruda Porto, promotora de Justiça e Defesa da Saúde Pública. Texto do documento: ‘O Ministério Público do Ceará (…) vem requisitar, no prazo de 10 (dez) dias, para fins de instrução do Procedimento Administrativo nº 133.1451/2004, informações acerca da matéria jornalística em anexo, veiculada no jornal O Povo em 14 de maio de 2004, onde o Instituto Dr. José Frota (o maior hospital de Fortaleza) tem sido alvo de constantes reclamações por parte dos pacientes, no tocante à falta de atendimento e de higiene.’ Louve-se o zelo da promotora. O problema é que ela se baseou na coluna ‘O Povo há 30 anos’. Na época das reclamações, Galeno tinha 11 anos de idade e morava em Reriutaba.

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Clássico placar

Assistíamos a um jogo de futebol quando o comentarista do Sportv se referiu ao resultado como ‘o clássico placar de 3 a 1’. Uma vizinha nossa, que nos fazia companhia em frente à TV, perguntou por que ‘clássico placar de 3 a 1’. Respondi que conhecia a expressão desde menino, porém jamais me ocorrera saber o motivo, e prometi perguntar ao Roberto Porto, botafoguense histórico e um dos integrantes do excelente programa Loucos Por Futebol, da ESPN Brasil. ‘Se alguém sabe, este é o Robertão’, festejou Janistraquis. Assim procedemos e o velho e querido amigo enviou esta resposta:

‘Consultei Luiz Mendes, o ‘comentarista da palavra fácil’, e ele me disse que essa história vem da Inglaterra, nos primeiros tempos do Velho e Violento Esporte Bretão. Os ingleses consideram 1 a 0 um placar dúbio. Dois a um, ainda um jogo duro. E finalmente, 3 a 1, o placar clássico, ou seja, sem contestação. Uma vitória categórica.’

Todos nós festejamos e Janistraquis deu ‘vivas especiais’ a Robertão: ‘Considerado, quando nosso amigo botafoguense esquece alguma coisa do futebol, pergunta pro sempre jovem Luiz Mendes; e orgulha-se da fonte, como todo jornalista de bom caráter.’

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Lastimoso…

Deu também na capa do UOL:

Folha Online

Quarta-feira, 14 de julho de 2004

Produção industrial crece em todo o país em maio, revela IBGE.

Janistraquis leu, releu e ruminou: ‘Considerado, é verdadeiramente lastimoso o destino deste país; foi só a produção industrial aumentar para diminuírem o verbo crescer.’

(P.S. – Mais tarde, exultante, meu secretário adentrou a sala: ‘Consertaram, considerado, consertaram! Vira o jornalismo virtual!!!’ )

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Caderno C

Mestre Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de cujo janelão é possível acompanhar o solitário dia-a-dia daquele ministro que está para ser demitido, lia o Correio Braziliense, primeira página do Caderno C, quando deparou com o seguinte texto, no final de curiosa matéria intitulada Retratos da Memória:

‘Certamente (o livro) funciona como tíquete de passagem.’

Roldão, que, como todos sabemos, perdeu a paciência ainda no tempo de Fernando Collor, reagiu segundo o esperado:

‘Ora, nossa língua tem inúmeros termos que dispensam esse anglicismo horrível: tíquete. Eis alguns: bilhete, vale, talão, entrada, passagem e até o galicismo já absorvido: cupom.’

E o mestre já dobrava o jornal quando deu uma olhada na legenda da última foto:

‘Arte do artesanato utilitário, herdada pelos índios.’

Ele suspirou: ‘Arte do artesanato é tremendo pleonasmo. E deve ter sido herdada dos índios!’

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Nota dez

O professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso-RJ, Gilson Caroni Filho, é fidelíssimo torcedor do Flamengo, como se revelou em debates aqui na grande área de comentários. Assim como o assum preto, heróico pássaro nordestino que só ‘canta mió’ na adversidade(*), também o flamenguista Caroni parece assaltado por engenho e arte quanto mais seu time se aproxima da Segundona. É deste sofredor o melhor texto da semana, originalmente publicado em A Gazeta, de Vitória:

Três túmulos e um verso

‘O cemitério Jardim da Paz, em São Borja, deve ser visitado com a reverência que se dedica a solos sagrados que abrigam combatentes. Nele, entre tantos de saudável memória, estão três lideranças e um verso. Três figuras emblemáticas de uma inflexão abortada. Uma história que, ao ousar ser promissora, foi assassinada pelas elites (…)’

(*) Segundo o baião da dupla Luís Gonzaga/Humberto Teixeira.

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Errei, sim!

‘É ISSO AÍÍÍÍ!! – Saiu na apreciada coluna da Joyce Pascowitch, na Folha de S. Paulo: ‘Enquanto prepara sua próxima exposição, o artista plástico Miro clica a campanha que vai comemorar os 500 anos da Coca-Cola no Brasil’. Janistraquis não perdoou: ‘Considerado, foi por isso que Cabral, depois de se aliviar sob aquele sol da Bahia, declarou – é isso aí!!!’ (dezembro de 1992)’



LUZ NO FIM DO TÚNEL
Eduardo Ribeiro

‘Lançamentos e campanha movimentam mercado’, copyright Comunique-se, 14/07/04

‘Corre o mercado fortes rumores de que um grande jornal paulista prepara novo corte de pessoal para os próximos dias, notícia que de certo modo não parece ter sintonia com o momento de recuperação vivido pelo mercado editorial brasileiro, marcado por lançamentos, investimentos e, em alguns casos, por novas contratações. De todo o modo, convém ficar atento pois onde há fumaça há fogo e é até possível que uma demissão, nessa altura do campeonato e diante desse cenário, tenha outras motivações que não a crise (renegociação de dívida, por exemplo).

No geral o mercado continua melhorando e caso venhamos a ter esse corte, nos restará a esperança de que seja um fato isolado, sem maiores desdobramentos no resto da mídia. Resto da mídia, que, aliás, continua assanhada e com sinais explícitos de recuperação.

Uma das melhores notícias da semana vem da Editora Globo, que prepara o anúncio de Época Negócios, suplemento semanal que passará a circular agregado à edição normal a partir do próximo dia 31. Há semanas o editor Ricardo Grinbaum em companhia de outros quatro colegas – dois recém-chegados (Patrícia Cançado e João Sorima) e dois que já eram da editoria de Economia (Kátia Luz e Marcelo Aguiar) -, e sob a batuta do editor executivo Delmo Moreira, trabalha no projeto, que finalmente dará à Editora uma publicação na área de economia e negócios, a exemplo da Abril, que edita há décadas Exame e outros títulos, da Editora Três, com IstoÉ Dinheiro, da Editora JB, com Forbes, além dos títulos avulsos como Foco – Economia e Negócios e Amanhã (esta, muito forte no Sul do País). O anúncio oficial do lançamento será feito nesta quinta-feira, num café da manhã para 200 profissionais da área de propaganda e marketing, o que inclui convidados de agências e também dos anunciantes. O objetivo, obviamente, é trabalhar com firmeza o título com vistas a torná-lo num futuro próximo independente, a exemplo das demais publicações.

Outro lançamento em destaque é o da revista PHT, abreviação de Para o Homem Total, que chegou às bancas de todo o País no início do mês, com a chancela da Editora Abril, que a apresenta como uma edição especial multimarcas das revistas Placar, Info, Quatro Rodas, Guias, Viagem e Turismo, Super Interessante e Vip – ou seja uma publicação customizada dessa Unidade de Negócios da empresa, que é dirigida por Paulo Nogueira. O conceito é arrojado e envolve divulgação editorial explícita das publicações do núcleo, reaproveitamento e readequação de matérias por elas produzidas, temas múltiplos valendo-se da especialidade de cada publicação (carros, esportes, viagens, tecnologia, curiosidades, mulheres etc.) e foco no público masculino jovem e com pouco dinheiro no bolso. A edição de estréia destaca a ex-big brother Sabrina Satto, num novo e sensual ensaio fotográfico. A periodicidade é mensal e a tiragem de 200 mil exemplares. O preço de capa é outro atrativo, dentro da estratégia de torná-la popular: R$ 1,99. A coordenação editorial é de José Ruy Gandra e Saulo Ribas e a equipe conta com os editores contribuintes Otávio Rodrigues e Ricardo Alexandre (texto).

No Rio de Janeiro, O Globo ultima os preparativos para lançar, no primeiro domingo de agosto, a revista que vai se chamar Revista O Globo, sob a batuta da editora Marília Martins, a mesma que edita o Jornal da Família, cujo conteúdo vai migrar integralmente para a nova publicação. A revista terá colunistas e abrirá espaço para a colaboração de colegas de outras editorias, funcionando como uma espécie de vitrine profissional. A tiragem, a mesma do jornal, baterá na casa dos 320 mil exemplares, número que dará a ela a liderança absoluta no segmento de revistas no Estado do Rio de Janeiro, seguida de longe por Veja e Veja Rio com 110 mil, Domingo JB com 90 mil, Época com 64 mil e Caras com 35 mil (dados do IVC de abril).

As campanhas políticas também já começam a absorver dezenas de profissionais por todo o Brasil. Na maior cidade do País, São Paulo, os times de comunicação e imprensa que vão atuar na campanha dos quatro principais candidatos já estão praticamente definidos.

José Serra, do PSDB, chamou, para a coordenação Lu Fernandes, amiga e companheira de outras campanhas e que hoje dirige sua própria agência de comunicação, uma das mais conceituadas do mercado. Lu foi ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo e trabalhou também em importantes redações como Folha de S.Paulo e Jornal do Brasil. Na sua equipe estarão nomes como o de Mary Zaidan, que cuidou da assessoria de imprensa de Mário Covas nos dois mandatos como governador do Estado, atuando também nas respectivas campanhas; Paula SantaMaria, que esteve com Serra no Ministério da Saúde; Ricardo Meyer, ex-assessor da Secretaria de Estado dos Transportes; e Silviane Neno, colega que veio de Belém em 1998 e, em São Paulo, trabalhou no SBT. A assessoria de comunicação e imprensa de Serra funcioná no próprio Escritório de Comunicação de Lu Fernandes, no telefone 11-3814.4600 e e-mail imprensa@serra45.org.br .

A comunicação da campanha de Marta Suplicy será coordenada por Lino Bocchini, colega relativamente jovem mas que já tem no currículo passagens pela grande imprensa e quase quatro anos de prefeitura, como assessor direto do candidato a vice-prefeito Rui Falcão, na Secretaria de Governo da atual administração. Lino se reportará diretamente ao comando da campanha que tem, entre seus coordenadores, o próprio Falcão, Ítalo Cardoso, presidente do diretório municipal do PT, Valdemir Garreta, secretário de Abastecimento e Projetos Especiais, e o marido da prefeita Luís Favre. Já estão confirmados na equipe os colegas Myrian Pereira (ex-assessora da Secretaria de Justiça do Estado de SP e que também atuou ao lado da prefeita), Marcos Sérgio (de saída do Agora São Paulo), Erika Roesler (ex-correspondente de O Dia, em SP), Lúcia Calasso (ex-assessora da Secretaria de Abastecimento e que também integrou a equipe de Comunicação da própria prefeita), Luciana Souza (ex-repórter do Agora São Paulo e que estava trabalhando como free-lancer) e Regina de Grammont, fotógrafa oficial da campanha. O telefone do comitê é 11-5908.9313 e o e-mail imprensa@martaprefeita.com.br .

Assessorando a candidata do PSB, Luíza Erundina, sob o comando de seu assessor direto Ivan Seixas (11-8162.4469), foi contratada a Ex-Libris (11-3266.6088). O atendimento será feito pela área política da agência, com Marcus Lopes (11-9139.4532; mlopes@libris.com.br), sob direção de Jayme Brener (11-9608.7955; brener@libris.com.br), mais o apoio de Ana Carolina Esmeraldo.

Na equipe de Paulo Maluf (PP), seu fiel escudeiro de muitos anos, Adilson Laranjeira, foi quem assumiu a Chefia de Imprensa tendo ao lado Hélio Mauro Armond. O telefone do escritório político do candidato é o 11-3061.0282 / 83 / 84 / 85 e o e-mail da assessoria é o rocha_so@uol.com.br .

Que vença o melhor.’



MEA-CULPA
José Paulo Lanyi

‘A humildade é dourada’, copyright Comunique-se, 16/07/04

‘Ricardo A. Setti, um dos expoentes do jornalismo nacional, publicou no site Observatório da Imprensa o seu mea culpa de crítico de mídia. ‘Cometi um grave erro como jornalista num recente artigo que escrevi para Exame. Em 39 anos de profissão, nunca tinha me acontecido algo parecido, e não encontrei outra forma de ficar bem comigo mesmo senão me afastando voluntariamente do quadro de colaboradores da revista, do qual fazia parte há três anos como titular da coluna ‘De olho no poder’.

No artigo ‘A Farra dos Vereadores’ (Exame 821), Setti comentara a emenda constitucional que estabelece o número de vereadores das Câmaras Municipais. ‘Nele, cometi o pecado da arrogância e da presunção: para abordar um assunto ‘quente’, comentei como se já tivesse ocorrido algo que tinha 99% de chances de acontecer, mas não aconteceu’.

O jornalista, que contava com a aprovação do projeto – já passara por folgada maioria na Câmara e no primeiro turno no Senado – foi traído pela pressa dos senadores. Na ânsia de aprová-lo a tempo de manter as regalias nas eleições deste ano, deixaram-se derrotar. Apenas 52 dos 81 senadores apareceram. Resultado: 41 a 11. Faltaram oito votos. ‘Quando isso se deu, o artigo, que partia do pressuposto de que a emenda passara, não somente já tinha sido escrito, como a revista já fora impressa’.

Setti escreveu a sua autocrítica no texto ‘Ossos do Ofício-Quando o crítico de mídia também erra- e feio’, publicado no OI. ‘Não se trata de um gesto de contrição. Tampouco de busca de legitimidade: todos nós, jornalistas, temos o direito e o dever de ser críticos com o produto do trabalho da ‘indústria’ na qual estamos envolvidos. É apenas uma forma adicional de lembrar que a possibilidade de erro nos espreita a cada curva do caminho. E talvez tenha, para colegas, algum efeito didático’.

Este narrador, que também exerce, ‘às vezes’, a crítica da mídia, já sentiu isso na pele. Foi aqui mesmo, no Comunique-se, com a publicação de uma entrevista com um senhor que se dizia repórter investigativo dos melhores. Incensado por uma jornalista de verdade (amiga deste colunista) que trabalhava com o sujeito, Ucho Haddad tinha acabado de lançar um site com notícias políticas, sobretudo de Brasília. Resolvi entrevistá-lo.

Sabia que ele conversava com gente séria da profissão, dera entrevista na Jovem Pan para Wanderley Nogueira e fora elogiado em seu site por Eliakim Araújo – um de seus leitores. A conversa revelou fatos incríveis (no aspecto de que poderiam não ser críveis). Uma de suas peripécias foi ter, em uma viagem pela Europa, testemunhado, do carro de trás, o acidente que matou Grace Kelly; outra foi ter saído de um trem que, segundos depois, foi explodido pelas Brigadas Vermelhas. Mais uma: infiltrara-se no submundo de Miami para investigar os falsificadores do Dossiê Cayman.

Como havia material jornalístico na Internet e o testemunho de outros colegas sobre as ‘reportagens investigativas’ de Haddad, publiquei a entrevista, em duas partes. Logo surgiram, neste fórum, comentários de profissionais que questionavam o ‘jornalista’ e, conhecedores do Caso Cayman, rechaçavam -lhe a honestidade.

No fim de semana seguinte, com a ajuda de outros colegas acabei descobrindo o verdadeiro nome do sujeito: Evaldo Haddad Fenerich, um cara que respondera a vários processos criminais (mais de um caso de estelionato) e fora condenado por apropriação indébita.

Dias depois, eu, o Fabiano Falsi e o Fábio José de Mello publicamos a ficha do homem, aqui mesmo nesta coluna (os links estão aí embaixo). Entendo, portanto, o comentário de Setti sobre a ausência de contrição. O que nos leva adiante nesses momentos é a vontade de contar a história verdadeira, dar uma satisfação ao leitor, pôr a cama no quarto e a geladeira na cozinha.

Setti falou sobre arrogância e presunção. Quanto mais experientes, mais sujeitos estamos à auto-suficiência. Tendemos a confiar demais no nosso índice de acertos, ainda que escorados nos fatos. Estes, como mais uma vez se demonstra, são traiçoeiros. Sou escritor, conheço bem a frustração de nunca, jamais conseguirmos ser tão criativos quanto a própria natureza.

Os mais jovens estão expostos ao ímpeto; os mais velhos, à segurança que moveu um sem-número de moinhos passados.

Em sua autocrítica, Ricardo A. Setti referendou o que se espera de quem conhece o valor da credibilidade: abriu o jogo, expôs as minúcias e compartilhou erros que cometeu pela vida afora. Outros não o fariam. Não são grandes.’