‘O considerado Giulio Sanmartini, o mais brasileiro dos italianos, ainda não sentiu a friagem deixar Belluno, onde vive, mas contenta-se em verificar que nossa imprensa de vez em quando entra numa geladíssima, como esta que ele flagrou na coluna de Marcia Peltier, no Jornal do Brasil:
Bárbaros modernos
Não foram só sinalizadores e garrafas que os torcedores do Inter jogaram no campo do Estádio Giuseppe Meazza, no jogo contra o Milan. Uma brasileira que assistiu ao jogo viu voarem, também, celulares. Nesse mesmo jogo, além de toda tralha atirada em campo, os ensandecidos torcedores conseguiram jogar uma lambreta (!) no meio da arquibancada. O único resultado positivo de tudo é que agora saiu uma lei, na Itália, que determina que o juiz finalize a partida ao primeiro indício de vandalismo’
Giulio ficou de queixo caído, pois Marcia se referia àquele incidente no qual o goleiro Dida foi atingido por um rojão lançado pela torcida do Inter:
De fato, o ciclomotor dado como sendo uma ‘lambreta’, que aqui na Itália se chama ‘motorino’, foi lançado da arquibancada na geral, mas não no mesmo jogo; esse inusitado fato aconteceu no mesmo estádio, durante uma partida entre Inter e Atalanta, porém em 6/5/2001!!!!!’
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Milagre!!!
O considerado Marcello Benevolo Xavier, que teria nome de cardeal se perdesse o último sobrenome, passeava atentamente os olhos pelos diversos sites, à procura de notícias a respeito da eleição de Bento XVI, quando deparou com este aparente exagero do Globo Online:
CIDADE DO VATICANO – O novo Papa, o cardeal alemão Joseph Ratzinger, acaba de aparecer no balcão do Palácio Apostólico, onde foi saudado por milhões de fiéis reunidos na Praça de São Pedro.
Marcelo não acreditou:
Será que todos os católicos do mundo estavam reunidos na Praça de São Pedro? Milhares, talvez. Mas, milhões?!?!?!
Janistraquis, que não é católico mas acredita em Deus e o mundo, tem explicação coerente para o fenômeno, ó Xavier:
‘É que Bento nem bem chegou e, para dirimir quaisquer dúvidas acerca de sua santidade, já promoveu o milagre da multiplicação dos fiéis…’
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Inteligência
Se os considerados leitores estiverem a fim de se ilustrar neste feriadão, a coluna oferece um momento de rara inteligência, que é o artigo do mestre Sérgio Augusto no caderno Aliás, do Estadão do último domingo, 17/4. Leiam o início aqui e confiram a íntegra no Blogstraquis.
No reino do futebol, os negros têm sangue azul
Há quem pense que se Lula pediu perdão aos nigerianos pela escravidão há tanto tempo abolida, mais motivo teria o presidente Néstor Kirchner para desculpar-se, em nome dos argentinos, não apenas pelo ‘negro de mierda’ que o zagueiro Leandro Desábato atirou na cara do atacante Grafite (um apelido que não se dá ao respeito), mas também por todas as agressões racistas até hoje cometidas pelos seus patrícios contra jogadores brasileiros. Afinal de contas, há quase um século que os argentinos nos xingam de ‘macaquitos’. Fora dos campos de futebol, há mais tempo ainda.
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Ataque acidental
Considerada leitora que se assina Arte Final (deve ser uma perfeccionista) envia nota da Reuters que sobrevoava o Globo Online, protegida pelo título Helicóptero comercial é abatido no Iraque:
BAGDÁ- Onze pessoas, entre as quais seis civis americanos, morreram nesta quinta-feira em um acidente com um helicóptero comercial no Iraque, que foi abatido. A informação foi divulgada nesta quinta-feira pela companhia búlgura Heli Air, dona da aeronave (…)
Um grupo insurgente afirmou ser o autor do ataque. A declaração foi feita através de um comunicado publicado na internet.
Arte Final ficou com a impressão de que as coisas continuam pretas no Iraque e bem confusas por aqui:
Se um grupo insurgente assume a responsabilidade pelo abate do helicóptero e as mortes das pessoas, eu preferiria chamar o evento de ataque em lugar de acidente…
Janistraquis está com você, Arte Final; é claro que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa!
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Tocaia
Diretor de nossa sucursal em Belo Horizonte, com jurisdição que se estende até Mantena e Barra do Ariranha, na chamada Zona do Contestado, o considerado Camilo Viana lia o Jornal do Brasil quando deparou com uma verdadeira tocaia contra o idioma, homiziada na coluna Informe JB:
Namoro
Que Lula tem apresso enorme por Ciro Gomes ninguém duvida. Mas nem isso fez com que o ministro assinasse sua filiação ao PT. O namoro é longo, mas o casamento incerto. ‘O que posso dizer é que haveria festa no coração petista se ele viesse para o partido’, afirma um integrante da cúpula do PT.
Camilo, que devota imensurável apreço à estilística, comentou:
‘O Ciro deve botar as barbas de molho com essa estima tão especial…’
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Palavra certa
Nestes tempos litúrgicos e teologais é bom dar a palavra ao considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de cujo janelão entreaberto para a heresia é possível ver o onipresente Frei Betto a bradar contra a eleição do conservador Bento XVI. Mestre Roldão ensina, a propósito deste título de primeira página do Correio Braziliense — OAB: frei francês é a próxima vítima.
Frei e Frade — Ambas as palavras têm o mesmo significado, irmão religioso; padre. São sinônimos porém o emprego é diferente. Frei só se emprega junto ao nome próprio: frei Henrique de Coimbra, frei Caneca. E frade se usa isoladamente: fazer corar um frade de pedra, por exemplo.
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Ô perguntinha…
O considerado Luiz Carlos Medeiros faz proclamação urbi et orbi na esperança de que Bento XVI ajude a derrubar esse alambrado, ou melhor, esse verdadeiro Muro de Berlim de ignorância que separa a torcida do campo de futebol:
Companheiros, consultem a página 4 da edição de hoje (19/4) do jornal Lance. No Bate-bola com o jogador Josué, do São Paulo, o repórter faz a seguinte pergunta: ‘Jogar com o Mineiro pode ser mais melhor?’
Janistraquis já está engajadíssimo nessa cruzada, ó Medeiros, porém gostaria de saber o que respondeu nosso craque Josué…
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Enfumaçou
Deu na capa do UOL de segunda-feira, 18 de abril:
Conclave
Primeira votação termina sem escolha do papa
Fumaça preta anuncia que o novo papa não foi escolhido. Diante da capela Sistina, fiéis aplaudem fumaça.
Janistraquis, que não é chegado nesses assuntos vaticanos, porém está longe de ser burro, comentou:
‘Considerado, isso significa que os fiéis festejaram a dificuldade de se eleger o papa, né mesmo? Ainda bem que a indigência mental ainda não é pecado!…’
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Nota dez
Textinho arguto foi este do considerado Augusto Nunes em sua coluna do Jornal do Brasil. Experimentem o tira-gosto abaixo e confiram a íntegra no Blogstraquis.
Vozes d’África: o Retorno
Viajante compulsiva, a primeira-dama Marisa Letícia é também mulher sensata. Preferiu ficar no Brasil enquanto o marido voltava à África para visitar cinco países. Em todos mereceu ovações e elogios. Mas a passagem da comitiva pelo continente negro lembrou o desfile de um bloco carnavalesco mal ensaiado (…)
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Errei, sim!
‘RAONI OU STING? – Uma dúvida bastante procedente, esta de Janistraquis: ‘Considerado, se os reis da Espanha recebem o roqueiro Sting e o cacique Raoni, lá em Madri, o título da matéria deve ter o nome do índio ou o do inglês?’. Respondi que deve ter o nome do índio, pois não é todo dia que um rei recebe um cacique de verdade; já ingleses… Janistraquis mostrou então a página da Folha. Lia-se: Reis da Espanha recebem Sting. Na foto, em primeiro plano, o cacique Raoni fazia beicinho.’ (junho de 1989)’
LÍNGUA PORTUGUESA
‘O português dos livros didáticos’, copyright Jornal do Brasil, 25/04/05
‘‘Essa felicidade que supomos,/Árvore milagrosa, que sonhamos/Toda arreada de dourados pomos,/Existe, sim: mas nós não a alcançamos/Porque está sempre apenas onde a pomos/E nós nunca a pomos onde nós estamos.’ Assim o poeta Vicente de Carvalho concebeu a alegria de viver em célebre soneto, levantando a hipótese controversa de que, por ínvios caminhos, evitamos a nossa própria ventura.
‘Atravessaste no silêncio escuro/A vida presa a trágicos deveres/E chegaste ao saber de altos saberes/Tornando-te mais simples e mais puro.’ O poeta catarinense Cruz e Sousa, que, morando no Rio, não obteve convívio algum com Machado de Assis – tema e problema à espera de um bom pesquisador -, exalou esses comoventes versos, capazes de despertar a compaixão de qualquer pessoa com um pouco de sensibilidade para o sofrimento alheio. Parecem escritos entre sangue e lágrimas na solidão de alguma noite escura.
‘Quando Ismália enlouqueceu,/Pôs-se na torre a sonhar…/Viu uma lua no céu,/Viu outra lua no mar./No sonho em que se perdeu,/Banhou-se toda em luar…/Queria subir ao céu,/ Queria descer ao mar…’ Esses são de Alphonsus de Guimaraens e introduzem, com solerte delicadeza, o tema do suicídio, pois ‘no desvario seu’, Ismália, que ‘estava perto do céu’ e ‘longe do mar’, ‘como um anjo pendeu/as asas para voar’. O desfecho é digno do mais trágico dos contos: ‘as asas que Deus lhe deu/Ruflaram de par em par…/Sua alma subiu ao céu,/Seu corpo desceu ao mar…’ Sei esses versos de cor por motivos diferentes dos que levam a minha colega de Estácio, a doutora Dinah de Guimaraens, filha do igualmente talentoso Alphonsus de Guimaraens Filho, a sabê-los também.
‘Oh! que saudades que tenho/Da aurora da minha vida,/Da minha infância querida/Que os anos não trazem mais!’ Agora é o poeta Casimiro de Abreu, refletindo sobre a infância perdida, pois todos um dia perdem a infância, não adianta chorar! Mas é possível fazer bonitos versos sobre todas as perdas e especialmente sobre a maior delas, depois dos amores findos e da morte.
‘Pesa-me esta brilhante auréola de nume…/Enfara-me esta azul e desmedida umbela…/Por que não nasci eu um simples vaga-lume?’, exclama o Sol, depois de declarações inconformadas e invejosas do vaga-lume, da estrela e da lua. Os versos são de Machado de Assis.
‘Amo-te, ó rude e doloroso idioma/Em que da voz materna ouvi: ‘meu filho!’/E em que Camões chorou no exílio amargo,/O gênio sem ventura e o amor sem brilho!’ Olavo Bilac, com quem os modernistas foram tão birrentos, esculpiu esses versos sobre a língua portuguesa, até hoje frescos na memória de muitos.
Extraí esses fragmentos de antigos livros didáticos. Que contraste com os ditos babosos, destilados em rudes alambiques de autores metidos a escritores! Como a língua é de domínio público e foram facilitados processos de impressão, agora todo mundo é escritor. Mas nem todos são jogadores de futebol, músicos, artesãos ou motoristas.
Durante décadas alguns textos fundamentais de nossa literatura tinham presença obrigatória nos livros didáticos e nas antologias escolares. O estudante, chegando ou não à universidade, sabia de cor pequenos trechos de grandes autores.
Procurei outros tipos de livros didáticos, desses modernos, que fornecem modelos aos estudantes. Encontrei estes versos: ‘amanheci tão triste/Com vontade de chorar/Pensando em meu bem/Que está a esperar’. São do poema Rosemary, do grande autor brasileiro Edson Arantes do Nascimento, mais conhecido como Pelé, incluído em livro didático que teve o propósito de ensinar português. Assim é difícil ensinar e ainda mais difícil aprender.’
TEORIA DO JORNALISMO
‘Livro aborda conceitos e teorias do jornalismo’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 25/04/05
‘‘Não pode haver uma lacuna entre os jornalistas que se ocupam da produção e os que se encarregam da reflexão. A dicotomia é incoerente, não tem motivos para existir. Teoria e prática caminham juntas. O trabalho interligado é a única forma viável de discutir nossas questões profissionais. E o mais importante: quem ganha com isso é o público.’ Esse é um pequeno trecho do livro ‘Teoria do Jornalismo’, de Felipe Pena, que foi lançado dia 14/03, na Livraria da Travessa, em Ipanema, Rio de Janeiro.
O jornalista disse em entrevista ao Comunique-se que a idéia surgiu de uma dúvida: será que o público está satisfeito com o jornalismo contemporâneo? A partir daí, Pena pensou em formular uma sistematização das diversas teorias que procuram explicar por que as notícias são como são e quais os seus efeitos. Segundo o autor, na Europa e nos Estados Unidos há outros livros que também procuram fazer esta sistematização.
Pena explicou que resolveu escrever uma teoria do jornalismo pelos mesmos motivos que se fazem teorias nas mais diversas áreas, ou seja, para aprofundar o conhecimento sobre elas. ‘Por mais paradoxal que pareça, reduzir também é ampliar. Quando faço um recorte sobre um tema, meus métodos de análise promovem questões que podem servir para incentivar a criação de outros métodos, que vão produzir novas questões e assim por diante’, completou.
Além disso, segundo o autor, qualquer teoria não passa de um reducionismo. Está na sua natureza. ‘Se vou teorizar sobre determinado assunto, significa que quero enquadrá-lo sob um ponto de vista determinado. Mesmo que para isso utilize os mais diversos conceitos e as mais diversas metodologias. Ao final, meu trabalho acaba sendo reduzir os tais conceitos e as tais metodologias aos limites do próprio quadro teórico que proponho. Não adianta, é impossível escapar desta sina. Teorizar é uma tentativa desesperada de enquadrar interpretações críticas que, vistas sob qualquer outro ângulo, mostrariam-se muito mais complexas’, esclareceu.
Mas como teorizar, como enquadrar um assunto sob um ponto de vista determinado, como definir o que é e o que não é importante para teorizar? Pena afirmou que não definiu, simplesmente procurou sistematizar diversas teorias de diversos pensadores, além de registrar algumas reflexões próprias. ‘Minha proposta é fazer uma pequena e simples introdução, que conduza o leitor a leituras mais aprofundadas. Nada mais, nada menos. Não pretendo esgotar assuntos ou ter a palavra definitiva sobre nada. Tanto que, ao final de cada item, há indicações bibliográficas para recortes específicos das questões. Além disso, trata-se aqui de um primeiro volume sobre o tema. O segundo ainda está em fase de produção e seu foco são as editorias e as funções jornalísticas’.
A linguagem utilizada pelo jornalista para escrever este livro é um pouco diferente da dos livros anteriores. Para começar, ele escreve na primeira pessoa do singular, o que, segundo o próprio, não é comum em um livro considerado acadêmico. Geralmente as obras universitárias seguem um rigor estilístico que as torna muito pouco atraentes para o leitor. Ainda segundo o autor, isso inclui, além da fatídica utilização da primeira pessoa do plural e da narrativa hermética, uma infinidade de notas de rodapé e referências que desviam a leitura e interrompem o raciocínio. ‘No meu caso, como escrevo sobre teorias, cuja natureza é ser reducionista e complexa, a missão é muito difícil. Há também o receio de estar passando por cima de algum procedimento científico ou de não citar corretamente algum autor. Mesmo assim, vou correr o risco e tentar ser um pouco mais simples’.
Ainda sobre o fato de escrever em primeira pessoa, Pena utilizou muitas experiências pessoais e diz que todo livro é uma obra coletiva, pois dialoga com vários outros autores. Mesmo assim, escrever é e sempre será um ato solitário. Não há a companhia para a angústia da página em branco. Isso já é até um clichê para os escritores. ‘Sendo assim, não entendo por que os círculos acadêmicos gostam do sujeito ‘nós’ em suas escrituras, mesmo compreendendo conceitos como intertextualidade e obra aberta, por exemplo. A primeira pessoa do plural parece artificial, fabricada, e, principalmente, confusa. Neste livro, o sujeito ‘nós’ só aparece quando se referir à classe dos jornalistas ou ao público em geral’.
Ele acredita que a pertinência de qualquer pesquisa está nas perguntas, não nas respostas. Desde que o pesquisador tenha consciência do relativismo teórico e não se feche nos próprios hermetismos, a teorização pode ser muito útil. Nesse caso, Pena não fala só dos círculos acadêmicos. Aliás, de acordo com o jornalista, talvez sejam os profissionais de jornalismo os maiores beneficiários da reflexão crítica sobre sua atividade.
Quando perguntado sobre as maiores questões da teoria do jornalismo, Pena afirmou que, de forma sintética, a Teoria do Jornalismo ocupa-se de duas questões básicas. A primeira é ‘por que as notícias são como são?’ E a segunda: ‘quais são os efeitos que essas notícias geram?’ O jornalista explica que a primeira parte preocupa-se fundamentalmente com a produção jornalística, mas também envereda pelo estudo da circulação do produto, a notícia. Esta, por sua vez, é resultado da interação histórica e da combinação de uma série de vetores: pessoal, cultural, ideológico, social, tecnológico e midiático. Já os efeitos podem ser divididos em afetivos, cognitivos e comportamentais, incidindo sobre pessoas, sociedades, culturas e civilizações. Mas também acabam influenciando na própria produção da notícia, em um movimento retroativo de repercussão. Em suma, os diversos modelos de análise ocupam-se da produção e/ou da recepção da informação jornalística. ‘No livro, tento sistematizar as principais questões desses modelos. Mas também quero incluir outros assuntos que considero pertinentes, como, por exemplo, as próprias técnicas de narração da notícia e os aspectos semiológicos do discurso jornalístico’. Pena completa dizendo que sabe que os jornalistas detestam os academicismos e por conta disso deixa algumas perguntas muito pertinentes no ar: ‘Mas será que podemos prescindir de estudos críticos sobre a nossa profissão? Nosso saber é autônomo e somos auto-suficientes? Será que a imprensa tem tanta credibilidade assim para requerer autonomia?’ Estas perguntas estão no centro dos debates sobre a importância do campo jornalístico na sociedade contemporânea.
Felipe Pena explicou como está divido o livro, que segue uma ordem metodológica própria. Primeiro ele começa pelos conceitos e estórias do jornalismo, abordando temas como a invenção da imprensa, a notícia, a reportagem, as fontes e a ética. Em seguida, o assunto são as próprias teorias e críticas, organizadas segundo as interpretações de Pena sobre os autores que leu e também direcionadas a algumas novas abordagens, como, por exemplo, a teoria dos fractais biográficos, que foi o tema de sua tese de doutorado. Por último, Pena relaciona algumas tendências e alternativas que lhe parecem pertinentes para o bom exercício da profissão. Entre elas, a reportagem assistida por computador, segundo ao autor um instrumento tecnológico imprescindível para o jornalismo contemporâneo.
Em relação ao ensino do jornalismo, Pena acredita que é necessário procura superar a obsoleta dicotomia entre teoria e prática, o que acaba se reproduzindo em outra dicotomia: comunicação ou jornalismo?
Felipe Pena menciona o livro ‘História das Teorias da Comunicação’, onde os autores Armand e Michele Mattelart dão o tom sobre as dificuldades desta área de estudo: ‘A história das teorias da comunicação é a história das separações e das diversas tentativas de articular ou não os termos do que freqüentemente surgiu sob forma de dicotomias e oposições binárias, mais do que de níveis de análise’.
O autor acredita que algumas abordagens da teoria da comunicação devam ser estudadas nos cursos de graduação. Entretanto, um recorte específico nas teorias do jornalismo, conforme as sistematizações propostas por professores como Nelson Traquina, Jorge Pedro Souza, Michael Kunczik, José Marques de Melo e Nilson Lage (abordadas ao longo do livro), são imprescindíveis para a formação dos futuros profissionais. E essa é mais uma razão para escrever o livro, além, é claro, da conhecida carência de publicações sobre o tema. O que não acontece com as teorias da comunicação, cuja bibliografia é bastante ampla e conta com autores brilhantes como Muniz Sodré, Antonio Hohlfeldt, Daniel Bougnoux, entre outros.
O jornalista Felipe Pena é professor do Mestrado e do Doutorado em Comunicação da Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro. Na graduação, leciona as disciplinas telejornalismo, jornalismo político e teorias da informação e comunicação, além de coordenar projetos de pesquisa e extensão. É mestre e doutor em Literatura pela PUC-Rio. Foi Sub-Reitor da Universidade Estácio de Sá, onde também ocupou o cargo de diretor da Faculdade de Comunicação Social. Fundou e coordenou a pós-graduação em telejornalismo e jornalismo cultural na mesma universidade. Na Espanha, é professor visitante do Centro de estudos Brasileiros da Universidade de Salamanca. Na década de 90, foi repórter da Rede Manchete de Televisão e é autor de outros quatro livros na área de comunicação, entre eles ‘Televisão e Sociedade’, publicado pela editora Sette Letras em 2002, e ‘Teoria da Biografia sem fim’, publicado pela editora Mauad em 2004.
‘Teoria do Jornalismo’, de Felipe Pena, Editora Contexto, Preço sugerido pela editora: R$ 39,00, 240 páginas’
JORNALISMO CULTURAL
‘Tom, Mel, George e Bento’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 20/04/05
‘Bento que Bento é o papa, e noto com satisfação que a cobertura subiu alguns pontinhos em qualidade e objetividade, uma vez que o frisson emocional da agonia, morte e estouro de bilheteria de João Paulo II baixou. Para um olhar numa outra perspectiva, recomendo a matéria do Los Angeles Times sobre o impacto da escolha de Joseph Ratzinger pelo mundo afora, especialmente a América Latina (a matéria, significativamente, tem uma identificação como proveniente do Rio de Janeiro).
Agora, sou só eu que está vendo a criação de um estranho triângulo de fundamentalismo com Bento XVI numa ponta, Bush e a direita religiosa em outra e a militância islâmica na terceira? Lembro-me de uma frase em particular atribuída a Ratzinger (parafraseio aqui) a respeito da necessidade de ‘combater o relativismo’ do mundo ‘de hoje’ e afirmar ‘valores imutáveis e permanentes’. Bush, algum de seus neocons ou algum clérico xiita diriam a mesma coisa, em outras palavras. O que seria isso? Mal de siècle? Ansiedade diante de uma realidade completamente em fluxo, onde as mudanças – que são perpétuas e impossíveis de serem detidas, e começaram no Big Bang – são rápidas o bastante para criar essa angustiante ilusão de desmoronamento, dissolução, ‘excesso de relativismo’.
Nota a pauteiros das seções de tendências: observar o diálogo entre o endurecimento das super-estruturas e a cada vez maior flexibilidade das unidades autônomas – indivíduos e comunidades formais e informais. E todas as ramificações disso em comportamento, cultura, sociedade.
Consta que Mel Gibson filmou as solenidades fúnebres de João Paulo II, a multidão na Praça de São Pedro, etc. Não me espantaria nem um pouquinho se ele estivesse seriamente pensando em fazer o papel de Karol Wojtila numa cinebio do falecido papa, que, obviamente, também seria produzida, escrita e dirigida por ele mesmo. Mel adora sofrer diante das câmeras, e está passando por uma fase aguda de obsessão religiosa. Talvez tenha a ver com o que disse acima, o que seria interessante de ver ocorrendo num indivíduo com uma grossa camada de proteção ao seu redor – seus zilhões, seu status, seu poder dentro da indústria.
Ele não está sozinho. Num outro ponto do espectro das crenças, Tom Cruise praticamente obrigou todos os executivos envolvidos na distribuição e marketing de seu novo filme, Guerra dos Mundos (que tem direção de Steven Spielberg) a passar um dia nos três principais estabelecimentos da Igreja da Cientologia em Los Angeles. Andrew Cripps, presidente da distribuidora internacional do filme, a UIP, garantiu que a visita foi inteiramente voluntária e muito útil, porque ‘há muito interesse da mídia e do público quanto às crenças e práticas do Sr. Cruise, coisa que não compreendíamos muito bem’. Você e a torcida do Flamengo, Mr. Cripps, mas seus executivos andaram resmungando atrás das suas costas que aquilo era ‘uma imposição desnecessária’.
Como seu colega Mel, Tom está atravessando para o território pantanoso das celebridades que usam seu poder público para seu proselitismo privado – ele mantinha uma ‘Tenda da Cientologia’ no set de Guerra, e, ano passado, trocou sua veterana divulgadora por uma porta-voz da Igreja.
Existe muita coisa que pode ser comentada, analisada e dissecada nessa tendência. Eu só começo dizendo que acho de extremo mau-gosto.’