Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Moacir Japiassu

‘Embora o assunto esteja a feder mais que carcaça de gambá ao sol e atenda apenas ao paladar dos urubus, a coluna não poderia ignorar esta obra-prima do dislate nacional que é a natimorta cartilha do ‘Politicamente Correto’, obrada pelos anencefálicos da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos.

Dá até a impressão de que o ministro Nilmário Miranda e seu pau-mandado Perly Cipriano atribuíram um novo disfarce à estupidez, porém lhes falta, com certeza, talento capaz de fantasiar essa tão antiga perversidade do espírito. É salutar, todavia, que a Nação castigue suas criativas garupas, porque, embora este seja um país de m…, constitui crime hediondo tentar a cassação de nossas mínimas esperanças.

A propósito de tão pegajoso tema, o colunista convida o considerado leitor a visitar o Blogstraquis; ali estão reunidos um excelente texto do mestre Deonísio da Silva, originalmente publicado no Jornal do Brasil; uma pequena amostragem da inesquecível idéia que saiu do bestunto da parelha acima citada; e um artigo de nossa humilde porém indignada lavra, intitulado Estupidamente Corretos, publicado na revista eletrônica Argumento e reproduzido no Observatório da Imprensa.

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Zebra

Depois de acompanhar, em respeitoso e solidário silêncio, a derrota do Corinthians em Santa Catarina, Janistraquis foi tomar um chazinho de hortelã e comentou lá da cozinha, como se pensasse em voz alta:

‘A desgraça é que o Timão se chegou de Passarela e o Figueirense contra-atacou de Passaralho…’

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Parlamentarismo

O considerado Júlio Caldas Alves de Brito, que de tanto se amarrar na monarquia foi morar em Petrópolis, refresco de verão da família imperial brasileira (não é referência a Lula, porém a D. Pedro II), aponta um ‘erro histórico’ de O Globo de domingo, 1o de maio.

À página 44 do jornal, Brito encontrou estas relevantes informações no artigo intitulado O Parlamentarismo Britânico:

O Reino Unido é regido desde 1689 pelo sistema de monarquia constitucional, em que o soberano exerce o papel de chefe de Estado, mas as decisões são tomadas pelo Parlamento, liderado pelo primeiro-ministro.

Aí, o leitor aproveitou para ensinar ao redator e a todos nós, razoavelmente analfabetos nessas questões:

Ora, a Inglaterra não adotou o modelo atual de Parlamentarismo em 1689, mas 40 anos antes, em 19/05/1649, quando Oliver Cromwell, Lord Protetor da Inglaterra, fundou a Commonwealth, agrupando os países que faziam parte do Reino Unido e suas colônias mundo afora.

Janistraquis concorda com você, Alves de Brito: como a matéria iria sair na edição do Dia do Trabalho, o redator deveria ter-se dado ao trabalho de fazer a pesquisa!

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Globo Rural

Nesses 40 anos da Rede Globo, Janistraquis e eu enviamos aqui do meio do mato um jacá de amplectivos cumprimentos a Humberto Pereira & equipe, que desde 6 de janeiro de 1980 fazem o melhor programa da televisão brasileira, entre todas as grades de programação disponíveis: Globo Rural.

E não é porque vivemos na vizinhança das pastagens, ao lado de sabiás e beija-flores, que nos interessamos por ele; todos os domingos, às oito da manhã, assiste-se ao competente desfile do que o Brasil tem de melhor e mais bonito, muito além dos ufanistas e trôpegos discursos oficiais.

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Tempos do JT

O considerado Mário Schwarz, cuja mensagem transporta o colunista aos velhos tempos do Jornal da Tarde de SP, na década de 70, extraiu do seu arquivo recente esta notícia escanteada pelo editorultimosegundo@ig.com.br:

Parma e CSKA se enfrentaram pelo jogo de ida das semifinais da Copa da Uefa, nesta quinta-feira (28), em Parma.

A partida terminou empatada e o CSKA terá a torcida a favor no jogo de volta. A disputa entre Sporting e Alkmaar foi mais dinâmica, com cinco cartões amarelos distribuídos ao longo da partida. O Sporting, que tinha o mando do jogo, venceu de virada com gols de Douala e Pinilla contra um de Lanzaat.

Os jogos de volta das semifinais serão realizados no dia 5 de maio e a final da Copa da Uefa está marcada para o dia 18 de maio.

A leitura levou Mário a exumar alguns episódios da nossa vibrante editoria de esportes:

Veja só que maravilha de redator! Conseguiu o impossível: comentar dois jogos da Copa da UEFA sem dizer o resultado. Parece que estou vendo aquela expressão engraçadísima com que você nos brindava, quando se debruçava sobre um texto do completamente pasmo Chico Pé na Cova.

Dá saudade, hein, amigo velho? Aquele Chico Pé na Cova era bom repórter, porém meio distraído…

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De rebanhos

O considerado José Inácio Werneck, festejado autor do romance Sabor de Mar (Ed. Revan) e ilustrado comentarista da ESPN Internacional, mora nos EUA mas nunca se afastou da imprensa brasileira, tanto que escreve coluna semanal na Gazeta Esportiva. Também lê os principais jornais daqui e foi no Estadão que encontrou esta pérola da escrevinhação jornalística:

O rebanho católico quer um timoneiro de mão firme no comando do barco de Pedro.

Zé Inácio, cultor do idioma mais castiço, não gostou:

‘Não lhe parece que as metáforas do ilustre órgão estão um pouco torturadas?’

Janistraquis concorda, ó Zé Inácio, e acha que se o texto fala de rebanho, timoneiro e barco, seria mais apropriado deixar Pedro pra lá e partir logo pra arca de Noé…

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Pelo rabo

O portal UOL transcreveu do The New York Times:

Mísseis da Coréia do Norte podem atingir EUA

(A conclusão é de agência de inteligência militar norte-americana)

Janistraquis, que até hoje lamenta o triste fim da União Soviética, gostou de sentir o tamanho da ameaça:

‘Considerado, os americanos precisam ter sempre um foguete apontado para o rabo; somente assim sossegam o facho e deixam o resto do mundo viver em paz.’

Tá certo; afinal, o equilíbrio entre as nações depende, em grande parte, do medo que uma tem da outra, né verdade?

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Coisas de mãe

Campanha da rádio Transamérica de São Paulo pergunta e os ouvintes devem responder:

Por que sua mãe merece ir pra Punta?

Janistraquis demonstrou justíssima apreensão:

‘Considerado, se ligarem pra mim o que devo responder? Ocorre-me exclamar ‘sua mãe é que merece!!!’. O que você acha?’

Respondi que não acho nada, pois sempre recordo aquela sábia advertência dos tempos de menino: ‘Não mete minha mãe no meio, senão eu meto no meio da tua!…’

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Liberdade

Diretor de nossa sucursal no Planalto, cujo banheiro tem uma janela aberta para a criatividade do país, o considerado Roldão Simas Filho preferiu dirigir sua atenção ao baú de equívocos históricos do nosso jornalismo. Dali retirou a edição de 28/4 da Tribuna da Imprensa, releu o que devia ser relido e escreveu ao dono do jornal:

Prezado senhor Hélio Fernandes:

O senhor diz que a estátua da Liberdade é doação da Inglaterra aos EUA. Na verdade, trata-se de um presente francês. A idéia nasceu entre os opositores de Napoleão III. O escultor foi Frédéric-Auguste Bartholdi, que também escolheu o local onde a obra foi erguida.

A estátua, inaugurada em 28 de outubro de 1886, custou cem mil dólares aos cofres franceses. O rosto de mulher escolhido é um mistério. Há quem diga que teria sido o de uma camponesa egípcia, pois o escultor planejava estátua semelhante para a entrada do canal de Suez, obra frustrada pelo governante do país, o Pachá Ismail.

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Nota dez

Texto equilibrado e sereno foi o que Gilson Caroni Filho, professor-titular de Sociologia da Facha (Faculdades Integradas Hélio Alonso, do Rio de Janeiro), escreveu para o Jornal do Brasil. Por favor, leiam o proêmio e confiram a íntegra no Blogstraquis.

O transformismo venceu

Quando o Estado recua quem avança não é a sociedade, mas o mercado. E foi pra ele que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou na sua primeira entrevista coletiva, dois anos após ter assumido o governo. Com os habituais recursos metafóricos, o mandatário ‘que dorme o sono dos justos’ reiterou o que já está por demais evidente: o atual bloco de poder não tem qualquer projeto político para um país devastado socialmente (…)

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Errei, sim!

‘HORÁRIO DE VERÃO – Meu secretário considerou ‘criminoso’ o texto da Gazeta de Santo Amaro, de São Paulo, sob o título Horário de verão começa amanhã: ‘Atrase seu relógio em uma hora e descanse mais’. Janistraquis vociferou: ‘Considerado, ainda bem que o day after era domingo…’’



LÍNGUA PORTUGUESA
Deonísio da Silva

‘Modos de dizer’, copyright Jornal do Brasil, 9/05/05

‘As moças proclamavam com inocência: ‘nós somos as cantoras do rádio/ levamos a vida a cantar,/ de noite embalamos teu sono,/ de manhã nós vamos te acordar’.

Naquele tempo, a boca da noite e a aurora chegavam acompanhadas de novas auroras: Aurora Miranda, que cantava em dupla com a irmã famosa, Carmen Miranda, e aquela outra, celebrada por Casimiro de Abreu no século anterior: ‘ai que saudades que eu tenho/ da aurora da minha vida,/ da minha infância querida,/ que os anos não trazem mais’.

O rádio irrompera na década de 1920 e padronizava usos e costumes, bem antes da televisão, que depois os globalizaria. Vivíamos os anos 30, que desarrumariam a vida nacional com três revoluções, seguidas de um golpe de Estado e de uma guerra mundial!

É verdade que, mais uma vez – no princípio era o verbo, no meio e no fim também será – as palavras temperavam os modos de dizer: o movimento liderado por Getúlio Vargas foi denominado Revolução de 30; o dos paulistas, Revolução Constitucionalista de 32; o de 1937 recebeu o nome de golpe. Já o de 1935, dos comunistas, foi rebaixado a Intentona, palavra de origem espanhola, até então quase desconhecida dos brasileiros.

Intentona tem, nos dicionários, o significado de coisa insensata; golpe e revolução, não. Todos esses movimentos foram revoluções, pois apregoavam mudanças profundas. A raiz de revolução e palavras conexas é o latim ‘revolutione’, (pronuncia-se ‘revolucione’), declinação de ‘revolutio’, passagem de um estado a outro, tendo também o significado de voltar, rodar.

Se as cantoras do rádio, durante décadas, disseminaram sensualidades difusas, as cantoras da televisão, meio que alcança a hegemonia na década de 1970, escancararam outros significados, abrindo a boca e os braços na telinha, fazendo do corpo um outro modo de dizer o que estavam cantando.

As novas musas, cantando e dançando, passaram a apregoar o desejo na televisão, sem nenhum eufemismo, de que são exemplos esses versos de Rita Lee: ‘me aqueça,/ me vira de ponta cabeça,/ me faz de gato e sapato/ me deixa de quatro no ato,/ me enche de amor, de amor’.

Na norma culta da língua portuguesa, se é ‘aqueça’, então deveria ser ‘vire’, ‘faça’, ‘deixe’, ‘encha’. É que ‘você’ é forma de tratamento de terceira pessoa, mas funciona como se fosse de segunda.

Rita Lee alcançou a beleza da rima pretendida: ‘aqueça’ com ‘cabeça’. A norma gramatical, como em tantas outras vezes, cedeu à poesia.

E novos modos de dizer ganharam a fala das ruas por influência, primeiramente do rádio, e depois da televisão, que hoje tem hegemonia nesse processo.’



MÍDIA REGIONAL
Abraji

‘Vereadores vetam divulgação de contas da Câmara em Nova Andradina (MS)’, copyright Abraji (abraji.org.br), 26/04/05

‘A Câmara de vereadores de Nova Andradina (Mato Grosso do Sul) sancionou em 20 de abril uma lei que proíbe a divulgação de qualquer documento da Casa, de recibos a contratos, fora do endereço na internet da própria Câmara – que ainda não existe. A regra também afeta a imprensa, que só terá acesso a documentos mediante o aceitamento pela Câmara de requerimentos formais encaminhados pelos jornalistas.

A lei, já em vigor e publicada no Diário Oficial do Município, foi proposta depois que o vereador Tito José (PSDB) informou que pretendia publicar em seu website todas as contas da Câmara.

Segundo um porta-voz da Câmara, a medida foi proposta para ‘evitar a promoção pessoal de vereadores através de documentos públicos’. Segundo esse assessor, a lei ‘não fere o direito de acesso a informações públicas’, pois os interessados em obter acesso a documentos podem ‘solicitar formalmente materiais na secretaria da Casa’. Está prevista para o final de abril a criação do website da Câmara de Nova Andradina, onde o assessor afirma que serão divulgadas as contas do município.

A lei é questionada pelo Ministério Público da cidade. O procurador Plínio Alessi Jr. vai enviar à Procuradoria Geral do Estado um parecer contra a medida. ‘A lei fere a constituição federal e a estadual. Vamos primeiro atuar junto ao Estado do Mato Grosso do Sul para tentar revogar essa medida’, afirma.

Entre os documentos requeridos pelo vereador Tito está o contrato de repasse de verbas da Prefeitura para a Câmara. ‘Quero divulgar essas informações que são de direito do cidadão. Se o site da Casa entrar no ar, então deixo de publicar no meu endereço, que é mantido pelo meu bolso’, assegura.

Ações recomendadas

Escrever ao Ministério Público de Nova Andradina solicitando agilidade no andamento da ação direta de inconstitucionalidade que seguirá para a Procuradoria Geral do Estado.

Fax – (67) 441-1840

Escrever para a Prefeitura de Nova Andradina alertando para a inconstitucionalidade da lei.

FAX: (67)441-1380

E-mail: http://www.novaandradina.ms.gov.br/portal/fale.asp

Telefonar e enviar fax para o presidente da Câmara Municipal de Nova Andradina, alertando-o sobre a inconstitucionalidade da lei.

Escrever à Procuradoria Geral do Estado de Mato Grosso do Sul solicitando agilidade no andamento da ação direta de inconstitucionalidade a respeito do caso, assim que ela for recebida.’