‘Deu na coluna do considerado Ancelmo Gois:
Caixa baixa
O Viva Rio demitiu 21 funcionários. A ONG, que faz tão bem à cidade, vive crise financeira.
Sinceramente condoído, Janistraquis enviou mensagem de solidariedade ao presidente da ONG, Rubem César Fernandes, da qual pincei este fragmento:
‘…E se eu tivesse um trezoitão, mesmo a cair aos pedaços, esteja certo de que o venderia à Campanha Pelo Desarmamento e enviaria o dinheiro a Vossa Senhoria.’
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Safadeza
Se o considerado leitor não leu em Veja a matéria sobre aquela sesquipedal sem-vergonhice e deslavada corrupção nos Correios, dê uma olhadinha no texto principal, postado no Blogstraquis. A transcrição não está autorizada pela direção da revista mas, como se trata de assunto de interesse público, metemos a mão no trabalho alheio…
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Envenenou
A considerada Thais de Menezes dava uma olhadinha rigorosamente profissional no Globo Online quando deparou com esta obra-prima:
Prima de Franca tem guarda de sobrevivente de envenenamento
EPTV
SÃO PAULO – O juiz da Vara da Infância e da Juventude, Richard Pae Kim, determinou nova guarda temporária para a adolescente M. M. C., única sobrevivente da família morta por envenenamento por arsênico no início do ano, em Campinas, interior do estado. A garota já está com uma prima que mora na cidade de Franca, na região de Ribeirão Preto, para onde viajou nesta segunda-feira.
(…) a adolescente é apontada pela polícia como suspeita pelas mortes. A guarda da prima tem caráter temporário, mas por tempo indeterminado.
Thais gostaria de saber como alguma coisa tem caráter temporário, mas por tempo indeterminado; é a mesma dúvida do colunista, porém Janistraquis, que gosta de exibir algumas noções de Direito, interpôs o seguinte palpite:
‘Data venia, temos aqui um verdadeiro requinte do espicilégio doutrinário das execuções criminais, ou seja, pode-se até condenar alguém à prisão perpétua com um simples jogo de palavras. Exemplo: o juiz determina que um elemento vai em cana temporariamente, mas por tempo indeterminado, como a adolescente da notícia acima. Se a decisão for, digamos, bem interpretada, o cara pode nunca mais sair da cadeia…’
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Mulheres, cheguei!
Lançado na Bienal do Rio pela Editora Francis, ex-W11, já está nas livrarias o livro da jornalista e escritora Marcia Lobo, Uma História Universal da Fêmea – Grandeza e Submissão Sexual da Mulher ao Longo dos Séculos.
A coluna recomenda a leitura do livro desta colaboradora de Nova e Claudia, por pelo menos dois motivos fundamentais: Marcia conhece profundamente as questões ligadas ao mulherio e é casada com o colunista há 36 anos. Vocês hão de concordar que é tempo pra lá de razoável para se conhecer muito bem as qualidades de uma excelente profissional.
Confira estilo e conteúdo na amostra grátis que Marcia reservou para os visitantes do seu blog Meus Saaais!!!
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Bilaterais
O considerado Porfírio Castro, vice-diretor de nossa sucursal no Planalto, cuja assiduidade é comprometida pela necessidade de acompanhar o presidente Lula em suas viagens, pois Castro volta à lide ao nos enviar uma pérola cultivada na primeira página do Correio Braziliense.
Brasil desdenha de choro argentino, dizia o título, acompanhado destas mal-traçadas:
Inconformado com a ascensão brasileira no cenário mundial, o presidente Néstor Kirchner reuniu assessores e propôs o endurecimento nas relação bilaterais entre os dois países. ‘Há um lugar na OMC, o Brasil quer; há um lugar na ONU, o Brasil quer; há um lugar na FAO, o Brasil quer. Quiseram até eleger o papa!’, desabafou Kirchner, segundo o jornal portenho El Clarín.
Porfírio desdenhou:
Ora, relações bilaterais entre os dois países… Se são bilaterais, só podem ser entre dois, não é mesmo?!?!.
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Raiz quadrada
A considerada Núbia Tavares entrou na página do Lance para acompanhar o jogo entre Palmeiras e São Paulo. Eis a chamada:
Acompanhe ao vivo o jogo entre Verdão e Peixe.
Como Verdão é o Palmeiras e Peixe é o Santos, o Palestra, que também é Palmeiras, estava a jogar contra quem?!?!?!
Núbia abdicou de comentar a esquisitice, porém Janistraquis, que é mais esperto do que Severino Cavalcânti, pontificou:
‘Acontece que esta é a forma mais barata de uma publicação avaliar seu índice de leitura; publica-se um erro espetacular e aguarda-se a enxurrada de reclamações. Depois, o pessoal do marketing soma as queixas, multiplica-as pelo número de assinantes, faz a divisão pelos exemplares vendidos em bancas, aplica em cima a raiz quadrada do encalhe e pronto…’
(O considerado leitor deve levar em conta que Núbia se referiu à versão online do Lance e, portanto, as contas do parágrafo acima devem ser feitas de trás pra diante, acrescidas do valor de pi que é, como todos sabem, 3,1416.)
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Oxigênio
O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no DF, de cujo quartinho de despejo é possível ver o pessoal tentando barrar a CPI dos Correios, Roldão relia um exemplar do Correio Braziliense quando se invocou com a seguinte notícia:
Gás tóxico em escola – Depois de inalarem uma substância desconhecida, 44 alunos do Centro de Ensino 7, em Taguatinga, passam mal e são hospitalizados. Ainda não foi descoberto quem espalhou o produto.
Mais adiante:
‘Para garantir a total descontaminação do ar, os bombeiros usaram um exaustor, que retirou o oxigênio (sic) dos três locais mais afetados. Depois desse processo, o acesso a todos os blocos foi liberado.
Mestre Roldão, que é químico aposentado, escreveu à direção do jornal:
O ar é uma mistura de 79% de nitrogênio, que é um gás inerte, e 21 % de oxigênio. Os bombeiros fizeram a exaustão total do ar contaminado. Não retiraram o oxigênio, que é um gás vital e não tóxico. Aliás, a separação dos componentes do ar, o oxigênio do nitrogênio, exige um processamento industrial elaborado.
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Pavoroso!!!
O considerado Octavio Casechi Ruendas envia artigo do sempre bem informado Daniel Castro, da Folha de S. Paulo, no qual está escrito, com todas as letras e debaixo do título Canal de sexo atrai casado com filho adulto:
O assinante do Sexy Hot, canal que exibe filmes de sexo explícito, é homem (74%), casado (76%), tem curso superior ou pós-graduação (63%), vive bem (57% são da classe A, e 31%, da B) e já passou dos 31 anos de idade (76%).
(…) Outros dados surpreendentes da pesquisa: 54% dos casados são casados há mais de dez anos; 70% dos assinantes têm filhos, e, desses, 57% possuem filhos com mais de 18 anos.
Ruendas, que de vez em quando se aventura por esses descaminhos madrugada afora, comentou:
Caramba, considerado! Vou abandonar o vício. É que meu primogênito está pra fazer 18 anos e eu não pretendo comprometer o futuro dele… nem o meu!!!
É, não se pode confiar cegamente no verbo possuir.
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Plantonistas
O considerado Camilo Viana, diretor de nossa sucursal em Belo Horizonte e torcedor do Cruzeiro desde quando este se chamava Palestra Itália, como o Palmeiras, encontrou no Globo Online:
Cruzeiro, Atlético-MG e Figueirense vencem na Copa do Brasil.
Então, espantadíssimo, tropeçou neste titulinho homiziado logo abaixo:
O Atlético penou para empatar com o Ceará.
Camilo pensou que tivesse cochilado diante do computador, pois o Galo, que vencera o jogo no titulão, acabara empatando linhas adiante. Decepcionado, comentou com os botões do pijama:
Plantonista que se preza não pode mesmo dormir logo depois das dez da noite…
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Nota dez
O texto mais preocupante da semana foi publicado pela Folha de S. Paulo e saiu da pena sempre brilhante deste profissional honesto e capaz que é o considerado Clóvis Rossi. Aprecie o excerto abaixo e confira a íntegra no Blogstraquis.
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De herdeiro a cúmplice
SÃO PAULO – Digamos que a revista ‘Veja’ houvesse flagrado em cenas explícitas de alta corrupção um alto funcionário dos Correios, em nome da alta cúpula do PTB, durante o governo anterior. O que diria você, petista roxo, mas ainda honesto nas suas convicções? Baita escândalo, não é? Mas perfeitamente possível e até previsível. (…)
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Errei, sim!
‘ISSO É NOTÍCIA? – Titulão de três colunas na primeira página do Estadão: Bacilo da cólera é achado no Aeroporto de Cumbica. Abaixo, lia-se: ‘(…) Trata-se, porém, de um tipo praticamente incapaz de causar danos sérios’.
Janistraquis leu, releu e comentou, com tristeza na voz: ‘Considerado, tenho a impressão de que, se o maldito vírus era ‘praticamente incapaz de causar danos sérios’, a notícia não merecia três colunas na primeira página!’ Fui obrigado a concordar.’ (agosto de 1991)’
CRÍTICA LITERÁRIA
‘A crítica e o tempo’, copyright Folha de S. Paulo, 23/05/2005
‘Meses atrás , Marcelo Rubens Paiva comentou, um pouco hiperbolicamente, que, escrevendo sobre ‘Bala na Agulha’, eu fora o único resenhista a descobrir determinado lapso no seu ‘thriller’. Não se tratava de nada grave. Um cadáver, numa das tramas secundárias, aparecia degolado e, mais adiante, comentava-se que o defunto havia sido torturado com agulhas de injeção na gengiva. Como, todavia, ninguém lhe achara a cabeça, não se entendia de onde surgira a informação.
Era quase seguramente um caso de falha de continuidade. A cabeça ausente, quem sabe, reaparecia numa versão anterior à publicada, mas, ao eliminar esse possível incidente elucidativo, o autor não acomodara a tal alteração todos os detalhes relevantes.
Coisas similares acontecem em diversos romances, em filmes etc. Obras complexas que são, cuja elaboração leva tempo, se perde aqui e ali a concordância de alguma minúcia com outras. Por exemplo, ao reler, para adicionar-lhe notas de rodapé, as provas da nova edição de ‘Os Meninos da Rua Paulo’, de Ferenc Molnár (traduzido do húngaro por Paulo Rónai e publicado agora pela Cosac Naify), percebi que, não obstante a trama se desenrolar em meados da década de 1880, um personagem mencionava anacronicamente a guerra russo-japonesa de 1904, contemporânea não da ação, mas da redação do livro.
Mesmo um gênio como Franz Kafka cometia lá seus deslizes. Ele compôs um breve conto no qual fala do silêncio das sereias. Estas, que na ‘Odisséia’ atraíam cantando os navegantes rumo aos recifes de sua ilha, teriam se calado para Ulisses, que nem sequer tomou conhecimento do fato, pois, além de amarrado ao mastro do navio, tapara, a fim de resistir à cantoria das moças do mar (‘mermaids’), seus ouvidos com cera. Ora, o que Homero conta é que Ulisses tapara os ouvidos dos remadores, não os próprios, para que aqueles não cedessem às sereias. O herói, por seu turno, se deixara imobilizar com o intuito de ouvi-las sem correr o perigo de se dirigir à fonte melodiosa de sedução. Se Kafka era alguém capaz de introduzir propositadamente um erro assim em sua versão da história, é provável que este não passe mesmo de um acidente. E só uma sessão espírita com ele permitiria desfazer a dúvida.
Uma vez que não existem obras nem autores perfeitos, apenas escritores e livros melhores ou piores, tampouco são ocorrências semelhantes que determinam o modo como os avaliamos -desde, é claro, que sejam, no conjunto, raras e desimportantes. Julgam-se obras de ficção por meio de critérios mais intricados, complexos, abrangentes. Assim, quando, no filme ‘Central do Brasil’, Dora (Fernanda Montenegro), uma velhinha inescrupulosa a ponto de vender para ‘desmanche’ um garoto cuja mãe nem sequer esfriara na cova, muda súbito de idéia e resolve praticamente adotá-lo, conclui-se que estamos diante de um personagem central inconvincente, ou seja, de um grave defeito estrutural.
Quem, no entanto, determina quais deficiências comprometem uma obra, quais são meramente superficiais? O bom senso, sem dúvida, ajuda. Há narrativas que, malgrado carecerem de uma trama decente ou de coerência interna, foram tão bem escritas que lê-las dá prazer, e sobram muitas que, apesar de um linguajar insosso ou até ruim, conseguem, devido a um enredo interessante, envolver leitores exigentes. Cada caso é um caso, as combinações são infinitas, e o que conta, afinal, é o resultado. Não que faltem teorias elaboradas que acenam com a miragem de uma avaliação inequívoca dos produtos culturais. Sucede, porém, que elas raramente funcionam e o juízo estético (jamais definitivo) decorre antes de circunstâncias empíricas.
Constatá-lo equivale não somente a tratar os construtores de edifícios conceituais menos como guias infalíveis do que como conselheiros ocasionais mas também a desiludir os praticantes que acreditem possuir ou desejem adquirir a chave-mestra de todas as fechaduras. Não que isso reduza obrigatoriamente qualquer juízo de valor à mera opinião subjetiva, porque esse se compõe, em doses cambiantes, de elementos subjetivos, intersubjetivos e objetivos.
Entre os últimos se encontram, digamos, o sentido corriqueiro das palavras e as regras gramaticais. Ilustram os primeiros pessoas que não gostam de tal ou qual gênero, deste ou daquele assunto. Quanto aos intersubjetivos, são os que um grupo de indivíduos acata, em certo momento e lugar, como consensuais. Cada categoria, que não está cercada por um muro intransponível, convive com as demais em extensas zonas cinzentas. A tarefa inicial dos candidatos a críticos consiste em não as confundirem. Daí que uma das marcas registradas da crítica incapaz do discernimento que a legitimaria seja a insistência estridente na objetividade de pontos de vista pessoais, com o excesso de decibéis ou a profusão de adjetivos substituindo a argumentação fria e o raciocínio persuasivo.
Eis aqui uma regra útil: quanto mais uma resenha transborde de certezas, quanto mais um ensaio se valha de expressões ‘fortes’, ‘duras’, taxativas, tanto melhor é percorrê-los com distanciamento, cautela e generosas pitadas de sal. Se existe uma virtude ou deficiência objetiva na obra ou autor analisado, cabe ao crítico mostrá-las e demonstrá-las. O restante se situa na ‘twilight zone’, onde a excentricidade pessoal se mistura com/ou procura se converter em consenso. Caso domine os recursos retóricos, um crítico que se empenhe está apto a fazer prevalecer suas opiniões. O que não implica que ele tenha razão e que elas passem pelo mais rigoroso dos testes: o do tempo.’
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‘Campanha testa eficácia do ‘Estado’’, copyright O Estado de S. Paulo, 22/05/2005
‘O telefone do psicólogo de animais Alexandre Rossi não pára de tocar desde o dia 10 abril, quando foi veiculado no jornal O Estado de S. Paulo o primeiro de uma série de anúncios com fotos de animais em que ele oferecia serviços de adestramento e consultoria. O número de ligações mais do que triplicou, conta Rossi, que recebeu convites para palestras e entrevistas. A marca Cão Cidadão tornou-se referência em psicologia animal e adestramento.
Depois de alguns dias, segundo ele, as ligações para o consultório passaram de 110 para 376 por semana. Esses anúncios foram publicados até o dia 1.º de maio e eram a ponta visível de um projeto da agência de publicidade QG, com o objetivo de testar a eficácia dos anúncios veiculados no Estado, com a supervisão da auditoria BDO Trevisan.
Mais que conseguir novos clientes, Rossi virou celebridade e ganhou até um sócio-investidor. O empresário Sérgio Zimmerman, do Pet Center Marginal, em São Paulo, está espalhando por diversas cidades a grife Bicho sem Grilo, em cujas lojas passa oferecer os serviços da Cão Cidadão.
Rossi ainda teve de reforçar o atendimento telefônico do consultório, por causa do aumento das ligações, e diz que passou também a atender casos curiosos. ‘Eram pessoas com os mais diversos problemas com animais. Um exemplo: uma mulher que teve bebê e passou a ser ignorada pela sua cacatua. A ave obedecia só ao marido e rasgava as coisas da mulher quando ficava solta.’
Um outro dono de animal ligou porque o jabuti que mantinha em casa começou a morder a cauda do pit bull com o qual saía todos os dias para passear. ‘Puro ciúme, mas tem cura’, diz Rossi – ele leva a sério essas histórias reais.
Para o diretor de Mercado Anunciante do Estado, Marcos Nogueira de Sá, com essa campanha, o jornal lança no mercado discussão sobre a relevância do uso do meio jornal na construção de marcas. ‘Os resultados da campanha são surpreendentes, em meio a um cenário que aponta o acirramento da competição entre os meios de comunicação.’
Para Nogueira de Sá, os resultados são um reflexo da credibilidade da marca O Estado de S. Paulo, que permite aos anunciantes oferecer produtos e serviços a um público formador de opinião extremamente qualificado. ‘Escolhemos um case improvável, neste caso um serviço diferenciado, como o do psicólogo de animais, que gera certo ceticismo, e mostramos que, se o Estadão funcionou para esse anunciante, também pode fazer muito pela sua empresa’, explica Sérgio Lopes, vice-presidente de criação da QG.
Rossi, que não podia revelar que a campanha fazia parte de um projeto sobre a eficácia da publicidade no jornal, já pensa até em anunciar mais.’
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‘Agências abrem os olhos para a importância do negro no Brasil’, copyright O Estado de S. Paulo, 23/05/2005
‘Os olhos fechados começam a abrir, vagarosamente, e a enxergar tudo. De olhos bem abertos, o consumidor negro mostra a sua força, na sociedade e na economia. A peça publicitária que a agência J. Walter Thompson acaba de criar para a Revista Raça Brasil remete a uma situação real e muito atual na vida das grandes empresas e da sociedade: essa parcela que responde por mais da metade da população brasileira, muitas vezes ignorada, se impõe.
A Unilever, há quase cinco anos, lançou uma linha de produtos étnicos da marca Seda, com campanha criada pela mesma J.Walter Thompson que mostrava pessoas reais, negras, usando os produtos e falando de beleza e vaidade. Alvaro Novaes, que então comandava a agência, lembra que deu várias entrevistas sobre essa mudança de foco, em que o negro assumia o papel de protagonista, embora em muitas outras, ainda hoje veiculadas, ele continue como coadjuvante. Exemplo: aquelas em que é pano de fundo para imagem do País, jogando bola ou capoeira, enquanto outros passeiam de carro ou aparecem em situação de consumo de luxo.
Só que essa situação está mudando e rapidamente, segundo o presidente da agência DM9DDB, Sergio Valente. ‘Quanto menos a propaganda estiver se preocupando com a presença do negro nos comerciais, mais estaremos sinalizando que isso ficou natural, normal, constante. Tomara que chegue logo o dia em que não se reclame mais pela ausência e que negros, ruivos, mestiços, pessoas que vemos nas ruas, apareçam nos comerciais.’
A TIM levou isso em conta ao escalar a atriz Isabel Fillardis e sua filha Analuz para serem protagonistas das ações da operadora de telefonia celular no Dia das Mães, em campanha assinada pela McCann-Erickson, que vai ter novos desdobramentos, também nos pontos-de-venda. A agência Africa, ao conquistar a conta da Nivea, teve a mesma percepção e estampou peças com belas africanas e um traço no rosto feito pelo creme hidratante da marca.
A mesma Africa tem usado a presença de negros, como a cantora baiana Daúde, nas peças publicitárias da operadora Vivo. ‘O negro está inserido na cultura brasileira, sobretudo no esporte e na música, mais muitas vezes foi ignorado como consumidor e, sem ele, nada teria graça, nem a música, nem o futebol, nem a ginga do brasileiro’, diz o presidente da Africa, Nizan Guanaes, que defende a presença da raça nas campanhas. Fábio Fernandes, da F/Nazca, recorreu a Carlinhos Brown para dar ginga aos movimentos de uma psicodélica campanha de Skol.
Guanaes comemorou, na última sexta-feira, a conquista do Troféu Imprensa, oferecido pelo SBT, por campanha que criou para a cerveja Brahma, da AmBev, e que reunia no mesmo comercial Seu Jorge, Zeca Pagodinho e Marcelo D2. ‘Um trio de brasilidade e negritude.’ O publicitário Woody Gebara, hoje diretor de Criação da agência MPM, foi um dos primeiros a pôr um negro em evidência. Ele participou de um concurso em 1989, promovido pela C&A, que queria uma campanha para vender o seu lado mais fashion. Gebara se inscreveu com roteiros em que um negro despojado apresentava as coleções. A idéia foi vencedora e Gebara teve que, em tempo recorde, preparar a criação de 27 comerciais diferentes.
Ele lembra que recorreu ao diretor de teatro José Possi Neto para dirigir os comerciais e este lhe apresentou o ator e bailarino Sebastião Fonseca. ‘Ele virou Sebastian e até hoje está em cartaz. Quando a campanha começou a ser veiculada em 1990, foi um espanto, muita gente estranhou, mas o resultado e a empatia de Sebastian falaram mais alto, ele está aí até hoje’, diz Gebara, que deu asas ao garoto-propaganda da multinacional holandesa.
A C&A aprovou tanto a imagem de Sebastian que, mesmo quando contratou a top model Gisele Bündchen para pôr a marca no alvo da moda, não descartou o negro que é a cara da rede de departamentos.
Muitas vezes, porém, o negro surge mais como estereótipo de uma etnia, por isso soa como mudança de fato a exportação, pela agência Publicis Salles Norton, de campanha estrelada por Camila Pitanga para Garnier Movida, da L’Oreal. Nela, a atriz louva a beleza, nada de biquínis ousados ou passos de samba.’
Fátima Fernandes e Claudia Rolli
‘Publicidade ainda resiste à parada gay’, copyright Folha de S. Paulo, 22/05/2005
‘A maior parada gay do mundo, marcada para o próximo domingo em São Paulo, ainda não quebrou a resistência das empresas em associar as suas marcas à comunidade GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros).
Agências de propaganda e empresas informam que a megafesta gay não se profissionalizou a ponto de mostrar, aos potenciais patrocinadores, o retorno que teriam ao investir no movimento. A confusão está armada.
Não há mais dúvidas de que a parada é uma grande vitrine para exibição de marcas, com potencial para captar milhões de reais de patrocinadores, na avaliação de publicitários e empresários.
Afinal de contas, a estimativa é que 2 milhões de pessoas se reúnam na avenida Paulista para assistir à 9ª Parada do Orgulho Gay de São Paulo, evento que supera as comemorações das duas maiores centrais sindicais -CUT e Força Sindical- no 1º de Maio.
A Associação da Parada do Orgulho GLBT de SP, que organiza o desfile e os eventos paralelos que ocorrem na cidade, chegou a contratar duas empresas para ir atrás de patrocinadores -a Koch Tavares e a Meta Design- na tentativa de captar R$ 800 mil, custo estimado da festa. Em 2004, a associação fechou o evento no vermelho, com prejuízo de R$ 150 mil.
Apesar do esforço, só três empresas acertaram o patrocínio: a Globosat, a CVC Turismo e uma corretora de seguros, que prefere não ter seu nome revelado.
A TIM negociava uma cota, mas desistiu na semana passada. A negociação começou com uma verba de R$ 1 milhão, reduzida, em seguida, para R$ 560 mil. A última proposta foi de R$ 100 mil.
‘O patrocínio da parada gay ainda é tímido. Há resistência das empresas em participar. As desculpas são a falta de verba e de tempo. Todo mundo associa a parada a uma putaria, o que claramente não é’, diz Fábio Cardoso, gerente da Koch Tavares, empresa de promoção e marketing.
Empresas e agências de publicidade consultadas pela Folha afirmam que não estão patrocinando o evento porque a proposta foi entregue em cima da hora e faltou planejamento na venda e na exposição de marcas. Algumas foram pressionadas, segundo informaram, sob a ameaça de ser consideradas ‘discriminadoras’.
‘A comunidade gay tem alto poder aquisitivo, e as marcas estão de olho nesse mercado. Não existe preconceito dos clientes. O que faltou foi planejamento na hora de comercializar as cotas’, afirma Luiz Lara, da agência de publicidade Lew, Lara.
A Meta Design informa que procurou cerca de 200 empresas para patrocinar o desfile. ‘Elas não responderam ou disseram que não tinham verba ou que a comunidade gay não fazia parte do público-alvo da companhia’, afirma Eduardo de Carvalho, sócio-diretor da Meta Design.
‘A parada é excelente como patrocínio. Que tem certo preconceito ainda tem. Mas a barreira pode ser vencida com competência. Qual o problema de jornal ou fábrica de macarrão apoiar a parada? Nenhum. Faltou política clara. Os organizadores vieram com verbas enlouquecidas de patrocínio’, diz o publicitário Nizan Guanaes, da agência Africa.
A Meta Design informa que a cota máxima de patrocínio oferecida é de R$ 700 mil e, a mínima, de R$ 70 mil.’