Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Moacir Japiassu

‘Nosso considerado leitor André Julião, que se atocaia neste blog, leu interessante matéria abrolhada no Correio Popular, prestigiado jornal de Campinas, sua cidade adotiva. O título assim esgoelava-se:

Garota de 14 anos dá a luz e joga bebê no telhado

O olho relanceava:

Especialista descarta depressão pós-parto

E o texto enrolava-se mais do que cordão umbilical em mãos inábeis:

‘(…) Para o genicologista Almeida, o problema que se assentuou na garota pode ter sido uma questão cultural, pois, na visão dela, poderia não ser mais aceita em casa (…)’

Uma ‘questão cultural’, dizia o, com perdão da palavra, texto. Julião ficou penalizado, não somente pela situação da garota, coitada, mas também pelo redator da matéria:

‘Não achei esse verbo assentuar no dicionário; e genicologista eu nem me dei ao trabalho de verificar…’

Janistraquis comunga contigo nessa dor, ó André Julião; pelo que se vê, está cada dia mais difícil parir-se um bom texto nesta tão violentada imprensa.

******

Ouro de tolo

Nosso considerado Roldão Simas Filho, diretor da sucursal desta coluna no Planalto, de cujo janelão sempre escancarado foi possível ler, com binóculos poderosos, é claro, os lábios de José Genoíno dizerem a Lula que ‘apoio não se recusa’, pois Roldão, dizia eu, também passou os olhos pelo caderno Lugares, do Correio Braziliense, e sentiu desconforto semelhante àquele.

É que na página 8 do caderno de 13/10 dizia-se que o ouro furtado por raspagem dos pilares da igreja de São Francisco de Assis, em Salvador, era de 26 quilates, sem valor comercial (sic). Ora, como sabem todos, o mestre Roldão perdeu a paciência com a imprensa há muito tempo, desde que Hélio Fernandes confundiu Jesus com Genésio. Então, justamente irado, esclarece:

O quilate é uma escala que indica a porcentagem do ouro nas ligas; assim, 100% de ouro, ouro puro, portanto, corresponde ao valor de 24 quilates, o fim da escala. As ligas mais usuais, de excelente qualidade e dureza, têm 18 quilates.

Janistraquis, que inscreve em seu currículo a glória de não ter dado nenhuma contribuição à campanha Ouro Para o Bem do Brasil, perpetrada por ladrões depois do golpe de 64, concluiu: ‘Considerado, esse ouro de 26 quilates não é ouro; é o que se costuma chamar de ourina…’

******

Candidatos

Jornalista sempre atento, que costuma vigiar o panorama a partir das montanhas de Petrópolis, onde vive, nosso considerado Vito Diniz escreve gentil e esclarecedor bilhete à coluna:

Dou uma passadinha por aqui só para fazer pequenas correções na excelente nota enviada pelo colega Camilo Viana, de BH. É que Chiquinho do Atacadão não foi candidato em Gramacho, mas reeleito em Araruama; e Caxias não teve um candidato chamado Gica, mas Dica, que é deputado estadual. Além disso, no Estado do Rio também teve um candidato a prefeito com a alcunha de Macarrão. Foi em Miguel Pereira e o cabra se elegeu.

******

Apelaram…

Janistraquis via na televisão imagens do culto em louvor da Senhora Aparecida, como à santa se refere o nosso considerado Carlinhos Brickmann, quando surpreendeu-se com um séqüito de desarmamentistas, liderado pelo presidente do Viva Rio, Rubem César Fernandes, a desfilar na imensa nave para depositar junto aos milagrosos pés um avariado revólver de tímido calibre.

O colunista, injustamente marcado como partidário da violência, verdadeiro Elias Maluco da Internet, ficou na dele, mais silente do que o ministro da Justiça diante do massacre de policiais no Rio de Janeiro ou, melhor dizendo, a ‘cidade da cocaína e da carnificina’, como escreveu The Independent. Mais afoito, Janistraquis assistiu à inacreditável cena e comentou: ‘Considerado, quando começam a apelar pra Mãe de Deus é porque não está dando certo…’

******

Super-Homem

Jornalista de sobrenome ilustre, culto e talentoso, Fátima Emediato solicita espaço para um justo desabafo:

A Comunicação no Governo Lula anda de mal a pior. Diante da morte do sertanista Apoena Meireles a assessoria de imprensa da Funai foi incapaz de disponibilizar em seu site uma homenagem; não saiu nem mesmo uma notícia! A última ‘atualização’ ocorreu em 7 de outubro. Acredito que a luta de Apoena em defesa dos povos indígenas merecia alguma atenção. E tem mais: o site UOL destacou na primeira página, com foto, a morte do super-homem Christopher Reeve. Afinal de contas, quem é realmente o nosso Super-Homem, Christopher ou Apoena? O que os veículos de comunicação estão fazendo com os nossos verdadeiros valores, com nossos grandes homens!…

******

A flor do lixo

O considerado Camilo Viana, diretor de nossa sucursal em Belo Horizonte, envia manchete da página 5 do caderno de política do Estado de Minas, edição de 11/10:

FAXINEIRO ELEITO PREFEITO EM MINAS.

Raimundo Nonato Cardoso, o Raimundo da Violeira, faxineiro da UFV, foi eleito prefeito de Viçosa, terra do Presidente Artur Bernardes.

Camilo gostou:

‘Como nossa política está um lixo, espera-se desempenho literal do eleito’.

Janistraquis aproveita para informar que Violeira é um superfaxineiro, pois há anos convive diariamente com a cultura de sua progressista cidade; UFV, não se pode esquecer, é sigla da Universidade Federal de Viçosa. ‘Deve ter aprendido muita coisa no decorrer dos anos, considerado; a sabedoria que os acadêmicos costumam jogar diariamente no lixo não é normal!!!’, perorou meu secretário.

******

Trabalho inútil

Saiu discretamente na liberalíssima Folha de S. Paulo:

ORIENTAÇÃO SEXUAL: Abaixo-assinado reúne 500 nomes

Intelectuais atacam o projeto de deputado do Rio para ‘curar’ gays

Em menos de um mês, mais de 500 intelectuais e professores universitários assinaram o documento contra o projeto de lei que prevê a criação, pelo governo do Rio, de um ‘programa de auxílio às pessoas que, voluntariamente, optarem pela mudança da homossexualidade para a heterossexualidade’. A proposta é do deputado Édino Fonseca (PSC), pastor da Assembléia de Deus, e deve ser votada em novembro.

Janistraquis não acreditou no que leu: ‘Considerado, em matéria tão polêmica assim, é de bom alvitre que o autor ilustre o projeto com o exemplo de sua própria vida, né mesmo?’

Seria, pelo menos, mais convincente.

******

Lançamento

Maria a Vida Toda é o título do romance que nosso considerado Paulo Castelo Branco lançará na próxima segunda-feira, 18/10, às 19 horas, na sede do Conselho Federal da OAB, Avenida L/2 Sul, Quadra 602, Brasília.

O senador e escritor José Sarney apresenta a obra e a ilustração de capa é da eterna lavra do mestre Oscar Niemeyer.

******

Nota dez

A melhor, digamos, avaliação crítica a circular desde o início do mês pela Internet é de autoria de Izaías Almada e foi publicada em Caros Amigos:

Jogando conversa fora…

O filme do padre Marcelo sobre a vida do apóstolo Paulo transformou-se num grande fracasso de bilheteria. Graças a Deus! Por livre associação de pensamento, o fato me lembra que durante os anos 60, nas grandes refregas políticas brasileiras entre a esquerda a e direita, Nelson Rodrigues, mirando-se no exemplo de Dom Helder Câmara, cunhou a expressão ‘padres de passeata’, insinuando entre outras coisas que lugar de padre é na igreja. Embora eu, um egresso dos anos 60, nem de longe queira comparar Dom Helder com o padre Marcelo, penso que a expressão ‘padre de tv e cinema’ não ia nada mal para o carismático religioso global. A transformação da religião num grande balcão de negócios, talvez um dos mais lucrativos no mundo de hoje, vem banalizando o exercício da fé, que para muitas pessoas ainda é encarado com alguma seriedade e respeito. Tal reflexão, também ela banal em si, vem a propósito do esgotamento que vai tomando conta do homem contemporâneo diante do irracional, do caos, da injustiça e da intolerância (…)

A íntegra do artigo está aqui.

******

Errei, sim!

‘NOCAUTE TÉCNICO — Do Erramos da Folha de S.Paulo, que, em atenção a nossos apelos e da sociedade em geral, foi transformado em seção fixa desse, digamos, vibrante matutino: ‘O norte-americano Tommy Morrison não derrubou seu compatriota Pinklon Thomas em luta da categoria peso-pesado disputada terça-feira à noite, conforme publicado (…) O juiz encerrou a luta alegando nocaute técnico’.

Janistraquis, que tem enfrentado a vida aos sopapos de esquerda e direita (nem sempre com sucesso), garante aos considerados leitores: juiz de boxe não alega coisa nenhuma, simplesmente aplica as regras do esporte. E, como a luta foi transmitida pela televisão, todos vimos Pinklon Thomas, de supercílio avariado, desistir ao final do primeiro assalto. E isso, sabem os aficionados, caracteriza o nocaute técnico.

Meu secretário acha que, nesses casos de falha-sobre-falha, a Folha deveria instituir o Erramos do Erramos.

É bem pensado.’(março de 1991)’



NOTÍCIA & ANTINOTÍCIA
Zuenir Ventura

‘A antinotícia’, copyright No Mínimo (www.nominimo.com.br), 12/10/2004

‘Ela se chama Nina, tem três anos, é branca e miudinha, uma graça. Mas antes preciso dizer em que circunstâncias a conheci. Eu vinha da minha caminhada diária no calçadão de Ipanema, quando entrei na minha rua, que é transversal à da praia, e levei um susto. Uma senhora gorda, correndo com dificuldade e segurando um cachorro pela coleira, gritava ‘pega, pelo amor de Deus, pega!’. Porteiros, pessoas que estavam passando, acho que umas oito pessoas, atendendo ao grito desesperado da mulher, também correram. Eu tentei, mas desisti, fiquei com medo, até porque não estava vendo o ladrão.

Era uma cena conhecida para mim. Há alguns meses – e eu cheguei a escrever sobre isso no ‘Globo’ – o jornaleiro dono da banca em frente ao meu edifício levara um tiro no ombro durante um assalto (felizmente escapou), o oitavo que já sofreu. Com os gritos, cheguei à varanda e vi quando o assaltante saiu correndo gritando ‘atiraram num homem ali, pega ladrão’. Aprendi então que era uma nova tática: o bandido assalta e sai correndo pedindo socorro. Nesse dia, ele pegou a condução e fugiu tranqüilamente, enquanto as pessoas, sem saber, iam na direção contrária procurando-o.

Devia ser a mesma coisa outra vez. Para complicar, um passarinho resolveu fazer cocô sobre o meu nariz, na altura dos olhos, enquanto eu conversava com um vizinho. Muito desagradável. Não tinha como limpar e precisei entrar no meu prédio de novo para lavar o rosto na torneira da garagem. Quando voltei à rua, a situação estava esclarecida. Todo aquele auê, aquele alvoroço era por causa de Nina. A senhora que gritava era a empregada da casa de onde Nina fugira, provocando a correria e o alvoroço.

Foi aí que fiquei sabendo o nome e a idade dela, e que era da raça poodle. Quase cabe na minha mão. Mas vocês precisavam ver sua agilidade. Ela conseguiu escapar dos perseguidores, atravessou as duas pistas de carro da Avenida Vieira Souto às 10 da manhã, uma hora de grande movimento (só mesmo por milagre não foi atropelada), passou pela ciclovia e acabou na areia, onde finalmente foi alcançada. E salva! Voltou para casa carregada em triunfo. Vocês precisavam ver a carinha dela, sem-vergonha, gozando todo mundo. A rua virou uma festa. É tão raro na cidade um acontecimento com final feliz.

Sei que essa história é a antinotícia, segundo aprendemos com a escola americana de jornalismo. Eles nos ensinaram e acabamos ensinando aos mais novos que não existe novidade num cachorro mordendo um homem. Notícia, eles dizem, é quando um homem morde o cachorro. Imaginem quando não acontece nem uma coisa nem outra, quando se trata de uma cachorrinha dando a sua primeira fugida, não se sabe se atrás de um namorado (as meninas hoje são tão precoces) ou se pelo simples prazer de se divertir inocentemente.

Desculpem os que esperavam algo mais dramático e momentoso. Gostei dessa historinha, mesmo sabendo que com ela Rubem Braga, por exemplo, nosso cronista-mor, faria uma genial crônica. Azar da Nina. Bem que merecia. Ainda bem que ela não vai me ler.’



NOVAS MÍDIAS
Jamil Chade

‘Novas tecnologias podem aumentar demanda por profissionais, diz OIT’, copyright O Estado de S. Paulo, 16/10/2004

‘As novas tecnologias de comunicação podem aumentar, nos próximos anos, a demanda por jornalistas, editores e outros profissionais de mídia. Essa é uma das conclusões de um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que servirá de base para um debate a partir de segunda-feira entre representantes de todo o mundo em Genebra.

O documento indica que 2002 foi um ano difícil para o mercado da mídia em vários países da América Latina. No Uruguai, 600 dos 2.500 jornalistas atuando em Montevidéu foram afetados pela crise, jornais foram obrigados a reduzir números de páginas e salários foram cortados. Segundo a OIT, Brasil e Argentina viveram situações similares.

Na avaliação da entidade, porém, essa situação estaria mudando e a recuperação em parte está ocorrendo por causa de uma reestruturação dos grupos de mídia que buscam se adaptar às novas tecnologias, principalmente a internet. Segundo a OIT, o ‘monopólio que a mídia tradicional um dia teve sobre disseminação da informação está sendo erodido por redes digitais’.

Mas essa ‘informatização da mídia’ tende a criar empregos, e não a destruí-los. ‘A demanda por jornalistas continua alta e essa tendência será mantida’, afirma o documento. Estudos mostram que a incorporação de tecnologias na mídia pode ainda exigir um aumento no número de funcionários.

Nos EUA, um estudo aponta que haverá, até 2012, 16% mais vagas para escritores e editores. O aumento no número de postos para editorialistas e correspondentes deve ficar em 6,2%, enquanto no de fotógrafos, 13,6%.

Outra constatação é que as empresas entenderam que adaptar os jornais à internet não é apenas colocar o conteúdo na rede, mas criar serviços como flash de notícias, grupos de discussão e classificados. ‘A internet deve ser tratada como uma nova mídia’, afirma a OIT.’