‘Durante o jogo Brasil X Coréia do Sul, pelo Mundial Sub-20 da Holanda, o considerado Luciano do Valle disse e repetiu que nossos adversários eram ‘ingênuos’, mesmo adjetivo empregado para explicar as goleadas sofridas por Malta e Andorra, ontem, hoje e sempre.
Janistraquis, que acredita na existência da inaptidão e acompanha com igual interesse os jogos de futebol e as peladas da Granja do Torto, às quais tem acesso por fitas de vídeo devidamente pirateadas, escutou a insistência do nosso Luciano do Valle e resolveu abrir a caixa de maldades:
‘Considerado, os narradores de futebol, todos, sem exceção, precisam se atualizar. Afinal, como se vê de uns tempos para cá, a única pessoa rigorosamente ingênua, em todo o mundo, é o presidente Lula.’
O colunista acrescentaria o narrador Jota Júnior, do Sportv, que costuma anunciar: ‘O árbitro pediu tantos minutos…’, quando se refere ao tempo extra das partidas de futebol. Na verdade, os juízes não pedem nada a ninguém; eles decidem, no campo onde são soberanos absolutos.
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Pra dormir
Estarrecida, a Nação leu na primeira página da Folha de S. Paulo do sábado, 18/6:
Lula convida Dilma para Casa Civil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva convidou a ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, para substituir José Dirceu na Casa Civil. Ela aceitou. A escolha, que deve ser anunciada na segunda, é uma tentativa do governo de dar ao ministério um perfil mais gerencial que político.
Janistraquis, veterano observador da cena política, esperou a segunda-feira para sentir de perto o, digamos, desenlace, e me acalmou:
‘Considerado, não devemos nos preocupar, nem mesmo com o propalado ‘perfil gerencial’, pois isso é conversa pro Suplicy dormir; na verdade, a nomeação faz com que as Minas e Energia se livrem definitivamente de dona Dilma e, ao mesmo tempo, deixa claríssimo que a Casa Civil foi extinta.’
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Obra-prima
O considerado Humberto Werneck, um dos mais brilhantes jornalistas do Brasil, cujo texto primoroso ilumina revistas e jornais desde os anos 60, acaba de lançar Pequenos Fantasmas (Editora Novesfora), que reúne contos escritos na mocidade belo-horizontina.
São contos rigorosamente inéditos porque o autor, mergulhado em crise existencial, retirou do prelo os originais e escondeu na gaveta sua lira dos 20 anos. Agora, quatro décadas mais tarde, Werneck resolveu dar ao verbo francês délivrer (libertar, aliviar) um significado mais criativo e ‘delivrou’ a obra, ou seja, pôs o livro para fora; livrou-se do livro.
Escreve ele na introdução desta obra-prima de apenas 117 páginas: ‘A passagem dos anos não atenuou a desconfortável sensação de que, tendo escrito, faltara completar o gesto, publicando aqueles contos de juventude, até como forma de livrar-se deles – para evitar que, na gaveta, ou mesmo rasgados, virassem fantasmas, pequenos fantasmas’.
A literatura brasileira, tão erma de talentos, agradece ao Autor pelo fim da tresloucada intermissão.
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Democracia
Deu na capa do UOL:
Folha de S.Paulo
Por que o Brasil tolera tanto o abuso de álcool?
Janistraquis leu o artigo da dupla Ilana Pinsky e Jaime Pinsky, na seção Tendências/Debates, e gritou pra mim, que ajudava a descarregar um carrinho de esterco para os jilós da horta:
‘Considerado! Ô considerado!!! Deram a senha pro governo de m… tentar proibir a cachaça neste país de m…!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!’
Parei o serviço e fui tomar um gole em desagravo à democracia e outro em homenagem aos dois professores, cujo texto está exposto no Blogstraquis.
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Limitado
O considerado Camilo Viana, diretor de nossa sucursal em Belo Horizonte, cujo prédio é vizinho daquela agência de publicidade, enviou o seguinte e breve despacho à coluna:
No jornal Estado de Minas de hoje (22/5), página de face, lemos a manchetinha, referente à secretária Fernanda Karina:
‘Secretária volta atrás de novo… e confirmou ter visto supostas malas…’
Vocês não acham que o vocabulário do jornal anda meio…, como direi, quase limitado?
Achamos, sim, Camilo!
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Sandálias
João Pedro Stédile, aquele, botou a boca no berrante e os jornais publicaram:
‘A crise instalada em Brasília é resultado de um movimento golpista que inclui motivações internacionais. Os interesses do capital internacional, representados pelo governo Bush e as transnacionais que atuam no Brasil, estão inquietos com a política externa do governo Lula, independente e de integração regional.’
Fã das teorias conspiratórias deste guia do caipirismo revolucionário, Janistraquis, que anda a confundir enquete com boquete, declarou peremptoriamente:
‘Considerado, você não acha que se o Stédile calçasse as sandálias da humildade seria a versão ariana do falecido Mussum?’
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Nas estrelas
A considerada Leila Weber, que conhece o Rio de Janeiro muito além das criações cenográficas da Globo, foi apresentada à versão gaúcha das atrações da cidade dita (ainda) maravilhosa:
A obra da novelista Glória Perez, ao fazer com que a Vila Isabel tenha praia (ou fique muito próxima de alguma) é fichinha perto do que perpetrou a Zero Hora.
Diz o jornal que ‘O complexo de 12,3 quilômetros liga o bairro de Teresópolis à Estátua da Liberdade, unindo as zonas sul e norte sem passar pelo Centro’.
Como não temos aqui nenhum bairro chamado Liberdade, sequer uma estátua com esse nome, vislumbrei a oportunidade de ir direto a Nova York, sem precisar de passaporte. Que tal?
Janistraquis, que também conhece e até morou alguns anos no balneário, garante:
‘Considerado, quem fazia antigamente o trajeto entre o bairro de Teresópolis e a Estátua da Liberdade, saindo das barcas da Praça XV, era aquele crioulo doido do samba-enredo de Stanislaw Ponte Preta…’
É verdade. E convém lembrar que houve um tempo no qual os gaúchos conheciam tão bem o Rio que até amarravam seus cavalos no antigo Obelisco da Avenida Rio Branco.
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Frase sensacional
Do sempre divertido comentarista Jorge Nunes, da rádio Tupi do Rio, ao criticar a moleza de um marcador vascaíno no trágico empate de 2 a 2 com o Coritiba, em São Januário (12/6):
‘Não se pode fazer macumba com caldo Knorr; tem que botar a galinha!!!’
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Galo do Japi
Viva o Paulista de Jundiaííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííí!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
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Sommellier
O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal em Brasília, de cujo quartinho de despejo é possível flagrar Maurício Marinho a rastejar à porta da Câmara, pois Roldão, farto da mídia impressa, ligou a TV e também foi assaltado pela decepção que medra no país. E escreveu, tomado por benfazeja ira:
Num programa da tevê sobre vinhos, ouvi o Renato Machado dizer ‘Alzácia’ em vez de ‘Alçácia’, como é a pronúncia certa, conforme a regra da gramática. Pior é que o exemplo dele pode proliferar.
Janistraquis garante que o considerado Renato Machado, sommelier de muito engenho e arte, não fez por mal, Roldão; é que ele, alfabetizado em francês, adaptou para nosso idioma a pronúncia de Paris, onde Alsace se pronuncia Alzace. E não há perigo de o exemplo proliferar, porque aqui na pátria somos todos meio analfabetos e não bebemos vinho, todavia cachaça…
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Nota dez
Almir Pazzianotto Pinto, que começou a vida como advogado de sindicalistas e foi ministro do Trabalho e presidente do TST, publicou no Jornal do Brasil um artigo capaz de fazer desarmamentistas enfiarem a cara no… na… debaixo do braço, vá lá.
‘(…)A campanha, que está circunscrita ao desarmamento das pessoas de bem, como reconhece o Ministro da Justiça, peca pelo exagero. S. Exa., criminalista de renome internacional, está à procura de solução radical que, se for adotada, transformará milhares de pessoas em criminosos, unicamente porque não estão dispostos a abrir mão do revólver que guardam para eventual defesa da família, em caso de invasão da residência. O comércio ilegal de armas de fogo é a causa do problema, que deve ser debitada ao ineficiente combate ao contrabando e ao crime organizado (…)
Leiam a íntegra no Blogstraquis.
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Errei, sim!
Rogo ao considerado leitor que dê um pulinho ao Blogstraquis e regale-se com a notinha datada de dezembro de 1996.’
LÍNGUA PORTUGUESA
Deonísio da Silva
‘Por que escrevemos?’, copyright Jornal do Brasil, 27/06/05
‘Por que escrevemos? São muitos os motivos, mas escrevemos para pedir (1), reclamar (2), ordenar (3), receitar (4), advertir (5), agendar (6), pedir socorro (7), dar avisos (8), contar histórias (9) e expressar o que sentimos (10), em prosa ou em poesia, nem que seja para nós mesmos, como no caso dos diários.
É o que dizem Cristóvão Tezza e Carlos Alberto Faraco num livro que os professores de língua portuguesa não devem ignorar. Romancista de reconhecidos méritos, o primeiro é doutor em letras pela USP. Autor de ensaios importantes, o segundo, ex-reitor da UFPR, é doutor em lingüística pela Salford University. Os dois são professores universitários.
Publicado pela Editora Vozes, Oficina de texto desperta o interesse do leitor logo nas primeiras páginas. Se os autores vão ensinar a escrever, que comecem pelos requisitos básicos: a objetividade e os exemplos.
Ei-los. De (1): ‘Será que você podia devolver o livro que eu te emprestei?’; de (2): ‘Acho que você não deveria ter faltado ao nosso encontro’; de (3): ‘É proibido fumar!’; de (4): ‘5 ml de Simancol gotas, 6/6 horas’; de (5): ‘Júpiter em conjunção com Saturno não aconselha passeios taurinos’; de (6): ‘Segunda, dia 7: ir ao banco, cortar cabelo, compra lixa de unha’; de (7): ‘Socorro!’; de (8): ‘Mãe, a chave está na segunda gavetinha’; de (9): ‘Quando Paulo abriu a porta, descobriu que a casa havia sido assaltada’; de (10): ‘Querido diário, hoje estou muito triste’.
Talvez sejam até exagerados os cuidados que tomam para absorver o tom coloquial da norma culta, mas o resultado é que, assim procedendo, obtêm imediatamente uma receptividade extraordinária dos leitores. No exemplo de (1), não fazem a concordância, errando de propósito, pois no coloquial o pronome você é segunda pessoa, embora seja classificado como terceira nas gramáticas que os estudantes são obrigados a consultar e a seguir quando escrevem: ‘Você poderia devolver o livro que eu te emprestei?’.
Em (4) escrevem simancol, um remédio que não existe na farmacopéia brasileira e que, no sentido metafórico de autocrítica, os dicionários registram semancol, palavra construída a partir de um verbo (mancar), reflexivo na gíria: alguém se mancar é perceber que está sendo inoportuno. De tal capacidade, o indivíduo extrairia a poção mágica semancol, escrita simancol pelos dois autores.
Em (5), para explicar a função do verbo advertir, inventam um trecho que parece extraído da seção de horóscopo: ‘Júpiter em conjunção com Saturno não aconselha passeios taurinos’. Utilizado como substantivo para identificar nascidos sob o signo de Touro, taurino foi tomado aqui como adjetivo, como, aliás, procedeu Junqueira Freire nestes versos de A velhice do padre Eterno: ‘Inunda-lhe o suor oleoso a testa bronca,/ O cachaço taurino e as papeiras’.
A conclusão dos autores, no primeiro capítulo, é perfeita em sua simplicidade: ‘Escrevemos para resolver problemas’. E oferecem aos professores que ensinam português o melhor de todos os recursos didáticos: um livro!’
CRÔNICA ESPORTIVA
Marcelo Russio
‘No campo como fora dele’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 25/06/05
‘Olá, amigos. Neste fim-de-semana de folga, fiquei totalmente voltado para o futebol, curtindo as semifinais da Copa das Confederações, já que, por força do trabalho, não pude acompanhar os jogos do Brasil na fase classificatória. Assisti ao jogo do Brasil na TV Globo no sábado e, no domingo, acompanhei Argentina x México pela TV Cultura, que transmite TODAS as partidas da competição, numa iniciativa muito interessante.
A partida foi narrada pelo competente Nivaldo Prieto e comentada pelo fantasmagórico Sebastião Lazaroni. Quando era treinador de times de expressão no Rio de Janeiro, e até da Seleção Brasileira, Lazaroni era conhecido por falar uma língua própria, o ‘lazaronês’, tamanha era a sua mania de falar um linguajar empolado, rebuscado e de dificílima compreensão. Talvez inebriado pela fama ganha ao dirigir a Seleção na Copa de 1990 (a de piores lembranças que tenho em toda a minha vida), Lazaroni piorou ainda mais. Começou a criar expressões como ‘galgar parâmetros’, ‘interação sinérgica’, ‘jogar dentro de uma situação’, ‘pijama training’ etc… Para nossa felicidade, sumiu no mundo, indo treinar China, Jamaica e outras potências. Neste domingo ele reapareceu, convidado a comentar a partida entre Argentina e México.
Sem ter o menor cacoete de comentarista, Lazaroni foi prolixo, como sempre, falou durante lances de perigo, atropelou a fala do narrador e teve de ser interrompido pois comentava um lance por tanto tempo que outro lance aconteceu e ele ainda estava falando do que acontecera anteriormente.
Enfim, foi engraçado, mas também triste ver que uma pessoa sem o menor preparo comentou uma partida no lugar de alguém que, jornalista ou não, certamente teria contribuído mais para a transmissão. Entendo que a Cultura quisesse contar em sua transmissão com alguém do meio do futebol, para abrilhantar o evento. Mas, caramba, justo o Lazaroni?
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Muito bom MESMO que a Globo transmita nas madrugadas o Grand Prix de vôlei feminino. O horário, que sempre é pessimamente ocupado por filmes B e coisas do gênero, tem agora uma bela atração para nos deixar acordados. E o Brasil vem fazendo boas apresentações, o que favorece a audiência e, conseqüentemente, a continuidade de iniciativas assim.
Em tempo: por que não se aproveita esses horários alternativos e se exibem clássicos do esporte, como íntegras de partidas de vôlei, basquete, futebol, tênis, corridas históricas? Enfim, eventos esportivos de relevância para o brasileiro, Tenho certeza de que MUITA gente ficaria acordada para gravar ou apenas rever os grandes momentos do esporte nacional e internacional. Fica aqui a sugestão.
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Por falar em vôlei, a Bandeirantes também transmitiu a etapa feminina do Mundial de Vôlei de Praia, direto de Berlim. Boa iniciativa, claro. Mas a Ida, que comentou o jogo, estava extremamente nervosa e não foi bem. Fez comentários óbvios, às vezes parecia que não tinha visto o que havia acontecido, torceu muito e comentou pouco. Tomara que melhore nas próximas.
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Terminei o domingo vendo o Joga 10 da Bandeirantes, ‘reality show’ esportivo bancado pela Nike que seleciona através de provas e julgamentos de Dunga, Bebeto e Zagallo um menino que usará a camisa 10, um craque. Muito bem produzido e editado, com trilha sonora de primeira e um script seguido à risca, o programa tem componentes do Big Brother (confessionário e paredão) e um apelo emocional a cada eliminação. Além disso, a cada edição um atleta profissional visita os meninos e dá conselhos, além de jogar com eles. Muito boa idéia, original e bem executada. Um belo encerramento para a maratona esportiva do domingo.’