‘Sob o título Em resposta a Tevez, árbitros querem apitar com gravadores, o Pelé.Net escreveu:
O Sindicato dos Árbitros de Futebol do Estado de São Paulo, através do seu presidente, Sérgio Corrêa da Silva, solicitará autorização ao STJD e à Comissão Nacional de Árbitros para que todos os árbitros e assistentes filiados à entidade paulista sejam autorizados a trabalhar portando num dos bolsos de seu uniforme um gravador portátil sempre que estiverem escalados em jogos do Corinthians.
Janistraquis, que ainda tem boa memória e às vezes dorme abraçado ao seu rancor, como um personagem do grande e saudoso contista João Antônio, rosnou:
‘Quero ouvir a opinião do José Roberto Wright, famoso juiz-ladrão que hoje posa de comentarista de arbitragem da Rede Globo…’
Eu também gostaria de escutar o discurso desse trocista que, num Vasco X Flamengo pela Taça Guanabara de 1982, entrou em campo com um gravador escondido sob a camiseta e protagonizou horroroso espetáculo anti-ético cujo objetivo era bajular a emissora. Anos mais tarde, esta lhe deu um bom emprego.
(Leia no Blogstraquis os detalhes desta e doutras aventuras de Zé Roberto, em matéria publicada na Veja em 1985.)
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Paulo Maluf
O considerado Mário Lúcio Marinho anda a distribuir o seguinte texto, que o colunista recebeu e passa adiante:
Amigos: como é sabido, Maluf continua preso mas livrou-se do PP. Pretendia ir para o PTB, que já se posicionou: não aceitará a inscrição dele. Parece não restar outra alternativa ao ex-governador de SP senão filiar-se mesmo ao PT. E se for colocado em liberdade nas próximas horas, ainda poderá concorrer à presidência do PT, cuja eleição ocorrerá no próximo domingo. Eles se merecem. Tenham todos um excelente dia!
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Culpados
Notícia que recebeu destaque em toda a mídia:
Família de dekasseguis é vítima de barbárie em São Paulo
Uma família de origem japonesa foi vítima de um crime brutal na zona leste da capital. Das sete pessoas da família, apenas um bebê de 11 meses e o pai estão vivos. As outras cinco foram mortas a balas ou queimadas vivas, entre elas a mãe da criança, encontrada morta e abraçada ao filho. A chacina ocorreu na Rua Gaturamos, na Vila Nova Curuçá, em São Miguel Paulista.
Como o governo e as ONGs desejam, não havia arma alguma nessa casa invadida pelos monstros. Ninguém reagiu. Então ficamos, Janistraquis e eu, a pensar na irresponsabilidade desses luminares que fizeram profissão de fé desarmamentista, como o ministro da Justiça, deslumbrada criatura que se agarra ao cargo como papagaio no arame em dia de tempestade.
A propósito, encontra-se no Blogstraquis a lista dos desarmamenteiros, para ulteriores providências do eleitorado agora iludido. E aproveitem para ler um resumo do debate entre o ex-governador paulista, hoje deputado (PTB), Luís Antônio Fleury, e o deputado-médico Jamil Murad (PC do B), debate promovido pela Rádio Eldorado, de São Paulo.
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Febeapá
O considerado José Inácio Werneck, narrador e comentarista de esportes da ESPN Internacional e também colunista da Gazeta Esportiva, habituado a ver socos e pontapés de toda ordem, com bola ou sem bola, envia uma autêntica bulharaça jornalística encontrada na coluna de Hélio Fernandes na Tribuna da Imprensa:
O veterano jornalista, que já nos brindou com inenarráveis cincadas em relação a Albert Einstein, Charles Dickens, Alfred Nobel e tantos outros, acaba de inventar um país que não existe, em sua coluna intitulada Três Notícias Assombrosas e Exclusivas.
Uma delas seria uma viagem de Lula e seus companheiros a Port of Prince, que o Hélio define como ‘um país da África’. Diz em seguida que o ‘presidente’ do tal país veio depois ao Brasil, onde passou uma semana em confabulações.
Nomes, unidades políticas, idiomas e até continentes vêem-se embrulhados, num registro digno de figurar no Febeapá ou, muito a propósito, num samba do crioulo doido. Existem um Port-au-Prince, cidade, capital do Haiti, nas Antilhas, Hemisfério Ocidental, e um país africano, um arquipélago, chamado São Tomé e Príncipe.
A notícia é mesmo assombrosa, por irreal, e só pode ser exclusiva, por absurda.
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Inteligência
O UOL Últimas Notícias transcreve matéria da BBC, cujo explosivo teor começa pelo título:
Estudo alega que homens são mais inteligentes que mulheres
Londres — Pesquisadores britânicos anunciaram ter concluído um estudo que promete causar polêmica, ao sugerir que os homens são mais inteligentes que as mulheres. A pesquisa, que deverá ser publicada ainda neste ano no British Journal of Psychology, afirma que os homens ficam, em média, cinco pontos à frente das mulheres em testes de QI (…)
Janistraquis não deu a mínima: ‘Só se for lá na Inglaterra, considerado, porque aqui no Brasil as mulheres são muito, mas muito mais inteligentes do que os homens. Basta tomar o casal presidencial como exemplo; se dona Marisa estivesse no lugar do Lula, os discursos teriam um nível de besteiras pelo menos aceitável!’
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Palhaço
O considerado Giulio Sanmartini, o mais brasileiro dos italianos, correspondente desta coluna na Europa, com sede em Belluno, leu na coluna Holofote, de Veja, bem escrita matéria que começava assim:
‘O carioca George Gomes tem 90 anos. Há 85 interpreta o palhaço Carequinha…’
Sanmartini, que sempre esteve por dentro das palhaçadas brasileiras, protestou:
Tudo bem, George Savallas Gomes, o Carequinha, nasceu em 17 de julho de 1915; mas, em Carangola, Minas Gerais…
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De costas
O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de cujo varandão escancarado pôde-se escutar o cassado Roberto Jefferson a chamar os petistas de ‘rufiões da pátria’, pois mestre Roldão enviou à coluna o seguinte e procedente comentário:
O Correio Braziliense diz que a Petrobrás poderá prospectar gás natural na costa leste do Uruguai. Acontece que esse país só tem litoral sul, na embocadura do rio da Prata. Teria sido melhor escrever simplesmente ‘costa do Uruguai’ já que ele só tem uma.
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Independência
O sempre divertido comentarista da Rádio Tupi, Jorge Nunes, falava sobre o jogo entre Atlético Mineiro e Botafogo (vitória botafoguense por 2 a 0) quando foi vítima de sua própria divagação. ‘É uma pena ver o Estádio Independência assim vazio… era o estádio do América, esse Independência…’.
Janistraquis, que escutava Jota Santiago ‘emocionar o torcedor brasileiro’, reclamou da informação de seu comentarista:
‘Considerado, há algumas semanas um narrador da Globo confundiu Friedenreich, El Tigre de 1919, com Fausto, a Maravilha Negra de 1930; agora, Jorginho diz que era do América o Estádio Independência, quando todos os mineiros sabem que este pertencia ao Sete de Setembro!’
É verdade. O estádio do América, decacampeão mineiro (1916-1925), ficava na Avenida Augusto de Lima e chamava-se Alameda. Hoje, o endereço abriga o Mercado Central de Belo Horizonte…
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Precocidade
A considerada Glaucia Ramos envia noticinha de A Tribuna, do Espírito Santo, cujo título é Perdeu a mão por não querer se casar:
Uma queniana de meia-idade perdeu a mão direita após receber um golpe de machado dado pelo namorado de dois anos, que a agrediu porque ela recusou um pedido de casamento.
Jennifer Achieng disse que o namorado se aproximou de um mercado onde ela vende milho. ‘Ele queria se casar comigo, ele queria que eu fosse para a sua casa, mas eu recusei’, contou.
Janistraquis achou o incidente normalíssimo:
‘Considerado, depois daquele bebê de 10 meses que foi preso e interrogado pela polícia de Mossoró (veja coluna de 18/8), é perfeitamente admissível que um menino de dois anos enfureça-se e tente até matar a eleita. Apesar da diferença de idade.’
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Kaká neles!!!
Neste grande debate nacional a respeito do ‘quinto homem’ no meio de campo da seleção brasileira, ainda não lemos nem ouvimos ninguém arriscar esta obviedade: se Parreira tirar Émerson, que é apenas um esforçado carregador de piano, como se diz, basta recuar Kaká e pronto. Quem viu Beckenbauer jogar na Copa de 1966 e nosso Paulo Roberto Falcão em 82 e 86, sabe que o menino Kaká pode desempenhar perfeitamente a função. Visão de jogo, velocidade naquelas pernas longas, chute certeiro de fora da área, tudo isso ele tem de sobra. Marca mal? É só treinar que aprende.
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Nota dez
Leiam no Blogstraquis artigo do psicanalista e ensaísta Reinaldo Lobo, que começa assim:
Guerrilheiro não rouba. Expropria. Ele não mata, não seqüestra nem lincha. Promove justiçamentos democráticos.
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Errei, sim!
‘PAU DE LEI – Titulinho que foi (com perdão da palavra) capturado pelo leitor Cacá Salles no Correio Rural, de Campinas: A elegância do pau-mulato. Janistraquis gritou: ‘Epa!!!’. Não havia, porém, motivo para espanto; pau-mulato é uma árvore inocente (porém elegante, concordamos), também conhecida como pau-marfim.’ (janeiro de 1990)’
LÍNGUA PORTUGUESA
Deonísio da Silva
‘Posta restante’, copyright Jornal do Brasil, 19/09/05
‘Ministro pode ser apenas o da Eucaristia. Não temos ministro da Paz. Todavia já tivemos ministro da Guerra. Temos ministro da Defesa e não nos faz falta ministro de Ataque. Secretário, nos EUA, seria ministro aqui. Governador foi originalmente piloto de embarcação. Senador não poderia ser jovem.
Ao longo do tempo, essas palavras sofreram sutis variações. A Casa Civil e a Casa Militar foram reduzidas a gabinetes. O respectivo chefe tornou-se ministro-chefe e depois, apenas ministro. E a ascensão feminina a esses cargos forçou a língua ao feminino de novas palavras.
Quando lemos que ‘o presidente Lula afastou o ministro José Dirceu’ e que ‘o ministro Carlos Veloso, seu conterrâneo, estendeu-lhe os benefícios da liminar concedida a outros seis petistas, trancando o processo por quebra de decoro parlamentar’, alguns esclarecimentos tornam-se indispensáveis. Decoro pode ser enfeite apenas. Liminar já foi somente a soleira da porta. E trancar é fechar, impedir, interromper.
Outro exemplo, extraído de recente coluna aqui publicada: ‘Março de 1961. Perdeu-se a data, mas é segunda-feira. São 6h45 da manhã. Jânio Quadros chama seu ministro Roberto Campos: ‘O povo não gosta de amar. O povo gosta de odiar. Onde estão os inimigos?’’.
Giulio Sanmartini, que lê o JB na Itália, escreveu ao colunista para dizer que Roberto Campos não foi ministro de Jânio. Itália (de onde veio a carta), Santa Catarina (onde nasci) e o Rio de Janeiro (onde moro) devem espelhar-se em Minas Gerais para tratar de eventuais discordâncias. Os mineiros nos ensinam a delicadeza, pois até nos assassinatos matam de tocaia, que é para não assustar a vítima, como escreveu um deles. E meu leitor é um daqueles intelectuais – infelizmente, raríssimos – que cultivam o gosto da controvérsia, sempre tão fértil quando feita com boa educação, como ele a faz sempre.
Assim como o ‘assessor’ Marco Aurélio Garcia cumpre funções muito semelhantes às do ‘ministro’ Celso Amorim, alguns autores dizem ter sido o ex-seminarista Roberto Campos o principal ‘assessor’ do presidente no governo Jânio Quadros. Outros dizem ter sido ‘ministro plenipotenciário’ para as negociações da dívida externa. Mais do que seminarista, pois tornou-se frade, Frei Betto, ‘assessor’ do presidente Lula, não foi seu ‘ministro’.
Ainda Giulio Sanmartini: ‘Quando se lê ‘Jânio Quadros chama SEU ministro Roberto Campos…’, o possessivo pode levar o leitor a entender que Roberto Campos era ministro de Estado, isto é, tinha um cargo pertencente ao presidente da República, quando na realidade o seu título de ministro era o correspondente a embaixador’.
Há sutilezas também na denominação de nossos tribunais: Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Superior Tribunal de Justiça (STJ) e Supremo Tribunal Federal (STF), sem contar o Tribunal Superior de Trabalho (TST), o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) e similares regionais. Supremo, porém, temos apenas um!
Nunca tivemos ministros tão rudes com a língua portuguesa. ‘Sejemos’ foi apresentado por um ex-ministro de Lula como variante de ‘sejamos’. Foi demitido por atentado à verba, não ao verbo. Contudo, malversou os dois.’
MERCADO EDITORIAL
Antônio Gois
‘Venda de livros cai ao nível de 1991’, copyright Folha de S. Paulo, 17/09/05
‘Luiz Antônio Clemente, 55, é um devorador de livros. Só em casa, tem mais de 3.000. Ele tentou passar a paixão pela leitura para seus seis filhos, mas só um herdou o gosto do pai. ‘Meu mais velho até que gosta, mas os outros odeiam ler’, conta.
Essa paixão de Clemente pela leitura poderia ser considerada o que os matemáticos chamam de desvio estatístico. Maquinista aposentado, ele mora em Bangu, bairro da zona oeste do Rio de Janeiro que tem a terceira maior população da cidade. O número de bibliotecas na região, no entanto, é zero.
Formar leitores como Clemente no Brasil é tarefa difícil. Prova disso é que o mercado editorial de livros não-didáticos teve em 2004 um desempenho em vendas igual ao verificado em 1991. Segundo a Câmara Brasileira do Livro e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros, foram vendidos no ano passado 289 milhões de livros, ou 1 milhão a menos do que o montante negociado no início da década passada. Os números de 2004 até representam um avanço em relação aos do ano anterior, mas isso não é lá grande coisa, já que em 2003 o mercado viveu seu pior ano desde 1992.
Esse pífio desempenho do mercado editorial ocorreu no mesmo período em que, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), houve aumento na renda média do trabalhador brasileiro. Ela, apesar de ter oscilado após atingir seu pico em 1996 e ter voltado a cair desde então, cresceu 16,3% no período 1992 a 2003, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio.
Os indicadores de escolaridade da população, em tese, também deveriam beneficiar o setor. De 1992 a 2003, a população com mais de dez anos de idade aumentou em 29 milhões. A proporção de pessoas com mais de oito anos de estudos cresceu no período de 25,4% para 41,2%, ao mesmo tempo em que caiu a taxa de analfabetismo e a porcentagem de crianças fora da escola.
Para Marino Lobello, vice-presidente de Comunicação da CBL (Câmara Brasileira do Livro), o aumento da renda e da escolaridade pouco influem no mercado por causa de uma questão cultural. ‘É verdade que esse é um país de renda média baixa, mas, mesmo que a renda aumente, o livro não faz parte da cesta básica cultural do brasileiro. É por isso que o mercado fica estabilizado num patamar. Ele cresce um pouquinho, cai depois, mas continuam sendo apenas 26 milhões de brasileiros que lêem quatro livros por ano e ponto final’, afirma ele.
Comparação
De fato, o índice de leitura no Brasil é muito baixo quando comparado com países desenvolvidos. De acordo com a pesquisa Retrato da Leitura no Brasil, de 2001, a média de livros lido per capita aqui é de 1,8. Na Inglaterra, essa média chega a 4,9. Nos Estados Unidos, é de 5,1 e, na França, atinge 7.
O gasto médio das famílias brasileiras com livros, jornais ou revistas também é muito baixo se comparado com outros produtos que poderiam ser considerados supérfluos.
A Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE, realizada em 2003, mostra que, na divisão dos gastos em praticamente todas as classes sociais, esses artigos ficam atrás das despesas médias com cigarro, perfume ou cabeleireiro e manicure.’
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‘Gasto com internet e celular afetam vendas’, copyright Folha de S. Paulo, 17/09/05
‘Para os economistas Fábio Sá Earp, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), e George Kornis, da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), que realizaram no ano passado um estudo sobre o mercado editorial brasileiro a pedido do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), parte da explicação do problema com as vendas de livros está também no fato de as famílias de maior renda terem passado a dividir seu orçamento com outros gastos, como telefones celulares, TV a cabo e internet.
‘Os compradores significativos de livros são os 10% mais ricos no Brasil. Esses tiveram queda na renda de 1993 a 2003 e, ao mesmo tempo, apareceram novas necessidades, como o celular e a internet, com o que estes consumidores têm um gasto de quatro a seis vezes maior do que com bens editoriais, segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE’, afirmam os economistas.
Earp e Kornis citam ainda como empecilho o alto preço dos livros: ‘Para os livros caberem no bolso dos brasileiros, eles teriam que custar menos de um terço do que custam hoje’.
Marino Lobello, da CBL (Câmara Brasileira do Livro), concorda, mas diz que isso se deve também a um problema de escala: como o brasileiro lê pouco, as tiragens são baixas. Sendo baixas, o preço do livro é mais caro para justificar o investimento. Para resolver esse problema, ele defende um investimento maior no número de bibliotecas e livrarias.
‘Se você faz um livro com 2.000 exemplares, cobra R$ 30 por ele. Mas, se pudesse fazer 5.000, o preço cairia para R$ 20. Isso criaria, então, um círculo virtuoso. O editor ganharia mais, a livraria ganharia mais, e o consumidor pagaria menos. O livro é um produto muito sensível à tiragem’, diz.
Para aumentar o hábito de leitura, o vice-presidente da CBL sugere a criação de bibliotecas atualizadas e acessíveis à população de baixa renda: ‘Países com tradição de leitura têm várias bibliotecas modernas, sortidas e atualizadas que ajudam a disseminar o hábito de leitura. Não adianta ter apenas obras históricas. É preciso oferecer também a novidade do mercado. É por isso que, em países como os EUA, um filho de operário lê mais do que um adolescente de classe média no Brasil’.
Jason Prado, diretor-executivo da organização não-governamental Leia Brasil, cita ainda como problema a formação de professores. ‘Nos cursos de formação de professor, não há quase nenhuma carga horária destinada a fazer dele um leitor. Como formar um aluno leitor se o professor não lê?’, indaga.’
Antonio Fernando Borges
‘Publicar é preciso. Escrever, não’, copyright No Mínimo (www.nominimo.com.br), 14/09/05
‘Numa época em que a literatura ainda não privilegiava tanto a quantidade de exemplares lidos – e sobretudo vendidos -, o escritor francês Stendhal fazia questão de alardear que escrevia seus livros para no máximo cem pessoas. Passível de soar como elitista nestes tempos em que todos parecem aspirar a comover multidões, a frase ganhou espaço na literatura brasileira por conta de uma nota introdutória às ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’, de Machado de Assis – um gênio inconteste, hoje sucesso de vendas, mas que em vida angariou muito mais prestígio do que leitores. Outros tempos, outras referências: para os padrões atuais, ser lido por muitos é preciso; escrever bem, nem tanto.
No calendário machadiano, o ano de 2005 registra uma curiosa efeméride: o sesquicentenário da estréia de Machado em letra de forma. Em 1855 (tinha apenas 16 anos), ele publicava no jornal ‘Marmota Fluminense’ seu primeiro trabalho – a esquecível poesia ‘Ela’. A posteridade também costuma consagrar alguns medíocres, mas dificilmente Machado de Assis teria entrado para o Panteão nacional se não tivesse dedicado a vida inteira a reverter e superar a estréia apressada, pouco promissora. Mas uma coisa é certa: essa precocidade faz dele uma espécie de ‘patrono involuntário’ das centenas de jovens aspirantes a escritores que atualmente se acotovelam nos blogs e nas coletâneas para neófitos, em concursos literários e nas portas das editoras – todos reivindicando seu espaço na mídia e na estante dos contemporâneos.
Fernando Pessoa publicou em vida um único livro (o magnífico ‘Mensagem’); Kafka amargou a rejeição ao ver encalhar as modestas edições de ‘A metamorfose’ e ‘Colônia penal’; e Álvares de Azevedo, o ‘nosso Rimbaud’, não chegou a ver publicada em vida sua ‘Lira dos vinte anos’. Mortos prematuramente, eram em compensação artistas que aspiravam acima de tudo à imortalidade literária. Hoje, ao contrário, a pressa parece comandar o espetáculo – como se permanecer inédito fosse o único pecado imperdoável em literatura. É só fazer um teste, leitor: pergunte a qualquer jovem aspirante a escritor sobre o ‘principal desafio da literatura’. Ele não vai demorar a responder: a dificuldade de publicar.
O jornalismo recomenda que toda afirmação venha sempre acompanhada de exemplos – e certamente exemplos não faltam, em matéria de blogs, coletâneas, concursos literários e editoras. Mas, no presente caso, é a prudência quem aconselha a que se permaneça nas linhas gerais, ao largo das exemplificações. Afinal, dado o tom crítico deste artigo, quem for citado há de se sentir ‘pessoalmente atingido’, ao passo que os ‘omitidos’ poderiam alegar discriminações e exclusões. De resto, por ser um fenômeno ainda em curso, e de natureza tentacular, a lista nunca estaria completa.
Fiquemos, então, nas linhas gerais do fenômeno, que se propaga desordenado como as epidemias. Mas quem quiser exemplos não terá dificuldades em encontrá-los. Numa busca ligeira na Internet, é possível ter acesso a dezenas de sites dedicados a divulgar ‘jovens talentos’, enquanto no mundo real acontece parecido: por todo o país, incontáveis oficinas literárias de escritores veteranos convivem com uma boa quantidade de guias e manuais sobre a arte da ficção, tudo isso feito de encomenda para quem procura atalhos que conduzam, afinal, ao mais parecido possível com o sucesso. Por isso, não há exagero em se falar de epidemia – já que disso afinal se trata: no País dos Iletrados, a literatura vem se revelando cada vez mais um instrumento de visibilidade social. Obstinados em defender seu (inegável) direito de serem lidos, todos parece que se esquecem do pequeno ‘detalhe’: o dever de escrever bem – e, sem isso, nenhuma literatura se sustenta.
Vá lá, um exemplo: modelo emblemático e bem-sucedido dessa tendência crescente é a militância desenvolvida pelo pernambucano Raimundo Carrero, dublê de ficcionista e professor empenhado não só em revelar ‘os caminhos da arte de escrever narrativas’, num ‘convite irresistível à criatividade’, mas também em ‘facilitar o acesso ao mercado editorial’. Responsável por três concorridíssimos seminários na última Festa Literária de Parati, Carrero promove em Recife oficinas que costumam durar quase o ano inteiro, sempre com lotação esgotada. E, para quem não dispõe de tanto tempo e prefere o aprendizado sem mestre, Carrero oferece ‘Os segredos da ficção’ (lançamento recente da editora Agir), onde ele reúne por escrito as dicas que apresenta em sala de aula. Dividido em três grandes partes – ‘A Voz Narrativa’, ‘O Processo Criador’ e ‘A Construção do Personagem’ -, de ambições abrangentes e quase definitivas, o livro é na verdade um apanhado pouco sistemático de textos curtos sobre determinados aspectos da arte de escrever ficção. Alguns comentários parecem pertinentes, outros são superficiais em excesso. Mas, num caso e no outro, estão muito distantes das reflexões mais profundas, embora igualmente didáticas, do livro ‘Aspectos do romance’, do inglês E. M. Forster, ou de ‘A arte da ficção’, do americano John Gardner – duas referências obrigatórias nesse terreno, e que o próprio Carrero não deixa de citar, embora chame ao primeiro de ‘ingênuo’ e ao segundo de ‘enfadonho’.
‘É preciso acreditar que o trabalho literário exige disciplina e método’, adverte acertadamente Raimundo Carrero, logo na Introdução. Mas se seu livro ajuda a destruir alguns mitos nefastos como o da facilidade da escrita, e a afastar os fantasmas da autocomplacência e da preguiça (de que padecem tantos aspirantes), também é fato que nutre um punhado de outras ilusões. Algumas são apenas opiniões questionáveis, como a de que quem escreve a ficção não é o autor, e sim os personagens. Outras, em contrapartida, são mais graves: sugerir, por exemplo, que a mestria está ao alcance de todos. Para animar seus leitores nessa direção, Carrero aconselha, de saída: esqueçam inspiração e talento. Deus do céu! Os gênios da literatura devem estar se revirando nos túmulos.
Antes de mais nada: não se trata de diminuir os méritos do trabalho de Raimundo Carrero, nem de questionar sua generosa proposta de partilhar a experiência acumulada como escritor. Trata-se de analisar um fenômeno – e este, no fim das contas, é coisa muito mais ampla e, nos aspectos mais problemáticos, ultrapassa as fronteiras específicas das Letras para invadir um terreno bem mais controverso: a democratização compulsória de tudo, verdadeiro clichê nestes dias que correm. Em nome de um irrefreável (e vago) ideal de igualdade, procura-se facilitar o acesso de todos não apenas a bens materiais mas também ao conjunto de valores culturais que integram o valioso patrimônio de nossa civilização. É à luz dessa curva tendencial que se deve analisar a ingênua chantagem de nossos jovens aspirantes a escritores, ao reivindicarem sua imediata ‘inclusão editorial’, numa idade em que deveriam estar, na melhor das hipóteses, lendo e exercitando a humildade de aprender.
Nessa comédia de erros, não há dúvida de que o erro maior é a confusão entre os usos e efeitos que a palavra ‘democracia’ (ah, quantos equívocos em seu nome!) possa ter em esferas tão diferentes quanto, por exemplo, a política e a vida do espírito – onde a Arte brota e floresce. Infelizmente, hoje o verbo democratizar é usado à revelia dessas diferenças. Pode significar, por exemplo, permitir que as pessoas afinal tenham acesso à literatura dos grandes autores, passando a incorporar às suas vidas essa imensurável grandeza; mas também serve – hélas – para difundir a tese populista de que os grandes autores são no fundo inacessíveis aos ‘excluídos’, devendo-se substituí-los urgentemente por similares mais ‘fáceis’.
Feitas as contas, o resultado de todo esse processo não poderia ser outro senão a ascensão do homem-massa, a que se assiste hoje, mas da qual Ortega y Gasset já falava em meados da década de 1920, no clássico ‘A rebelião das massas’. Ao promover uma descrição comparativa do ‘homem nobre’ e do ‘homem vulgar’, o filósofo espanhol nos legou um verdadeiro diagnóstico da degradação intelectual e moral da moderna sociedade de massas. Consciente do caráter explosivo de suas análises, Ortega tomou a precaução de advertir que este seu conceito-chave não era uma apologia da desigualdade social, nem podia ser reduzida a uma classificação econômico-social. Sua distinção entre elite e massas era de natureza moral, inspirando-se na doutrina hindu do dharma e do karma. Segundo Ortega, o ‘homem-massa’ pode se encontrar nas famílias ricas, ao passo que o ‘nobre’ muitas vezes nasce e cresce entre os mais pobres. Ignorar essas sutilezas é perder de vista todo o resto.
A equação se completa, quase perfeita. A este novo homem-massa, preguiçoso e arrogante, que tenta impor sua ignorância como padrão exclusivo de julgamento e referência, talvez interesse que os grandes autores, e seus ‘livros difíceis’, sejam substituídos por uma nova geração de autores-massa, que não ‘ofendam’ sua (falta de) inteligência. É este o perigo de propostas facilitadoras como as de Raimundo Carrero: baixar os padrões de exigência da literatura e, por extensão, da cultura, gerando uma linha de produtos ‘mais baratos’ que sirvam de alimento aos homens-massa.
Desconhecedores felizes desse perigo latente, alheios ao exemplo de disciplina e amadurecimento do ‘patrono’ Machado, nossos jovens parece que ignoram também outras reflexões sutis e contundentes, como a do filósofo romano Sêneca, que dizia que a fama é uma coisa horrível, pois depende sempre da opinião dos outros. Em busca de aplausos, ou de um proverbial lugar-ao-sol, o fato é que a meninada segue se desdobrando numa gincana literária sem fim, em que o amor à literatura é, no fim das contas, o que menos importa. Repetem a seu modo, e em geral sem saber, o destino do ambicioso e arrivista Julien Sorel, trágico protagonista de ‘O vermelho e o negro’ – romance que acabou garantindo a Stendhal bem mais do que os cem leitores inicialmente previstos. De resto, fica a sugestão: se a vida vai imitar a arte, que ao menos tentem escrever um final mais feliz.’
DIA DA IMPRENSA
Fernando Tolentino de Sousa Vieira
’10 de setembro, o Dia da Imprensa’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 12/09/05
‘O brasileiro de hoje é um homem ligado aos fatos que sucedem no mundo inteiro. Ao longo do dia, aciona várias vezes o rádio e entra em portais de notícias, acessando as informações com uma instantaneidade impressionante. Ao acordar, no intervalo do almoço e à noite, busca notícias mais recentes e detalhes do que soube durante o dia. Na manhã seguinte, abre os jornais para ver os fatos na sua integridade e avaliar as repercussões. Muitos ainda usam as revistas na expectativa de obter maior aprofundamento.
Raros se dão conta de que há menos de 200 anos sequer havia jornais editados no Brasil. Foi somente com a vinda da Família Real Portuguesa, em 1808, que se instituiu a Impressão Régia (atual Imprensa Nacional) e, em 10 de setembro, passou a circular a Gazeta do Rio de Janeiro, o primeiro jornal editado no País.
Jornal de orientação oficial, era dirigido pelo frei Tibúrcio José da Rocha e, até 3 de julho de 1821, circulou em duas edições semanais, com quatro a seis páginas. Dessa data até 29 de dezembro de 1821, passou a ter circulação três vezes por semana.
Seu surgimento foi saudado por Hipólito José da Costa, que acabara de lançar, na Inglaterra, o Correio Braziliense, que era, de lá, enviado para o Brasil. ‘Saiba o mundo, e a posteridade, que, no ano de 1808 da era cristã, mandou o governo português, no Brasil, buscar à Inglaterra uma impressão, com os seus apendículos necessários, e a remessa que daqui se lhe fez importou em cem libras esterlinas!!! Contudo diz-se que aumentará esse estabelecimento, tanto mais necessário quanto o governo ali nem pode imprimir as suas ordens para lhes dar suficiente publicidade. Tarde, desgraçadamente tarde: mas, enfim, aparecem tipos no Brasil; e eu de todo o meu coração dou os parabéns aos meus compatriotas brasilienses’. Fez o elogio, mas não deixou de assinalar, com mordacidade, o longo silêncio que cobriu a colônia portuguesa até então.
A Gazeta do Rio de Janeiro cumpriu a missão de publicar os atos oficiais da Coroa. Mas não se restringiu a isso, exercendo, em sua fase inicial, uma interessante função informativa. Além de notícias breves, do exterior, que naturalmente chegavam com grande atraso, foi o pioneiro na publicação de publicidade. É também de 1808 este anúncio, o primeiro publicado no Brasil: ‘Quem quiser comprar uma morada de casas de sobrado com frente para Santa Rita, fale com Ana Joaquina da Silva que mora nas mesmas ruas, com o Capitão Francisco Pereira de Mesquita que tem ordem para vender.’
Os dados coletados e mantidos pela Assessoria de Comunicação da Imprensa Nacional mostram que Hipólito José da Costa tinha absoluta razão ao caracterizar como tardio o surgimento de jornais no Brasil, quando países vizinhos de língua espanhola já tinham, de longe, direito a esse privilégio. O certo é que, desde que o lançamento da Gazeta do Rio de Janeiro propiciou a ruptura com a inaceitável privação de não terem os brasileiros acesso a jornais, a indústria gráfica e, principalmente, o jornalismo deram incríveis saltos em nosso País.
É claro que a quantidade de jornais impressos no Brasil diariamente ainda é relativamente tímida, em face da nossa população. Mas a qualidade do nosso jornalismo, a sua capacidade investigativa, o nível editorial e a modernidade gráfica ou a revolução empreendida pelo jornalismo eletrônico, para não falar da qualidade de nossa publicidade, nada ficam a dever aos principais países europeus, aos Estados Unidos ou ao Japão.
Mas a verdade é que a caminhada se inicia com o primeiro passo e, em solo brasileiro, esse foi dado com a Gazeta do Rio de Janeiro, em 10 de setembro de 1808. É uma data, portanto, que não pode ser esquecida.
(*) Jornalista e diretor-geral da Imprensa Nacional
Nota da Redação do Comunique-se
Até 1999, o Dia Nacional da Imprensa era comemorada em 10/09. Antes, valia o decreto de Getúlio Vargas, que 60 anos antes vinculou o início da atividade jornalística no Brasil ao lançamento Gazeta do Rio, jornal da Coroa Portuguesa lançado em 1808. Desde 2000, o dia passou a ser comemorado em 1º de junho, quando o Correio Braziliense, de José Hipólito da Costa, circulava pela primeira vez.
A ARI deu início à campanha em 1998, quando entregou ao deputado Nelson Marchezan uma minuta de projeto de lei sugerindo uma nova data para o Dia Nacional da Imprensa. Marchezan, vítima de infarto, não teve dificuldades em aprovar o projeto.
Gazeta do Rio era uma espécie de pedra no sapato dos jornalistas que não aceitavam ter um jornal nascido sob o signo da censura como representante da imprensa brasileira. Dirigida pelo Frei Tibúrcio José da Costa, funcionava como um diário oficial da Corte, publicando apenas o que interessava à Coroa. Seu porte era limitado – não passava de quatro páginas.
Correio Braziliense, que também é de 1808, pregava a liberação do Brasil dos domínios de Portugal. Rodado em Londres com o apoio de maçons ingleses – qualquer atividade de impressão no Brasil era proibida -, o jornal chegou a ser chamado de Armazém Literário, por dar valor a colunas e opiniões. Os exemplares chegavam nos porões dos navios que aportavam no Rio de Janeiro.’