Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Morre nos EUA o escritor John Updike

Leia abaixo a seleção de quarta-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 28 de janeiro de 2009


 


LITERATURA
Folha de S. Paulo


Morre nos EUA o escritor John Updike, 76


‘O escritor norte-americano John Updike morreu ontem, aos 76 anos, de câncer de pulmão, em Massachusetts, nos EUA. Um dos principais autores de língua inglesa, Updike ficou célebre pela série de livros ‘Coelho’ e pelo romance ‘As Bruxas de Eastwick’, levado ao cinema em 1987, com Jack Nicholson como protagonista.


Vencedor de dois prêmios Pulitzer e de dois National Book Awards -os principais dos EUA-, também era recorrente candidato ao Nobel. No ano passado, foi convidado para participar da Festa Literária Internacional de Paraty, mas não respondeu à proposta.


A notícia da morte foi dada por Nicholas Latimer, seu editor na Alfred A. Knopf: ‘Ele era um de nossos grandes escritores e fará muita falta’.


Autor produtivo, Updike deixa uma longa lista de mais de 50 títulos, ao longo de uma carreira iniciada na década de 50.


Segundo a crítica literária do jornal ‘The New York Times’, Michiko Kakutani, os romances de Updike eram ‘variados e ambiciosos’ e definiam ‘de modo lírico as alegrias e arrependimentos da classe média norte-americana’.


Entre seus principais temas estavam o sexo e angústias espirituais e morais. Updike dizia que seu assunto, essencialmente, ‘era a classe média protestante norte-americana’, bem retratada na série composta pelos livros ‘Coelho Cai’, ‘Coelho Corre’, ‘Coelho Cresce’ e ‘Coelho em Crise’.


O professor de teoria literária da Unicamp Eric Sabinson concorda: ‘Foi um grande observador do comportamento do norte-americano médio. Além disso, era um estilista, com bastante senso de humor, e um bom crítico de arte’.


No Brasil


O escritor esteve no Brasil em março de 1992, para lançar quatro títulos da série ‘Coelho’. Na ocasião, realizou o seu desejo de ver a constelação do Cruzeiro do Sul, no Rio de Janeiro, e encontrou-se com autores brasileiros.


Entre eles, estava o gaúcho Moacyr Scliar: ‘Na literatura como na vida real, era um tipo afetivo, de uma empatia notável que lhe permitiu ser intérprete da sociedade americana e atingir um grande público’.


Um de seus compromissos em São Paulo foi uma palestra no auditório da Folha, em que analisou a literatura brasileira, elogiando Machado de Assis e Euclydes da Cunha.


Sobre o primeiro, Updike disse que ‘foi certamente um mestre’, ‘tinha um tom leve e delicado’, e que havia lido ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’ e ‘Dom Casmurro’.


Citou, ainda, entre suas preferências, Clarice Lispector e Rubem Fonseca. Além de divulgar seus livros, Updike visitou cidades históricas de Minas Gerais, como Ouro Preto. Um dos resultados da viagem foi o romance ‘Brazil’, de 1994.


O editor de sua obra no Brasil, Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, disse que Updike ‘era um homem alegre e doce, e como escritor tinha uma técnica incrível’.


Bruxasm


A editora vai publicar, em 2010, uma edição de bolso de ‘As Bruxas de Eastwick’ e, em 2011, lançará o inédito ‘As Viúvas de Eastwick’, de 2008.


Updike nasceu em 18 de março de 1932, em Reading, na Pensilvânia, e estudou inglês em Harvard e arte em Oxford, no Reino Unido. Ele se casou duas vezes e teve quatro filhos. Nos anos 50, o escritor entrou para o time de colaboradores da revista ‘New Yorker’, na qual publicou poemas, contos e ensaios. Em 1958, foi publicado seu primeiro livro, ‘The Carpentered Hen and Other Tame Creatures’, de poesias.’


 


 


Marcos Strecker


Foi popular e prolífico, mas não brilhante


‘Com a morte de John Updike, sai de cena um dos maiores nomes da literatura americana contemporânea. Era um dos mais prolíficos, populares, versáteis e premiados. Mas nem por isso era brilhante.


Updike foi o grande retratista da classe média americana -no mau sentido. Mostrava a consciência dos subúrbios brancos com alguma ambição -estilística e formal-, mas seus livros se assemelhavam a crônicas despretensiosas.


É o caso da série Coelho (‘Coelho Corre’, ‘Coelho em Crise’, ‘Coelho Cresce’ e ‘Coelho Cai’). Essa rapsódia rasa da sociedade americana no pós-guerra podia, é certo, afagar uma certa inquietação da geração ‘baby boom’. Reproduzia os ecos da contracultura, flertava com a inquietação dos 60. Mas, no fundo, fazia a apologia do establishment.


Esse diálogo fácil com o senso comum explica em parte seu enorme sucesso de vendas. Era best-seller recorrente e conseguia um certo prestígio, que lhe valeu as principais distinções literárias americanas -dois Prêmios Pulitzers e dois National Book Award.


Nem por isso convencia a crítica americana e a europeia como um todo. Norman Mailer, um dos pais do ‘new journalism’, era um de seus grandes detratores.


Alegorias frágeis


Suas alegorias eram frágeis ou francamente sem graça. É o caso de ‘Brazil’, que procurou inspirar-se numa visão-clichê do país para tratar da utopia da reconciliação social e racial. Em ‘Terrorista’, traçou um retrato superficial dos EUA pós-11 de Setembro pelo olhar de um jovem que se vê confrontado entre dois mentores antípodas. Foi um dos grandes fracassos nesse quase subgênero literário que tentou compreender os atentados pelo olhar perplexo americano.


Uma de suas obras mais conhecidas, ‘As Bruxas de Eastwick’, é um bom exemplo do abuso na procura do erotismo fácil pelo olhar suburbano, no sentido americano. Era um retratista do cotidiano e das miudezas.


Mas era um resenhista atualizado e respeitado que, como o sul-africano J.M. Coetzee, soube transitar entre a produção crítica e ficcional com elegância e acuidade. Escrevia com frequência, por exemplo, para a ‘New Yorker’, a mais prestigiosa revista literária americana. Sua série de ensaios, contos e poemas compõem um resumo do pensamento intelectual americano dos últimos 50 anos.


Autor competente, Updike não tinha porém uma estatura autoral que se igualasse à de mestres como Philip Roth ou Cormac McCarthy. Esses, ao lado do arredio Thomas Pynchon e do irregular Don DeLillo fazem da literatura americana um celeiro da melhor produção romanesca contemporânea, juntamente com a britânica.’


 


 


Texto inédito de Callado foi escrito em 92


‘Em 1992, o escritor Antonio Callado (1917-1997) escreveu, a convite da Folha, um comentário sobre a obra e a trajetória do autor norte-americano John Updike -que a seu ver já teria chegado, naquele momento, ‘a um extraordinário e equilibrado nível de qualidade e popularidade’. Na época, o jornalista e autor de romances como ‘Quarup’ e ‘Reflexos do Baile’ era colunista da Ilustrada. O texto, que permaneceu inédito, arquivado no Banco de Dados, é agora publicado postumamente.’


 


 


Antonio Callado


O escritor-padrão dos EUA


‘De uma forma abrangente, geral, seria possível dizer que John Updike foi o escritor de maior êxito no mundo de hoje. Ele certamente não foi tão popular e lido em toda a parte quanto Gabriel García Márquez, nem foi tão prezado pelos cultores da arte literária quanto contemporâneos seus do calibre de Borges, Beckett ou Nabokov.


No entanto, como romancista, como poeta, como ensaísta e cronista, Updike chegou a um extraordinário e equilibrado nível de qualidade e popularidade. E, finalmente, passou a ser, na sua geração, o representante mais completo do intelectual americano. É o escritor-padrão da nação que é, de longe, a mais poderosa do mundo.


A geração imediatamente anterior à de John Updike produziu nos Estados Unidos três excelentes romancistas: William Faulkner, Ernest Hemingway e Scott Fitzgerald. Diferentes entre si, vigorosos e originais, os três ergueram a ficção americana ao nível das grandes do mundo. Faulkner absorveu o que havia na ficção do seu tempo para eternizar as angústias do Deep South. Quanto aos outros dois, refletiram e retrataram a totalidade da sua nação, Fitzgerald celebrando a riqueza crescente, o puro êxtase, meio arrogante, do homem que busca todos os triunfos, e Hemingway tentando manter viva nesse mundo hedonista a figura do herói. ‘Suave É a Noite’, dizia Fitzgerald num título de romance, ‘Por Quem os Sinos Dobram’, replicava Hemingway em outro. Ilustrando ambos as próprias ficções, morreu o primeiro num crepúsculo alcoólico, pobre, esquecido, e Hemingway enfiou na boca o cano de um fuzil de caça e apertou o gatilho.


A geração seguinte cresceu num império tranquilo, consolidado, que se reflete na obra culta, inteligente, e, digamos assim, caseira, de Updike. Sua série do personagem Harry Rabbit Angstrom [‘Coelho Corre’, ‘Coelho em Crise’, ‘Coelho Cresce’, ‘Coelho Cai’ e ‘Coelho Se Cala’] vale quase por uma história dos Estados Unidos em nosso tempo. Updike abandonou esse herói, que o acompanhou durante tantos anos, mas não abandonou o dia-a-dia da vida do país. O romance que publicou em 1992 se chamou ‘Memories of the Ford Administration’. O título não pode ser mais explícito.


Ensaio e crítica


Mas não foram só esses romances que Updike escreveu, e alguns dos outros são deliciosos, como ‘Couples’, o das intrigas sexuais, ou ‘Roger’s Version’, em que o herói procura Deus no computador. John Updike é, além disso, um refinado contista e um poeta leve, despretensioso, mas frequentemente tocante, como os brasileiros podem ajuizar pelo poema ‘Rio de Janeiro’, que ele publicou em ‘The New Yorker’ ao regressar aos Estados Unidos, depois de visitar o Brasil em março de 1992.


No entanto, se tudo indica que os romances de Updike terão sempre uma posição honrosa na literatura dos Estados Unidos e que seus contos e poemas também figurarão em antologias vindouras, seu lugar, talvez o mais certo, no futuro é o de ensaísta e crítico de ideias, ao lado de contemporâneos eminentes como George Steiner ou de clássicos do gênero de William Hazlitt.


À segurança do julgamento crítico, ao invariável bom gosto, ao toque de malícia e elegância do texto, o ensaísta Updike aliou sempre os ingredientes fundamentais: a cultura vasta, a incansável disposição de pesquisa. Um ensaísta dessa estirpe é tão raro quanto um grande romancista, contista, poeta.’


 


 


POLÍTICA E TECNOLOGIA
Fernando Rodrigues


Políticos analógicos


‘BRASÍLIA – Quando o assunto são novas tecnologias de comunicação e uso da internet, há pouca divergência entre os candidatos a presidente da Câmara e do Senado. Todos são a favor do uso intensivo da rede mundial para aproximar o Congresso dos eleitores, mas ninguém sabe direito o que fazer.


O conhecimento tecnológico comum dos candidatos se resume a saber enviar e receber e-mails. Alguns preferem terceirizar essa tarefa para assessores. Os senadores José Sarney e Tião Viana e os deputados Michel Temer, Ciro Nogueira, Aldo Rebelo e Osmar Serraglio têm páginas convencionais na web. Nada aproximado de endereços pessoais em redes de relacionamento social, com espaço interativo. Nenhum deles têm página própria no Orkut, um site detentor de espantosos 37 milhões de brasileiros registrados.


Canal próprio no YouTube? Nem pensar. Isso é sofisticação para o norte-americano Barack Obama. O máximo disponível em vídeo dos candidatos na internet são transmissões repetidas das TVs Câmara e Senado. No site do Senado, só terá vida fácil o usuário de Windows.


Sem pagar royalties a Bill Gates é difícil assistir aos eloquentes discursos de Sarney e de Tião Viana. A proposta mais objetiva entre todos os candidatos é a de Osmar Serraglio. Ele deseja colocar ao vivo na web todas as sessões das comissões de trabalho da Câmara. Já seria um avanço. E como fazer para os cidadãos interagirem nos debates sobre uma lei usando a internet? Ninguém tem uma boa resposta.


Ciro Nogueira, Osmar Serraglio e Tião Viana são os únicos adeptos dos chamados ‘smartphones’.


Usam o celular para conversar, ler sites noticiosos, enviar e receber e-mails. Sintomático do estado analógico da política brasileira, nenhum desses três pode ser apontado como favorito na disputa pelo comando do Congresso.’


 


 


CHOQUE DE ORDEM
Ruy Castro


Pequenos delitos


‘RIO DE JANEIRO – O carioca parece encantado com o ‘choque de ordem’ que Eduardo Paes prometeu em campanha e está cumprindo como prefeito. Carros estacionados em lugar proibido são rebocados; construções irregulares, demolidas; outdoors em área ilegal, arrancados. Flanelinhas, ambulantes, camelôs, catadores de lixo, falsos mendigos e crianças de sinal, ou se enquadram ou dançam. Pela primeira vez em anos, sente-se a presença do poder público.


Claro que não faltam os espíritos de porco para reduzir esse esforço a uma simples toalete. E os pessimistas crônicos ignoram o presente e só querem saber do que estará acontecendo daqui a um ano, sob a alegação de que, ‘no começo’, todo prefeito gosta de mostrar serviço. Mas não é bem assim. O prefeito anterior, Cesar Maia, teve várias reeleições para fazer isto e preferiu dar as costas à cidade.


Diante de reportagens sobre mazelas localizadas da cidade, Cesar dizia que se recusava a ‘ser pautado pelos jornais’. Com isso, recusava-se também a ser pautado pelo bom senso. Que governante pode dispensar a imprensa como filtro do que a população está querendo dizer? Com o novo prefeito, até agora, a imprensa apita; ele confere e, se possível, resolve; se não, dá uma satisfação. A população percebe isto e se sente cuidada.


Mas é difícil mudar as pintas do leopardo. Um homem pedala sua bicicleta pela calçada, ignorando a ciclovia vazia ao seu lado. Ao ser educadamente interpelado por um policial, diz que o guarda não deveria estar ali, perdendo tempo com ele, mas ‘prendendo os bandidos’. Outro, revoltado com a perseguição aos camelôs, argumenta que ‘é melhor o sujeito estar vendendo produto ilegal do que roubando’.


Os dois estão errados. O grande delito começa pelo pequeno delito. A solução deles também.’


 


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Aos muçulmanos


‘No enunciado da Al Arabiya, Barack Obama, em sua primeira entrevista como presidente americano, afirmou que as negociações deveriam ser retomadas e elogiou o plano de paz do rei da Arábia Saudita, Abdulla -ao qual se alinha o canal de notícias.


Mas a televisão logo destacou, como fizeram o ‘New York Times’ em sua manchete on-line e sites americanos como Huffington Post e Politico, uma declaração em especial: ‘A minha tarefa junto ao mundo muçulmano é comunicar que os americanos não são seus inimigos’. No enunciado do ‘NYT’, ‘Obama sinaliza novo tom nas relações com o mundo islâmico’.


O site da Al Arabiya postou de imediato a transcrição da entrevista e vídeos, também no YouTube, no canal da correspondente da TV em Washington.


APESAR DA BBC


Na home da Al Arabiya e também de ‘Guardian’ e outros, a notícia de que, mesmo vetado na estatal BBC, o vídeo da campanha de doações para Gaza já levantou 1 milhão de libras


AOS LATINOS


Na semana passada, a rede americana Univision, em espanhol, também deu entrevista com Obama, feita dias antes da posse. A repercussão foi restrita nos EUA e até na América Latina. O que mais ecoou, via AP, foi dizer que Hugo Chávez é ‘uma força que tem impedido o progresso da região’. Mas Obama falou mais, ‘por exemplo’ e antes de tudo, de cooperação em energia. Sobre o que ‘os líderes da América Latina podem esperar’, respondeu:


– Começa pelo respeito. Começa pelo reconhecimento de que os EUA são um vizinho a mais neste hemisfério e que Brasil, México, Argentina, Chile, todas as outras nações da região, têm contribuições importantes a dar. Nossa tarefa não é dizer o que é bom para outros países e sim encontrar áreas de interesse mútuo e cooperação.


ENERGIA 1


No relato da AP sobre os telefonemas de Obama a ‘líderes estrangeiros’, anteontem, o destaque de que ‘enfatizou o desejo de criar relações de trabalho mais fortes’ com os quatro, de Rússia, Alemanha, França e Brasil. Com Lula, tratou de ‘ambiente, energia e crise’ e ‘enfatizou a importância de fortes relações entre seus dois países’.


ENERGIA 2


O novo editor de Energia Alternativa do ‘New York Times’ deu entrevista aos próprios leitores e, desde logo, foi questionado sobre etanol, em especial o brasileiro, de cana. Diz que ele mostra que não há alternativa perfeita aos combustíveis fósseis e é preciso ‘decidir, como nação ou planeta, que custos estamos dispostos a aguentar’.


AS MAIS ADMIRADAS


Deu na ‘New York’ e ecoou no Blue Bus que as agências publicitárias americanas ‘lutam para se ajustar à nova era, em que as pessoas mais admiradas da América são uma família negra’. Agentes buscam modelos (acima) que lembrem as duas filhas de Obama


MANIPULAÇÃO


Em destaque ontem por HuffPost e tabloides, um novo documentário sobre bastidores da ‘Vogue’ revelou que uma capa de setembro, a principal do ano para a revista, com a atriz Sienna Miller fotografada por Mario Testino, exagerou na ‘manipulação digital’ da realidade e colou cabeça e tronco de fotos diferentes


DE 41 PONTOS PARA 16


Do Blue Bus ao Radar On-line, passando pelo blog de Patricia Kogut no Globo Online, espalhou-se ontem a notícia de que ‘Caminho das Índias’ marcou 31 pontos de audiência, na segunda. Pouco mais de uma semana antes, ‘A Favorita’ havia terminado com mais de 50.


‘O problema é que já está próximo do patamar dos 20 pontos, um número desprezível.’ Pior, ‘reduziu-se a distância que a Globo mantinha da Record, no final de ‘A Favorita’, de 41 pontos para somente 16’.’


 


 


CASA BRANCA
Sérgio Dávila


EUA não são seus inimigos, diz Obama a muçulmanos


‘Num gesto simbolicamente importante, Barack Obama escolheu a emissora Al Arabiya, de língua árabe e voltada para a comunidade muçulmana, para dar sua primeira entrevista exclusiva como presidente na Casa Branca. Fez isso momentos antes de seu novo enviado especial ao Oriente Médio, George Mitchell, partir em sua primeira missão de paz à região.


O tom da conversa foi conciliatório, uma ruptura em relação ao discurso belicoso de seu antecessor, George W. Bush.


‘Meu trabalho com o mundo muçulmano é comunicar que os americanos não são seus inimigos’, disse Obama, que confirmou que falará à comunidade a partir de uma capital muçulmana, embora tenha se recusado a dizer qual e quando.


Sobre o Irã, disse que o país apoiou organizações terroristas ‘no passado’ -Bush afirmava que Teerã o faz no presente. Sobre Israel, afirmou que não deixará de ser um aliado forte dos EUA, mas que o país está disposto a fazer sacrifícios e que ele espera a criação de um Estado palestino, embora tenha se recusado a citar prazo. Disse ainda que sua principal recomendação a Mitchell foi a de ouvir, ‘porque com demasiada frequência os EUA começam por ditar’.


Bush, cuja primeira entrevista no cargo foi à conservadora FoxNews, havia falado à rede em 2004, após o escândalo da prisão iraquiana de Abu Ghraib, e em 2007, mas o teor das conversas foi outro. Ao escolher a emissora árabe para sua primeira entrevista entre milhares de veículos de comunicação locais e internacionais, Obama reforça o recado de mudança de rumo na chamada ‘guerra ao terror’.


Na entrevista, Obama chegou até a comentar sua relação familiar com os muçulmanos, tabu durante a campanha -em um dos últimos comícios, duas muçulmanas que vestiam burcas na arquibancada atrás do palco em que o então candidato falaria foram retiradas para que não aparecessem na TV.


‘Tenho muçulmanos em minha família’, disse o presidente, cujo nome do meio é Hussein, referindo-se a parte da família de seu pai e de seu padrasto que seguem a religião -Obama é cristão. ‘Já vivi em países muçulmanos’, completou, sobre o fato de ter passado parte da infância na Indonésia.


Mensagem


A escolha da Al Arabiya é política. A emissora, criada em 2003, tem menos penetração que a Al Jazeera, mas é considerada mais moderada que sua rival (leia texto abaixo). Põe em dúvida ainda o futuro da Al Hurra, baseada nos EUA, que entrou no ar em 2004 com dinheiro do governo Bush e nunca decolou de verdade.


‘Se você vê os primeiros relatos vindos da região, há uma recepção realmente positiva à entrevista’, disse Robert Wood, porta-voz interno do Departamento do Estado, quando indagado sobre a estratégia. ‘É um claro exemplo do desejo deste governo de alcançar o mundo muçulmano, e suspeito que veremos outras tentativas.’


Feita na noite de anteontem na Sala dos Mapas da Casa Branca, a entrevista foi conduzida pelo veterano Hisham Melhem, chefe do escritório de Washington da emissora, que já entrevistou Bush, e não teve temas proibidos nem censura prévia ou posterior. Ainda assim, o jornalista não chegou a por Obama contra a parede.


Deixou para o final a discussão sobre o Iraque, por exemplo, e acabou não tendo tempo de fazer perguntas sobre o conflito. As emissoras noticiosas americanas trataram com discrição o ‘furo’ (jargão jornalístico para informação dada antes pela concorrência), mesmo a Fox News. Em geral, a blogosfera seguiu o mesmo tom.’


 


 


Al Arabiya tenta ser versão arejada da TV árabe


‘‘Os EUA veem a Al Arabiya como um canal árabe amigável, enquanto consideram a Al Jazeera confrontante.’ A explicação de Lawrence Pintak, diretor do centro de treinamento em jornalismo da Universidade Americana, no Cairo (Egito), ajuda a entender por que Barack Obama preteriu a emissora pioneira no mundo árabe em detrimento da concorrente, ao dar sua primeira entrevista como presidente dos EUA.


Financiada por capital saudita e com sede em Dubai (Emirados Árabes), a Al Arabiya foi lançada em março de 2003, às vésperas de o governo Bush ordenar a invasão do Iraque. Quando suas transmissões começaram, a Al Jazeera -que há dois anos tem também um canal em inglês- já estava em atividade havia sete anos.


Apesar de ter um terço do tempo de existência da empresa criada pelo emir do Qatar, a Al Arabyia e suas práticas já produziram mudanças na concorrente, conforme relatou há um ano o ‘New York Times’.


Ao publicar um perfil de Rahman al Rashed, diretor-geral da emissora que entrevistou Obama, o jornal registrou que o canal liderou um arejamento da mídia árabe, ampliando a gama de entrevistados e substituindo termos carregados de significado por outros mais neutros, tais como ‘mártires’ por ‘civis mortos’ ou ‘resistência’ por ‘homens armados’.


Se isso gerou, no Ocidente, a ideia de que a Al Arabyia tem linha mais sóbria, também motivou críticas à emissora, que, vez por outra, é citada no mundo árabe como ‘Al Ibriya’, literalmente ‘A Hebraica’. Na última semana de 2008, por exemplo, Hassan Nasrallah, líder do Hizbollah, fez o trocadilho ao comentar a cobertura dos ataques israelenses à faixa de Gaza.


Com agências internacionais’


 


 


CRISE
Folha de S. Paulo


Yahoo! tem primeiro prejuízo desde 2002


‘O Yahoo! anunciou ontem que teve um prejuízo de US$ 303 milhões no quarto trimestre do ano passado, a primeira perda da empresa desde 2002. Segundo a companhia, parte da perda se deve aos gastos com a demissão de 1.500 funcionários, anunciada no final do ano passado.’


 


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Ibope faz Record esticar seriado ‘carioca’


‘Inicialmente programada para ter 16 episódios, ‘A Lei e o Crime’, da Record, fechará sua primeira temporada, em junho, com 23 capítulos. Anteontem, a cúpula da emissora encomendou ao autor Marcílio Moraes mais sete edições. E avisou que a série sangrenta terá segunda temporada em 2010.


Baseado nos conflitos entre um traficante de morro carioca, um policial violento e corrupto e uma delegada rica, ‘A Lei e o Crime’ emplacou no Ibope, principalmente no Rio. Lá, marcou 24 pontos nas últimas duas segundas-feiras, dividindo com a Globo o primeiro lugar. Em São Paulo, o seriado estreou com 18 pontos, mas caiu para 14. Anteontem, subiu para 16 de média.


Marcílio Moraes diz que já esperava uma segunda temporada, mas fala que ficou surpreso com a encomenda de mais sete episódios para 2009: ‘Estava escrevendo os últimos quatro episódios, fechando a história. Agora terei que abrir’.


A Record tirou do ar seu portal de vídeos em banda larga na internet. Agora, quem procura o ‘Mundo Record’ é redirecionado para um canal no YouTube. A qualidade desabou -nem todos os programas estão atualizados e os vídeos são fragmentados-, o que gerou protestos. A emissora não chegou a acordo comercial com a empresa que gerenciava o portal.


ALANIS AO VIVO


O ‘Domingão do Faustão’ volta a ser exibido ao vivo no próximo domingo. E retorna com tudo. A principal atração da edição será a cantora canadense Alanis Morissette, que, em turnê pelo Brasil, apresentará, nos estúdios do ‘Domingão’ em São Paulo, um pocket show acústico com seus hits.


ELTON


A transmissão na íntegra do show de Elton John levou o Multishow à liderança entre os canais pagos na noite do último dia 17. O canal atraiu mais de 860 mil telespectadores durante duas horas de show.


FIM DE LINHA


Ancorado por Daniella Cicarelli, o ‘Band Verão’ deu 2,3 pontos anteontem à noite. Menos do que o ‘Show da Fé’. O teleculto cravou 2,5.


FORA DA ORDEM


‘Caminho das Índias’ marcou 31,5 pontos na Grande SP anteontem. Nunca uma novela das oito rendeu tão pouco numa segunda de janeiro. Em relação à estreia, a novela perdeu público para todas as emissoras, principalmente para Record (2,3) e SBT (1,5). Outro 1,5 ponto foi de TV desligada.


NA ORDEM


‘Caminho’ fechou a primeira semana com 35,7 de média, a mesma de ‘Duas Caras’.


SOBREVIDA


Apesar do ibope baixo, o ‘Olha Você’ vai ganhar sobrevida no SBT. O programa deixou de ser revista eletrônica. Agora é telejornal gravado -Ellen Jabour e Claudete Troiano perderam espaço. Nesta semana, ganhará três novos repórteres e seis editores.’


 


 


Canal Brasil exibe curtas de animação


‘O Canal Brasil exibe amanhã e domingo o último programa do especial sobre o diretor brasileiro de curtas de animação Rodrigo Araújo. Serão exibidos três curtas inéditos, ‘Kapivarismo’, ‘Pombalinos’ e ‘Os Quindins de Iaiá’.


Araújo narra bem-humorados episódios sobre sua infância em Piedade, pequeno município do interior de São Paulo, nos anos 80. Suas histórias abordam questões como a exploração dos recursos naturais das florestas brasileiras, a migração nordestina para São Paulo, o saneamento básico e a aculturação indígena.


Em ‘Kapivarismo’, uma capivara encontra ‘O Capital’, clássico de Karl Marx, boiando nas águas do rio e, com os ensinamentos do livro, lidera uma sociedade de capivaras socialistas contra o impacto ambiental na região.


Já em ‘Pombalinos’, aves invadem a cúpula da Basílica de Aparecida do Norte e exigem que a igreja reconheça sua superioridade e outorgue a teocracia pombalina. O padre, desesperado, pede ajuda a um joão-de-barro para expulsá-las.


Uma retirante baiana é a protagonista de ‘Os Quindins de Iaiá’, que narra sua aventura de chegar na cidade de São Paulo e realizar o sonho de abrir um restaurante para vender seus deliciosos quitutes.


MOSTRA CURTAS DE ANIMAÇÃO – RODRIGO ARAÚJO


Quando: amanhã, às 21h; e dom., às 11h


Onde: Canal Brasil


Classificação: livre’


 


 


INTERNET
Folha de S. Paulo


Em bate-papo, Gilberto Gil defende liberdade na rede


‘Em meio a debates sobre o futuro e novos caminhos para a internet e a tecnologia, uma palestra-show do ex-ministro da Cultura Gilberto Gil caiu como um presente para a programação da Campus Party.


O músico relembrou sua ligação com a tecnologia, que começou na infância, ao entender como funcionava seu próprio corpo, e alcançou maturidade em sua expressão artística -com músicas como ‘Cérebro Eletrônico’ e o disco ‘Banda Larga Cordel’- e no trabalho político.


Entre vários assuntos, Gil falou sobre o projeto de lei do senador Eduardo Azeredo, para identificação de usuários na internet: ‘As ordens são aquilo que nós fazemos. Esses que defendem essa ordem rígida agora estão com medo da internet. Acham que é o lugar do caos absoluto, ameaça à moralidade, o paraíso da nova criminalidade -eles defendem uma internet cada vez mais fechada.’’


 


 


Stefhanie Piovezan


Mulheres desatentas são alvo de gravações clandestinas


‘Basta digitar ‘mulheres metrô’ para que vídeos de mulheres com blusas decotadas ou calças justas apareçam no YouTube. Elas são filmadas dentro dos trens, nas ruas e nos ônibus.


A estratégia é usar a câmera do celular para filmar mulheres desatentas. Nem grávidas escapam aos vídeos, que possuem milhares de acessos. ‘Caso perceba que está sendo filmada, a mulher deve entrar em contato com a polícia. Trata-se de importunação ofensiva ao pudor’, diz José Mariano de Araújo Filho, da 4ª Delegacia de Delitos Cometidos por Meios Eletrônicos.


Se a vítima conseguir se identificar em um vídeo, deve entrar em contato com a Polícia Civil e registrar um boletim de ocorrência. ‘A identificação é problemática porque há uma preocupação em esconder o rosto da pessoa filmada’, diz o delegado.


Segundo o YouTube, qualquer usuário pode denunciar o conteúdo que considere irregular. Para isso, basta clicar em ‘Sinalizar’. ‘Quando o vídeo é considerado impróprio, ele é retirado do ar em no máximo 72 horas após a denúncia’, diz o site.’


 


 


Gustavo Villas Boas


Mentes de Hollywood recheiam Strike.TV


‘Para ver uma série feita por profissionais de Hollywood, no dia em que ela vai ao ar pela primeira vez, não é preciso recorrer à pirataria na internet.


O site Strike.TV mostra o trabalho de roteiristas, diretores e profissionais de shows como ‘The Office’ e ‘Saturday Night Live’. E eles não são responsáveis só pela criação -é deles o dinheiro na produção.


‘Por causa dos baixos custos da produção em alta definição, da pós-produção e da distribuição via internet, tornou-se muito fácil para profissionais criarem shows originais sem a necessidade de apoiar-se nos estúdios tradicionais para arrecadar’, disse à Folha, por e-mail, Peter Hyoguchi, fundador e presidente-executivo da Strike.TV.


Com isso, os criadores de programas contam com liberdade. ‘É uma coisa pioneira na história de Hollywood. Artistas nunca tiveram as condições para total liberdade de criação.’


O site foi concebido durante a greve comandada pelo sindicato dos roteiristas dos EUA e lançado em outubro. Um dos objetivos é arrecadar fundos para profissionais prejudicados pela paralisação.


Pós-11 de Setembro


Uma das séries de sucesso do site é ‘Anyone But Me’. Com Susan Miller (‘The L Word’, ‘thirtysomething’) entre as roteiristas, tem como protagonista a garota Vivian McMillan (Rachael Hip-Flores), 16.


Ela representa a geração pós-11 de Setembro. ‘Jovens mais alertas, mais vulneráveis, mais conscientes de serem cidadãos globais (ou que deveriam ser!)’, disse Susan Miller à Folha.


Vivian é uma jovem de Nova York que precisa sair da cidade por causa da saúde do pai. Ele é um bombeiro que trabalhou nos resgates das vítimas dos atentados, o que lhe legou problema nos pulmões.


O primeiro episódio -foram quatro ao ar, que podem ser vistos no site- já mostra que a série não se rende a estereótipos: enquanto Vivian despede-se da namorada, o pai espera tranquila e normalmente no carro. O namoro entre as jovens não é motivo de conflito.


Vivian é símbolo de uma geração em que as diversidades sexual e étnica não são barreiras para os (ainda complicados) relacionamentos.


Apesar das referências nova-iorquinas (o problema de saúde dos bombeiros, por exemplo, é real), Miller considera que ‘não é preciso viver nos EUA para sentir as reverberações do que acontece aqui ou em qualquer lugar’.


‘Para os brasileiros, ‘Anyone But Me’ pode ser um meio de enxergar que existe algo que a geração pós-11 de Setembro (e os adultos que se importam com ela) compartilha; as lutas pessoais para se tornar o que realmente você é, para encontrar e vivenciar o amor, para experimentar tudo.’


Miller elogia a interatividade -que ‘facilita o contato entre artista e público’- e o alcance proporcionado pela internet. ‘É incrível como ‘Anyone But Me’ tem capacidade de abarcar culturas e gerações e encontrar espaço em um enorme mapa.’’


 


 


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Al Jazeera distribui vídeos de Gaza que podem ser editados


‘A rede de notícias árabe Al Jazeera criou um site, neste ano, para hospedar vídeos sob a licença Creative Commons.


Dessa forma, quem quiser pode baixar os filmes e editá-los, além de reproduzir e transmitir as obras.


A iniciativa, com vídeos que se concentram em registrar o dia-a-dia da guerra na faixa de Gaza, foi saudada por Lawrence Lessig, fundador do Creative Commons. ‘A Al Jazeera está nos ensinando uma importante lição sobre como a liberdade de expressão é construída e amparada’, afirmou o professor de direito.


Filme aberto


Existem projetos que visam fazer um filme coletivamente.


O documentário ‘Digital Tipping Point’s’ quer mostrar que a prática do código aberto não se restringe apenas ao software e começa a conquistar outros modelos culturais. O vídeo ainda não está pronto.


Já ‘Valkaama’ (www.valkaama.com), um drama, possui versão para download -mas as pessoas por trás do projeto pedem ajuda para que outros participem do processo de pós-produção do longa metragem.


O megaportal de fotos Flickr possui cerca de 92 milhões de imagens licenciadas de alguma maneira sob Creative Commons. O site possui uma seção organizada (www.flickr.com/creativecommons) para quem quer procurar imagens sob uma licença específica.


Outra opção recheada de fotografias que podem ser usadas de forma livre -sendo necessária citar a fonte- é o www.freephotobank.org.’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 28 de janeiro de 2009


 


CASA BRANCA
Reuters, AP, NYT


Obama diz que está pronto para estender a mão ao mundo islâmico


‘O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, concedeu a uma TV árabe sua primeira entrevista formal no cargo. Obama disse à Al-Arabiya, dos Emirados Árabes Unidos, que os americanos não são inimigos dos muçulmanos, seu governo está pronto para estender uma mão para o mundo islâmico, mas continuará caçando organizações terroristas que matam civis inocentes.


‘Minha mensagem para o mundo muçulmano é a de que os americanos não são seus inimigos’, disse Obama. ‘Às vezes cometemos erros, não somos perfeitos. O mais importante é começarmos a negociar o mais rápido possível.’


A escolha da Al-Arabiya, uma das maiores redes de TV dirigida ao público árabe (perde em audiência para a rede de TV Al-Jazira, do Catar, mas é considerada mais moderada), mostra o grau de comprometimento de Obama em aproximar os EUA do mundo árabe e muçulmano.


Para o presidente, a indicação do ex-senador George Mitchell como seu enviado especial para o Oriente Médio seria parte desse esforço. Mitchell viajou à região na segunda-feira, quando a entrevista foi gravada.


‘Estou enviando George Mitchell para o Oriente Médio e dei a ele uma única orientação: ouça o que todas as partes têm a dizer. Isso muda a posição americana, que tem sido a de ditar soluções para os problemas’, afirmou. ‘Não acho que posso dizer a israelenses e palestinos o que eles devem fazer. Quero acabar com essas concepções prévias que dominaram o debate nos últimos anos.’


IRÃ


Obama disse que os EUA estão prontos para estender uma mão para o Irã. ‘É importante estarmos dispostos a dialogar com o Irã para expressar de forma clara onde estão nossas diferenças, mas também onde podemos progredir’, disse. ‘Se países como o Irã estiverem dispostos a abrir a mão, encontrarão a nossa estendida.’


Segundo Obama, o momento também é propício para que Israel e os palestinos retomem as negociações de paz, mas alertou que a questão no Oriente Médio deve ser tratada como um todo. ‘É impossível pensarmos só em termos do conflito palestino-israelense, e ignorarmos o que se passa na Síria, no Irã, no Líbano, no Afeganistão ou no Paquistão. Essas coisas estão relacionadas.’


As relações dos EUA com o mundo islâmico pioraram sensivelmente durante os oito anos de governo do ex-presidente George W. Bush, que ocupou o Afeganistão e o Iraque. Durante a campanha, Obama prometeu aproximar-se dos países árabes, retirar os soldados americanos do Iraque e fechar a prisão militar de Guantánamo, em Cuba.


De acordo com a rede de TV americana CNN, um dos sinais dessa aproximação seria o desejo de Obama de realizar ainda nos primeiros cem dias de governo, um discurso dirigido especialmente para o mundo islâmico feito em uma capital árabe, ainda não definida.’


 


 


Gustavo Chacra


Al-Arabiya perde em audiência para Al-Jazira


‘A rede de TV Al-Jazira é a CNN do mundo árabe. E, assim como a TV americana, ganhou concorrentes por causa do sucesso. A principal delas é a Al-Arabiya, que ontem entrevistou Barack Obama. Mas há outras menores, que buscam ganhar espaço em uma região com uma população cada vez mais sedenta por notícias que mostrem seu lado no conflito.


Fundada pelo governo do Catar, a Al-Jazira começou a ganhar espaço durante a Guerra do Iraque. Os árabes podiam ver imagens que nem sempre estavam disponíveis para os telespectadores das tevês ocidentais. Radical no início, a emissora foi adotando um tom mais moderado ao longo dos anos. Percebendo que no Ocidente havia mercado para uma rede de TV árabe em inglês, a Al-Jazira investiu alto em seu canal internacional, buscando jornalistas na CNN e na BBC, como Riz Khan, principal âncora da rede árabe.


Os principais hotéis de Beirute, Dubai, Damasco, Cairo, Jerusalém e Riad oferecem a Al-Jazira internacional, também disponível no YouTube. No conflito de Gaza, foi uma das principais fontes de informação de jornalistas estrangeiros, impedidos de entrar no território palestino pelo governo de Israel. Já os palestinos assistiam ao canal árabe, com imagens fortes dos bombardeios israelenses, exibindo crianças mortas e corpos despedaçados.


Antes do conflito, a Al-Jazira já era a campeã de audiência entre os palestinos, segundo o Centro Palestino de Política e Pesquisa, de Ramallah. Segundo o levantamento, feito no fim do ano passado, 50,3% dos palestinos assistem à Al-Jazira, sendo 57,6% na Cisjordânia e 37,6% na Faixa de Gaza. A diferença deve-se à força da TV Al-Aqsa, do Hamas, em Gaza, com uma audiência de 22,3% (7,9% na Cisjordânia). A Palestine TV, outra emissora local, tem uma audiência de 11,1% nos territórios.


A rede britânica BBC fez o inverso da Al-Jazira e decidiu abrir um canal em árabe no fim do ano passado. No Líbano, o Hezbollah também tem uma rede de TV, a Al-Manar. Mas todos os grupos políticos libaneses possuem um canal próprio.


A Al-Manar e a Al-Aqsa entoam cânticos anti-Israel em seus comerciais. Mas os programas de notícias tentam passar um ar de seriedade, apesar de um forte viés contra os israelenses e de apoio aos iranianos.


A Al-Jazira é bem mais sóbria em suas transmissões, apesar de manter uma posição contra Israel. A rede, na verdade, ganhou inimigos entre as outras monarquias árabes, alvo constante de críticas da TV do Catar. Este foi um dos motivos de a Al-Arabiya ter sido lançada pelos Emirados Árabes.’


 


 


INTERNET
Mônica Cardoso


Três parques de SP devem ganhar rede Wi-Fi até junho


‘São Paulo ainda não é uma cidade ‘sem fio’ quando o assunto é conexão à internet, mas está caminhando para oferecer aos paulistanos alguma autonomia. A cidade acaba de ganhar dois locais públicos (um centro cultural e uma universidade) com sistema Wi-Fi gratuito e se prepara para receber mais alguns neste semestre (pelo menos em três parques, entre eles, o Ibirapuera).


No domingo, o serviço foi inaugurado no câmpus da Universidade de São Paulo (USP), na zona oeste. Antes, o uso era restrito a alunos, professores e funcionários, mediante uma senha, e limitado às áreas internas. Agora, mais de mil acessos simultâneos podem ser feitos por equipamentos Wi-Fi nas áreas ao ar livre. O programa dura um ano. ‘Fiz o cadastro e comecei a usar. A conexão é muito boa’, diz Pamela Peters, de 16 anos, que trabalha em uma agência de viagens no grêmio da Coordenadoria de Assistência Social (Coseas-USP).


Bem mais modesta, com até 140 acessos simultâneos, a rede pública Wi-Fi foi instalada no Centro Cultural São Paulo (CCSP), no Paraíso, zona sul, na semana passada. Sites de conteúdo impróprio, como pornografia e pedofilia, são bloqueados. O programa de mensagens instantâneas MSN Messenger e o site Orkut também são proibidos. Este não é, contudo, o primeiro equipamento público a oferecer conexão Wi-Fi. Em 2007, ele foi instalado no Centro Cultural da Juventude, na Vila Nova Cachoeirinha, zona norte, mas há um mês foi interrompido para manutenção e não há previsão para o retorno.


A Prefeitura estuda ampliar o número de locais com conexão gratuita. Até junho, pretende instalar o serviço Wi-Fi em três parques: Ibirapuera, na zona sul, Chico Mendes e Raul Seixas, na zona leste. ‘Esse programa é feito de forma cuidadosa, com a identificação do usuário por cadastro, para que a rede não seja uma porta aberta para crimes virtuais’, diz João Octaviano Machado Neto, diretor presidente da Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação (Prodam).


OUTRA CAPITAIS


Em Belo Horizonte, o projeto BH Digital permite o acesso em dez lugares, como a rodoviária. O programa, orçado em R$ 4,5 milhões e com recursos do Ministério das Comunicações, ainda não foi oficialmente inaugurado. Mesmo assim, recebeu 4.700 cadastros em 2008. Já o programa Porto Alegre Digital permite o acesso em cinco parques e praças. O investimento foi baixo, pois a cidade dispõe de rede de fibra ótica.’


 


 


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Aprendiz radical


‘Rompantes, demissões voluntárias, brigas… A próxima temporada de O Aprendiz, agora com universitários, promete. Tanto o apresentador do programa, Roberto Justus, como o diretor, José Amâncio, esperam uma temporada bem mais passional que as anteriores. Motivo: o fato de os participantes serem jovens e inexperientes.


‘Os outros aprendizes já estavam naquela de armar joguinho, a coisa estava ficando profissional demais’, fala José Amâncio, que iniciou as gravações do reality da Record nesta semana. ‘Os jovens são mais impulsivos, alguns deles disseram que Justus vai ouvir coisas que nunca ouviu na vida’, conta o diretor, rindo.


Já confinados, 17 dos 18 participantes foram avisados da seleção pelo próprio Justus, pelo telefone. ‘Muitos pensaram que era trote’, conta o apresentador. Uma das vagas já era da ganhadora do game do Aprendiz exibido em dezembro.


Desta vez, a atração terá dez mulheres e oito homens, a maioria de estudantes de Comunicação e Marketing.


Quiz de conhecimentos gerais e um cruzeiro estão previstos entre provas e prêmios do novo Aprendiz, que estreia em abril.’


 


 


 


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