Leia abaixo os textos desta quinta-feira selecionados para a seção Entre Aspas. ************ Folha de S. Paulo
Quinta-feira, 16 de novembro de 2006
RADIOBRÁS
Presidente da Radiobrás diz que enfrentou insatisfações
‘Com sua permanência indefinida para o segundo mandato petista, o presidente da Radiobrás, jornalista Eugênio Bucci, afirma que sua gestão na estatal foi alvo de ‘contrariedades’ e ‘insatisfações’. Sem citar nomes e falando de forma genérica, Bucci disse que criou-se a expectativa de que a estatal fizesse ‘proselitismo’ a favor do governo federal.
O jornalista afirmou que enviou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma carta de cumprimentos pela reeleição na qual colocou seu cargo à disposição. Ele, porém, repete que não pediu demissão nem pleiteia outro cargo no governo.
À frente da Radiobrás desde o início do governo petista, Bucci declara que recebeu críticas ‘normais’ no período. ‘Qualquer órgão de comunicação está habituado a lidar com contrariedades e insatisfações. E, dentro do normal, nós tivemos contrariedades e insatisfações, de gente do governo e de fora do governo. A minha avaliação é que, posto isso, a condução dos trabalhos na Radiobrás aconteceu dentro de um clima de normalidade.’’
CONTROLE DA REDE
Plínio Fraga
Barbarella vai ao Senado
‘RIO DE JANEIRO- A primeira vez que um pesquisador do MIT (Massachussets Institute of Technology) estruturou, em 1962, o que seria a rede de computadores que hoje se chama internet, batizou-a de Rede Galáxia. Referiu-se a ela ainda como Galáxia da Informação. Imagine você perguntando a alguém: já acessou a Galáxia? É um nome simpático, mas parece erro de tradução de filme estrangeiro.
Desde esse tempo, foi estabelecida a regra de que não haveria controle global operacional. É um princípio básico da chamada rede de arquitetura aberta.
A internet comercial brasileira começou a operar em maio de 1995. Os usuários eram apenas 120 mil ao final daquele ano. A burocracia federal tinha tentado emplacar sua primeira contribuição: propunha uma espécie de InternetBrás, por meio da então estatal Embratel. O ministro das Comunicações à época, Sérgio Motta, determinou que a estatal só podia conectar empresas à rede, ficando de fora do atendimento a usuários finais, evitando o domínio dos acessos por ela.
Onze anos depois, ao menos 14 milhões de brasileiros já navegaram pela rede. Eis que se cultuava nos subterrâneos do Congresso um novo monstro da burocracia para atuar como porteiro da internet: a obrigatoriedade do registro de usuários antes do livre acesso.
A repórter Elvira Lobato, desta Folha, foi quem trouxe à luz o risível projeto do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), ridiculamente batizado como de ataque aos crimes cibernéticos, mas na realidade oportunidade ampla de negócios para certificadores digitais.
Lei para crimes cibernéticos parece a expressão ‘Câmara de Soluções Definitivas’, ouvida por Barbarella, a personagem de Jane Fonda no filme de 1968. ‘Não gosto do som destas palavras ridículas’, dizia. ‘Grande parte das situações dramáticas começa risível’, filosofava a rainha da Galáxia.’
CASO EMIR SADER
Indignação e justiça
‘OFENDIDO COM o fato de ter sido acusado de racista, o senador por Santa Catarina e presidente do PFL, Jorge Bornhausen, processou o professor Emir Sader e obteve a condenação dele por injúria.
O senador havia afirmado que ‘a gente vai se ver livre dessa raça por pelo menos 30 anos’. A ‘raça’ mencionada era presumivelmente a dos cidadãos brasileiros do PT ou simpatizantes do partido.
O sociólogo revidou classificando o senador como sendo ‘das pessoas mais repulsivas da burguesia brasileira. Banqueiro, direitista, adepto das ditaduras militares’, disse, ‘revela todo seu racismo e seu ódio ao povo brasileiro que saiu do fundo da sua alma (…)’. Note-se primeiro a inconsistência da acusação. O sociólogo acusa o senador de ser banqueiro e, depois, reconhece que tem ele alma.
Uma característica única e profundamente intrigante na sentença do meritíssimo juiz Rodrigo César Müller Valente é que não houve condenação por calúnia e injúria, como é usual em casos semelhantes, mas apenas por injúria. Teria o meritíssimo considerado que não houve calúnia, mas apenas injúria?
E eu me pergunto se, caso eu chamasse o senador Bornhausen de fascista e ele fosse fascista, seria crime? E se eu chamar um racista de racista, é crime? Então, por que não foi o professor Sader condenado por calúnia, se não há contestação de que seja o senador racista, isto é, se não há crime de calúnia?
Se, por outro lado, o senador tivesse proposto que ‘a gente ficasse livre da raça tupiniquim por pelo menos 30 anos’, ele seria com toda certeza considerado racista. Ora, não sei para um banqueiro, mas certamente para um acadêmico, um intelectual, o conceito de raça não tem sentido nenhum. É um conceito elástico, de natureza puramente circunstancial e subjetiva, que não é cientificamente definível.
Assim, para um sociólogo, se alguém se referir à extinção da raça de petistas, essa mesma pessoa está se declarando tão racista quanto se tivesse proposto o extermínio dos tupiniquins. Então está explicado por que o meritíssimo juiz não condenou o professor Sader por calúnia. Um juiz inteligente.
Justifica-se o juiz: ‘Ao adjetivar um senador da República de ‘racista’, se esqueceu o réu de todos os honrados cidadãos catarinenses que, por meio do exercício democrático do voto, o elegeram como legítimo representante em nossa República federativa.
Trata-se, pois, de conduta gravíssima, que de modo algum haveria de passar despercebida’. Quer dizer que a gravidade do crime depende do número de votos da vítima? Se o sr. Bornhausen fosse deputado em vez de senador, a pena seria de três meses? Um senador vale quantos deputados na Justiça brasileira?
E, ‘mutatis mutandis’, quantos anos de cadeia vão pegar pelas injúrias aos eleitores do presidente Lula os membros da bancada do PFL na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, que nada fizeram senão vituperar contra o PT e seus membros nestes últimos dois anos? Ou será que não merecem a mesma Justiça que os ‘honrados cidadãos catarinenses’ que votaram no senador catarinense os cidadãos brasileiros que elegeram o presidente Lula e os representantes do PT, essa raça que o senador quer eliminar por 30 anos?
Mas vamos adiante. O meritíssimo juiz Rodrigo César Müller Valente também expulsa o professor Emir Sader da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro).
E ainda dizem que a Justiça brasileira não é eficiente. Durante o governo militar, para expulsar da USP, entre outros, o então professor Fernando Henrique, também sociólogo e, hoje, unha e carne com senador Bornhausen, o reitor Buzaid teve de se valer de um Ato Institucional.
Não é uma maravilha o progresso que fez a Justiça brasileira? Não precisamos mais de golpes, de Juntas Militares, de AI-5, AI-3 etc., nem de Obans ou Doi-Codis.
ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE , 75, físico, é professor emérito da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e membro do Conselho Editorial da Folha .’
GOVERNO LULA
E a cultura, presidente?
‘EM TODO o tempo utilizado pelos candidatos na campanha presidencial, tanto no primeiro quanto no segundo turno, nenhum espaço foi destinado à cultura. A discussão surgiu apenas quando algum jornalista colocou diretamente a questão ao candidato. O problema foi sempre respondido com a velocidade e a superficialidade em geral destinadas a assuntos sem nenhuma importância.
No entanto, os problemas da cultura estão aí, visíveis, a começar pelo fato de que educação sem cultura é o mesmo que catecismo sem fé, um utensílio para enganar as estatísticas.
Vejamos, presidente. Os valores culturais da identidade nacional ficam sempre escondidos na absoluta falta de divulgação, enquanto o entretenimento e os produtos consagrados no mercado comercial da arte, produzidos pela industria cultural, têm toda a cobertura do mundo, não poucas vezes à custa do dinheiro público.
Os produtos eruditos (teatro, ópera, concertos, bienais) se destinam quase sempre a uma elite rica, sobrando para o resto da sociedade cardápios que dispensam a mediação da inteligência, produtos que são dirigidos diretamente às entranhas. Assim, castramos o enorme contingente criativo do país, um dos mais ricos do mundo, e barramos o acesso a utensílios e produtos artísticos resultantes dos valores da identidade.
Os museus públicos estão fazendo água. Literalmente. Bibliotecas públicas estão sendo pilhadas. Arquivos nacionais e estaduais não cuidam do que possuem, não atentam ao que perdem nem se ocupam de arquivar documentos relevantes. A instituição legal e a prática de sistemas nacionais de arquivo, bibliotecas e museus é medida simples e já deu certo em muitos países e Estados.
Apesar de a cultura ser a atividade que produz mais retorno para pessoas, governos e empresas, isso ainda não foi politicamente percebido. Desde a promessa de Tancredo Neves, se espera o valor de 1% do Orçamento federal para o Ministério da Cultura. Ainda estamos em 0,6%. As leis de incentivo, teoricamente bem-vindas, esperam o aperfeiçoamento prometido desde o começo da gestão.
O brasileiro não tem o hábito de contribuir como pessoa física. Caridade, benesse e responsabilidade social são atitudes de pessoas jurídicas. Assim mesmo, com incentivo fiscal.
Assim, a consciência e a prática de investimentos em cultura devem ser inercialmente públicos. Todos os grandes homens da história agiram assim: Péricles, na Grécia, Marco Aurélio, em Roma, Lourenço de Médici, em Florença, Napoleão, De Gaulle e Mitterrand, na França, Kennedy, nos Estados Unidos, Juscelino Kubistchek, no Brasil. Cultura não é ornamento, mas a substância do poder.
Após Collor destruir as instituições culturais públicas, o entusiasmo pela gestão pública da cultura, iniciado por Mário de Andrade, Afonso Arinos, continuado por Aloísio Magalhães e José Aparecido, diminuiu consideravelmente. Gilberto Gil postulou um projeto nacional de cultura. Sofreu reveses, mas insistiu, tentando executá-lo mais pelo esforço próprio e de uma equipe abnegada que pelos meios, escassos. Ainda não conseguiu melhorar a lei de incentivos fiscais, mas já qualificou a destinação do magro orçamento.
Na área da televisão pública, a desatenção do poder é muito grande. São 19 geradoras distribuídas por todo o Brasil, 1.559 transmissoras próprias, 88 geradoras afiliadas e 218 retransmissoras afiliadas, atingindo 3.063 municípios. Todas em situação bastante difícil, sobretudo neste momento de transição para a TV digital, que em boa hora o governo determinou.
Podemos informar com segurança que o único aparelho eletrodoméstico que existe em maior número que a TV na casa dos brasileiros é o fogão. No Brasil, as crianças ficam mais de quatro horas diárias na frente da TV. Assim, o gosto, o patriotismo, a sexualidade, a opção política, o desejo de consumo e outros sentimentos da vida são promovidos prioritariamente pela televisão comercial para adultos e, sobretudo, para os jovens, já que a influência da família (mesa da sala de jantar) e da escola são hoje diminutas. Chegou a hora da TV pública.
Felizmente, o ministro Gil convocou a sociedade e as instituições envolvidas na questão da cultura televisiva para um Fórum Nacional de Televisão Pública, a ser realizado a partir de novembro deste ano.
Julgamos, senhor presidente, que a questão cultural é fundamental. O mercado comum europeu, muito antes de estabelecer uma moeda comum, realizou uma grande política de aproximação cultural entre a Alemanha e a França e entre os demais países-membros. A intenção de Carlos Magno e de Napoleão de unificar a Europa pela fé ou pela força só foi conseguida muito depois, pela paz e a partir de um acerto cultural.
O Brasil, o presidente sabe melhor que ninguém, assim como a Europa, é um continente a ser unificado. Não pode ser medido apenas pela macroeconomia, pelos juros, pelo câmbio e pela infra-estrutura. Precisa de um desenvolvimento que não seja apenas um percentual do PIB, mas do seu produto cultural bruto.
JORGE DA CUNHA LIMA , 74, jornalista e escritor, é presidente do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta e da Abepec (Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais) e vice-presidente do Itaú Cultural.’
TODA MÍDIA
Nelson de Sá
Elite branca lá
‘Em título no ‘Guardian’, ontem, para um texto do ex-correspondente -e esquerdista- Richard Gott, ‘América Latina se prepara para acertar as contas com sua elite branca colonizadora’. Colonizador branco, diz, é expressão corrente para europeus e sua história, mas não para ‘brancos da América Latina’. Estes teriam resistido às ações de inclusão no Brasil, por exemplo, desde a independência, passando pelas ‘campanhas de imigração’. Até aqui, ‘finalmente’:
– As eleições recentes têm sido descritas, com certa correção, como um movimento para a esquerda. Mas na perspectiva de longo prazo revelam mais o repúdio à cultura do colonizador branco -e o renascimento da tradição radical de inclusão tentada há séculos.
Registre-se que crescem os despachos sobre etnias -como ontem, da Reuters, sobre doenças de kaiowás e yanomâmis. Com o destaque contrastante de que, por fertilidade ou uma identificação maior como tal, a população indígena voltou a crescer por aqui.
BRASILÂNDIA
Não é só FHC que, nos novos tempos, quer seus liderados na periferia. Estréia amanhã e já era destaque ontem, na Globo e seu site, a série ‘Antônia’, não mais sobre periferia do Rio, mas sobre a Brasilândia, zona norte de São Paulo.
Antônia é o nome do grupo de amigas, entre as atrizes, a rapper Negra Li, que tenta se estabelecer a partir do bairro. O empresário delas -e atração maior também do filme em que se baseou o programa- é Diamante, interpretado por Thaíde, precursor e lenda do hip hop de São Paulo, bem mais politizado e avesso à mídia que o do Rio.
UM CEARENSE, UM BAIANO
Outros tempos. No programa ‘Linha Direta’ de hoje, na Globo, a história de Tito, ‘frade cearense adepto da luta contra a ditadura, preso e submetido às mais bárbaras sevícias’ -e que achou ‘a liberdade abraçando o suicídio, única maneira de livrar-se dos algozes’, a saber, Sérgio Fleury. Também no programa e no site, o ‘baiano filho de italiano com mãe de origem africana’ Carlos Marighela, ‘o principal líder da ALN’ que ‘deixou como legado o ‘Manual do Guerrilheiro Urbano’. Textos da Rede Globo.
FLEXIBILIZAÇÃO
Marina Silva, seguida pela BBC Brasil até a conferência da ONU sobre mudança no clima, no Quênia, detalhando o plano que vai apresentar:
– É um incentivo positivo à redução das emissões por desmatamento. Como temos feito um esforço grande, é correto que os desenvolvidos possam aportar recursos para compensar. Muitos fazem discursos e agora poderiam traduzir em ação prática.
De outra parte, questionou ‘essa idéia errada de que se deva flexibilizar’ o Ibama, que já ‘considera a exigência de desenvolvimento’.
COINCIDÊNCIA
Era destaque ontem no ‘Jornal Nacional’, mais uma vez, o incêndio que destrói uma floresta gaúcha. A Globo regional vêm sublinhando as ‘suspeitas de que começou por causa de um cigarro’.
Não para o blog RS Urgente, que lembra como o incêndio veio ‘depois da mortandade de peixe no rio dos Sinos’, também destacada no ‘JN’. ‘Pode não ser coincidência’, postou, questionando ‘a visão das preocupações ambientais como um entrave para o desenvolvimento’, que ‘vem ganhando espaço no Rio Grande do Sul’. Lá também.’
DESAFETOS DA OAB
OAB inclui mais nomes na lista de ‘personas non gratas’
‘Mesmo após toda a repercussão negativa causada pela divulgação de uma relação de ‘personas non gratas’ da advocacia, a OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo) ampliou a lista, elevando para 211 o total de pessoas, entre juízes, promotores, vereadores, jornalistas e policiais.
Há 15 dias, quando o documento foi divulgado na internet pela primeira vez, eram 180 nomes. A Folha apurou que o número de pessoas incluídas é maior que 31, já que houve exclusões de nomes que constavam da primeira relação.
A pessoa tem o seu nome incluído caso tenha sido alvo de alguma moção de repúdio aprovada desde 2002 por uma comissão interna da entidade, formada por 20 conselheiros. O documento inclui pessoas que, segundo a OAB, violaram as prerrogativas dos advogados, impedindo o trabalho ou ofendendo os profissionais.
Na relação, aparecem os nomes de 54 juízes, 21 delegados de polícia, 17 promotores, três procuradores da República, 11 PMs, seis escrivães, além de jornalistas e vereadores.
‘As pessoas estão reclamando muito da lista, mas acho que elas não sabem que isso faz parte do Estatuto da Advocacia. A lei nos impõe publicar os nomes’, disse o presidente da Comissão de Direitos e Prerrogativas da OAB-SP, Mário de Oliveira Filho.
Ele afirmou que a relação foi ampliada porque outros nomes denunciados pelos advogados foram julgados posteriormente -há julgamentos desse tipo nas três primeiras quintas-feiras do mês. Quem é incluído tem 15 dias para recorrer.
No entanto, nem todos recorrem, como foi o caso do ex-delegado seccional de Ribeirão Preto (314 km de SP) Odacir Cesário da Silva. Ele está na lista desde 2002, por ter supostamente destratado um advogado dentro da delegacia e por ter pedido a quebra do sigilo telefônico de um outro profissional. ‘Tive problemas com dois profissionais entre os muitos que têm por aí. Considero isso uma vitória. Vou continuar agindo da mesma forma.’’
ANA CAROLINA RESTON
Modelo morta por anorexia se achava gorda com 46 kg
‘DO ‘AGORA’ – A modelo Ana Carolina Reston Marcan, que morreu anteontem, aos 21 anos, vítima de complicações provocadas pela anorexia nervosa, já havia declarado sete meses atrás que tinha perdido o controle e que havia parado de comer. ‘Às vezes ainda me acho gorda. Eu tenho uma imagem distorcida de mim’, afirmou ela.
Durante uma entrevista concedida em abril deste ano ao jornal ‘Agora’, a modelo afirmou que estava trabalhando no Japão quando a obsessão pela magreza começou a se tornar uma doença. Ela teve que ser internada e acabou voltando ao Brasil. ‘Eu pesava 46 kg, tenho 1,74 m, e ainda tomava remédio para emagrecer. Cheguei a pesar 42 kg’, lembrou.
Depois de ter realizado o tratamento, a modelo voltou a pesar 46 kg e continuou freqüentando um psicólogo.
O problema, entretanto, persistiu, e a modelo acabou sendo internada em 25 de outubro passado em decorrência de uma insuficiência renal.
Debilitada pela anorexia nervosa, a pressão arterial dela despencou, o que fez com que passasse a ter dificuldade para respirar. Seu quadro clínico evoluiu para uma infecção generalizada – e Ana Carolina acabou morrendo anteontem, quando pesava 40 kg. Seu corpo foi enterrado no cemitério de Pirapora do Bom Jesus, na Grande São Paulo.
A entrevista concedida pela modelo foi publicada na ‘Revista da Hora’, do jornal ‘Agora’, em 30 de abril deste ano.
Perfil
De acordo com a prima de Ana Carolina, Geise Strauss, 30, a modelo comia muito pouco -’gostava de maçã e tomate’- e, em seguida, entrava no banheiro para vomitar.
A modelo vítima de anorexia namorava Bruno Setti, de 19 anos, seu colega de profissão, e fazia bicos como promotora de casas noturnas.
Na internet, na página de relacionamentos Orkut, Ana Carolina cita ‘O Pequeno Príncipe’, ‘Gabriela Cravo e Canela’ e ‘Meu Pé de Laranja Lima’ como livros preferidos. No item em que as pessoas mencionam os pratos preferidos, a modelo cita marcas de cozinha: ‘Prefiro as moduladas’, ironiza.
Na noite de ontem, havia mais de 500 recados deixados no perfil de Ana Carolina com mensagens para seus familiares. A maioria dos textos era de pêsames, porém muitas afirmavam que o caso da modelo deveria servir como alerta para as demais meninas que exercem a profissão.
Casos famosos
Ocorrências de anorexia e bulimia podem ser encontrados no cinema, na música, no esporte e até em família real.
A atriz Jane Fonda, por exemplo, conviveu com a anorexia dos 15 aos 40 anos. Ela conta que queria ‘agradar e ser perfeita’, o que na época queria dizer ‘esquelética’.
Na música, um dos exemplos mais conhecidos de problemas relacionados a distúrbios alimentares é o da cantora e baterista Karen Carpenter, que morreu em 1983, aos 32 anos, depois de ter sofrido um ataque cardíaco decorrente de anorexia. Ela formava com o irmão, Richard, o grupo The Carpenters, famoso nos anos 70.
Outro caso emblemático é o da princesa Diana (1961-1997), que assumiu que foi bulímica e anoréxica -e que já havia tentado cometer suicídio.
No esporte, a surfista brasileira Andréa Lopes, hoje com 31 anos, teve anorexia aos 20 anos. No auge da doença, chegou a pesar 38 kg -hoje ela tem 59 kg. ‘Todo mundo que vinha me oferecer comida era uma ameaça para mim. Tinha obsessão com o meu peso e só pensava em ser campeã mundial.’
Ela começou a se tratar após insistentes pedidos da mãe, que chegou a ouvir na praia que a filha ‘deveria ter Aids’.’
Fábio Takahashi
Sites de jovens fazem apologia da anorexia
‘A internet potencializa problemas como a anorexia e a bulimia, diz estudo recém-concluído pela ONG Seu Abrigo. A entidade visa proteger crianças e adolescentes de distúrbios alimentares.
O levantamento identificou 50 weblogs (diários virtuais) e 120 páginas do Orkut (site de relacionamentos) mantidos por brasileiros em que há troca de informações sobre as doenças -como dietas ou orientações de como se comportar como uma anoréxica ou bulímica. ‘É um cenário que possibilita a articulação entre os indivíduos no sentido de afirmar a patologia’, diz no estudo a diretora-executiva da ONG, Ana Helena Soares, pesquisadora da Fundação Fiocruz.
‘A doença esvazia seu significado problemático e passa a ser associada como uma marca de identidade’, diz.
O estudo, finalizado na semana passada, segue o mesmo modelo do adotado pela ONG espanhola Protegeles, que foi publicada pela Defensoria do Menor da Espanha.
O levantamento brasileiro apontou que 67% dos usuários dos weblogs que fazem apologia a anorexia ou a bulimia têm entre 13 e 17 anos de idade e são, em sua maioria, do sexo feminino. A baixa faixa etária, segundo o estudo, indica que atualmente há ‘uma ameaça para os menores’ na internet do país.’
Modelos jovens são principal alvo de acompanhamento da Unifesp
‘As jovens modelos, conhecidas como ‘new faces’, viraram o alvo principal do programa de acompanhamento nutricional feito pelo Centro de Atendimento e Apoio do Adolescente da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo)
O centro, que existe há dez anos, reuniu-se com seis agências de modelos em setembro passado para discutir a condição dessas jovens. Um dos acordos firmados é que as empresas se comprometessem a encaminhar as modelos novatas para o ambulatório, para avaliações.
‘As novatas são mais fáceis de acompanhar, por isso esse foco’, disse o coordenador do centro, Mauro Fisberg. ‘É difícil acompanhar as que vão para o exterior. Assim, elas ficam mais desprotegidas.’
Foi o caso de Ana Carolina Reston Macan, 21, morta anteontem após sofrer com a anorexia. A agência dela, a L’Equipe, participa do convênio com a Unifesp, mas Ana Carolina possuía um perfil que dificulta o acompanhamento: a idade e as constantes viagens. Por isso, a jovem não foi avaliada.
Em média, de cinco a oito modelos passam pelo ambulatório da Unifesp todas as semanas. ‘Pela exigência do mercado, elas têm um comportamento de risco. Mas até hoje nunca diagnosticamos uma anoréxica’, afirmou Fisberg.’
TV
Daniel Castro
Santoro já negocia mais três anos em ‘Lost’
‘O ator Rodrigo Santoro já está em negociação com a rede norte-americana ABC, do grupo Disney, para atuar em mais três temporadas do seriado ‘Lost’, um dos mais vistos e badalados da atualidade.
Santoro entrou na terceira temporada da série, que estreou nos EUA no início de outubro e chega ao Brasil em março, pelo canal pago AXN.
Ele interpreta Paulo, um personagem misterioso, um tanto preguiçoso e cômico, sobrevivente de um acidente aéreo, portanto morador da ilha em que se passa a história desde o início, embora não aparecesse.
O ator brasileiro foi procurado pela ABC na semana passada para renovar contrato até o final da série, que deve durar seis temporadas. O ator ficou surpreso. Segundo pessoas próximas a ele, Santoro não se sente preparado para ficar tanto tempo nos EUA. Afinal, está comprometido com filmes que serão rodados em 2007 e tem um final de contrato a cumprir com a Globo -que também espera renovar com ele.
O personagem Paulo apareceu muito pouco em ‘Lost’ até agora. Mas deve crescer e ganhar mais falas. Nos próximos episódios, protagonizará cenas de ‘flashback’, que mostrarão um pouco de seu passado.
Apesar disso, o personagem de Santoro foi eleito a melhor surpresa da nova temporada do seriado pelo ‘The Tail Section’, um dos principais sites americanos de fãs de ‘Lost’.
PRATELEIRA 1
O SBT renovou com a Warner até 2013 o acordo pelo qual tem exclusividade sobre os filmes, séries e desenhos produzidos pelo estúdio americano. A parceria começou em 2000 e envolve algumas dezenas de milhões de dólares por ano.
PRATELEIRA 2
Para 2007, o SBT confirma a aquisição da Warner dos direitos dos filmes ‘Batman Begins’, ‘Alexandre – O Grande’, ‘Tróia’, ‘O Aviador’, ‘O Exorcista’, ‘Miss Simpatia 2’ e ‘Scooby Doo 2’, entre outros.
BLACK POWER
Apesar das dificuldades de manter produções e de irradiação de seu sinal em São Paulo, a TV da Gente, de Netinho de Paula, anuncia o início das transmissões, a partir de amanhã, para Salvador, no canal 57.
DISCUSSÃO ÉTICA 1
A Record não engoliu a acusação da Globo de que está sendo antiética ao negociar os direitos do Campeonato Paulista. A Globo argumenta que sua proposta já tinha sido aprovada, e o contrato, assinado pela maioria dos clubes quando a Record deu um lance maior.
DISCUSSÃO ÉTICA 2
Executivos da Record afirmam que a Globo não tem ‘moral’ para questionar a ética de outras TVs. ‘Não fomos antiéticos, porque a proposta da Globo ainda não tinha sido aprovada por todos os times’, rechaça Alexandre Raposo, presidente da Record.
ESCALAÇÃO
Paloma Duarte e Petrônio Gontijo serão os protagonistas da próxima novela das sete da Record, de Ana Moretzsohn.’
GRANDE DICIONÁRIO DE CULINÁRIA
Apetite literário
‘Num tempo em que apenas poucos privilegiados podem degustar trufas -e ainda assim são obrigados a se contentar com míseras fatias deste raro, aromático e caríssimo cogumelo subterrâneo ralado sobre seus pratos-, impressiona ler uma receita que manda rechear uma perua com quase dois quilos da iguaria, cujo valor hoje pode chegar a R$ 20 mil o quilo.
Trata-se, porém, do contexto de outra época -no caso, o século 19-, retratada por Alexandre Dumas no ‘Grande Dicionário de Culinária’, cuja edição brasileira lançada pela editora Jorge Zahar chega às livrarias nesta semana. A parte introdutória do original, ausente neste volume, já havia sido publicada pela editora em 2005, no livro ‘Memórias Gastronômicas’.
Um século e meio atrás, quando começou a coletar material para o dicionário, Dumas pretendia que ele lhe garantisse a glória póstuma, o que ocorreu em parte. Realmente, a obra só foi publicada na França depois de sua morte, mas a reputação literária do autor de ‘Os Três Mosqueteiros’ e ‘O Conde de Monte Cristo’, entre outros tantos, prevaleceu sobre sua fama ligada à culinária.
Tal fato não impede, contudo, que o dicionário seja considerado até hoje uma bíblia gastronômica por chefs e gourmands de todo o mundo. Nem tanto pelas receitas, um tanto imprecisas e algumas bem fora da realidade atual, mas muito mais por seu caráter histórico e literário, abundante em crônicas que recolocam a culinária no universo da cultura.
Traduzida e organizada por André Telles, a edição brasileira tem 615 verbetes, 413 receitas e 275 ilustrações de época, de artistas como Gustave Doré (1832-1883). Em relação às edições francesas (a primeira de 1873, a segunda da ed. Tchou, de 1965, e a última da ed. Phébus, de 2001, reimpressa em 2005), esta teve cortes ‘inevitáveis’, segundo Telles. ‘Tive a sensação de que a edição francesa estava muito desorganizada. Tentei dar um jeito nisso’, explica o tradutor e organizador. ‘Esta obra reflete plenamente o jeito de Dumas ser. E reflete até, de certa maneira, na desorganização. Senti como se ele tivesse entregado para mim uma bagunça de fichas e eu tivesse de organizar isso. [A personalidade do Dumas] transparece até nesse defeito, entre aspas, do original.’
Factível ou singular
Não foram apenas os verbetes que sofreram cortes. Das mais de mil receitas do dicionário original, pouco mais de 400 são transcritas nesta edição. Os critérios que direcionaram a chef Sandra Secchin foram basicamente dois: a possibilidade de execução das receitas (com as adaptações necessárias) ou sua singularidade (como, por exemplo, a perua recheada com trufas do início deste texto ou a indicação para que as maçãs sejam descascadas com uma faca de prata).
‘Há receitas que ficaram porque são testemunhas de um tempo’, explica Secchin. ‘Também deixei algumas referências por serem curiosas. No caso da maçã, é uma exuberância trazida para a cozinha não pela sofisticação da prata, mas porque tem um sentido [impedir que a fruta se oxide rapidamente].
Achei que era enriquecedor mantê-la.’ Encaixam-se nesse perfil, por exemplo, preparos que recomendam o uso do ‘feu dessus et feu dessous’ (fogo em cima e fogo embaixo), ou seja, pôr brasas sobre a tampa da panela. Para quê? Para cozinhar bem por cima e por baixo.
‘Se a pessoa tiver a possibilidade de cozinhar no fogão à lenha, pode pegar a brasa e colocar na tampa quando houver essa indicação. Imagino que seria muito interessante experimentar essa maneira.’
Cozinha tradicional
Em relação à imprecisão das receitas contidas no dicionário, já que muitas não trazem medidas milimétricas dos ingredientes, Sandra faz sua avaliação: ‘O jeito que Dumas aborda a cozinha dá liberdade a quem está cozinhando. As receitas permitem uma folga. Sempre que possível, tentei colocar uma indicação de proporção, mas, no geral, é tudo mais livre.
E isso é interessante’. Mas, nos dias de hoje, algumas receitas não parecem um tanto defasadas? ‘Não é um livro de cozinha nos moldes dos de hoje, com todas as medidas indicadas e pratos com ar moderno. Não. É uma cozinha de verdade, é a retomada da cozinha tradicional. Você vai lá na espuma [criação do chef Ferran Adrià] para depois voltar às bases da tradição.’
Assim, o dicionário atinge não só os iniciados na cozinha. ‘O bacana é que não é um livro de receitas. É muito mais do que isso. O dicionário, mesmo para quem não vai para a cozinha, é uma leitura interessante. Ele se coloca além da função do dicionário comum. Alguém que não tem a menor intenção de ir para a cozinha, vai lê-lo aleatoriamente e se deliciar com o texto’, diz Secchin. ‘Ele abre o apetite, convida, incita a sentar à mesa com os amigos, a tomar um vinho.’
GRANDE DICIONÁRIO DE CULINÁRIA
Autor: Alexandre Dumas
Tradução: André Telles e Sandra Secchin
Editora: Jorge Zahar
Quanto: R$ 89 (340 págs.)’
Nina Horta
Grande literato, mas um chef despreparado
‘Abri o ‘Grande Dicionário de Culinária’ de Dumas sempre que precisei consultá-lo, mas sabendo que acharia ali as coisas mais antigas, é claro, e o encarei sempre mais como um testemunho de uma época, como uma curiosidade escrita pelo autor de ‘Os Três Mosqueteiros’, os Harry Potters de minha época de menina. Tudo isso para dizer que um dicionário não pode ser criticado sem ter sido muito consultado e comparado, pois eu correria o risco de ser leviana e superficial.
Os tradutores expõem, na introdução, os motivos que os levaram a uma tarefa tão difícil quanto a de editar e traduzir um dicionário antigo. Pareceram-me conscienciosos e capazes (além de doidos).
A sorte é que tive um amigo inglês, autor do ‘The Oxford Companion to Food’. Ele, sim, se interessou muito pelo dicionário de Alexandre Dumas, visitou bibliotecas à caça do original e chegou a achar que ambos tinham mais em comum do que as iniciais do nome e de serem simples compiladores. Unia-os a esperança, que Dumas manifestou, de que merecesse a atenção de ‘homens de bom caráter’ e de mulheres de disposição leviana que, mesmo com suas cabeças ocas, conseguissem virar as páginas com facilidade e sem cansaço, por estarem lendo uma prosa fluente e divertida.
Alan Davidson, após muita pesquisa e depois de ir procurar o original na Biblioteca Nacional de Paris, chegou à conclusão de que Dumas não estava preparado, como ele próprio supunha estar, para escrever esse livro. Seu conhecimento dos ingredientes era falho, o conhecimento das cozinhas estrangeiras, superficial, e o comando das disciplinas associadas ao assunto, nulo ou elementar.
Seu entusiasmo sedutor e a quantidade de suas viagens, mais o fato de ter uma reputação de grande e prolixo escritor, mais a de bom cozinheiro, conspiraram para lhe dar uma confiança sem muita base.
Dumas, para escrever o dicionário, não levou para o seu retiro nem livros de referência, porque confiava na memória. Os assessores também não estavam à altura do trabalho, despreparados no assunto. Como curiosidade, um deles era Anatole France ainda rapazinho, que dizia ter agregado ao texto muitos comentários próprios -aliás, todos perceptivelmente fora de lugar na obra.
Mas, depois de longos estudos sobre o livro, meu amigo Alan Davidson se rendeu, como se rendem todos.
‘Critique-se o dicionário como e quanto quiser, mas temos que anunciar com prazer que nele podemos achar ouro, e do puro, que muitas das anedotas nunca foram contadas com tanta graça, que o entusiasmo do autor e o magnetismo de sua personalidade ainda brilham através de suas páginas, cem anos depois, e que o livro que produziu, apesar de ofuscado por outros livros de gastronomia que vieram antes e depois dele, ainda continua um dos momentos mais permanentes de sua obra.’
Pois, é, então valeu.’
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O Estado de S. Paulo
Quinta-feira, 16 de novembro de 2006
NOS BASTIDORES
O Estado de S. Paulo
O companheiro Jader
‘Não tivesse o deputado Jader Barbalho (PMDB-PA) voltado ao noticiário, por ter-se tornado réu em ação criminal no Supremo Tribunal Federal (STF), com certeza o público estaria alheio ao fato de que, mais do que um importante assessor, ele é um guru do presidente da República. Afinal, o notório político, com inúmeros processos na Justiça, há muito vinha mantendo um low profile, na esperança de que o público esquecesse o seu passado cheio de episódios que nenhum político gostaria de inscrever em seu currículo.
Desde que renunciou ao mandato de senador em 2001, para evitar a cassação por falta de decoro – no que não agiu com nenhuma originalidade -, Jader Barbalho se afastara dos holofotes da mídia, passando a atuar nos bastidores e procurando reconstruir sua carreira política por meio de uma aproximação com a liderança maior do mesmo partido (o PT) que tanto o execrara. Tornou-se parceiro do PT e conselheiro político e interlocutor preferencial do presidente Lula a ponto de ter mais reuniões com ele do que com o presidente interino do partido, Marco Aurélio Garcia – e aí até se entende a opção presidencial, visto que Garcia parece mais propenso a estimular atritos que alianças. Também se entende que, tendo perdido no bojo dos escândalos de seu governo e de seu partido sua trupe inteira de conselheiros – como José Dirceu, Duda Mendonça, Genoino, Palocci, Gushiken e Berzoini -, o presidente Lula tenha escolhido alguém calejado nas barganhas da politicalha para apontar-lhe o caminho das pedras.
Tendo coordenado a vitoriosa campanha de Ana Julia ao governo do Pará, Barbalho credenciou-se para as negociações de cargos que o PMDB pretende abocanhar no segundo governo Lula. Mas a grata ternura, digamos, que o presidente demonstra em relação ao deputado paraense tem por base úteis conselhos. Foi ele, por exemplo, que, em meio ao pânico na campanha petista em razão da surpresa de o adversário ter conseguido o segundo turno, disse a Lula: ‘Presidente, desculpe a franqueza. Se o senhor não mudar seu modo de se relacionar com a mídia, se não fizer as pazes com a TV Globo, o senhor pode até vencer a eleição. Mas não governa. O senhor errou ao não ir ao debate da Globo. Não pode repetir isso. Dê um jeito de se aproximar de todo mundo, pare de fugir, dê o máximo de entrevistas.’
E ante a argumentação de Lula, de que as perguntas seriam sempre as mesmas, sobre dossiê Vedoin, mensalão, sanguessugas, Jader rebateu: ‘Responda a todas. Diga que não tem nada a ver com isso.’ O conselho funcionou.
Tendo o presidente prometido apoiar Jader para presidente da Câmara ou do PMDB, ouviu dele outro conselho: ‘Presidente, vamos encarar a realidade. Posso ser muito útil ao governo atuando nos bastidores. Mas não posso assumir ainda nenhum papel institucional. Haverá especulações a respeito de minha presença e o prejuízo será todo do governo.’ O deputado sabia bem do que estava falando. Além do processo que acabou de entrar no Supremo, relativo ao tempo em que era ministro da Reforma Agrária (em 1988, no governo Sarney), no qual responde à acusação de ter determinado o pagamento de uma indenização de CZ$ 313 milhões, correspondente a terras em Parintins (AM) com valor estimado de CZ$ 7,5 milhões (portanto, 59 vezes menor), Jader Barbalho responde a vários outros processos, entre os quais o de fraude na extinta Sudam e aplicações irregulares no Banco do Estado do Pará.
O apreço que o presidente demonstra por esse novo conselheiro – cuja proximidade política até seus pares costumam evitar, e que ele mesmo admite que traria ‘prejuízo para o governo’ – não deve constituir surpresa para quem se lembra de quanto a colaboração do então deputado Roberto Jefferson, do PTB, era altamente apreciada por S. Exa. A diferença é que Lula podia alegar ignorância das coisas em que Jefferson estava metido ou do quanto andava aprontando, uma vez que era tema de comentários intramuros. Mas as façanhas de Jader Barbalho no terreno das irregularidades administrativas e do menosprezo à ética e ao trato do dinheiro público fazem parte de grossos inquéritos policiais e processos judiciais, de amplo conhecimento. Não dá para alegar que ‘não sabia’.’
GOVERNO LULA
Radiobrás
‘Várias vozes se levantam em defesa da (relativa) independência editorial da Radiobrás, contra a pretensão do PT de transformar a empresa numa agência de propaganda do governo. Os petistas argumentam que o noticiário objetivo, incluindo informações nem sempre favoráveis ao governo, é inadequado, defendem o aparelhamento.
Discreto, o presidente da Radiobrás, Eugenio Bucci, pôs o cargo à disposição, mas não relacionou seu gesto a pressões. Por ele, falam os diversos documentos que elaborou e podem ser consultados no endereço www.radiobras.gov.br sobre o conceito de trabalho da empresa.
Um trecho desse material mostra contra que tipo de orientação se levantam os petistas: ‘A informação é um direito, assim como a educação é um direito, assim como a saúde é um direito. Ninguém conceberia que os professores de uma escola pública se dedicassem a doutrinar em lugar de educar corretamente os alunos. Ninguém aceitaria um hospital que admitisse os pacientes segundo critérios partidários. Pois o mesmo se pode dizer da informação: ela é um direito e deve ser oferecida igualmente a todos, de modo claro, impessoal, preciso, sem direcionamentos, sem interesses ocultos’.
Calendas
Faz 17 dias que o presidente Lula ganhou a eleição prometendo entrevistas a mancheias. No domingo, 29 de outubro, sua assessoria anunciou um encontro coletivo com a imprensa para o dia seguinte, mas o assunto foi esquecido.
Há vários temas a serem abordados com o presidente, sendo a formação do ministério o menos e a crise no tráfego aéreo o mais urgente.’
OAXACA, MÉXICO
O Estado de S. Paulo
Jornalista foi atingido à queima-roupa
‘A procuradora-geral de Oaxaca, Lizbeth Caña, afirmou ontem que as investigações sobre a morte do jornalista Bradley Will, dia 27, concluíram que ele recebeu um tiro à queima-roupa. Isso sugere, segundo Lizbeth, que os disparos seriam dos manifestantes que protestam em Oaxaca contra o governador Ulises Ruiz, mais próximos do repórter. Um porta-voz dos manifestantes disse que houve manipulação no caso.’
SUBSTITUIÇÃO
Time Warner troca presidente da AOL
‘A Time Warner anunciou ontem a nomeação do executivo da rede de televisão NBC, Randy Falco, como novo presidente da AOL (que pertence à Time Warner). Falco vai substituir Jonathan Miller, que está deixando a empresa. A troca acontece menos de quatro meses depois que a AOL passou a oferecer e-mails e outros serviços grátis para tentar atrair clientes e anunciantes.’
ANA CAROLINA RESTON
Anorexia mata modelo de 21 anos
‘Aspirante ao mundo da fama, a modelo Ana Carolina Reston, de 21 anos, encerrou sua carreira ao chegar aos 40 quilos de peso em 1,74 metro de altura. Anteontem, depois de três semanas internada por uma dor nos rins, Carolina morreu de infecção generalizada em decorrência de um distúrbio alimentar que a cada dia assombra mais as clínicas de médicos e psiquiatras: a anorexia nervosa. Ela viajaria no dia seguinte a internação para Paris.
A garota também sofria de bulimia, nome dado a doença em que o vômito é provocado depois da ingestão de comida. Segundo Dani Grimaldi, a prima com quem a modelo morava atualmente em São Paulo, ‘Ana Carolina comia e 15 minutos depois ia ao banheiro’. ‘Ela ligava o chuveiro para ninguém escutar. Mas uma vez eu vi que não estava tomando banho.’
Geise Reston Strauss, outra prima com quem a modelo também morou, disse que ela passava dias sem comer. ‘Quando comia, só era tomate, maçã ou melancia. Ela não aceitava que estava doente e quando a gente entrava no assunto, se afastava.’
HISTÓRIA
Antes de ir morar com Dani, há pouco mais de um mês, Ana Carolina viveu por um tempo com a mãe, Míriam Reston, em sua chácara, em Pirapora do Bom Jesus, na Grande São Paulo. A mãe lembra que a menina sonhava em ser modelo desde criança. ‘Andava com meu salto, se arrastava pela casa. Vivia se pintando.’ Aos 13 anos, entrou para o mundo da moda. Aos 17, começou a trilhar a carreira pelo exterior: México, China e, por último, de onde voltou em dezembro, Japão.
Foi depois da última viagem que Míriam se assustou com a filha. ‘Ela veio muito magra de lá. Quando mandava ela comer, respondia: ‘Mãe, mãe, mãe… não briga comigo’.’ Míriam disse que tentou incentivar a garota a procurar um médico, mas ela rejeitava. ‘Ela sempre fugia. Ela achava que estava bem.’
Internada num hospital público de São Paulo com pressão arterial de 3 por 5, a modelo não reagia às medicações que lhe receitavam, contou a tia de Ana, Mirthes Reston. ‘Me disseram que a agência tinha mandado ela para um psiquiatra, e os médicos do hospital precisavam saber qual remédio estava tomando porque ela não reagia aos antibióticos. Mas até hoje a agência não respondeu o nome do médico’, disse a tia. O Estado procurou a última agência da modelo, a L’Equipe, mas não conseguiu localizar ontem nenhum responsável pela empresa.’
Paulo Baraldi e Alexssander Soares
Magreza está ligada a sucesso na carreira
‘Casos como o de Ana Carolina não são raridade, diz o chefe do Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital das Clínicas de São Paulo, o endocrinologista Alfredo Halpern. A doença, presente em especial entre adolescentes mulheres, é mais freqüente entre modelos e bailarinas, que precisam estar magras para ter um bom desempenho na carreira.
Além de levar à morte por desnutrição, há casos assustadores. Segundo o médico, às vezes é preciso internar a anoréxica para que ela seja alimentada por uma sonda. A causa da doença é, ainda hoje, incerta. ‘A teoria mais aceita é de um misto de distúrbio psíquico com distúrbio químico’, diz Halpern.
O psiquiatra Adriano Segal, do Hospital das Clínicas, diz que estudos mundiais recentes mostram que 1% da população feminina, do início da adolescência até os 18 anos, sofre de anorexia. Dentro desse quadro, a morte é o resultado para 20% delas.
Segundo ele, com a melhor identificação da doença, os casos vêm aumentando nos últimos anos. ‘Mas não dá para dizer que é uma febre da juventude.’ Em cada dez pacientes diagnosticados, nove são mulheres.
Mais alarmante, segundo Segal, é o índice de adolescentes com sinais de anorexia, mas que não podem ser enquadrados na doença: 50% nos Estados Unidos. Não há dados no Brasil.
O primeiro sinal da anorexia é a pessoa se achar gorda, como uma negação ao próprio corpo, mesmo estando magra, segundo a psicóloga Maria Beatriz Meirelles Leite, que atende duas agências de modelos em São Paulo.
Ao perceber o problema, os responsáveis devem providenciar uma avaliação médica. ‘É um erro forçar a pessoa a comer. O primeiro passo é levar ao médico abordando a necessidade da consulta pelo aspecto físico e não emocional’, diz Maria Beatriz.’
Paulo Baraldi e Fabiana Cimieri
No Orkut, o alimento é inimigo
‘Uma menina que amava batatas fritas, milk shake e açaí na tigela, mas que se privava desses prazeres gastronômicos para não engordar e ficar dentro dos padrões do mercado da moda. Pela página da modelo Ana Carolina Reston no site de relacionamentos Orkut, sua doença passaria quase imperceptível se não fosse a comunidade ‘Magrinhas rulez (sic) – Só os ossos pride, para quem é só o esqueleto e não tem vergonha disso’.Carolina fazia parte de grupos como ‘Eu amo batata frita’ e ‘Adoro tomar milk shake’, ao contrário de participantes de comunidades que incentivam os distúrbios alimentares. Ontem, centenas de recados refletiam o que pensam as pessoas sobre a anorexia. Houve quem culpou a profissão e quem desejava paz.
Comunidades Pró-Ana e Mia, como as doentes apelidaram a Anorexia e Bulimia, não param de aumentar. Nelas, o alimento é visto como inimigo. Mais da metade das participantes usa perfil falso, com fotos de modelos magérrimas. Ali, elas discutem métodos radicais de emagrecimento, como ‘miar’ (vomitar) e incentivam-se a aderir a dietas de poucas calorias (low food) ou ao jejum absoluto (no food). Um comunidade com 2.150 membros dizia: ‘ Ser magra é mais importante do que ser saudável’.’
TEATRO
Arte de grupos teatrais em foco
‘Começa hoje a 4ª edição do Próximo Ato, Encontro Internacional de Teatro Contemporâneo, um importante evento voltado para a reflexão sobre a atividade teatral reunindo intelectuais e artistas, nacionais e internacionais, de peso – e que deve envolver, como participantes, atores e diretores de vários Estados brasileiros em cursos, workshops e palestras – com entrada grátis no Itaú Cultural.
Para esta edição, os organizadores convidaram para o conselho curador Antônio Araújo, diretor do Teatro de Vertigem; José Fernando Peixoto, da Cia. dos Narradores; e a atriz e professora Maria Tendlau. O tema escolhido foi o teatro de grupo, mais especificamente a discussão sobre a inserção dos coletivos teatrais na sociedade sob o ponto de vista ideológico, artístico, político e da sustentabilidade econômica.
‘Quando fomos convidados, nossa proposta foi que o Próximo Ato não fosse apenas um evento, mas uma discussão com continuidade’, diz Antônio Araújo. Proposta aceita, os encontros começaram em maio, entre artistas brasileiros ligados a coletivos teatrais. Textos tirados desses encontros preparatórios, assim como artigos encomendados a acadêmicos, artistas, críticos e jornalistas sobre o teatro de grupo em diferentes períodos históricos do teatro brasileiro já estão disponíveis no site do Itaú Cultural. E a programação vai se estender até dezembro, com a palestra, no dia 7, do suíço Stefan Kaegi, conhecido na Europa por suas intervenções em espaços públicos. ‘Ele iria participar agora, mas não pôde por problemas de agenda.’
O grande encontro internacional se concentra mesmo, como nas demais edições, em alguns dias de novembro. De hoje até domingo, das 10 horas até as 22h30, algumas salas do Itaú vão ser tomadas pelas atividades como oficinas, mesas-redondas e cursos. Os participantes podem escolher fazer um workshop, de hoje a domingo, das 10 às 13 horas com o ator e diretor basco Ander Lipus, fundador do Fábrica de Teatro Imaginário, em Bilbao, como laboratório de investigação teatral ou ainda, nos mesmos dias e horário, optar pelo encontro com David Jubb, do Reino Unido.
Antônio Araújo destaca ainda a presença do francês Bruno Tackels, que também atuou na Itália. ‘Ele enviou uma síntese das questões que levantaria em seu curso e nas palestras. Gostei muito do que li porque ele aponta, sobretudo, as contradições e problemas dos coletivos teatrais, acho que será muito produtiva sua participação nesse encontro’, aposta Antônio Araújo. Bruno Tackels dá minicursos no evento amanhã, sábado e domingo, das 15 às 18 horas.
A cada fim de dia, sempre a partir das 19h 30, os diretores fazem um encontro aberto ao público mais amplo (confira ao lado) para debater as reflexões levantadas nos cursos. ‘O espanhol Mateo Feijó é outra participação bacana, porque ele conhece profundamente o panorama de teatros de grupo em seu país’, diz o diretor do Vertigem sobre o artista que vai participar do debate no sábado junto com José Antonio Pasta Jr. ‘Achamos importante convidar um intelectual das Letras, que vai contribuir com uma outra visão.’ No domingo, a partir das 19h 30, será feito um balanço das discussões seguido de um debate aberto a todos os participantes, com participação de Tackels e mediação de Rosyane Trota. Todas as atividades são grátis e há ainda vagas para todos os workshops.
O Próximo Ato é um evento realizado em cooperação entre Itaú Cultural, British Council, Consulado Geral da França, Instituto Goethe, Agência Espanhola de Cooperação Internacional e Embaixada da Espanha. A primeira edição foi realizada em 2003 e tinha como tema o papel do teatro como lugar de questionamento nas esferas estética e política. A segunda, em 2004, refletiu sobre a produção artística e seu vínculo com a atualidade histórica. A terceira, ano passado, focou a produção de encenadores e dramaturgos que se dedicavam a levar aos palcos textos clássicos.
Vale ressaltar que no início de dezembro vai se realizar, em Campinas, o 3.º Encontro Nacional da Redemoinho – rede que interliga grupos teatrais brasileiros de todas as regiões do País. Os dois primeiros foram realizados em Belo Horizonte, na sede do Grupo Galpão. O próximo encontro será na sede do Barracão Teatro, em Barão Geraldo, bairro que concentra diversos coletivos teatrais. ‘Tenho certeza de que as discussões do Próximo Ato podem ser muito produtivas para fertilizar a reflexão do encontro da Redemoinho’, afirma Antônio Araújo.
(SERVIÇO)Itaú Cultural. Av. Paulista, 149. Encontros, cursos e workshops, de hoje a domingo, 10 h às 19h30; debates, de hoje a sábado, 19h30 às 22h30. Grátis – retirar senha meia hora antes. Mais informações pelo tel. 2168-1700 ou pelo site www.itaucultural.org.br.’
CHAVES
Músico quer R$ 238 milhões
‘Sabe a musiquinha infernal do eterno Chaves? Pois ela pode render belo desfalque aos cofres do SBT. Corre na 1ª Vara Cível de Osasco processo de Mário Lúcio de Freitas contra o emissora de Silvio Santos por descumprimento da lei de direito autoral e dano moral.
Mário, que diz ter prestado serviço ao SBT por 15 anos, alega ser o autor de trilhas sonoras importantes da emissora, como a do seriado Chaves, do jornalístico TJ Brasil, do programa Hebe, da Praça É Nossa e do Programa Livre, entre outras.
Na ação, além do atraso no pagamento de direitos autorais pela execução das músicas, Mário acusa a emissora de nunca ter exibido seus créditos na tela – o que, para ele, é uma obrigação da rede – e pede uma indenização de R$ 238 milhões.
São dele também algumas aberturas de novelas, como Chispita, e de uma das vinhetas institucionais mais famosas da casa: ‘Quem procura, acha aqui.’
‘Eu desconhecia os meus direitos e só no ano passado resolvi ir atrás’, conta Mário. ‘Nunca colocaram o crédito de minhas músicas no ar nem os direitos autorais recebi direito’, continua. ‘Só os do Chaves, que passaram a me pagar recentemente, mas tenho um monte de atrasados.’
Segundo o advogado do SBT, Marcelo Migliori, além do valor ‘absurdo’ calculado na ação, boa parte do que Mário pede em sua ação já foi prescrito. Resumindo: passou do prazo de ele requerer tais direitos na Justiça.
‘O juiz entendeu inicialmente que o valor da ação, sem julgar o mérito, não deve passar de R$ 50 mil’, fala Migliori. ‘Agora o processo está na fase de perícia contábil’, continua. ‘Não posso falar sobre nossa estratégia de defesa, mas cabe ao autor da ação provar tudo o que ele alega, ele é que tem que colher as provas. Nós, por enquanto, aguardamos.’’
AMAZONAS FILM FESTIVAL
Matt Dillon batiza peixe-boi em Manaus
‘‘Foi a melhor coisa que fiz desde que cheguei. Não imaginava que seria tão incrível. E tão fácil ao mesmo tempo. Fiz o máximo que eu pude fazer por uma causa justa fazendo o mínimo’, dizia um encantando Matt Dillon ao fim de um longo dia em que, entre uma volta de um hotel de selva e entrevistas e uma homenagem oficial durante o 3 Amazonas Film Festival, em Manaus, batizou um peixe-boi. Melhor, ‘uma’ peixe-boi de apenas seis meses. Órfão, o animal foi levado para o Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), onde foi acolhido em um viveiro especial e, na terça, ganhou o padrinho ‘de gala’. O ‘evento’ contou com a presença de ávidas emissoras de TV, jornalistas, do secretário de Cultura do Amazonas, Robério Braga, e de Adalberto Luiz Val, diretor do Inpa. ‘Pensei em chamá-la de Matilda ou Betty, mas acabei decidindo por um nome indígena, que tem muito mais a dizer sobre a luta pela preservação desta espécie tão ameaçada’, comentou o ator americano, após batizar o animalzinho de Mawa, que no dialeto dos índios waimiri-atroari significa mito. A agitação era tanta que Mauá, assustada, preferiu ficar sem a mamadeira e não deu o ar de sua graça para o novo padrinho.
Matt Dillon não se deu por vencido e saiu satisfeito em ‘apenas’ ter escolhido o nome de Mawa. Aliás, o ator está literalmente a passeio pelo festival. Você pode se perguntar, por que homenageá-lo? ‘Porque sim’ será a melhor resposta em um festival que prima por chamar a atenção de personalidades do cinema mundial, não só para a causa do cinema nacional, mas, antes de tudo, a ‘causa da preservação da Amazônia’. Críticas à parte, nomes como Dillon, Bill Pullman (de Querida Wendy), Barry Pepper ( de À Espera de um Milagre) e Irvin Kershner (de Star Wars – O Império Contra-Ataca) – estes integram o júri oficial do festival – acabam por conferir um caráter internacional a um festival que ainda busca uma identidade, mas que a cada ano ganha mais adesão da população manauara, que pode assistir a filmes em praça pública, na frente do Teatro Municipal de Manaus, onde as ‘sessões de gala’ são realizadas e até mesmo em terminais de ônibus espalhados pela cidade.
Dillon, que foi indicado para o Oscar de melhor ator coadjuvante por Crash – No Limite, não está lançando nenhum filme em Manaus nem pretende filmar tão cedo na Amazônia. Mas sua ligação com o Brasil não vem de hoje e não vai acabar tão cedo. O ator, que já namorou uma baiana, vai rodar em 2007 um filme no Rio. Ainda sem nome, o longa será dirigido por Jonathan Nossiter, de Mondovino. ‘Prefiro não falar do projeto agora. Estamos ainda discutindo o roteiro, o argumento. Mas é um filme pelo qual já tenho muito carinho’, contou com exclusividade o ator, que é amigo pessoal de Nossiter e não deve receber cachê para atuar nessa nova produção. ‘Matt tem razão. Será um filme bem urbano, mas pequeno, discreto, feito quase artesanalmente e que levará meses para ser filmado. Vai contar também com a Charlotte Rampling e Irène Jacob’, contou Nossiter por telefone ao Estado. ‘É claro que vai falar da relação dos estrangeiros com o Brasil. É tudo o que posso falar. Eu, que estou no País há apenas dois anos, às vezes tenho a impressão de que hoje sei menos do que sabia quando cheguei. O Rio é uma cidade muito rica, um universo muito complexo’, comentou Nossiter, que se casou com uma brasileira há um ano e mora no Rio.’
PRESENTE
Biblioteca Nacional recebe arquivo de José Olympio
‘Ao comemorar 196 anos, a Biblioteca Nacional recebe um presente de valor incalculável: mais de 6 mil itens que pertenciam ao acervo pessoal de José Olympio, dono da editora que levava seu nome. São livros e provas, originais, manuscritos e documentos de autores como Guimarães Rosa, José Lins do Rego, Cassiano Ricardo, Luis Fernando Verissimo e José Honório Rodrigues.
O material era mantido pelo próprio José Olympio, que morreu há 16 anos. A idéia de doá-lo foi de seu filho, Geraldo Jordão Pereira, e da família de Humberto Gregori, penúltimo proprietário da editora (que hoje pertence à Record).
A cessão foi oficializada no último dia 31, com a entrega de 137 caixas de papelão. Além dos livros, o acervo inclui 11 arquivos com 43 gavetas. Nas pilhas de papéis, estão preciosidades como provas com correções manuscritas de Manuel Bandeira. Há ainda capas, fotos de festas de lançamento e ilustrações usadas em publicações, além de grande quantidade de documentos e notícias antigas de jornais sobre a editora. Todo o conteúdo das caixas passará por processo de higienização e catalogação. Posteriormente, será disponibilizado para consulta.
Muniz Sodré, presidente da instituição, ficou embevecido e classificou a aquisição de ‘ouro em pó’. ‘O mais importante são os arquivos de José Olympio, de valor simbólico’, diz. Ele se refere especialmente a dedicatórias feitas pelos escritores e também à sua correspondência particular. Muniz lembra que a riqueza do acervo se deve ao fato de Olympio ter sido mais do que um dono de editora. ‘Ele foi um editor seminal, que, nas décadas de 30 e 40, aglutinava intelectuais em torno de si’, lembra. ‘Uma vez por semana, reunia todo mundo para bater papo. Era como um chá da Academia Brasileira de Letras, só que informal.’’