Leia abaixo a seleção de sexta-feira para a seção Entre Aspas.
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Folha de S. Paulo
Sexta-feira, 18 de abril de 2008
GAZA
Multidão acompanha enterro de jornalista em Gaza
‘Cerca de 3.000 pessoas, segundo a Associated Press, acompanharam ontem nas ruas de Gaza o enterro de 18 palestinos mortos anteontem, entre eles cinco crianças e um jornalista de 23 anos de idade que trabalhava para a agência britânica Reuters. Os incidentes da quarta-feira, os piores desde o mês passado em Gaza, foram o resultado de um ataque israelense ao campo de refugiados de Bureij, em resposta à morte de três soldados na região.
O cinegrafista Fadel Shana, que cobria o ataque a Bureij quando foi morto, teve seu corpo enterrado envolto na bandeira palestina, acompanhado por simpatizantes do grupo radical islâmico Hamas -que controla Gaza- e do grupo laico Fatah, que preside a Autoridade Nacional Palestina.
Segundo a Reuters, exame do corpo de Shana revelou que a causa de sua morte foram microprojéteis que se desprendem de um obus israelense disparado por tanques. Uma das últimas imagens captadas pela câmera de Shana foi justamente o disparo de um tanque.
Em resposta às mortes em Bureij, o Hamas instou seus militantes a ‘atacarem o inimigo sionista por todas as partes’. Já Mahmoud Abbas, presidente da ANP e que tem o aval do Ocidente para negociar com Israel, pediu urgência no avanço das negociações de paz israelo-palestinas, oficialmente retomadas em novembro nos EUA.
O premiê de Israel, Ehud Olmert, reafirmou que considera ‘os muçulmanos [do Hamas] os únicos responsáveis por o que acontece em Gaza’ e alertou que ‘os faremos pagar’.
Manifestou-se também o sul-africano John Dugard, relator especial da ONU sobre direitos humanos. Dugard instou as Nações Unidas a agirem como mediadoras no conflito. ‘Quanto tempo seguirá essa loucura sem intervenção internacional séria?’, questionou.
O dia ontem não passou sem violência. Tropas israelenses mataram um palestino em Gaza e outros dois na Cisjordânia.
Em meio ao recrudescimento da agressividade israelo-palestina, o ex-presidente dos EUA Jimmy Carter segue em sua visita ao Oriente Médio na tentativa de facilitar as conversas de paz -missão essa que tanto os EUA como Israel condenam, dado que o democrata tem se reunido com líderes do Hamas, a quem Washington e Tel Aviv querem isolar.
Carter esteve ontem, no Cairo, com o presidente do Egito, Hosni Mubarak, e com dois líderes do Hamas. O americano, que ganhou o Nobel da Paz por haver mediado o acordo entre Egito e Israel, de 1979, condenou o bloqueio israelense a Gaza -em vigor desde junho do ano passado. Carter disse que a estratégia é ‘um crime e uma abominação’. Afirmou ainda que o Hamas, que venceu as eleições palestinas em 2006, está disposto a aceitar um acordo negociado por Abbas e Israel, desde que seja aprovado em referendo pelos palestinos.
Jimmy Carter deve se encontrar hoje, na Síria, com o líder do Hamas Khaled Meshaal.
Com agências internacionais’
FLAGRANTE
Justiça manda soltar repórter Roberto Cabrini
‘O jornalista Roberto Cabrini, 48, preso na terça-feira sob a acusação de tráfico de drogas, foi libertado ontem às 20h30. A juíza Maria Fernanda Pelli, do Dipo (Departamento de Inquéritos e Polícia Judiciária), aceitou o pedido de relaxamento do flagrante de prisão.
O repórter vai acompanhar em liberdade o inquérito. Ele nega a acusação de tráfico e de ser usuário de cocaína. Cabrini diz que houve armação.
Ao deixar o 13º DP (Casa Verde), Cabrini falou pouco. ‘Há uma série de coisas sobre as quais não estou feliz, mas vou falar depois’, disse.
A polícia diz que achou dez papelotes de cocaína dentro do carro do jornalista. Ele estava acompanhado da comerciante Nadir Dias. Na bolsa dela, a polícia diz ter achado um pendrive (memória portátil de computador) com imagens em que o jornalista aparece inalando um pó branco. Também foi achada uma declaração dela, afirmando que as imagens haviam sido feitas a trabalho. A mulher, diz a polícia, foi ouvida como testemunha e liberada.
Segundo o jornalista, Nadir é uma fonte que o ajudou a conseguir entrevistas com chefes do PCC e havia lhe prometido entregar um DVD na terça, com mais dados sobre a facção.
Ele alegou ainda, em carta aos jornalistas, que Nadir lhe apontou uma arma e foi ‘induzido a consumir o produto’. Diz ainda que ela seria ligada ao tráfico de drogas e que começou a desconfiar que ele faria uma reportagem sobre ela.
Nadir nega as acusações e diz que ele a obrigou a assinar uma carta dizendo que ele estava fazendo uma reportagem com ela, o que incluía o uso da droga.
Cabrini também afirmou, em seu depoimento, que o delegado titular do Jardim Herculano, Ulisses Augusto Pascolati, chegou a sugerir que, se ele admitisse ser usuário de drogas, faria apenas um termo circunstanciado e o liberaria.
O delegado confirmou ontem à Folha. ‘É verdade. Eu vi o vídeo dele cheirando, a droga estava no carro. Se ele dissesse que era para consumir, seria um termo circunstanciado, mas ele não admitiu nem que era usuário e nem que era traficante. O que eu ia fazer?’
Para Pascolati, a declaração de que ele usou drogas a trabalho não tem valor. ‘Ninguém pode cometer um crime por estar trabalhando. Disse a ele que, pra mim, aquele papel não vale mais que papel higiênico.’
A Record afirmou, em nota divulgada na quarta-feira, que tem registros internos de que Cabrini fazia uma reportagem.’
TV BRASIL
TV pública depende de verba do Estado, afirmam diretores
‘Os jornalistas Tereza Cruvinel, diretora-presidente da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), vinculada ao governo federal, e Paulo Markun, diretor-presidente da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da rádio e TV Cultura, ligada ao governo de São Paulo, disseram ontem que as emissoras dependem de recursos do Estado e rechaçaram a idéia de que possam buscar agora doações de telespectadores para financiar suas atividades.
Eles participaram ontem, ao lado do ex-presidente da estatal Radiobrás e atual conselheiro da Fundação Padre Anchieta, Eugênio Bucci, de debate promovido pela Folha, em seu auditório, e pelo iFHC (Instituto Fernando Henrique Cardoso). O debate foi mediado pelo novo ombudsman do jornal, Carlos Eduardo Lins da Silva. Ele deixará o cargo de apresentador do programa ‘Roda Viva’, da TV Cultura, antes de assumir sua nova função.
Durante o encontro, Lins da Silva disse que, para ele, o melhor modelo de TV pública é o da rede norte-americana PBS. Segundo ele, ‘70%’ do capital financeiro usado na PBS vem de doações dos telespectadores. O mediador indagou se isso poderia ser aplicado no Brasil.
Embora ache que, em linhas gerais, ‘temos que caminhar para que a sociedade pague a conta da comunicação pública’, Markun disse acreditar que ‘é difícil a gente imaginar, a curto prazo, que o público seja capaz de se mobilizar para voluntariamente contribuir para o sustento da comunicação pública, botando a mão no bolso e pagando, todo mês, algum tipo de taxa voluntária’. Para ele, esse tipo de apelo ao telespectador só poderia ocorrer após a implantação de ‘um serviço de qualidade, ter uma diferença que faça com que as pessoas se sintam dispostas a fazer esse tipo de ação’.
Cruvinel afirmou que o modelo da PBS ‘é interessante’, mas que ‘nunca chegaremos, nunca poderemos, tão cedo, criar uma cultura para a contribuição espontânea’. ‘O Brasil, na sua diversidade (…), com seus problemas da desigualdade, acho que ainda é difícil.’
Ela ressaltou que o orçamento da PBS também recebe recursos públicos. ‘O Estado ter participação é importante. Não acho que aí está o problema, desde que sejam criados mecanismos para que ele [governo] não faça disso, o aporte de recursos orçamentários, uma condição para querer manipular e controlar.’
Os debatedores defenderam a tese de que as emissoras comerciais de alguma forma também são mantidas por recursos públicos, já que o custo da veiculação dos comerciais é, segundo eles, repassado aos consumidores no preço dos produtos anunciados.
Governo
Eugênio Bucci fez ressalvas à ligação que a EBC mantém com a Secretaria de Comunicação, vinculada ao Planalto. A Radiobrás, que ele dirigiu, também era vinculada. ‘A relação de vinculação de uma empresa encarregada de fazer jornalismo a um organismo encarregado da propaganda do governo e da assessoria de imprensa do presidente dá espaço para um conflito de orientação, por mais que as pessoas não queiram.’
Cruvinel disse ter dúvidas em relação a qual pasta, então, pelo raciocínio de Bucci, deveria ser ligada a EBC. ‘Na verdade, o bom mesmo é que não houvesse vinculação a nenhum ministério. (…) O mandato do diretor-presidente da EBC tenta ser uma garantia e não subordinação às pressões que todos nós sabemos que governos exercem. O livro do Eugênio Bucci [‘Em Brasília, 19 Horas’] é um relato nesse sentido’, afirmou a diretora.
Ao resposta a uma pergunta da platéia, Cruvinel minimizou a demissão de Luiz Lobo, ex-editor de programa jornalístico da TV Brasil. A Folha revelou na semana passada que Lobo atribuiu sua saída a pressões políticas. Ela classificou o tema como ‘episódio administrativo de uma empresa de comunicação’ e disse que ganhou dimensão ‘pela luta política’.’
CHINA
China recusa desculpas da CNN e ataca emissora
‘A China exigiu ontem uma ‘desculpa sincera’ da rede americana CNN, esnobando a explicação do âncora Jack Cafferty sobre o comentário que provocou revolta no país. Ao falar dos protestos no percurso da tocha olímpica, Cafferty disse que os chineses ‘continuavam a ser os mesmos capangas dos últimos cinqüenta anos’.
Diante dos protestos, desculpou-se: disse que se referia ao governo, não ao povo, e a CNN pediu desculpas ‘ao povo chinês’. Não bastou. A declaração da CNN tenta criar uma divisão entre governo e população, criticou Jiang Yu, porta-voz da Chancelaria. Em relação à principal razão das críticas internacionais, a questão tibetana, a posição oficial converge com o que pensa a maioria dos chineses: a separação é inaceitável.
Repressão
Numa demonstração de que as ‘medidas severas’ contra dissidentes não serão amaciadas pela pressão ocidental, a China invadiu ontem um monastério na Província da Qinghai, vizinha ao Tibete. Dezenas de monges foram detidos.
A repórter da TV oficial em Qinghai Jamyang Kyi -famosa cantora tibetana e ativista feminista- foi levada por policiais à paisana em 1º de abril, informam amigos e parentes, sem notícias desde o dia 7. Lamao Jia, marido da jornalista, diz temer por sua segurança. Não há confirmação oficial da prisão nem de acusações a ela.
A repressão aos exilados também é intensa. A polícia do Nepal prendeu ontem 505 tibetanos, na maior detenção em massa desde o início dos protestos contra a repressão chinesa, em março. Três manifestações em frente à Embaixada da China na capital, Katmandu, foram frustradas pelas forças de segurança.
Com agências internacionais’
TELEVISÃO
Em Taubaté, concurso para escriturário tem questões sobre BBB e casal ‘global’
‘Quem não acompanhou a última edição do Big Brother Brasil nem o fim do relacionamento de um casal de atores da TV Globo pode ter ficado de fora da seleção para escriturário da Prefeitura de Taubaté (130 km de SP).
Esses assuntos, entre outros, foram tema da prova do concurso público promovido pelo município no último domingo para a contratação de 40 escriturários (servidor encarregado da escrituração de registros ou expediente em repartição pública).
Ao todo, 1.600 pessoas concorreram às vagas. O resultado sai na próxima semana. Os classificados serão contratados para desempenhar trabalhos burocráticos, por R$ 450 mensais.
‘Alexandre, Bianca e Fernando participaram de que edição do programa Big Brother Brasil?’ e ‘Que famoso casal ‘global’ anunciou, recentemente, o fim do casamento?’ foram duas das questões. O teste teve 80 perguntas optativas, divididas em português, matemática, informática e atualidades.
Uma das perguntas foi anulada por erro da organização. Questionava o nome do presidente da Câmara Municipal de Taubaté, mas a opção correta -vereador Luiz Gonzaga Soares (PR)- não constava entre as alternativas.
A seção de atualidades incluiu também questões sobre política (‘Quem é o atual prefeito de São Paulo?’), saúde (‘Qual é a doença transmitida através do mosquito Aedes aegypti?’) e esportes (‘Quais são os três pilotos brasileiros que disputam a temporada 2008 da Fórmula 1?’).
O diretor do departamento de administração da prefeitura, Julio Cesar Oliveira, disse não ver problemas na inclusão das questões na prova. ‘Diga por que não pode pôr? Isso é uma coisa da administração. Ela resolveu colocar essa questão e pronto.’
O presidente da Câmara Municipal criticou a prova. ‘Esse tipo de pergunta me parece mais relacionada a fofoca do que a conhecimentos gerais. As pessoas poderiam ter sido questionadas, por exemplo, sobre Monteiro Lobato ou Mazzaropi, que fazem parte da cultura de nossa cidade’, disse Soares.
Ele afirmou que enviou requerimento ao prefeito Roberto Peixoto (PMDB) solicitando explicações. O documento pede ainda que o prefeito cancele o concurso.’
Daniel Castro
Telejornais crescem até 46% com caso Isabella
‘O trágico caso Isabella está fazendo a felicidade dos telejornais. A audiência desses programas cresceu até 46% na primeira quinzena deste mês em relação ao mesmo período de março. Foi o caso do ‘Brasil Urgente’ (Band). Outro jornal sensacionalista, o ‘Balanço Geral’, da Record, cresceu 25%.
Anteontem, o ‘Jornal da Band’ (crescimento de 24%) atingiu sua melhor média no ano: 7,5 pontos. O ‘Jornal Nacional’ e o ‘Jornal da Record’ aumentaram seus públicos em 9%. O ‘JN’ saltou de 31,4 para 34,2 pontos. Atribui-se também ao caso Isabella as consecutivas lideranças da Record no período matutino.
O sucesso explica em parte o investimento na cobertura. A Globo mobilizou 18 repórteres, 8 produtores e 20 cinegrafistas. Eles fazem plantões permanentes, até de madrugada, em casas de parentes da menina e delegacias. Deram vários furos de reportagem.
Ontem, o ‘SP TV – 1ª Edição’ dedicou mais de meia hora à história. No estúdio, os apresentadores entrevistavam o repórter Walmir Salaro _numa tática que lembra a Rede TV!.
No ‘Jornal Nacional’, a cobertura chegou a ocupar 15 minutos e 20 segundos na edição da última terça, o equivalente a 37% do telejornal. Naquele dia, a emissora teve acesso ao inquérito. Anteontem, foram só quatro minutos (10,8%).
A Record informa ter deslocado para a cobertura 30 repórteres e produtores e 20 cinegrafistas. Sua cobertura, muitas vezes, esbarra no exagero.
Ontem, o ‘Balanço Geral’ tinha em seu cenário uma cama, como se fosse a de Isabella. O apresentador manchava roupas com tinta vermelha e depois as lavava, para mostrar como age um produto usado por peritos para descobrir sangue. Já o ‘Fala que Eu Te Escuto’, da Igreja Universal, ‘reconstituiu’ o crime com atores.
Na Band, entre três e dez equipes (repórter mais cinegrafista) cobrem o caso, dependendo do noticiário, além de cinco produtores. Até o SBT priorizou Isabella. Mobilizou quatro repórteres e sete cinegrafistas. Parece pouco, mas é quase metade do time da emissora. O SBT tem apenas nove repórteres em São Paulo.
MAU HÁBITO 1 Sem aviso, o Sony reprisou anteontem o primeiro episódio da quarta temporada de ‘Desperate Housewives’. Diz que não exibiu capítulo inédito por causa da greve dos roteiristas nos EUA. A interrupção ocorreu justamente no clímax dramático da temporada.
MAU HÁBITO 2 O canal informa que ‘Desperate’ só voltará a ter novos capítulos dia 30, apesar de haver um episódio pré-greve ainda inédito no Brasil.
GENÉRICO Autor de ‘Vidas Opostas’ (2007), Marcílio Moraes está tentando emplacar na Record um seriado derivado da novela, a primeira ambientada num morro carioca. A produção absorveria elementos do filme ‘Tropa de Elite’.’
INTERNET
Lucro do Google aumenta 30% e vai a US$ 1,31 bi
‘Em meio a disputas no setor de internet, o Google anunciou ontem, após o fechamento do mercado, alta de 30% no lucro do primeiro trimestre ante o mesmo período do ano passado, totalizando US$ 1,31 bilhão.
Baseado em dados sobre a queda do acesso a anúncios em sites, o mercado esperava um resultado abaixo do registrado.
Apesar de o presidente da empresa Eric Schmidt, ver a compra do DoubleClick com potencial para elevar o valor das propagandas, a ferramenta de contagem de anúncios não impactou o resultado. ‘O impacto do DoubleClick no primeiro trimestre foi imperceptível’, segundo o documento.’
PUBLICIDADE
Conar suspende 2 propagandas da Petrobras
‘O Conar (Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária) decidiu ontem suspender a veiculação de duas campanhas publicitárias da Petrobras em que a empresa destacava suas ações de preservação do meio ambiente. O conselho acatou o argumento de que se tratava de propaganda enganosa da empresa.
A decisão ocorreu em razão de uma ação movida pelos governos estaduais de São Paulo e de Minas Gerais, pela Prefeitura de São Paulo e por ONGs.
De acordo com a ação, a Petrobras faz propaganda enganosa ao manter no mercado um diesel extremamente poluente -com alta concentração de enxofre, que é cancerígeno e afeta a saúde da população.
A ação pede que o Conar ‘suste a divulgação de todas as campanhas que abordem sua sustentabilidade empresarial e responsabilidade socioambiental, vez que como demonstrado estes compromissos não existem na prática’.
No site do Conar, a única menção à decisão diz que a suspensão foi decidida ‘por maioria de votos’. Não há justificativa para a decisão.
As entidades afirmam que a empresa fala recorrentemente em suas campanhas e anúncios publicitários sobre seu compromisso com a qualidade ambiental e com o desenvolvimento sustentável. ‘Entretanto, essa postura que é transmitida por meio da publicidade não condiz com os esforços para uma atuação social e ambientalmente correta’.
O secretário municipal de São Paulo, Eduardo Jorge (Verde e Meio Ambiente), que desde 2005 insiste para que a Petrobras coloque no mercado um diesel menos poluente, disse que ‘a decisão foi exemplar’.
O secretário estadual Xico Graziano (Meio Ambiente) concorda. Para ele, a decisão é ‘uma vitória ética fundamental porque o Conar, no fundo, defende o consumidor’. ‘Ficou comprovado que a Petrobras tem uma conduta inadequada.’
Marcelo Furtado, do Greenpeace, afirma que o Conar ontem ‘repudiou a maquiagem verde’. ‘Isso é fundamental para estimular as empresas que querem fazer sustentabilidade com seriedade a continuarem. E dá um sinal para aquelas que querem arriscar enganar o público e não cumprir leis de que não há mais espaço para picaretagem’, afirmou.
Na opinião de Oded Grajew, do Movimento Nossa São Paulo, a decisão é histórica na área da responsabilidade social e vai criar jurisprudência. ‘A decisão indica que para se mostrar socialmente responsável a empresa precisa agir da mesma forma em relação a todos os seus públicos’, diz.
O Conar não se manifestou sobre a decisão. A assessoria de imprensa do conselho apenas informou que a decisão ocorreu por maioria dos votos.
Enxofre
O diesel distribuído pela Petrobras tem alta concentração de enxofre: são 500 ppm (partes por milhão) desse poluente nas regiões metropolitanas e 2.000 ppm no interior. Países da Europa têm 50 ppm e o Japão, 10 ppm, por exemplo.
A resolução 315 do Conselho Nacional do Meio Ambiente estabeleceu novos limites de emissão de poluentes que devem ser atendidos pelos veículos. Para isso, é preciso passar a usar o diesel 50 ppm e motores com catalisadores a partir de 1º de janeiro de 2009.
No ano passado, no entanto, a Petrobras afirmou que faria a distribuição de diesel menos poluente somente quando os veículos disponíveis no mercado tivessem motores com tecnologia semelhante à européia. E a Anfavea (associação dos fabricantes de veículos) afirmou que tem, por lei, um prazo até novembro de 2010 para colocar os novos veículos no mercado.’
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Empresa não comenta a decisão
‘A Petrobras afirmou, por e-mail, que ‘ainda não foi comunicada oficialmente sobre qualquer decisão do Conar’.
Cristiane Carvalho Lage, advogada que defendeu a empresa na reunião promovida pelo Conar ontem, disse após o término da votação que iria aguardar o inteiro teor da decisão para se manifestar.
De acordo com ela, o resultado seria levado para sua gerência superior, que avaliaria as medidas que a Petrobras tomará no caso.
Ainda segundo Lage, essa foi a primeira vez que a empresa ‘foi demandada no Conar’.
O conselho afirma que cabe recurso. Se a empresa optar por recorrer, haverá outra reunião no Conar, num prazo de 30 a 60 dias, com a presença de conselheiros diferentes dos que estiveram ontem na primeira decisão.
Até que haja um novo julgamento, entretanto, as campanhas não podem ser veiculadas. O Conar possui 90 conselheiros titulares e 90 suplentes.’
POLÍTICA
A mão que não balança (o povo)
‘ROMA – Análise de Ezio Mauro, diretor do jornal italiano ‘La Repubblica’, sobre a vitória de Silvio Berlusconi: ‘Bastam uma adesão, um aplauso, uma vibração de consenso, como acontece (…) quando os cidadãos se tornam espectadores e os líderes se convertem em ídolos modernos, (…) talhados à medida da nova demanda, que já não crê em formas eficazes de ação coletiva; ídolos que não indicam o caminho mas se oferecem como exemplo’.
Vale para a Itália, vale para tantíssimos países do mundo, vale para o Brasil de Lula. À perfeição, aliás. Qualquer projeto coletivo que o PT possa ter tido evaporou-se com a vitória de 2002, dado como ‘bravatas’ pela ‘metamorfose ambulante’ que então se elegeu.
No mundo todo, a política foi desidratada, o eleitor/cidadão virou mero espectador (no Brasil talvez sempre tenha sido), e ações coletivas estão contidas no âmbito de ONGs, com a limitação de que só têm projetos segmentados.
Conseqüência ou causa do desaparecimento de projetos coletivos: o mundo pende crescentemente para a direita, se esta pode ser tomada como sinônimo de individualismo. A vitória de Berlusconi é apenas o mais recente exemplo. Em toda a Europa, houve primeiro a corrida da esquerda para o centro, o que foi insuficiente para evitar que a direita vencesse os pleitos recentes em todos os países relevantes, exceto na Espanha.
Na Itália, a perplexidade dos comentaristas de centro-esquerda é com a Liga Norte, xenófoba e supostamente de direita, que desbancou a esquerda e levou os votos ‘do povo, que olha para a direita em busca de proteção’, como escreve Renzo Guolo (‘La Reppublica’).
Como no Brasil, em que Lula só levou os votos do povo quando a metamorfose deambulou para a direita. Há quem aplauda, há quem ache que o sistema, no mundo todo, ficou maneta.’
TODA MÍDIA
‘World power’
‘No enunciado da AP, por Google, sites de jornais, por todo lado, o dia todo: ‘Brasil em boom pode virar potência mundial logo’ (world power soon). Abrindo o texto, ‘a economia em boom está mudando para quinta marcha’ (overdrive). A arrecadação é bastante ‘para irrigar o deserto’, ‘a dívida externa se foi’. Mais parecia editorial, por parte da agência americana.
Tem mais, no editorial da nova ‘Economist’: ‘Uma superpotência econômica, e agora petróleo também’. Aconselha cuidado com as mudanças que as reservas podem trazer. Em longa reportagem, saúda como o país ‘ficou sem graça’ (dull), sem crises econômicas e políticas. ‘Os brasileiros esperam nervosos para ver o que o mundo reserva para sua frágil economia, mas já fizeram um bocado para tornar seu país mais forte’, destaca. Encerrando, após citar corrupção e pobreza: ‘E mesmo assim, comparando com o Brasil de antes, a sensação é que esta é uma idade de ouro’ (golden age).
MUITO GRANDE
No G1, portal de notícias da Globo, o presidente da Petrobras reafirmou que a avaliação do campo Carioca demora dois, três meses. De qualquer maneira, na manchete do site, ‘Área tem potencial muito grande, afirma Petrobras’.
E VAI MUDAR
Edison Lobão, ministro, ecoou na TV e mundo afora ao confirmar que, sim, ‘Brasil estuda mudança na legislação de petróleo para contratos futuros’. A Reuters descreve como ‘parte da tendência global de nacionalismo de recursos’.
JUROS E A MASSAGEM
No blog de Lauro Jardim, ‘a avaliação no Banco Central é que, até agora, a reação contra a alta dos juros foi menor que a esperada’. Guido Mantega nada falou. E Lula, em vídeo nos portais, canais de notícias e até escaladas de TV, fez piada do aumento, que teria causado seu ‘torcicolo’.
Tutty Vasques acrescentou depois, em piada na home de ‘O Estado de S. Paulo, que o torcicolo é só ‘estratégia’ -e que ‘o próximo passo seria pedir a Raul Jungmann o celular daquela massagista que aceita cartão corporativo’.
FOME E OS RICOS
As capas da ‘Economist’ e da ‘New Statesman’ foram para a inflação global dos alimentos, que a primeira revista chamou de ‘A nova face da fome’, avisando que ‘os países ricos devem enfrentar o problema tão seriamente quanto a crise de crédito’, e a segunda destacou sob o enunciado ‘Como os ricos levaram o mundo à fome’.
Sobre os biocombustíveis, a ‘Economist’ tratou de sublinhar que o problema está nos ‘subsídios no mundo rico’, EUA e Europa, inclusive ‘restrições de comércio’. Já a esquerdista ‘New Statesman’ ressaltou que nem O Brasil escapa da responsabilidade.
UM QUEPE
O ‘Jornal Nacional’ voltou aos velhos tempos e destacou discurso de general no Clube Militar, com ministro do regime militar na platéia, contra uma decisão de governo eleito. No dizer do site Vi o Mundo, de Luiz Carlos Azenha, é que o jornal ‘não resiste a um quepe’. O jornalista teme ‘crise militar em gestação’.
CHAMADO MASSACRE
O mesmo ‘JN’, ontem no aniversário de Eldorado do Carajás, tratou o episódio como ‘o chamado massacre’.
Já na manchete da Reuters Brasil, o MST ampliou ações no ‘aniversário do massacre de Eldorado do Carajás’. E logo abaixo, ‘Aumenta a concentração de terra na América Latina, diz a FAO’, da ONU.
AGÊNCIA VS. AGÊNCIA
A Reuters virou ontem Thomson Reuters e seu novo presidente, em entrevista, fala em concorrer com Google, Microsoft. Mas o foco imediato é a agência Dow Jones, agora de Rupert Murdoch -que acaba de entrar também para o conselho da agência Associated Press, AP, no que o Huffington Post noticiou como ‘Lá se vai o jornalismo’.’
BLOG
Positivamente
‘Duda Mendonça vai lançar seu blog na quinta-feira, 24. E já avisa que não vai ‘falar mal de ninguém, nem fazer futrica ou intriga’. Falará dos outros ‘sempre positivamente’. O publicitário pretende atuar como consultor nas eleições deste ano. Já conversa com o bispo Crivella, no Rio, e com Luizianne Lins (PT-CE), que concorre à reeleição em Fortaleza.
VOU DE TÁXI
Mesmo tendo pago R$ 4,5 milhões de multas, Duda continua com todos os bens e contas bancárias bloqueados. Ele não conseguiu sequer licenciar seu carro no Detran de Salvador.’
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O Estado de S. Paulo
Sexta-feira, 18 de abril de 2008
FLAGRANTE
Após 2 dias, repórter Cabrini deixa a prisão
‘O jornalista Roberto Cabrini foi libertado ontem por ordem da Justiça. Ele deixou a carceragem do 13º Distrito Policial, na Casa Verde, zona norte da capital, onde ficou detido por dois dias, acusado de traficar drogas. Obteve relaxamento da prisão com decisão da juíza Maria Fernanda Belli, que afirmou não ter ficado clara ‘situação de traficância’ que justificasse a prisão.
Ao deixar a delegacia, Cabrini agradeceu a compreensão de colegas e afirmou que vai ‘continuar a fazer jornalismo sem medo’. Ele foi abordado na tarde de terça-feira por policiais do 100º DP, no Jardim Herculano, na zona sul, ao sair de uma favela com seu carro importado. Na vistoria, foram encontrados 8 gramas de cocaína em um porta-objetos do lado do banco do passageiro.
MULHER
Cabrini estava acompanhado de Nadir Domingos Dias, de 50 anos, que seria uma de suas principais fontes no Primeiro Comando da Capital (PCC). O jornalista disse que tinha ido à favela para receber da mulher dois DVDs com entrevistas de Marcos Herbas Camacho, o Marcola, e outro DVD com imagens de maus-tratos a presos.
Nádia, como Nadir é conhecida, afirmou ser amante de Cabrini e o apontou como dono da droga. Ela ainda tinha um pen drive com vídeos de Cabrini consumindo cocaína. Como não admitiu ser usuário nem reconheceu ser dele a droga, o jornalista foi indiciado por tráfico. Nádia figurou como testemunha no processo.
‘Fica muito claro que, não existindo situação de traficância, houve algo de anômalo nesse flagrante’, disse o advogado Alberto Zacharias Toron. ‘
CUBA
Cuba vai reduzir restrições de viagem, diz jornal
‘O governo do presidente de Cuba, Raúl Castro, iniciará em breve uma reforma que simplificará os trâmites de entrada e saída do país e permitirá que os cubanos viajem para o exterior sem necessidade de permissão específica das autoridades, informou ontem o jornal espanhol El País em seu site na internet. Citando ‘fontes próximas ao governo’ cubano, o texto do correspondente do diário em Havana, Mauricio Vicent, assinala que a reforma já está decidida e só falta definir alguns detalhes para que comece a ser posta em prática, o que poderia ocorrer ‘nos próximos dias ou semanas’.
O jornal lembrou que a existência do chamado ‘cartão branco’ – a autorização de saída do país, que custa o equivalente a cerca de 100 e pode demorar meses, sem que haja garantia de que vá ser concedida – foi muito criticada pela população no debate convocado no ano passado por Raúl. Outro requisito para viajar, a ‘carta-convite’, também seria extinto, indicaram as fontes. Assim, os cubanos só necessitariam de um passaporte em vigor e do visto do país de destino para viajar ao exterior.
No entanto, o cartão branco continuaria sendo exigido de médicos, de recém-formados que ainda não tenham cumprido seu serviço social, de militares e de membros do governo com acesso a informações que afetem a segurança do Estado, acrescentou El País.
Como parte da reforma, seria prolongado o período que os cubanos podem ficar no exterior sem ter de voltar ao país ou perder seus direitos de cidadão. O prazo atual, de 11 meses, seria estendido provavelmente para 2 anos, assinalou o jornal, acrescentando ainda que os menores de idade poderiam sair com seus pais, algo que atualmente só é autorizado em casos excepcionais.
Ainda ontem, o jornal cubano Granma publicou alguns ‘conselhos úteis’ aos motoristas de Cuba para que não caiam na ‘febre’ dos celulares, agora que podem comprá-los livremente. ‘Desligue o celular enquanto dirige’, ‘se precisar fazer um telefonema urgente, pare o carro’, assinalou o jornal.’
CHINA
França tenta conter boicote chinês
‘A histeria dos protestos de internautas chineses contra o Carrefour ainda não chegou às prateleiras do hipermercado em Pequim. A reportagem do Estado esteve ontem à noite na maior loja da rede na capital chinesa e encontrou um cenário semelhante ao de outros dias. O boicote a produtos franceses em razão dos protestos contra a China em Paris durante a passagem da tocha olímpica parece que terá o mesmo destino da que é realizada há anos contra marcas do Japão, em razão das atrocidades da guerra sino-japonesa na década de 30.
Os franceses iniciaram ontem uma campanha de relações públicas na China. Eles não querem correr o risco de perder um mercado de 1,3 bilhão de pessoas com poder aquisitivo cada vez maior. O embaixador da França em Pequim, Hervé Ladsous, deu entrevista à Phoenix TV, de Hong Kong, e enviou uma nota ao jornal Global Times.
Em ambas as declarações, afirmou que o governo francês adotou todas as medidas possíveis para proteger a tocha olímpica durante sua passagem por Paris, com a mobilização de 3 mil policiais. ‘Alguns manifestantes radicais criaram incidentes que provocaram enorme tristeza. Por isso, eu entendo e compartilho o desapontamento dos chineses’, disse na nota ao Global Times.
Na entrevista à Phoenix TV, o embaixador reafirmou o compromisso de seu país com a política de uma só China. ‘A realidade é que a França respeita totalmente a China e sua soberania, portanto ninguém pode dizer que a França tem idéias bizarras em relação ao Tibete: nós sabemos que o Tibete é uma questão relativa à soberania da República Popular da China e jamais vamos transigir em relação a isso.’
Ladsous ressaltou, porém, que seu país defende o diálogo, a transparência e o acesso da imprensa ao Tibete. O embaixador reconheceu que o presidente francês, Nicolas Sarkozy, ainda não decidiu se estará presente à cerimônia de abertura da Olimpíada, no dia 8 de agosto.
O Carrefour também divulgou uma nota em seu site em chinês, na qual ressaltou seu compromisso com a Olimpíada e afirmou que o presidente mundial da rede estará presente da cerimônia de abertura dos Jogos. Os representantes da rede em Pequim visitaram várias autoridades chineses nos últimos dias e repetiram o mantra de que não misturam negócios com política.
A rede tem 122 lojas na China, que recebem em média entre 20 mil e 25 mil clientes por dia. Maior acionista individual do Carrefour, o bilionário Bernard Arnault, dono do grupo LHMV, também tratou de se justificar em Paris. Arnault rebateu os boatos de que havia doado dinheiro ao grupo de tibetanos no exílio liderado pelo dalai-lama. ‘Mesmo que alguém possa estar chocado com o que ocorre no Tibete, é igualmente chocante ver os ataques contra a China’, declarou Arnault em entrevista ao jornal francês Le Figaro.
‘A China fez um imenso progresso em 20 anos em seu desenvolvimento econômico e em sua abertura para o mundo. A China precisa de tempo. Se queremos dialogar com ela, é melhor fazermos outras coisas do que atacar a tocha olímpica quando ela vem a cidades ocidentais’, destacou.
As ações da LVMH tiveram forte alta ontem, depois de o grupo anunciar vendas acima do esperado em razão de seu desempenho na Ásia, com ajuda dos emergentes chineses ávidos pelo status proporcionado pelas marcas de luxo.’
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Governo exige da CNN ‘desculpas aceitáveis’
‘O governo chinês convocou na noite de anteontem o correspondente da rede de televisão americana CNN em Pequim para manifestar sua insatisfação com a desculpa apresentada pela emissora após as declarações de seu comentarista Jack Cafferty – nas quais ele qualificou os chineses de ‘brutos e bandidos’, no dia 9.
Nos últimos dois dias, o caso ganhou destaque nos jornais oficiais e nos fóruns de internet chineses e alimentou a campanha que mira a imprensa ocidental desde o início da cobertura de manifestações contra a China no Tibete, há pouco mais de um mês.
A CNN desculpou-se na terça-feira e disse que as afirmações de Cafferty se dirigiam ao governo e não ao povo chinês. ‘A declaração não somente não representa uma desculpa sincera, mas ataca o governo chinês, tentando mostrar discordância entre o governo chinês e o povo’, afirmou ontem a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Jiang Yu.
Cafferty também chamou os produtos chineses exportados para os Estados Unidos de ‘lixo’ e afirmou que eles são produzidos por operários que ganham US$ 1 por mês. O correspondente da rede em Pequim, Jaime FlorCruz, foi chamado na quarta-feira à noite para um encontro com Liu Jianchao, o principal porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.
Na reunião, ouviu que o governo da China não considera a declaração da CNN como um pedido de desculpas. ‘
Gilles Lapouge
A onda anti-França de Pequim
‘O circuito da tocha olímpica prossegue, ao ritmo lento de um calvário. Sua parada no Paquistão, onde foi encarcerada em um estádio, sob vigilância policial, e depois na Índia, transformou essa nobre tradição numa farsa.
E nessa confusão, a França teve uma participação. Foi em Paris onde os incidentes e os choques foram mais brutais. E a desordem foi provocada por uma multidão acirrada pela associação Repórteres sem Fronteiras, sob a batuta de um homem mordaz, mas muito exagerado, Robert Ménard.
A classe política francesa mostra-se extremamente prudente. O presidente Nicolas Sarkozy, que muda de opinião a cada 24 horas, não disse ainda se assistirá à abertura da Olimpíada. Mas já se declarou contra um boicote.
Estranhamente, é a China que se mostra tentada a boicotar a França. E isso não emana do poder chinês, mas da rua. Uma profusão de mensagens pela internet acusa a França de ser a conselheira do dalai-lama, o chefe espiritual e político do Tibete, há mais de meio século refugiado na Índia depois da invasão do Tibete pelos soldados chineses.
Os interesses franceses na China são consideráveis. É o caso do Carrefour e empresas de luxo (como o grupo LVMH – Louis Vuitton Moët Hennessy). A palavra de ordem na internet chinesa é: ‘a partir do dia 1º, que todas lojas Carrefour no país fiquem desertas e mudas’. Ora, o Carrefour na China não é pouca coisa: 122 hipermercados e 40 mil assalariados, 98% deles chineses. A China contribui com 9% para o faturamento total da empresa.
O Carrefour recusa-se a entrar em pânico. No entanto, por trás dessa fleuma, o medo está cozinhando lentamente.
Se é verdade que o governo de Pequim não se junta a esses furores, por outro lado o poder tem controle absoluto da internet e, se quisesse, teria bloqueado as mensagens antifrancesas. Portanto, ao mesmo tempo que minimizam o perigo, os grupos franceses já procuram desativar as minas.
O mundo, às vezes, é cômico. Há seis anos, quando Jacques Chirac se opôs frontalmente a George W. Bush e rejeitou violentamente a guerra contra o Iraque, os EUA ficaram loucos. Milhões de garrafas de champanhe foram jogadas nas valetas de Nova York.
A histeria durou alguns meses. Depois Bush se atolou no Iraque. E, então, os EUA voltaram a amar a França. Hoje, vemos o grande espasmo de cólera da China.
* Gilles Lapouge é correspondente em Paris’
TECNOLOGIA
IBM apadrinha empresas de tecnologia em ascensão no País
Criada por quatro amigos apaixonados por games, a Hoplon funciona desde 2004 dentro de uma incubadora de empresas em uma universidade, em Florianópolis. A Hoplon ainda é uma empresa nascente, ou seja, não tem faturamento. Mas a rotina do presidente e fundador Tarquínio Teles, de 37 anos, não se parece em nada com a de um pequeno empresário.
Nos últimos anos, seus compromissos incluem reuniões com executivos de multinacionais e grupos de investidores estrangeiros, além de participação em eventos no exterior, onde apresenta a empresa. A saga do empreendedor tem como objetivo obter cerca de US$ 30 milhões para poder colocar seu produto (games e comunidades virtuais) no mercado. Até o final do ano, acredita ele, o dinheiro deve chegar. ‘Estamos muito perto.’
O caminho de Teles, traçado por milhares de empreendedores mundo afora, foi encurtado por meio de uma parceria com a gigante de tecnologia IBM. Desde 2002, a multinacional está levando a países emergentes a IBM Venture Capital Group. O grupo é um braço da companhia encarregado de identificar empresas com potencial de inovação e recomendá-las a investidores. No Brasil, 12 pequenas, médias e grandes empresas já receberam aporte de capital de risco por sugestão da IBM.
Agora, a companhia quer ampliar a atuação do projeto no País. ‘Nos próximos anos, veremos um grande avanço nesse tipo de parceria’, diz a diretora da IBM Venture Capital Group, Claudia Fan Munce, que esteve no Brasil nesta semana. ‘O ambiente empreendedor desenvolveu-se muito por aqui nos últimos anos’, diz Claudia. Ela acredita que o crescimento da indústria de capital de risco e a abertura da universidade à essa expansão favoreceu o cenário.
A executiva sabe do que está falando. Nascida na China, ela veio com a família para o Brasil com 11 anos. Estudou em colégios tradicionais paulistanos e fez Matemática na USP. Com 22 anos, resolveu se graduar também nos Estados Unidos, em Ciências da Computação. ‘Meu conhecimento como brasileira vai ajudar muito no trabalho da executiva’, afirma Claudia, há 25 anos na IBM.
A companhia deve montar em breve uma equipe no Brasil para trabalhar apenas na identificação dos novos negócios, o que até agora não ocorria. O grupo vai aproximar universidades, incubadoras e jovens empresas de grupos de capital de risco locais e estrangeiros. É um casamento, que, quando concretizado, traz lucro para a IBM. No ano passado, dos US$ 98,8 bilhões que a empresa faturou no mundo, um terço foi gerado por parcerias de negócios.
‘Os dois lados saem ganhando’, diz Teles, da Hoplon. O avanço das negociações para receber capital, segundo ele, não teria acontecido sem as portas abertas pela IBM junto a investidores americanos. Os executivos da multinacional também ajudaram os empreendedores a fazerem o plano de negócios. ‘Sem isso, seríamos só mais uma ‘startup’ de tecnologia.’
OPORTUNIDADE
‘Muitos investidores de fora querem entrar no Brasil, de olho no avanço em áreas como energia e agricultura’, diz Claudia. Um desses interessados é o fundo de venture capital Draper Fisher Jurvetson, da região do Vale do Silício. Parceiro da IBM nos EUA, a companhia criou um fundo junto com a brasileira FIR Capital para investir US$ 100 milhões no Brasil em empresas em fase inicial ou em desenvolvimento.
‘Os EUA já estão começando a ficar saturados para as empresas de venture capital’, diz Evangelos Simoudis, diretor da Trident Capital, outro fundo norte-americano que esteve no Brasil para sondar as oportunidades junto com a IBM.
NÚMEROS
US$ 98,8 bilhões foi o faturamento da IBM em todo o mundo no ano passado
1/3 do faturamento da empresa em 2007 foi gerado por meio de parcerias de negócios
12 empresas de pequeno, médio e grande porte receberam aporte de capital de risco no País por sugestão da IBM
US$ 100 milhões serão investidos pelos grupos de investidores Draper Fisher Jurvetson e FIR Capital no Brasil em empresas em fase inicial ou em desenvolvimento’
CINEMA
O humor como prática de liberdade
‘Quando os políticos começam a fazer piada, é hora de os comediantes começarem a fazer política. Bem profere esse ditado um dos entrevistados de Viva Zapatero!, ‘documentário satírico’ da italiana Sabina Guzzanti que não poderia ter melhor hora para chegar ao cinema brasileiro. Viva Zapatero! foi exibido no Festival de Veneza 2005, quando Silvio Berlusconi cumpria o que seria seu último mandato como primeiro-ministro italiano (o primeiro foi de 1994 e 1995 e, depois, de 2001 a 2006). À época, o filme de Sabina (que voltou a Veneza no ano passado com o Le Ragioni dell’Aragosta) jogava poeira do ventilador do sistema silencioso de censura que Berlusconi e seus aliados têm imposto sobre a imprensa e os humoristas italianos.
A história de Viva Zapatero! começa em 2003. Comediante de prestígio, Sabina foi convidada a criar um programa de humor para a RAI (a TV pública italiana, vigiada de perto por Berlusconi, que já detinha o império televisivo da Mediaset). Em sua primeira exibição, RAIot foi sucesso absoluto. Mais de 2 milhões de pessoas assistiram (recorde da TV italiana) a Sabina não só satirizar e ‘encarnar a figura de Berlusconi’ como também a fazer afirmações seriíssimas usando como arma a cara limpa e o humor. Conclusão: RAIot nunca teve uma segunda edição e Sabina foi processada pela Midiaset por ‘gravíssimas mentiras e insinuações’. Foi, entre outras coisas, acusada de não fazer humor, mas jornalismo. E isso dá cadeia? Em um país onde humoristas ‘têm só de fazer rir’, sim. Não obstante, a Justiça considerou o caso infundado. Então você estava falando a verdade? , brinca o Estado. ‘Claro. Mas fazê-lo com humor não pode. Ao mesmo tempo, os jornalistas italianos estão com medo de informar. Há autocensura e vai piorar’, respondeu ao ser questionada sobre o que espera do futuro da liberdade de expressão na Itália com a vinda do terceiro mandato de ‘il Cavaliere’.
Com RAIot cancelado, em vez de se calar, Sabina levou seu humor ao teatro, para onde arrastava multidões. Na turnê que fez pela Europa, decidiu girar o documentário. ‘Não sobre humor, mas sobre liberdade.’ Viva Zapatero! faz alusão a José Luis Zapatero, premier espanhol que sancionou a lei que proíbe líderes de Estado de escolher quem manda na TV pública. Desde a estréia do documentário, Berlusconi saiu do poder e dois anos de governo de centro-esquerda se passaram. Seu sucessor, Romano Prodi, não conseguiu arrumar a casa. Prodi renunciou no começo do ano, o Parlamento foi dissolvido e as eleições, previstas para 2010 foram antecipadas para os últimos dias 13 e 14. E Berlusconi foi reeleito. ‘Marx tinha razão, não? A história se repete, diz o Estado. ‘Sim. Mas, não esqueça que a segunda é como farsa. Esta terceira é algo terrível.’
Ironicamente, Sabina é filha de Paolo Guzzanti (senador de direita ligado à Forza Italia, a coligação fundada por Berlusconi) e que hoje é vice-diretor do Il Giornale, o periódico da família Berlusconi. Sabina insere a cena em que é questionada sobre isso: ‘A uma certa idade não preciso mais pedir a meu pai permissão para o que posso ou não fazer.’ A seu pai, não. Mas à força da Forza Italia (na época) e hoje ao Povo da Liberdade, Sabina seria conveniente pedir permissão para fazer rir. E pensar. Mas quem disse que Sabina está preocupada com a conveniência? ‘Vai piorar. Berlusconi agora tem poder absoluto. Vai controlar o Judiciário. A difamação vai tornar-se crime penal. Isso faz com que tenhamos mais medo do que falamos. Mas não nos calamos’, brada ela, que prepara novo documentário sobre o humor no mundo. ‘Você não tem alguma dica para me dar sobre o humor no Brasil?’ É rir para não chorar.
Serviço
Viva Zapatero! (Itália/ 2005, 80 min.) -Documentário. Dir. SabinaGuzzanti. Cotação: Bom’
TELEVISÃO
Briga por imagens
‘Apesar de a TV digital ainda estar longe de ser popular no País, as operadoras de TV paga já iniciaram uma batalha para ver quem oferece a melhor tecnologia para o assinante. TVA e Net já são digitais há tempos, então a novidade passa a ser a tal da alta definição. E as duas operadoras correm atrás do conversor perfeito – e tudo antes das Olimpíadas, evento que deve impulsionar a venda de equipamentos de alta definição.
A Net saiu na frente e lançou seu decodificador com captação de alta definição dos canais abertos e do Globosat HD, canal que hospeda em seu line-up, com amostras de programas do Multishow, GNT e SporTV feitos em alta definição. O aparelho é também um DVR, gravador de programação, em HD.
Já a TVA promete seu decoder HD para junho, antes das Olimpíadas, claro. O equipamento da TVA também terá DVR para gravação em alta definição.
Nessa guerra, o público que pode pagar pelos produtos sai ganhando. No dia 26, o canal Globosat HD, da Net, terá dois filmes do Telecine exibidos em alta definição. E a TVA promete para junho o lançamento do canal HBO HD, com 24 horas de filmes.’
BRUXINHO
Processos em torno da saga de Harry Potter
‘A escritora britânica J. K. Rowling selou a paz com Steven Jan Vander Ark, que queria publicar um guia dos livros da autora e cuja editora Rowling está processando por violação de direitos autorais. ‘Eu nunca quis interromper o trabalho dele de fazer seu próprio guia, só pedi que ele fizesse alterações porque poderia abrir antecedentes’, afirmou Rowling anteontem. A escritora e a Warner Bros. estão processando a editora independente americana RDR Books, que tinha planos de publicar o guia The Harry Potter Lexicon (O Vocabulário de Harry Potter), que Vander Ark estava fazendo baseado em seu site de fã.’
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