‘O Google lançou na última semana uma ferramenta que permite a busca no conteúdo dos diários pessoais na internet, e que poderia estender ainda mais o alcance e a popularidade dos milhões de blogs que já existem na rede. A nova aplicação serve para mergulhar entre as toneladas de blogs que permitem que os internautas falem à vontade sobre o que vem à mente, de política a informática, passando por dificuldades para emagrecer.
A ferramenta (no endereço google.com/blogsearch), que o Google lançou em testes no final da quarta-feira, previsivelmente dará à ‘blogosfera’ ainda mais visibilidade, já que a potente tecnologia do líder da internet se prestará agora a sortear o mundo de informação.
A Google não é, certamente, a primeira companhia a ter esta ocorrência. O próprio site de buscas geral também inclui blogs entre os resultados, mas os links para os diários pessoais freqüentemente ficam enterrados entre o resto das páginas encontradas. Entre as companhias pioneiras estão a Feedster.com, Technorati.com e Blogdigger.com, entre outros, mas estas pequenas empresas poderiam ficar relegadas frente ao gigante da internet, que afirma ter indexado milhões de blogs.
O novo site de buscas funciona como o geral, ou seja, um termo é colocado para obter resultados, e em modo avançado é possível buscar por autor, data e linguagem – chinês, francês, alemão, italiano, japonês, espanhol e português, entre outras. O serviço está incorporado em Blooger, o software para construir diários pessoais que o Google adquiriu há dois anos.
Com este site, o Google se adianta mais uma vez a seus rivais Yahoo e Microsoft, que, segundo os analistas, estão preparando seus próprios serviços que poderiam lançar em qualquer momento. ‘Como as buscas gerais na internet cresceram em importância à medida que aumentou o tamanho da web, as buscas de blogs aumentarão segundo cresce o número de páginas pessoais’, disse Jeff Reynar, diretor de produto do Google.
O interesse do Google confirma até que ponto os blogs ganharam relevância na rede, em muitos casos tirando o protagonismo dos meios tradicionais. Em março passado, a ‘blogosfera’ chegou à Casa Branca, sede do governo americano, pela primeira vez, quando um jovem ‘blogger’ obteve seu credenciamento como correspondente.
Enquanto isso, as companhias começaram a lidar com o problema dos funcionários que publicam fofocas sobre o local de trabalho, e o próprio Google despediu um empregado no ano passado que falou sobre a empresa em seu blog. Mas, na maioria dos casos, os blogs não vão além de um reflexo muito pessoal da vida cotidiana.’
A LUA ME DISSE
Daniel Castro
‘Novela das sete da Globo terá final feliz gay’, copyright Folha de S. Paulo, 19/09/05
‘‘A Lua me Disse’ terá um final pouco comum em novelas, principalmente das 19h: dois homens terminarão juntos e felizes.
Samovar (Cássio Scapin), que é explicitamente gay, passou a novela toda tentando conquistar Valdo (Hugo Gross). Colocou outdoors com declarações de amor, mandou flores e presentes, mas nunca foi correspondido. Chegou até a ser rechaçado.
Mas, nos últimos capítulos da novela da Globo, que termina dia 30, justamente quando Samovar desiste de Valdo, o jogo vira. Valdo descobre que está apaixonado e se rende. Em suas últimas imagens, eles aparecerão rumo a Paris, numa viagem romântica.
Segundo Maria Carmem Barbosa, que divide a autoria de ‘A Lua me Disse’ com Miguel Falabella, não haverá nada que possa agredir o telespectador do horário, como beijos.
Não é a primeira vez que uma novela das sete da Globo tem final feliz gay. Segundo Mauro Alencar, doutor em telenovelas pela USP, isso ocorreu em ‘Mico Preto’ (Globo, 1990). Um dos personagens, Zé Luís, era interpretado por Miguel Falabella.
Falabella e Maria Carmem também decidiram que Latoya (Zezé Barbosa), negra que discrimina negros, será punida pela humilhação (havia a possibilidade de ela se redimir). Para ganhar a vida, Latoya usará uma roupa de macaca e fará apresentações em um trailer pelo Nordeste.
OUTRO CANAL
Novo dia 1 Diretores do SBT defendem que o programa de Hebe Camargo deixe de ser exibido às segundas e passe para as terças-feiras. Neste ano, o ‘Hebe’ não conseguiu ultrapassar os oito pontos de média mensal. Perdeu, para a Record, a vice-liderança no Ibope.
Novo dia 2 Até agora, no entanto, nenhum executivo da emissora falou com Hebe sobre o assunto. Avalia-se que às terças Hebe pode se dar melhor do que às segundas, quando concorre com a sessão de filmes ‘Tela Quente’, uma das maiores audiências da Globo.
Comportamento Estréia dia 5 de dezembro na MTV o ‘Programa de Solteiro’, o equivalente a uma segunda edição do ‘reality show’ ‘Vida de Solteiro’ (2004). A atração reunirá três homens e três mulheres, que eventualmente se encontrarão. O foco do ‘reality show’ é o comportamento de cada um deles.
Ampulheta 1 A Globo exibe nesta semana, por causa do Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1, uma vinheta que levou dois meses para ficar pronta. O clipe reúne dramaturgia (com atores), imagens de vários pontos de São Paulo e recursos de computação gráfica.
Ampulheta 2 O clipe mostra um carro de F-1 trafegando pelas ruas de São Paulo até chegar ao autódromo de Interlagos. Segundo a emissora, o telespectador terá a sensação de estar dentro de um carro a 300 km/h.’
TV PAGA
Daniel Castro
‘Novo seriado liga furacão nos EUA a ETs’, copyright Folha de S. Paulo, 18/09/05
‘O canal pago Warner Channel exibirá a partir de novembro a série de suspense ‘Invasion’, que estréia nos EUA (rede ABC) nesta quarta. O seriado liga um furacão que devasta parte do Estado da Flórida à ação de extraterrestres.
Temendo reações negativas, por causa da coincidência da estréia com o furacão Katrina, a ABC cogitou adiar ‘Invasion’. A rede chegou a suspender as chamadas da série, mas voltou atrás.
‘Invasion’ será uma das novidades da temporada de seriados que começa em novembro no Warner Channel. Além dela, o canal estreará ‘Supernatural’ (sobre dois jovens que perderam a mãe paranormal quando eram crianças) e ‘Close to Home’ (advogada criminalista, ameaçada de morte, vive o dilema de ter de escolher entre a carreira e a família). O canal ainda não confirma as estréias, que só deve anunciar oficialmente no final do mês.
‘Invasion’, segundo o site da ABC, traz uma família envolvida em misteriosos desdobramentos de um furacão. Na manhã seguinte a uma tempestade, uma mulher é encontrada nua na água, viva, mas sem memória.
O cético Russel Varon, ex-marido da mulher, investiga o caso e começa a mudar de idéia (sobre a descrença em extraterrestres) após a descoberta de bizarrices. Acaba se dando conta que está em uma luta não só pela sobrevivência de sua família e comunidade, mas de toda a raça humana.
OUTRO CANAL
Pressa 1 Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira se comprometeram com a Globo a terminar de escrever ‘JK’ até dezembro, antes da estréia da minissérie, em janeiro. É que a produção, que contará a história de Juscelino Kubitschek, é muito complexa. O texto será adiantado para que o diretor, Dennis Carvalho, possa programar as gravações, sem encarecê-las.
Pressa 2 Carvalho depende do texto para decidir se a encenação da construção de Brasília será nas redondezas do Rio, no Planalto Central ou no Projac (complexo de estúdios da Globo). Ainda não está definido se ‘JK’ terá cidade cenográfica.
Pressa 3 Para o elenco, os trabalhos de ‘JK’ começam amanhã, com uma série de palestras. Em outubro, começam as gravações, em Diamantina e Tiradentes, ambas em Minas Gerais.
Natal A Band grava hoje em São Paulo um DVD, musical, de ‘Floribella’. Os subprodutos da novela são um sucesso. ‘Floribella’ já vendeu 110 mil CDs e 320 mil ‘ringtones’ de celular.
Incoerência Telespectadores atentos apontam: o ator (Leonardo Thierry) que fez o juiz americano que atuou no pedido de exame de DNA feito por Ed (Caco Ciocler), segunda-feira em ‘América’, seria o mesmo que celebrou o casamento do personagem com Sol (Deborah Secco). A Globo não nega mas também não confirma.’
HEBE, 55 ANOS DE TV
Laura Mattos
‘A madrinha do Brasil’, copyright Folha de S. Paulo, 18/09/05
‘Hoje faz 55 anos que Assis Chateubriand quebrou uma garrafa de champanhe numa câmera para comemorar a estréia da televisão no Brasil. A primeira transmissão, em 18 de setembro de 1950, foi um caos batizado de ‘TV na Taba’. Hebe Camargo, convocada para o show, deu cano. Então com 26 aninhos, preferiu ir se encontrar com um namorado.
Mas entrou no ar no segundo dia e está lá até hoje, com as jóias e marcas dos 76 anos. Por que o sofá ainda permanece no ar? Por que dá sinais de perder a força?
Essa é a base de estudo do sociólogo Sérgio Miceli, da USP, que relança ‘A Noite da Madrinha’ (Companhia das Letras), ensaio de 1972 a respeito do sucesso de Hebe e do poder da TV. À Folha, fala de suas teses sobre a loira, Ratinho, monopólio da Globo, celebridades e outros rebentos televisivos.
Folha – Hebe entrou no ar na segunda transmissão de TV, em 50, foi objeto de seu livro, em 72, e tem programa até hoje. O que representa essa perenidade nos 55 anos da televisão brasileira?
Sergio Miceli – A Hebe é uma condensação de muitos atributos que o público valoriza. Tem um estilão interiorano urbanizado, coloquial e ‘intimista’. Usa jóias, mas sem posar de ricaça, sem fazer panca. Inteligente, percebe que tudo está estribado na simplicidade, na dona-de-casa realizada. Possui um conservadorismo moral, ético. Assisti ao programa de debates que ela faz atualmente [‘Fora do Ar’, com Jorge Kajuru, Adriane Galisteu e Cacá Rosset] e fiquei impressionado com seu conservadorismo. Mas é um conservadorismo interessante, um pouco plástico. Num dos programas, sobre eutanásia, ela foi a única que não acabou a discussão com a mesma opinião com que começara. Ao se ver exposta a casos, repensou e mudou de idéia. Era contrária à eutanásia, mas se tornou mais flexível. Isso é notável do ponto de vista comunicativo, dá verdade à figura.
Folha – O fato de ela ter perdido audiência recentemente significa que o telespectador mudou?
Miceli – Ela enfrenta uma situação de concorrência totalmente diferente e está mais velha. É claro que houve declínio, mas ela está no vídeo há 55 anos. É uma carreira notável para padrões internacionais. Na TV nacional não se conhece talento assim. É uma sobrevivência fenomenal, que corresponde a uma expectativa muito estabilizada. Mas está pegando um fim de festa. O público de classe média ainda existe, mas não com as mesmas características. E a mídia mudou radicalmente, caminhou para uma maior segmentação de público, com uma sociedade mais desenvolvida. A censura acabou, o analfabetismo caiu, os universitários aumentaram.
Folha – Luciana Gimenez e Adriane Galisteu são Hebes da nova era?
Miceli – Elas querem ser a Hebe, mas não sei quem sobreviverá. Todos esses programas atuais sofreram uma espécie de assepsia comunicativa, de limpeza visual, e estão impregnados com uma certa pretensão cultural. A Galisteu tem uma preocupação de correção na fala e expressão que a Hebe nunca teve. A Gimenez é mais próxima, do ponto de vista do desacerto. Produz no espectador a mesma coisa que a Hebe: a oportunidade de se sentir mais competente do que a apresentadora.
Folha – Em entrevista ao seu livro, em 70, um produtor disse que a fórmula de sucesso de programas de auditório era exibir ‘padre, bicha, desfile de moda e grande esportista’. Parece que nada mudou.
Miceli – Você vê que ele sabia das coisas [risos]. Essa seleção mostra que a televisão sempre trabalhou e sempre vai trabalhar com estereotipias. Impõe que só é possível ter um rendimento comunicativo se as estereotipias forem nítidas. Do contrário, dá um ‘tilt’.
Folha – O sr. avalia que a TV sempre mostrava a reconciliação das celebridades com a faceta familiar, o lado ‘família’ do artista. Apesar de o ‘Faustão’ ter um quadro assim, hoje os programas parecem preferir os deslizes, o pagodeiro que bate na mulher, a modelo que trai o namorado. O que mudou?
Miceli – Acredito que não tenha havido mudança. Aparentemente, poderíamos ler assim, que o público está atrás do desvio, da Vera Fischer, de figuras com comportamentos desviantes, drogas, adultério. Mas, por trás disso, há grandes operações de normalização ética. O casamento de Ronaldo e Cicarelli é uma legalização de união. No dia seguinte, ela pode destruir a casa, isso não tem a menor importância. Mas há sempre um resgate, uma tentativa de enquadrar, de disciplinar, de mostrar que a Vera Fischer esteve numa clínica de recuperação, está mais controlada, pode ver o filho. É uma anomia sempre processável, suportável, ou fica complicado, foge à demanda do público.
Folha – Há dez anos, o sr. definiu a Globo como ‘formuladora-mor da única política cultural de impacto em escala nacional’. Isso mudou?
Miceli – Houve uma modernização de cenário do ‘Jornal Nacional’, todo um ‘glitter’, ternos prateados. Mas, do ponto de vista da construção do roteiro de cobertura e opinião, é escandaloso. Existe uma roupagem de franqueza, aqueles jornalistas lá atrás trabalhando, mas o ‘JN’ é quase um órgão oficial do governo. Às vezes eles não conseguem implementar isso até o limite porque querem segurar a peteca de um tal jeito que ela começa a ser jogada por outros de outro jeito. Visto por milhões de pessoas, é uma domesticação ideológica notável.
Folha – É possível falar em evolução se compararmos a TV que editou o debate entre Lula e Collor, episódio que o sr. aborda no livro, e a que cobre a crise política atual?
Miceli – Sim. A Globo continua a ter audiência enorme, mas acabou o monopólio arrasador. O fato de Ana Paula Padrão ter ido para o SBT, de Boris Casoy estar na Record, entre outros exemplos, mostra uma competição impensável anteriormente. E não é uma concorrência momentânea, veio para ficar. A Globo tentará segurar a onda, mas o monopólio está estilhaçado em todos os sentidos, inclusive nas novelas. Isso tem muita importância no Brasil porque a TV alavanca tudo, negócios, política, formação de opinião.
Folha – O sr. descreve o episódio da ‘macumbeira’ que bebeu pinga e fez o auditório entrar ‘em transe’ no Chacrinha e Flávio Cavalcanti, em 1971. Analisou também o sucesso do Ratinho nos anos 90. Como o sensacionalismo persiste, pode-se dizer que é intrínseco à TV?
Miceli – Acho que sim. É um veículo para muita gente, permeável a esse tipo de situação e personagem. Esses programas, como o do Ratinho, dão uma reverberação completamente diferente ao mesmo material de base de todas as mídias. São os mesmos assuntos mostrados de outra forma.
Folha – O sr., então, considera positivo esse tipo de atração na TV?
Miceli – Não sei se a questão é ser positivo. Devemos ser mais atentos à variedade do mundo. A função da mídia é veicular as experiências. Seria outra? Organizar a opinião? Deus me livre. Já tenho isso toda noite às oito horas [no ‘Jornal Nacional’]. Tem de desorganizar um pouco [risos].
Folha – A atual baixa audiência do Ratinho pode ser só uma fase?
Miceli – Não sei se é só fase. O Ratinho parece não ser tanta novidade, está numa tradição da grosseria na televisão. Mas, com a tendência de segmentação, o veículo tende a ficar mais disciplinado.
Folha – Há 20 anos, o sr. parecia otimista com o fato de a televisão exibir conteúdo nacional em 75% da programação e exportar programas. Mantém esse otimismo?
Miceli – Falei sobre isso num congresso no exterior, para dizer a estrangeiros que a TV brasileira não estaria a reboque só da veiculação de conteúdo importado, que não era um país totalmente dependente culturalmente. Hoje sou otimista com o fato de estarmos rumando para a segmentação, que reflete em maior instrução. Meu otimismo é que a difusão da escolaridade, com mais gente lendo, acessando a net, reduzirá a força e o impacto da TV.
Folha – O sr. diz que o analfabetismo é o alicerce da TV no Brasil. Segundo o governo, o número de analfabetos diminuiu. Apesar disso, a audiência da TV cresceu. Sua avaliação está equivocada ou não devemos confiar no dado oficial?
Miceli – Vamos matizar um pouco. Eu disse que a televisão brasileira é integrada a uma função paraescolar, o que não se daria se houvesse um sistema de ensino mais desenvolvido. O analfabetismo é o alicerce nesse sentido, de uma audiência com essa qualificação. A TV não teria se montado no país da maneira que se montou, com tanto impacto, não fora essa situação. Mas, ainda que não tenhamos mais analfabetismo, vai se ver muita TV. Há uma variável independente do sistema de ensino, a TV tem essa empatia.
Folha – A televisão melhorou ou piorou ao longo desses 55 anos?
Miceli – Melhorou, mas no sentido de que está em uma trajetória que irá colocá-la num lugar mais contido, menos centrado.
Folha – Se estivéssemos aqui em 2060, de que TV falaríamos?
Miceli – Com o avanço da tecnologia, vai ser uma TV programada pelo telespectador. Mas com menor impacto. Nunca mais a televisão vai conseguir modelar o padrão de consumo cultural como o fez ao longo desses 55 anos.’