Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Nelson de Sá


‘PSDB e PFL de um lado, PT de outro. Ontem foi dia de empurra-empurra nos saques das contas sem fim de Marcos Valério.


Numa das frentes, o enunciado da Globo no final da tarde, semelhante ao da cobertura toda, àquela altura:


– PFL e PSDB entram na Justiça pedindo a suspensão do repasse ao PT.


Por azar, o pedido coincidiu com a notícia de que um pefelista sacou das mesmas contas de Valério. Na manchete do ‘Jornal Nacional’:


– Deputado do PFL confessa que também usou dinheiro do empresário mineiro em campanha eleitoral.


Jovem Pan e Globo Online, esta na submanchete, descreveram o pefelista como ‘ex-ministro de FHC’. Ele foi ministro da Previdência.


Em destaque no site, o mais chocante era uma declaração de Roberto Brant aos próprios colegas do PFL:


– Quem não tiver recebido dinheiro não-contabilizado que atire a primeira pedra.


Ato contínuo, segundo a Folha Online, o presidente da legenda, Jorge Bornhausen, disse que o deputado ‘continua a merecer a confiança integral’:


– Ele não será punido.


O mesmo disse o líder Rodrigo Maia, da CPI.


Sobrou também para o PSDB, com saque para o pagamento de gastos eleitorais. No ‘Jornal da Band’, a manchete juntou os dois de uma vez:


– Deputados mineiros admitem que receberam dinheiro de caixa 2 para campanhas do PFL e do PSDB.


E havia mais, ontem, para os lados tucanos. Na escalada do ‘Jornal da Record’:


– O ex-ministro tucano Cícero Lucena é preso por suspeita de fraude em licitações de obras públicas.


Em outras partes, como na Globo e na Band, ele era apresentado de ‘presidente do PSDB da Paraíba’.


Ato contínuo, o presidente da legenda, o mineiro Eduardo Azeredo, surgiu no ‘JN’ para dizer que o ‘excesso [da prisão] não contribui’. Mas chocante mesmo foi o próprio Cícero Lucena se proclamar, em nota, ‘preso político’.


Por fim, de volta às contas, Paulo Menecucci, que ‘foi assessor do ex-ministro Pimenta da Veiga e coordenou várias campanhas do PSDB’, também deu entrevista ao ‘JN’ e declarou que não fez saques, apesar dos registros.


Mas a Globo Online noticiou que ‘Menecucci, que não tinha explicado por que fez saques na conta da SMP&B, informou a políticos mineiros que o dinheiro foi usado para gastos da campanha de João Leite’. Que é ‘sem partido’.


Para não dizer que o PT saiu ileso ontem, foi também um dia de ‘zunzuzum’, segundo um blog, por conta das caixas que o Banco do Brasil enviou à CPI, com documentos de outras contas de Valério.


Especulação não faltou, por todo lado, até chegar o ‘JN’ com a notícia:


– Escritório de advocacia de um deputado do PT surge entre os beneficiados com o dinheiro da agência DNA.


Não é só mais ‘um deputado’. É José Mentor.


APARENTEMENTE


A frase do dia surgiu logo cedo, no ‘Bom Dia Brasil’, pela voz cansada do presidente da CPI e líder do PT no Senado, Delcídio Amaral:


– Aparentemente, pela distribuição dos valores ao longo do tempo, a impressão que se passa é que se tem um ‘mensalão’.


Foi pouco depois do depoimento de Delúbio Soares, que tomou 14 horas, madrugada adentro, para angústia da direção da CPI. E tudo para o ex-tesoureiro reafirmar que não há ‘mensalão’, só ‘recurso não-contabilizado para quitar dívidas de campanha’.


Desastre


Em meio a novo atentado em Londres, o britânico ‘Financial Times’ achou por bem dar em destaque, ontem na sua home page, uma interminável reportagem de avaliação sobre a situação do Brasil, intitulada ‘Escândalo de corrupção sitia Lula’. Uma amostra:


– Que a sorte de Mr. Lula da Silva possa ser comparada àquela de Mr. Fernando Collor é um desastre para um homem que reivindicou simbolizar um estilo mais limpo e representativo de governar.


Grande risco


Entre outros, o ‘FT’ ouviu petistas, tucanos e diversos cientistas políticos.


Mas o foco maior foi mesmo na economia, com a opinião de Francisco Gros, Gustavo Loyola etc. O ‘grande risco’, para os entrevistados, é emergir um populista do gênero Garotinho, agora que ‘os políticos estão desacreditados’.


Outro risco é as ‘condições da economia mundial’ mudarem, contra o Brasil.’


 


TRÁFICO NO ORKUT


Elenilce Bottari e Ronaldo Braga


‘Um golpe no tráfico pelo Orkut’, copyright O Globo, 22/7/05


‘Para esses jovens, bala quer dizer ecstasy e fortalecer significa distribuir a droga sintética numa festa. Para a polícia, ecstasy quer dizer droga e distribui-la é tráfico previsto na lei como crime hediondo. Após três meses de investigações, com escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, o Serviço de Repressão a Entorpecentes (SRE) de Niterói, da Polícia Civil, realizou anteontem e ontem uma operação para capturar 14 pessoas — universitários de classes média e média alta de Niterói e do Rio — acusadas de traficar drogas pelo site de relacionamentos Orkut. Dos 14 mandados de prisão, dez foram cumpridos. Os quatro acusados que conseguiram escapar são considerados foragidos.


O grupo — que vendia ecstasy, LSD, skank, maconha e crack — fazia a entrega em bares, restaurantes e festas raves em Niterói, no Rio e em municípios da Região dos Lagos, como Búzios, Cabo Frio e Arraial do Cabo. Os investigadores têm informações de que o ecstasy, o LSD e o skank vinham de Amsterdã e Berlim.


Além de gravar telefonemas, os investigadores filmaram o grupo vendendo drogas em bares de Niterói. Caso sejam condenados por tráfico e associação para o tráfico, os acusados podem ser punidos com até 15 anos de detenção.


Apontado pela polícia como um dos chefes da venda de drogas pela internet, Amon de Magalhães Lemos, de 19 anos, foi preso na noite de quarta-feira em Búzios. Na página dele no Orkut, há um link para uma comunidade chamada ‘Bin Laden cheira lança’, para quem gosta do terrorista e/ou de lança-perfume. Com Giovanni Arnoud Nicastro, de 24 anos, preso no bairro de São Domingos, em Niterói, foi apreendida uma pistola calibre 380. Durante a operação também foram encontradas drogas como maconha, cocaína e skank.


Não está descartada a possibilidade de o grupo ter ligações com dois universitários, presos no dia 18 passado em São Paulo, que também negociavam comprimidos de ecstasy. Os jovens, de classe média, eram ligados a uma quadrilha internacional. Eles foram presos quando negociavam a venda da droga. Segundo investigações, os dois compravam o ecstasy na Holanda e o revendiam em São Paulo. Numa das viagens, teriam trazido cerca de cinco mil comprimidos. Só este ano, policiais paulistas prenderam em média um jovem por dia acusado de envolvimento com a venda de ecstasy.


— Foi um trabalho minucioso — disse o delegado Luiz Marcelo, do SRE de Niterói. — Esses rapazes não acreditavam que a polícia estava preparada para prendê-los. Filmamos e gravamos conversas. Ele achavam que ficariam impunes.


Para ele, por causa do tamanho pequeno do ecstasy, seu tráfico é mais fácil que o de outras drogas.


— O perfil do consumidor é o mesmo de quem vende — disse o policial.


Sites estrangeiros também são usados


Os investigadores do SRE explicaram que no Orkut existem até leilões virtuais de determinadas drogas, em que o preço é livremente discutido. Ainda segundo os policiais, links remetem os usuários para sites estrangeiros que enviam drogas para qualquer lugar do Brasil pelo correio.


Antes de chegarem aos estudantes, os investigadores vasculharam o Orkut:


— Essas páginas contam com cerca de 5.500 participantes. Alguns oferecem comprimidos do ecstasy por R$ 30 a R$ 40. Mas o preço pode chegar a R$ 60. Para a venda e a compra, os usuários fazem as negociações por e-mail — disse o delegado Luiz Marcelo.


Segundo ele, é difícil chegar aos traficantes por causa da velocidade com que comunidades surgem no Orkut. O anonimato dos internautas também dificulta as investigações.


— Uma das medidas que a delegacia vem tomando para combater o tráfico na internet é o envio de ofícios para que o Google retire do Orkut as comunidades ilegais — disse.


Uma das equipes do SRE seguiu ontem para um prédio na Rua Lopes Trovão, em Icaraí, onde foi preso Bruno Marini Mendes da Silva, de 25 anos. Seus pais estavam dormindo e foram surpreendidos com a operação. Outra equipe foi para a Rua Belisário Augusto, no mesmo bairro, mas o suspeito não estava em casa. Tiago de Vasconcelos Tauil, de 23 anos, só foi preso às 7h, quando chegou em casa de uma festa em Piratininga. Ele é apontado pela polícia como um dos principais distribuidores de ecstasy em Niterói, na Zona Sul do Rio e na Região dos Lagos, juntamente com Amon Lemos.


Na casa de Giovanni, além da pistola, os investigadores encontraram uma pequena quantidade de skank.


— Giovanni estava em Piratininga, numa festa de hip hop. Ele é um grande traficante de Niterói — disse o inspetor Fábio Silva.


Na casa de Gerson da Silveira Castanheira Júnior, de 26 anos, em Icaraí, os policiais encontraram três quilos de maconha. Também foram presos Rodrigo Alvarenga dos Santos, de 25 anos; Enrique Dario Shiff, de 27; Guilherme Caldeira Dal Bello, de 25; Anielo Caputo Filho, de 29; e André Koeller Archiles, de 26. Todos os acusados tiveram prisão temporária (por 30 dias) decretada pela Justiça.


No início deste mês, depois de receberem uma denúncia anônima e investigarem o Orkut, agentes da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática prenderam o estudante Felipe Viana do Carmo, de 20 anos, que também fazia parte do grupo preso ontem. Segundo a polícia, o jovem também usava a internet para divulgar o uso de ecstasy.’


 


CUBA


Marcos Strecker


‘Raúl Rivero narra o lado obscuro de Cuba’, copyright Folha de S. Paulo, 22/7/05


‘Antes de ser preso pela polícia cubana, em 2003, o poeta e jornalista Raúl Rivero escreveu crônicas que relatam histórias de personagens comoventes. São dissidentes perseguidos, prostitutas, migrantes da própria ilha, médicos que viraram taxistas e pessoas simples que tentam sobreviver à falta de futuro.


‘Provas de Contato’ (ed. Barcarolla, 256 págs., R$ 36, tradução de José Rubens Siqueira) expõe os intestinos da ditadura de Fidel Castro, em artigos escritos por um de seus mais célebres críticos. Os textos nunca puderam ser publicados em Cuba. Enviados clandestinamente para Miami, foram inicialmente lançados em uma edição improvisada pela Nueva Prensa Cubana, uma ONG dedicada ao apoio e à proteção de jornalistas e escritores independentes de Cuba. Depois, ganharam nova edição nos EUA.


Os artigos estão no limite entre a crônica e a reportagem. Um ‘jornalismo de ficção’, na definição de Rivera. Além da crítica irônica e cortante ao regime, faz relatos verídicos que beiram o absurdo.


Com a queda do socialismo soviético, Rivero conta como o país precisou se adaptar à penúria. Falta de energia, de comida e de trabalho, sistema de saúde precário (apesar dos bons profissionais) e criminalidade (que só não aparece por ‘falta de estatísticas’) oferecem um cenário desolador.


O relato pessimista é compensado pelos personagens criativos que se adaptam à falta de liberdade e ao capitalismo enviesado representado pelos grandes hotéis estrangeiros e pelos poucos estabelecimentos privados tolerados -como restaurantes.


É assim que uma mulher consegue descobrir o amor na prisão, um menino ganha a vida com um gavião e a cozinha local cria pratos grotescos para driblar a falta de alimentos.


Mas Rivero também dá relatos escabrosos, como o do preso Rolando Martínez Valdés: ‘Me ensinaram um meio quase eficaz de mitigar a fome sem comer: joga-se água no chão e deita-se de bruços para cima, para que o frio anestesie o estômago. O sono vem em seguida’.


O pensamento de Rivero pode ser resumido nas suas próprias palavras: ‘A maior das Antilhas chega ao fim do milênio sem sapatos, sem teto, em farrapos e com um grande vazio de fome entre o peito e as costas’.


Rivero foi um dos intelectuais que enviaram em 1991 uma carta ao governo cubano solicitando reformas democráticas. Desde então é perseguido. As crônicas agora publicadas foram escritas a partir desse momento. Em 1995, fundou a agência de notícias independente Cuba Press. Em 2003, foi uma das vítimas de uma onda de prisões políticas que condenaram um total de 75 pessoas. Recebeu sentença de 20 anos de prisão, acusado de colaborar com o governo dos EUA. Depois das prisões, a Espanha e a União Européia impuseram sanções à ilha.


No final do ano passado, em 30 de novembro, ele e mais 14 prisioneiros foram libertados, alguns dias depois da retomada das relações formais entre Cuba e o governo do premiê espanhol José Luis Rodríguez Zapatero. O pretexto para a soltura foi sua debilitada condição de saúde.


No último dia 1º de abril, depois de negociações feitas com a ‘máxima discrição’ (uma exigência do governo cubano), conseguiu o exílio na Espanha. Mudou-se para Madri com sua mulher, sua filha de 11 anos e sua mãe.


Atualmente prepara um livro que conta sua experiência na prisão. Em entrevista à agência Associated Press, no dia 17 de junho, declarou que ‘gostaria de voltar para casa e contar a história da queda do regime cubano, assim que o presidente Fidel Castro deixar o poder’.’


 


POTTER PIRATA


O Globo


‘Harry Potter enfrenta a pirataria na China em sua nova aventura’, copyright O Globo, 22/7/05


‘Nem dragões, nem feiticeiros. Os novos inimigos de Harry Potter são piratas virtuais do outro lado do mundo. Menos de 24 horas após o lançamento na capital chinesa, nesse fim de semana, da edição inglesa da nova aventura do personagem criado por J.K. Rowling, intitulada ‘Harry Potter e o príncipe mestiço’, as 672 páginas do livro já podiam ser lidas gratuitamente na internet, em formato e-book. O fato foi noticiado nessa quarta-feira por um jornal de Pequim.


O texto integral de J.K. Rowling foi levado à rede pelo fórum virtual Shui Mu Tsing Hua, no domingo. A autora já tinha tido problemas na China em 2002, quando um escritor anônimo daquele país publicou um livro apócrifo de Harry Potter e atribuiu sua autoria à inglesa.


O fórum virtual já não hospeda mais a versão ilegal do livro, segundo relatos de internautas. De acordo com especialistas, a pirataria foi feita com tamanha velocidade graças ao uso de uma câmera digital.


Durante o fim de semana, livrarias de Pequim venderam cinco mil cópias autorizadas da nova aventura de Harry Potter, por 178 yuan (US$ 21,51).’