‘ CPI vai pedir a prisão de Marcos Valério.
Foi a manchete na Folha Online e por todo lado, para o pedido aprovado quase por unanimidade, de manhã. E foi assim até os telejornais. Abrindo a escalada na Record:
– CPI pede prisão…
Ao fundo, no dia sem depoimentos e novos saques, o cabo-de-guerra de petistas e tucanos em torno de José Dirceu e Eduardo Azeredo.
Na Folha Online, ‘CPI adiou a votação do requerimento de convocação de Dirceu’ e ‘também foi adiada a possível convocação de Azeredo’.
Mais à noite, a manchete da Globo Online desistiu do pedido de prisão e destacou o que estava ao fundo:
– Dirceu, Azeredo e Dantas na mira da CPI
Além do petista e do tucano, é do ‘banqueiro do Opportunity’ que se trata.
Quanto ao petista, que fez manchetes na imprensa após o depoimento da mulher de Valério, foi alvo de inusitada defesa da parte de Tarso Genro, antes seu desafeto:
– Quanto às insinuações que ela fez a respeito do ministro José Dirceu, por enquanto é o depoimento de uma pessoa que não está comprometida em dizer a verdade.
Às rádios, o presidente da comissão de ética do PT adotou tom até pessoal:
– A nota do Zé esclarece.
Por fim, Lula, em destaque no ‘Jornal Nacional’:
– Vamos investigar, apurar e os culpados terão de pagar. E os nomes de inocentes, que foram manchados pela imprensa do Brasil inteiro, alguém vai ter de pedir desculpas.
Quanto ao tucano, também foi dia de defesa inusitada, da parte de Geraldo Alckmin, dizendo que a manutenção de Azeredo como presidente ‘não mancha’ o PSDB.
Por outro lado, nos telejornais da Globo e da Band, as luzes se voltaram para o governador. Segundo ‘O Globo’, em 98 ‘pelo menos quatro políticos que hoje ocupam cargos no governo Aécio Neves’ receberam repasses da SMP&B.
Em destaque no ‘JN’:
– Aécio cobrou explicações de assessores dele que teriam recebido dinheiro das empresas de Valério.
Os quatro tucanos disseram, unânimes, que era dinheiro para campanha.
ANSIEDADE
‘Após oito dias de ansiedade’, baixou na CPI a ‘lista dos sacadores’ -que o relator Osmar Serraglio prometeu como ‘pólvora pura’ e que, para o ‘JN’, ‘frustrou’. O próprio relator saiu falando em ‘traque’. Para o tucano Álvaro Dias, na Band, ‘a expectativa criada extrapolou’. Para o pedetista Pompeu de Mattos, na Globo, ‘a montanha pariu um rato’.
No vácuo, na ‘frustração’, surgiram listas informais em blogs e até no JN’, com base no noticiário.
Contra-ataca 1
O brasileiro João Sayad perdeu, afinal, para o colombiano Luis Alberto Moreno, no Banco Interamericano de Desenvolvimento. E ao contrário do que anunciou Larry Rohter, no ‘New York Times’, desta vez não houve ‘resistência’ ao candidato apoiado pelos EUA. Até o Paraguai, segundo a Folha Online, votou com o colombiano, não o brasileiro.
Contra-ataca 2
Em outra frente, precedida por editoriais no ‘NYT’, ‘Wall Street Journal’ e ‘Washington Post’, George W. Bush pressionava ontem o Congresso doa EUA a aprovar o acordo de comércio com a América Central. O colunista Andres Oppenheimer, do ‘Miami Herald’, avisava que, se não aprovasse, o país poderia adeus à influência na América Latina.
GLOBO E A TELESUR
France Presse
O estúdio da Telesur, no dia da estréia
De um lado, um despacho da Associated Press destacava um funcionário do Departamento de Estado dos EUA, para quem ‘Cuba e Venezuela estão tentando instalar governos esquerdistas por toda a América Latina’. Do outro, Fidel Castro dizia, em despacho da France Presse, que ‘os EUA estão criando um dispositivo militar para deter’ o avanço esquerdista, estudando invadir até, quem sabe, o Brasil.
Castro, em meio ao desvario, rasgou elogios à Telesur, o canal de notícias do venezuelano Hugo Chávez, tema de reportagens simpáticas do ‘Guardian’ ao ‘El País’ -e de uma longa reportagem nada simpática na Globo, ontem, descrevendo a Telesur como ‘um passo no projeto de poder regional de Chávez’.’
80 ANOS D’O GLOBO
Paulo Marqueiro
‘As páginas que formam o diário de uma vida’, copyright O Globo, 28/07/05
‘O médico e professor Daibes Rachid não sai de casa sem passar os olhos na primeira página do GLOBO. A dona de casa Lea Caminha de Barros Ballian costuma ler o jornal de ponta a ponta antes de qualquer compromisso. O engenheiro aposentado Humberto Vieira Martins é fiel ao noticiário esportivo. Margarida Nunes Sendas, funcionária pública aposentada, é fã do Prosa & Verso e da revista O GLOBO. Daibes, Lea, Humberto e Margarida moram no Rio, não se conhecem, mas estão unidos por uma coincidência: eles nasceram em 29 de julho de 1925, no mesmo dia da fundação do GLOBO, que, ao longo dos últimos 80 anos, tornou-se o diário de suas vidas.
O jornal fundado por Irineu Marinho nasceu sob o signo de leão, numa época em que o país era governado por Artur Bernardes e as chaves da cidade estavam nas mãos do prefeito Alaor Prata, que hoje dá nome ao Túnel Velho. Vicente Celestino cantava e encantava. O cinema Iris, na Rua da Carioca, atualmente um reduto pornô, era anunciado como ‘a maior e mais confortável casa de diversões familiares’. Nos gramados da era pré-Maracanã reinava o centroavante Artur Friedenreich, um dos maiores goleadores de todos os tempos. A primeira manchete (‘Voltam-se as vistas para a nossa borracha’) era uma alusão à visita que o magnata americano Henry Ford faria ao país.
– Eu costumo dizer que sou irmã gêmea do GLOBO – brinca Lea, que guarda uma cópia da primeira página do primeiro número como se fosse uma segunda certidão de nascimento.
Portela, a grande fantasia da dona de casa Lea Ballian
Lea diz que chega aos 80 anos com cabeça de 30. Casada, com um filho e três netos, ela adora viajar para a Região dos Lagos e faz questão de ir dirigindo. Conta que até cinco anos atrás desfilava pela Portela, sua escola de coração. Até hoje guarda todas as fantasias, inclusive a do último campeonato, em 1984, quando o Sambódromo foi inaugurado. Naquele ano, a Portela, com ‘Contos de areia’, uma homenagem a Clara Nunes, e a Mangueira, que fez um desfile arrebatador sobre Braguinha, empataram em primeiro lugar, mas apenas a verde-e-rosa seria declarada supercampeã.
Os surdos e os tamborins da maior festa popular do Rio sempre encontraram eco nas páginas do GLOBO. O jornal patrocinou o desfile de 1933, na Praça Onze, um dos primeiros das escolas de samba. Em 1972, O GLOBO instituiu o Estandarte de Ouro, hoje um dos principais prêmios do carnaval carioca.
Notícias e histórias pessoais se entrelaçam na vida desses leitores. Para Humberto, o aniversário do GLOBO é motivo de dupla comemoração. É quando ele festeja 80 anos de idade e 50 de casamento. O pano de fundo de sua trajetória pode ser lido nas páginas do jornal. Momentos de alegria, como o futebol pentacampeão do mundo, ou de tristeza, como as lembranças da Segunda Guerra Mundial.
– De tudo o que li, os fatos da guerra foram os que mais me marcaram – conta ele.
Durante a guerra, foi lançado o jornal especial O GLOBO Expedicionário, que era lido pelos soldados no front, como lembra o major Ruy de Oliveira Fonseca, de 90 anos, atual vice-presidente da Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira.
– O jornal passava de mão em mão. Todo mundo queria ver as mensagens que as famílias mandavam para os soldados. Aquilo era uma injeção de ânimo na tropa – lembra.
São da guerra também as cenas que ficaram gravadas na retina do urologista Daibes Rachid. Imagens que ele gostaria de não ter visto, como a da bomba atômica lançada sobre Hiroshima, em 6 de agosto de 1945. Mas que inevitavelmente fazem parte de sua memória.
– Se pudesse, teria todos os exemplares do GLOBO numa biblioteca. Eu estaria guardando ali a minha vida – diz o médico.
Na véspera de completar 80 anos, Daibes, que tem quatro filhos – todos médicos – e sete netos, está cheio de planos:
– Meu pai trabalhou até os 94 anos e morreu lúcido aos 110. Gostaria de transmitir o meu conhecimento para os jovens. É minha obrigação.
O noticiário sobre a guerra que matou 40 milhões de pessoas pode ter deixado marcas indeléveis na memória dos leitores, mas num arquivo de oito décadas há espaço para lembranças menos dolorosas. Margarida, por exemplo, recorda a primeira visita do Papa João Paulo II ao Brasil, em 1980. Humberto cita as conquistas brasileiras no esporte, como os títulos recentes das seleções masculina e feminina de vôlei.
– De esporte, leio tudo, até a triste campanha do meu Botafogo – brinca Humberto.
Maria Lenk: foto histórica ao lado de Getúlio Vargas
A cobertura esportiva tem tido uma história de fôlego nas páginas do GLOBO. O jornal publicou a primeira radiofoto da imprensa brasileira: um flagrante da nadadora Piedade Coutinho disputando os jogos olímpicos de Berlim, em 1936.
A nadadora Maria Lenk, que conviveu com Piedade Coutinho, é ao mesmo tempo personagem e testemunha desta cobertura. Ela foi a primeira sul-americana a participar de uma olimpíada. O fato histórico aconteceu durante os jogos de 1932, em Los Angeles. O embarque no vapor Itaquicê foi documentado pelo GLOBO.
– Eram 80 atletas masculinos e eu – afirma Maria Lenk. – Na época, o presidente Getúlio Vargas foi até o navio para se despedir da delegação. Lembro-me de que saí numa foto do GLOBO ao lado dele.
Maria Lenk conta que na olimpíada seguinte, em Berlim, já eram seis nadadoras, entre elas a sua irmã, Sieglinda Lenk, e Piedade Coutinho, campeã sul-americana dos 400 metros nado livre. Recentemente, Maria Lenk doou à biblioteca de uma universidade uma série de recortes do GLOBO e de outros jornais sobre a sua carreira.
– O GLOBO marcou muitas passagens importantes da minha vida de atleta e de professora de educação física – diz Maria Lenk, que, aos 90 anos, nada diariamente e participa de campeonatos masters.’