‘Inusitadamente, foi da Globo a primeira crítica ao tom camarada das perguntas feitas na entrevista coletiva de Lula. Da Globo, logo depois:
– Foram duas horas com 13 emissoras de rádio, mas Lula não foi questionado quanto aos assuntos mais polêmicos.
Note-se que o próprio Lula saiu da entrevista declarando a sua surpresa com uma pressão tão baixa nas perguntas.
Note-se também que a própria Globo estava representada na coletiva pelo âncora Heródoto Barbeiro, da rádio CBN, que é parte das Organizações.
O site claudiohumberto. com.br observava antes mesmo da entrevista que não seriam ‘toleradas réplicas’ da parte dos entrevistadores, supostamente ‘em nome do tempo’. Avaliação do ex-assessor de Collor:
– O Palácio do Planalto não resiste à tentação de controlar.
Na rádio Bandeirantes, ‘Lula se desculpa’. Na Jovem Pan, ‘Lula se desculpa’. Também nas demais rádios que estiveram na entrevista coletiva, ontem, as desculpas foram manchete.
Assim como nos sites, caso da Globo On Line, e nos canais de notícias, caso da Globo News. Só ficou de fora o Jornal Nacional.
De sua parte, na Jovem Pan, CBN etc., o governador Geraldo Alckmin elogiou as desculpas como ‘um ato de sabedoria’.
E inesperadamente, já que foi ele quem apontou a ilegalidade, ainda no domingo, encerrou:
– O episódio está superado.
Para o governador, até pode ser. Já o presidente da OAB, nas mesmas rádios, criticou Lula e afirmou que o assunto está nas mãos do Ministério Público.
Não por coincidência, no final da tarde entrou no site eleitoral de Marta Suplicy, após cinco longos dias, uma notícia de 2000 -dando conta da declaração de voto de FHC em Alckmin, então candidato a prefeito, durante a visita a uma obra pública.
Mas o JN, que para muitos é o que importa, também inocentou Lula, via Franklin Martins:
– As desculpas vieram em boa hora. Ele explicou que errou porque improvisou no discurso e prometeu ser mais comedido. Afinal, tem que ser o primeiro a respeitar a lei. E assim do limão se fez uma limonada. Ficou mais claro para todo mundo o que as autoridades podem ou não fazer nas campanhas. Isso vale para Lula, governadores e prefeitos. Cabe ao eleitor marcar em cima.
E ainda tem que diz que a Rede Globo mudou, está diferente.
DESERTO DE EMPREGOS
‘O desemprego volta a subir depois de três meses’, ecoavam manchetes do Jornal da Record e dos demais, ontem. O ‘New York Times’, por coincidência, deu ontem reportagem de Todd Benson, com a história de Isabel e seu marido, que fugiram de São Paulo para achar emprego em Birigüi. ‘Um número crescente de brasileiros está vendo que é cada vez mais difícil conseguir um bom emprego em áreas como São Paulo’, daí o título da reportagem:
– Por emprego, brasileiros desertam suas cidades.
E foi antes das quedas no emprego e na renda.
Saída
Lula finalmente abriu o jogo e, segundo o Jornal da Record e outros, manifestou seu apoio à reeleição no Congresso.
Não se viu reação de Renan Calheiros, mas o ministro Aldo Rebelo correu à Jovem Pan para dizer que está em ‘conversas’ para uma saída ‘satisfatória’ para ele e seus adversários.
PT com PFL
A Globo On Line noticiou que o pefelista Cesar Maia gravou apoio ao petista Lindberg Farias, candidato em Nova Iguaçu. Vai para a propaganda do PT.
Não sem ironia, Maia disse que não usaria as imagens no Rio para não ‘constranger’ o petista local, Jorge Bittar.
‘Pesquisa’
O site eleitoral do PSDB vem destacando que José Serra tem ‘mais de 62% das intenções de voto’ no que agora chama de ‘pesquisa’ da Jovem Pan.
A rádio, que é mais cuidadosa, sublinha que se trata de ‘mero levantamento de opinião, sem controle de amostra’, ou seja, sem ‘método científico’.
Continuidade
O ministro Antônio Palocci já recebeu os apoios de sempre. O FMI, noticiou o Valor On Line no início da tarde, correu a dar o seu aos cortes anunciados:
– FMI elogia esforço fiscal do Brasil e ações contra a inflação.
Também o ex-ministro Pedro Malan, anteontem no meio de um jantar beneficente, ao lado de FHC, deu seu depoimento, segundo a rádio Bandeirantes:
– O governo Lula reforça [com os cortes] o compromisso com a responsabilidade fiscal.
Acordo, não
O ‘acordo’ para inspeção das instalações nucleares do Brasil foi manchete no JN, anteontem.
Mas ontem a BBC Brasil trazia o porta-voz da agência da ONU dizendo que que houve ‘alguns progressos’, mas acordo, não. ‘Continuamos as discussões.’
Escala industrial
Mas a mesma Globo saiu anunciando, após o ‘acordo’, notícia até mais inusitada:
– Em novembro, o país passa a produzir urânio enriquecido em escala industrial.’
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‘Com cortes’, copyright Folha de S. Paulo, 23/09/04
‘O pseudo-jornalismo do governo Lula fez de novo.
Ontem na Folha, Fernando Rodrigues revelou que o discurso de Lula, em favor de Marta, havia sumido do site www.info.planalto.gov.br, ‘sob comando de Ricardo Kotscho, secretário de Imprensa e Divulgação’.
Pois bem, ontem a home do UOL deu que o ‘discurso pró-Marta voltou editado ao site’.
‘Editado’, no caso, quer dizer sem os trechos em que Lula, na inauguração de obra pública, à qual foi com dinheiro público, pedia votos para a petista.
Rodrigues explicou, antes mesmo da volta ‘com cortes’:
– O Planalto concluiu que poderia ser usado como argumento pela oposição, se permanecesse exposto dentro do site da Presidência da República.
Um site, a exemplo da obra e do transporte usado, público.
José Serra foi questionado sobre o apoio de Lula a Marta, na rádio Band, e mandou ver:
– É questão de respeito à lei. As leis no Brasil têm que ser obedecidas. De repente, parece que há leis de que o PT gosta e leis de que o PT não gosta. Aquelas de que ele não gosta deixam de ser vigentes. Assim não pode ser.
Ainda assim, lá estava ontem o presidente, uma vez mais, no horário eleitoral de Marta.
Sintomaticamente, também na propaganda, como no site, não se viu mais o trecho em que Lula pedia o voto na petista.
Também ontem, Lula enviou ‘carta’ a Vicentinho, candidato em São Bernardo do Campo, para dizer que vota no ‘irmão’. Uma passagem da carta, reproduzida pela Folha On Line:
– Muitos me pedem, com razão, para não interferir, como presidente da República, nas eleições municipais que se aproximam. Mas, como brasileiro, como cidadão e eleitor, quero tornar público o meu voto.
O curioso é Lula afirmar, para registro, que têm ‘razão’ os que pedem para ele não interferir.
E hoje, anuncia a estatal Agência Brasil, ele ‘concede entrevista coletiva’ a emissoras de rádio.
Nada de jornais. Mas os radialistas ‘farão suas perguntas com tema livre’, garante o pseudo-jornalismo deste governo Lula.
Müller, no blog que traz depoimento sobre Olga
O filme ‘Olga’, sobre a militante comunista enviada à Alemanha, onde foi morta pelos nazistas, tem nova controvérsia histórica.
O filme expõe um ‘vilão’, Filinto Müller, chefe da polícia no Rio, no Estado Novo. Ele teria extraditado Olga, mulher de Luiz Carlos Prestes, como vingança pessoal contra a acusação de ter sido expulso da Coluna Prestes. No blog de Jorge Bastos Moreno, entrou ontem um depoimento dele, de 1969:
– O Partido Comunista acusou-me de tudo de ruim. Uma dessas acusações: a referente à Olga Benário. Toda gente sabe que no Brasil um ato de expulsão de estrangeiro não depende de um chefe de polícia, mas do presidente e do ministro da Justiça. Fui convocado para uma reunião e notificado para levar esclarecimentos sobre a situação das estrangeiras presas. Houve longo debate. Fiquei contra a expulsão. Ao final, decidiu-se que seriam expulsas. O processo foi assinado pelo presidente.
Também -ou até- ele tem direito à sua versão.
Palocci vence
Em ‘boa surpresa’, segundo o Jornal Nacional, a inflação caiu no IPCA-15, que é uma ‘prévia’ do índice que ‘norteia a política de metas de inflação’.
Mas não foi o bastante, pelo jeito, e o ministro da Fazenda dobrou Lula. Na manchete de Boris Casoy, na Record:
– Palocci vence. O Planalto decide segurar os gastos.
Com o aumento da ‘meta da economia de gastos’, na expressão do JN, o governo não precisa elevar demais os juros, no combate à ameaça de inflação.
Outros cortes
Em seu comentário, Casoy lembrou que o governo tem outras alternativas, a um eventual corte nos investimentos. Sublinhou que chamam a atenção, por exemplo, os gastos crescentes com novos servidores.
O Bom Dia Brasil concorda:
– O número de funcionários públicos foi reduzido em 100 mil no governo FHC. Mas, desde a posse de Lula, 40 mil vagas foram preenchidas de novo.
Ameaça
Do ‘Financial Times’:
– Os EUA ameaçaram tirar preferências comerciais de bilhões de dólares do Brasil se o país sul-americano não melhorar a aplicação dos direitos de propriedade intelectual.
Ameaça global
Segundo o ‘FT’, a ameaça veio em reação a um pedido do Brasil à Organização Mundial de Propriedade Intelectual, com apoio da Argentina, para a adoção de política de direitos ‘flexíveis’ de propriedade intelectual.
Outra reportagem do ‘FT’, também ontem, sublinhou que acaba de sair o relatório de uma entidade das empresas dos EUA baseadas na China, cobrando o mesmo de Pequim, quanto à propriedade intelectual.
Na cruz
De Rupert Murdoch, proprietário da Fox News, sobre o erro da CBS flagrado pelos blogs:
– Se tivesse ocorrido comigo, eu estaria crucificado.
O BRASIL CEDEU
Pressionado pelos Estados Unidos em várias frentes, ‘num ponto o Brasil cedeu’, anunciou ontem o JN:
– Em Viena, o ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, disse que as partes entraram num acordo para a inspeção das instalações nucleares.
As pressões americanas pelas inspeções da ONU no Brasil chegaram a render uma estridente manchete de domingo, há poucos meses, no ‘Washington Post’.’
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‘Guerra, paz e fome’, copyright Folha de S. Paulo, 22/09/04
‘Do Jornal da Band, em manchete, ontem:
– Guerra e paz. Bush defende invasão. Lula pede justiça.
Antes, à tarde, na manchete da Globo On Line:
– Bush e Lula: guerra e paz na ONU.
Mas não foi bem assim. A manchete do site do ‘Financial Times’, mais precisa:
– Annan e Bush se enfrentam nas Nações Unidas.
Por mais repercussão que ele tenha alcançado, Lula em Nova York não foi um dos pólos do conflito de ontem.
É a própria ONU, na figura do secretário-geral, Kofi Annan, que enfrenta o belicismo dos Estados Unidos.
Annan surgiu com palavras carregadas contra a invasão, George W. Bush veio em seguida com um pronunciamento róseo e eleitoral.
Mas Lula, certamente, está ao lado de Annan, do francês Jacques Chirac, do espanhol Zapatero. Ele integra a oposição aos EUA de Bush.
Em textos nos jornais americanos, que afinal mencionaram sua existência, o brasileiro surge como parte do esforço de Annan para tirar a ONU do domínio americano.
Segundo uma reportagem na versão impressa do ‘Washington Post’, ontem, a conferência contra a fome foi ‘um esforço para mudar o debate das prioridades’ na entidade -dos ‘temas de segurança importantes para os EUA’ para ‘temas que afetam os pobres’.
Bush, sublinhou o ‘WP’, ‘declinou de participar’. Na mesma linha, o site do ‘New York Times’ noticiou o fato de que ele ‘se recusou a apoiar a declaração sobre pobreza’.
Mas não faltou registro para a frase conciliatória de Lula, de que os EUA ‘deram passo importante’ ao enviar a secretária de Agricultura. A qual, diga-se, detonou a idéia.
A cobertura mais positiva para o brasileiro veio do espanhol ‘El País’, que na versão impressa deu manchete com foto, duas longas reportagens e editorial. Em resumo, comprou o Fome Zero mundial.
Na reportagem de avaliação do Fome Zero brasileiro, foram ouvidos Frei Betto, para os ‘elogios’, e o sociólogo Francisco de Oliveira, para as ‘críticas’. No meio, também Zilda Arns, da Pastoral da Criança, para um juízo mais equilibrado:
– A grande conquista do Fome Zero foi chamar a atenção para os níveis de pobreza, com uma mobilização social gigantesca. No início houve muitas promessas de campanha que deviam ser cumpridas, mas faltou estratégia. As coisas estão mais assentadas, mas para funcionar em todos os aspectos faltam três, quatro anos.
Quanto aos editoriais, o do ‘El País’ (‘Matar a fome’) foi abertamente favorável, com louvores a Zapatero.
Já para o britânico ‘Financial Times’, que adiantou pequeno editorial intitulado ‘Boas intenções’, antes de mais nada é preciso saber que ‘o programa contra a fome do próprio Lula, ‘Zero Hunger’, está longe de perfeito’. Mencionou a falta de controle, por exemplo, da exigência de manter na escola os filhos das famílias beneficiadas.
ONDA
Pelas manchetes em série nos telejornais nacionais, mas principalmente pela cobertura regional, de São Paulo, o quadro é de uma onda de greves às vésperas da eleição. No SPTV:
– As greves voltam a tumultuar.
A novidade era a paralisação dos funcionários da Vasp, que formou filas no aeroporto, como se viu. Mas havia outra, no destaque da Jovem Pan:
– Os metalúrgicos ocuparam duas faixas da Paulista, o que prejudicou o trânsito.
E havia, é claro, a dos bancários. Na manchete do UOL:
– Greve cresce e já atinge 24 capitais.
Mas o foco segue em São Paulo. Foi um destaque nos telejornais da Globo, por fim, a quarta das greves, a pior -e com a ameaça de intervenção federal.
Alerta
O corte do sinal da Record no Rio, tirando do ar o programa sobre um projeto que também é mostrado na propaganda de Marcelo Crivella, vem no bojo de outras ações da emissora. O Cidade Alerta carioca, com Wagner Montes, não faz coisa diferente ao ‘cobrir’ Crivella -e seus adversários.
Arbitrariedade
Mas não é o caso de afirmar, como fez a Globo, que ‘a Record não se pronunciou’. Já o fez na madrugada, falando em ‘atitude arbitrária e nociva ao estado de direito democrático’.
Pode-se, é claro, discordar.
É bom
O SPTV não vem fazendo muito diferente da Record, pelo governador Geraldo Alckmin. Ontem, destacou elogiosamente a nova ‘redução de impostos’, que ‘deve tornar mais baratos’ vários produtos, ‘estimular a modernização’ etc.
Alckmin, no SPTV:
– Traz empresas para São Paulo e gera emprego.
É guerra
Em contraste, logo depois o JN nada mencionou de empregos ou de queda nos preços, em sua reportagem. Tratou as medidas pelo devido nome:
– É a guerra fiscal.’
FSP
CONTESTADAPainel do Leitor, Folha de S. Paulo
‘Cartas de Leitores’, copyright Folha de S. Paulo,
’25/09/04
Desculpas e fundamentalismo
‘Agora podemos cometer crimes e depois sair por aí tocando tambor e cantando samba sem lei. As leis eleitorais foram sucateadas pelo presidente da República. Cidadãos comuns não teriam a mesma sorte. Ao pedir desculpas, Sua Excelência pediu votos novamente, sub-repticiamente. Páginas de jornais voltaram-se para o fato. As TVs e as rádios fizeram infindáveis comentários. Caso as ‘desculpas’ tenham validade, espero que os TREs não cedam nenhum direito de resposta ao partido do presidente, como tem acontecido aqui em Belo Horizonte.’ Modesta Trindade Theodoro, professora do ensino fundamental (Belo Horizonte, MG)
‘Até quando o jornalismo de oposição fundamentalista da Folha vai encher meu picuá com essa choradeira em torno do ‘discurso pró-Marta’ proferido pelo presidente da República? Curiosamente, muito curiosamente, não diviso a mesma indignação em vossas páginas tão evangélicas quando o nosso simpático governador chantageia o eleitorado com a promessa de que o bilhete único será estendido ao metrô na hipótese de Serra vencer.’ Antonio Carlos Alves Pereira (São Paulo, SP)
Ato médico
‘Oportuno o artigo de Contardo Calligaris de 23/9 (‘Controlar e regulamentar’, Ilustrada). O mundo não pode ser controlado nem mesmo pelos médicos, que não querem perder a sensação de que são onipotentes. Justificar o ato médico como tentativa de controlar charlatões? Quantos médicos charlatões, por sua vez controlados pelos laboratórios, interessados apenas em seus lucros, não existem? Deixem cada cidadão escolher o tratamento que lhe convém. Ainda sobrará lugar para os médicos!’ Lygia Vampré Humberg, psicanalista, mestre pela Faculdade de Medicina da USP (São Paulo, SP)
Judiciário
‘Em relação à manifestação do ilustre advogado Walter Ceneviva (‘Vidigal põe o dedo na ferida’, Brasil, 22/9), vale esclarecer que, já em 31/5, o conselho diretor da Associação dos Advogados de São Paulo oficiava ao presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, desembargador Luiz Elias Tâmbara, manifestando a sua preocupação com a ameaça de greve dos servidores do Judiciário paulista. Deflagrada a greve, depois de um mês de paralisação e de esgotadas as várias tentativas de uma solução para o problema, a Aasp, impelida pelas inúmeras solicitações de providências por parte de seus mais de 84 mil associados, ingressou com mandado de segurança contra o presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo e contra o governador Geraldo Alckmin, considerando ilegal a conduta omissiva adotada por aquelas autoridades diante da greve. Mais recentemente, o conselho diretor da Aasp solicitou à Procuradoria Geral da República e ao STF a decretação de intervenção federal no Estado de São Paulo. A Aasp empenhou-se em defender os interesses de seus associados e os da sociedade paulista, sem atribuir a culpa de tal situação aos grevistas.’ José Roberto Pinheiro Franco, presidente da Associação dos Advogados de São Paulo (São Paulo, SP)’