Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Nelson de Sá

‘Em seu site, o ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira avaliou como ‘boa notícia’ o Brasil não ter sido lembrado na campanha americana. E que seria ‘má notícia’ George W. Bush ‘dar mais atenção’ à América Latina no novo mandato.

Ontem, avaliações americanas da gestão de Colin Powell como secretário de Estado não viam a omissão da mesma forma. A análise no ‘El Nuevo Herald’, de Miami, questionou suas ações na América Latina como ‘incidentais’.

O texto sublinhou que Powell cortou em 12% os gastos do Departamento de Estado com a região, alegando ‘outras prioridades’, e que em quatro anos ele visitou a Organização dos Estados Americanos três vezes:

– E a OEA fica a seis quadras de seu escritório.

Ouvido pelas agências Cox e AP, Larry Birns, diretor do Conselho de Assuntos Hemisféricos, um instituto de Washington, foi ainda mais crítico:

– Powell não tinha ouvidos para os latino-americanos. Sob sua gestão as relações chegaram ao nível mais baixo em anos.

Não se deve esperar coisa diferente da sucessora, Condoleezza Rice. O Jornal Nacional precisou apelar ontem para uma declaração fortuita dela, em 2002, na platéia de um jogo de Gustavo Kuerten nos EUA:

– O Brasil é um grande amigo dos Estados Unidos.

E foi só, sobre a região.

Apresentada ontem por Bush, ao vivo nos canais de notícia dos EUA e do Brasil, a nova ‘face da América para o mundo’ citou Iraque e guerra ao terror. Nada de América Latina.

Nas reportagens e análises nos EUA, sobre Rice, também não se viu menção. Elas se concentraram em dúvidas sobre sua competência e em ironias sobre a ‘relação extraordinariamente próxima’ com Bush.

(Um texto do ‘Washington Post’, a exemplo de alguns blogs, chegou a lembrar que, em uma festa, a secretária se confundiu e declarou: ‘Como eu estava dizendo ao meu mari… Como eu estava dizendo ao presidente Bush’.)

Se Rice está longe de dar atenção, o fortalecido secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, distribuía conselhos à América Latina, ontem no Equador.

Segundo o ‘Miami Herald’ e agências, para Rumsfeld os latino-americanos devem se unir aos EUA contra ‘terroristas, traficantes, gangues, aqueles que fazem a vida do povo desta região mais difícil’.

Em declarações no site do Pentágono, o secretário elogia de passagem a ‘cooperação’ do Brasil. Por outro lado, diz que ‘não há dúvida de que há células engajadas em diferentes atividades terroristas’ pelas Américas, inclusive a do Sul.

A visita de Rumsfeld foi precedida por relatório do Conselho das Américas, feito a pedido do Pentágono, avaliando que ‘os governos latinos estão simplesmente despreparados para as novas ameaças à segurança’. Por exemplo, ‘o terrorismo de alcance mundial’.Como se vê, ao menos com Rumsfeld, há indícios de que Bush vai ‘dar mais atenção’ à América Latina.

O QUE FAZER

Segundo o ‘USA Today’, pesquisa do Pew, instituto independente e respeitado dos EUA, mostra que ‘a Fox News e a web surgiram como as novas fontes principais de notícias da campanha’. Dos 1.209 eleitores ouvidos, 21% disseram ter obtido a maior parte das informações da Fox, contra 15% da CNN e 13% da rede NBC. A web foi descrita como ‘fonte principal’ por 21%.

E já ontem, segundo o site do ‘New York Times’, os presidentes de jornalismo da CBS, ABC e NBC discutiam num simpósio na Califórnia ‘a cobertura da eleição, os desafios do crescimento da Fox News e a proliferação de notícias em plataformas de múltiplas mídias’.

OVO NO MARQUETEIRO

James Carville, que fez as campanhas de Bill Clinton, surpreendeu a audiência da NBC ao que brar um ovo na cabeça, no ar. Criador do bordão ‘é a economia, estúpido’, ele apostou em John Kerry e perdeu. Em reação, o blog ‘liberal’ de Josh Marshall defendeu a renovação no marketing democrata e o adeus a Carville

Cai-não-cai

As especulações sobre Carlos Lessa, presidente do BNDES, são tantas que ele deu entrevista ao ‘Valor’ ‘irritado até as vias do descontrole’, em que se disse ‘cheio de tudo’ mas reafirmou que só sai se Lula quiser.

Só que outras especulações já vinham do fim de semana, em ‘O Globo’ e outros -e ontem o JN deu em manchete que quem caiu mesmo foi Cássio Casseb, do Banco do Brasil.

Lessa, para variar, continua.

Pré-campanha

Os tucanos FHC e Geraldo Alckmin duelam pela mídia. O governador questionou FHC por não duplicar uma rodovia, noticiou a Folha. De Londres, o ex-presidente falou então à BBC Brasil, entre outros, que Lula não é imbatível. E o governador, ontem na Globo Online, zerou o jogo em notícia intitulada ‘Lula não é imbatível, diz Alckmin’.

Para o petista José Genoino, ontem no site do partido, é a ‘pré-campanha eleitoral’.’

***

‘Mais ‘Diário Oficial’’, copyright Folha de S. Paulo, 18/11/04

‘Globo News e UOL entraram com manchete à tarde, anunciando que saíra o acordo para ‘retomar as votações’ na Câmara dos Deputados.

Segundo a Folha Online, foi após a ‘liberação de R$ 260 milhões para emendas parlamentares, conforme portaria publicada no ‘Diário Oficial’.

Foi também após um desabafo do presidente da Câmara, João Paulo, na Globo Online e rádios -com críticas a ‘quem cuida disso’, ou seja, da relação do governo com o Congresso.

Em expressão que ecoou pela cobertura, ele teria declarado, sobre as negociações:

– Estou no meu limite.

Além dele, quem saiu falando foi o vice-líder Beto Albuquerque, do PSB, que virou porta-voz dos descontentes com o ‘problema de relacionamento’. Como João Paulo, Albuquerque disse que o problema está no Palácio do Planalto -e que o ministro Aldo Rebelo ‘não tem força para manter os acordos acertados com os líderes’.

Mas ao que parece nem quem tem a ‘força’, ou seja, quem assina o ‘Diário Oficial’, consegue convencer os deputados.

À noite, o UOL noticiava que ‘o acordo rendeu a votação de apenas uma medida provisória’. E Cristiana Lôbo, comentarista da Globo News, explicava o que ainda está freando a ‘base’, sobretudo PMDB e PP:

– Eles querem a garantia de nomeações e da liberação de mais emendas parlamentares.

Mais ‘DO’, portanto.

Para animar um pouco as votações, só os senadores, na manchete do Jornal Nacional:

– Senado aprova a reforma do Poder Judiciário.

TERROR

Um dia depois de Donald Rumsfeld, secretário de Defesa dos EUA, chamar a atenção para o ‘terror’ na América Latina, o canal Fox News apresentou com estardalhaço, em seu plantão (acima), os atentados contra agências bancárias argentinas. Nas entradas, o canal sublinhou seguidas vezes que o Citibank, um dos bancos atingidos, já havia sido alvo de ‘ameaças terroristas’ pelo mundo

RUMSFELD E ALENCAR

Em despacho da agência Associated Press, reproduzido nos sites do ‘New York Times’ e do ‘Washington Post’, a cobertura dos encontros do secretário Donald Rumsfeld com ministros de Defesa da América Latina destacou os ‘elogios’ americanos à operação no Haiti. É ‘um exemplo’ de cooperação, diz o secretário, a ser seguido no combate ao ‘terror’:

– A coalizão no Haiti demostra que a América Latina tem o potencial para assumir um papel global cada vez mais significativo.

De sua parte, o ministro brasileiro José Alencar, após reunião com Rumsfeld, disse ao ‘Los Angeles Times’ que a ONU está ‘muito lenta’ na tarefa de ampliar as forças no Haiti -com o que concordou o secretário, que tem as Nações Unidas entre seus alvos favoritos.

Mas parou por aí a concordância dos dois, no Equador. O site do ‘Washington Times’ destacou que, em discurso, Alencar ‘se declarou contra’ a proposta de combate ao terror de Rumsfeld. Disse o ministro:

– É essencial que seja permitido a cada país manter a soberania de identificar suas prioridades de defesa.

Desde agosto

Para não esquecer: o secretário de Segurança chegou a insinuar na TV que seriam os próprios moradores de rua os autores da chacina, há três meses.

Finda a campanha, o destaque ontem na Globo, na conclusão do inquérito, era outro:

– PMs são apontados como os autores. A polícia tinha pistas do envolvimento de policiais desde 19 de agosto, quando dos primeiros ataques.

E mais: o Jornal da Record diz que o Ministério Público ficou ‘insatisfeito com o inquérito’ e quer mais investigação.

Lei Chávez

Depois de Lula e seu Conselho Federal de Jornalismo, agora vem o presidente venezuelano Hugo Chávez e, segundo o ‘Miami Herald’, propõe uma Lei de Responsabilidade Social para a Televisão e o Rádio, seus inimigos favoritos.

Também lá, segundo o jornal, o projeto garante ‘liberdade de expressão’, mas também lá o texto apresenta coisas vagas -como responsabilizar e punir, supostamente com multas altas, quem disseminar ‘mensagens que justifiquem violência’ ou ataques à ‘ordem pública’.’

***

‘Debandada e coalizão’, copyright Folha de S. Paulo, 19/11/04

‘O Jornal Nacional deu manchete simples, ‘cai o presidente do BNDES’, e logo trombeteou que ‘o nível de emprego na indústria tem um aumento recorde’.

Mas, pelas primeiras reações, a queda de Carlos Lessa é só o início. Segundo a Globo Online, ‘Lula fará mais mudanças’.

O Jornal da Record destacou a ‘sucessão de baixas’. Para a Folha Online, ‘governo sofre debandada’. No UOL, uma cientista política falou até em ‘clima de fim de mandato’.

E não demoraram as reações à esquerda, com o petista Chico Alencar dizendo à Globo que ‘o governo parece que está em marcha-à-ré’.

Na Jovem Pan, o economista Paulo Nogueira Batista Jr. disse que ‘a saída fortalece a linha conservadora’ que ‘não deu resultado em outros governos e não dará neste’.

O sociólogo Emir Sader, no site Carta Maior, escreveu de bate-pronto, ontem:

– A saída de Carlos Lessa toca no coração do país que queremos. Temos que nos comprometer com a continuidade da atual linha do BNDES.

Não para empresários e oposição. Na Globo, o presidente da Confederação Nacional da Indústria e um líder pefelista criticaram Lessa pelos ataques à política econômica.

No UOL, um diretor da Fiesp declarou que ‘muitas empresas nem faziam mais pedidos no BNDES, tal a demora’. O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, foi mais comedido e até ‘elogiou’ Lessa, segundo a JN.

Encerrados os principais telejornais, o senador Aloizio Mercadante surgiu no Jornal da Globo, nas rádios e sites para deixar claro que a queda abre caminho para mais trocas.

Disse que Lula ‘está escalando a melhor seleção’ em consultas para ‘consolidar as alianças estratégicas e conformar um governo de coalizão’.

Para deixar as coisas ainda mais explícitas, o líder petista, segundo a rádio CBN, disse que ‘o Ministério do Planejamento poderá ser ocupado por algum nome do PMDB’.

CHINA X EUA

O chinês ‘Diário do Povo’ noticiou ontem o embarque para o Brasil de uma delegação de ‘monges Shaolin’, para apresentações de kung fu, como parte do esforço de aproximação. Já a britânica ‘The Economist’ trouxe análise apontando distanciamento entre os EUA de George W. Bush e a América Latina.

ROUBANDO A CENA

Para a ‘Economist’, ‘é um leve choque que a primeira viagem de George W. Bush ao exterior após a reeleição’ seja para a América Latina, porque, ‘para quem conta em Washington, a região é assunto secundário’.

Mas até que ‘as relações têm sido surpreendentemente cordiais’, citando que EUA e Brasil ‘têm cooperado para relançar as negociações de Doha’ e ‘Bush parece pensar que esquerdistas comprometidos com a democracia e a responsabilidade econômica, como Lula, são bons para a estabilidade regional’.

Não é o bastante, ao menos para o ‘Miami Herald’. Do colunista Andres Oppenheimer:

– Que ironia! Bush e o presidente Hu Jintao estarão na América Latina ao mesmo tempo, mas é o chinês quem está prometendo US$ 100 bilhões.

Fez outras comparações. A visita de Bush vai durar 4 dias e a de Hu, 12, ‘5 no Brasil’: ‘Ele está fazendo o que os presidentes americanos costumavam fazer -incitar as esperanças da região quanto a comércio em larga escala e promessas de investimento’.

O ‘Christian Science Monitor’, na mesma linha, ouviu especialistas. Willliam Ratiff, de Stanford:

– É significativo que Hu passe mais dias na América do Sul, nesta viagem, do que Bush em quatro anos. Sua vibração doce faz Bush soar como uma sirene.

Cynthia Watson, do National War College:

– A viagem vai bem. Os chineses estão erguendo o palco para relações de longo prazo, e os sul-americanos estão ansiosos por isso.

Até o ‘Pravda’, da Rússia, cujo presidente está para chegar ao Brasil, dava ontem análise do correspondente, dizendo que a ‘China está pronta para ocupar o vácuo dos EUA na América Latina’.

As exceções

Em meio à disseminação de acordos bilaterais, sobretudo com os EUA, a ‘Economist’ resolveu destacar estudo do Banco Mundial e avisar:

– A maior parte dos países pobres ou em desenvolvimento estaria numa situação ainda pior num mundo com desenfreados acordos bilaterais.

Mas ‘um punhado deles ganharia um pouco’, diz a revista, mencionando como favorecidos a China e o Brasil.

É possível

Em dia de crise no BNDES, duas notícias em outra direção, sobre investimentos.

De um lado, o Jornal Nacional destacou a aprovação das Parcerias Público-Privadas em uma comissão do Senado.

De outro, a CBN trouxe afirmação atribuída a uma diretora do FMI, após reunião com o ministro Antônio Palocci:

– É possível o Brasil excluir os investimentos de infra-estrutura do cálculo do superávit primário já no ano que vem.’

***

‘Abaixo do radar’, copyright Folha de S. Paulo, 22/11/04

‘Enquanto ‘El País’ e ‘Miami Herald’ saudavam ontem a aproximação entre China e América Latina, o ‘New York Times’ de Larry Rohter apresentava outro quadro.

O espanhol ‘El País’ dedicou longas reportagens ao tema, com títulos como ‘China conquista a América Latina’ e avaliações como a de que o chinês ‘Hu Jintao arrasou em termos de atenção midiática’ -em comparação ao presidente americano, também na região.

O americano ‘Miami Herald’, que já havia dado reportagens de teor semelhante, chegou ao domingo dizendo que a América Latina precisa ‘aprender com o sucesso da China’ e não só buscar contratos comerciais:

– Enquanto a China embarca no maior impulso de privatização da história, a região parece estar indo na direção oposta.

Cita, por exemplo, a recente criação de uma estatal de energia na Argentina e a falta de ação do Brasil, quanto às privatizações da Eletronorte e da Chesf.

E exemplifica, pelo lado chinês, com a recente abertura de duas empresas de telecomunicações, além da promessa de abrir a maior parte das 100 mil estatais até o final da década:

– A abertura econômica da China está atraindo quase tanto investimento estrangeiro quanto toda a América Latina.

Rohter, no ‘NYT’ e traduzido ontem pelo UOL, vê as coisas sob outro prisma, quase de alerta aos Estados Unidos:

– Apesar de os EUA ainda considerarem a região como seu quintal, o seu domínio não é mais inquestionado. De repente, a presença da China pode ser sentida por toda parte.

Ouve Richard Feinsberg, ex-conselheiro para a América Latina no Conselho de Segurança Nacional dos EUA, que avalia:

– Os chineses estão discretamente, mas persistente e eficazmente, operando abaixo do radar americano. A América do Sul está à deriva, e os flertes diplomáticos com a China tenderão a realçar potenciais divergências com Washington.

O correspondente diz que é com o Brasil que as ‘relações parecem avançar mais rapidamente’. E destaca que, ‘em busca de sua ‘parceria estratégica’, Brasil e China desenvolveram um programa de satélite, estão discutindo venda de urânio para uso em reatores chineses e abriram uma fábrica chinesa da Embraer’.

De sua parte, a China, em balanço da viagem de Hu Jintao no estatal ‘Diário do Povo’, era só elogios ao ‘muito em comum’ -citando o apoio mútuo à ‘busca de independência, soberania e interesses nacionais’.

O INCIDENTE

A cena, segundo o ‘New York Times’, ‘foi mostrada repetidamente na TV do mundo todo’. Era o presidente americano, George W. Bush, num ‘empurra-empurra embaraçoso’. Ele conseguiu livrar das mãos da polícia chilena seu segurança.

Apesar de o porta-voz Scott McClellan ter brincado que ‘às vezes Bush é um cara que põe a mão’ para fazer as coisas funcionarem, a repercussão azedou o encontro. Ontem, o presidente chileno suspendeu um jantar de gala, segundo a CNN, para não ceder às exigências da segurança americana.

E outro conflito se desenvolveu, como pano de fundo em Santiago. Segundo sites latino-americanos, o presidente da comissão do Mercosul, Eduardo Duhalde, e o representante comercial dos EUA, Robert Zoellick, trocaram acusações sobre responsabilidade pelo fracasso da Alca. Zoellick apontou resistência ‘de Brasil e outros’ à propriedade intelectual, Duhalde atacou os ‘subsídios agrícolas’.

O que é isso

Entre as manchetes do Jornal Nacional de sábado, sobre a morte de Celso Furtado, estava ‘Lula decreta luto’. O perfil do economista no JN abria dizendo ‘o metalúrgico que se elegeu presidente do Brasil tinha uma forma afetuosa de se referir’ a Furtado: ‘Meu companheiro’.

Mas não, como destacaram a CBN e os sites, ‘Lula não foi nem ao velório nem ao enterro’.

Fadiga paulista

Na Globo News, o programa Fatos & Versões, de bastidores de Brasília, dizia ontem que a reforma ministerial será ‘bem maior’ e que ‘está dando fadiga no pessoal de São Paulo’, que quer ‘voltar para casa’.

PFL 2006

Enquanto os tucanos se bicam, para ver quem concorre com o enfraquecido Lula, o pefelista Cesar Maia não esconde mais.

Ontem, segundo a Jovem Pan e os sites, ele chamou uma coletiva para falar da ‘estrutura’ da prefeitura do Rio, mas ‘transformou’ a entrevista no ‘anúncio da intenção de deixar’ o cargo e se candidatar em 2006.

Violência e custo

Após os ataques a turistas, que culminaram com a morte do espanhol que ‘reagiu a um assalto’ no Rio, o Fantástico de ontem apresentou um ‘dossiê completo’ sobre a violência, mostrando sobretudo ‘quanto custa para o seu bolso’.’



JORNAIS NA REDE
Luciana Coelho

‘Jornais antigos dos EUA vão à internet’, copyright Folha de S. Paulo, 20/11/04

‘NOVA YORK – Em um projeto ambicioso, a Fundação Nacional para as Humanidades (NEH, pela sigla em inglês) promete colocar 30 milhões de páginas de jornais americanos antigos na internet. Devem estar on-line até o segundo semestre de 2006. As publicações que ajudam a contar a história dos EUA de um modo que não está nos livros escolares ficarão disponíveis para consulta a qualquer pessoa que tenha acesso à rede mundial de computadores.

Os primeiros jornais que ficarão disponíveis foram publicados de 1836 a 1922, uma época fervilhante da história americana. O tipo de letra usado para impressão dos jornais anteriores a esse período não pode ser digitalizado, e sobre o material publicado a partir do ano de 1923 já vigoram as leis de proteção à propriedade intelectual.

‘Os jornais são o primeiro rascunho de nossa história, e em muitas cidades são a única fonte disponível. Se eles acabam, o registro da história dessa cidade acaba também’, disse à Folha Bruce Cole, diretor do NEH.

O material a ser digitalizado é produto de um esforço de 20 anos, no qual o NEH e a Biblioteca do Congresso trabalharam em conjunto com os Estados para reunir cerca de 140 mil títulos diferentes. Entre eles, há pérolas como ‘O Democrata Destemido Diário’ (Colorado), ‘O Cruzado Temperança’ (Geórgia) e ‘O Castigador de Ripley’ (Ohio).

Outra curiosidade: muitos jornais dessa época eram bilíngües -’O Californiano’, primeiro jornal do Estado, circulava em inglês e espanhol. ‘O Defensor dos Cherokees’ trazia sua versão na língua indígena e, na Chicago do início do século 20, era possível ler jornais em alemão, grego, polonês, francês, hebraico, lituano, esloveno, dinamarquês, sueco, norueguês, iídiche e boêmio.

‘Esse jornais estavam espalhados, enfurnados em depósitos, bibliotecas e casas. O projeto era não só enorme mas também urgente, porque após 1850 o papel passa a usar material ácido, que se autodestrói’, afirmou Cole.

Página inteira

Cerca de 67 milhões de páginas já haviam sido microfilmadas dentro do projeto. Mas o acesso, disse Cole, continuava difícil. Era preciso ir a uma biblioteca pública, solicitar o microfilme, e o volume de material tornava qualquer pesquisa exaustiva.

Com os jornais digitalizados, é possível fazer buscas usando palavras-chaves por todo o material sem sair de casa. A técnica utilizada, de reconhecimento ótico de caracteres (ROC), permite visualizar a página toda, e não somente os textos -mais ou menos como um arquivo PDF, mas com acesso mais fácil. ‘Além das notícias, os jornais têm anúncios, editoriais, colunas de fofocas, obituários, comunicados jurídicos. Tudo isso ajuda a mostrar como era o cotidiano das pessoas.’

O foco do projeto são os jornais de cidades pequenas. ‘Os grandes jornais, em grande parte, já têm sua produção microfilmada ou digitalizada’, afirmou Cole.

Três critérios foram levados em conta para escolher o que vai para a internet: a credibilidade da publicação -se era nele que os comunicados de fatos relevantes das empresas eram publicados-, a representatividade de diferentes regiões e se o período de publicação cobre algum evento ou movimento importante.

O projeto, batizado de Programa Nacional de Jornais Digitais, deve consumir até sua conclusão cerca de US$ 88 milhões. A verba é da NEH, uma agência federal independente que patrocina as humanidades nos EUA, por meio de programas públicos, projetos educacionais e bolsas de estudo.

Por trás dessa iniciativa está o programa ‘We the People’, criado no início do ano passado pelo governo de George W. Bush para difundir o ensino de história americana entre os cidadãos.

‘Não sei como é no Brasil, mas nos EUA as pessoas, sobretudo os jovens, não sabem o suficiente sobre sua própria história’, disse Cole. ‘Conhecimento histórico não é um luxo. É necessidade.’’